Três
"Por que a Bella ainda não está aqui, preparando os alimentos para o sacrifício da lua cheia? Os grãos para cozinhar ainda não estão prontos, o que ela estava fazendo desde que a acordei daquele sono nojento?"
Disse uma mulher, com o cabelo preto voando em seu rosto pela força com que falava. Ela estava tão irritada porque nada tinha sido feito naquela manhã. A ômega deveria ajudar os servos a preparar a comida da alcateia. Eles eram servos na alcateia, mas era a ômega quem deveria acordar primeiro, antes mesmo dos outros servos. O café da manhã não era algo para se brincar na alcateia; era uma refeição muito importante.
Quando a mulher estava prestes a dizer outra palavra, duas jovens, quase idênticas a Bella, entraram na cozinha. Pela aparência, era evidente que eram irmãs da pobre Bella, mas a única diferença era que elas não eram ômegas nem sem lobos. Parecia que Bella era diferente delas, não apenas delas, mas de toda a alcateia Air Winder.
"Eu vi um corpo deitado no depósito, não sei se a pessoa estava morta ou viva, e não tive tempo de verificar a quem pertencia o corpo," disse Kira, enquanto caminhava em direção ao balcão, com um esboço nas mãos.
"O que você quer dizer com 'não sabe a quem pertence o corpo'?" perguntou a Sra. Manchor, enquanto caminhava em direção à porta, olhando para sua filha. "Você viu um corpo e não pode confirmar de quem é? E se fosse a Bella deitada lá, morta ou em perigo? Todos nós podemos odiá-la, mas ninguém deseja sua morte."
A mãe de Bella disse, com seu instinto materno a deixando assustada. Bella podia ser uma ômega, mas ela não desejava sua morte. Ela correu em direção ao depósito e, ao entrar na sala, viu um corpo encolhido no chão, com as roupas rasgadas ao meio. Silenciosamente, ela caminhou em direção a ele, chutando a perna do corpo que estava no chão, mas Bella não se mexeu. Novamente, ela a chutou, desta vez com força total, e Bella moveu seu corpo, gemendo de dor, seus olhos pesados de tanto sofrimento, incapaz de suportar a onda de dor que a atingia como um tornado. Ela abriu os olhos primeiro, tudo o que podia ver era escuridão. A sala estava tão escura que ela se perguntou se o filho do alfa a havia levado para a terra dos mortos. Mas ela sentiu algo batendo em suas pernas, e foi quando sua visão clareou. Primeiro, ela viu a perna de uma mulher, que a chutava continuamente, como se ela estivesse morta. Ao olhar para cima, ela percebeu quem era: Envylin, sua mãe. Provavelmente, ela tinha voltado para descarregar sua raiva nela. Bella desejou nunca ter acordado; acordar e enfrentar outro tormento não era algo que ela estava pronta para enfrentar novamente. Ela preferia a morte ao que a aguardava.
"O que você está fazendo aqui embaixo, Bella? Veio se esconder aqui para não ser pega, hein, sua bastarda? Você sabe o quanto tenho vergonha de você, e ainda assim tenta me irritar logo nas primeiras horas da manhã."
Envylin disse, sem se importar muito com suas roupas rasgadas em pedaços. Provavelmente, ela deve ter transado com um lobisomem e caído ali, cansada e exausta após o ato sexual. A ômega não pode ser uma santa, e um lobisomem se acasalar com Bella seria uma vergonha se alguém soubesse disso.
"Com quem você transou, hein? Eu sempre soube que você não era virgem, mas transar com qualquer um é uma grande vergonha, especialmente nessas primeiras horas da manhã, quando você tem trabalhos árduos a fazer," disse Envylin, observando enquanto sua terceira filha, que ela nunca desejou ter, se levantava, mas caía no chão novamente.
A Sra. Manchor riu. O drama que se desenrolava à sua frente era bastante engraçado, e ela teria ficado muito envergonhada de si mesma se houvesse qualquer outra pessoa na sala.
"Hahahaha, suas pernas estão tão cansadas que você não consegue nem ficar de pé, Bella. Quem diabos te fodeu tão forte que você perdeu o equilíbrio?" disse a Sra. Manchor, olhando para Bella com o rosto cheio de desgosto. Bella observou sua mãe, que a carregou no ventre, insultá-la até se satisfazer. Bella sabia que era uma ômega, e essa era a razão pela qual toda a alcateia a odiava. E o fato de não ter um lobo dentro de si aumentava ainda mais o ódio. Eles descobriram que ela era sem lobo em seu décimo oitavo aniversário, na noite da lua cheia. Todos os seus colegas de idade se transformaram em lobos, e ela permaneceu a mesma. As risadas e insultos que recebeu naquele dia ainda ecoavam em seus ouvidos. Bella olhou para sua mãe, vendo a expressão de desgosto em seu rosto, o que a fez se encolher de dor.
"Desculpe, mãe, por te causar dor," disse Bella, esperando que sua mãe percebesse a dor em sua voz, mas, como esperado, recebeu mais reprimendas de sua mãe.
"Eu não sou sua mãe, sua vadia," gritou Envylin com raiva. "Agora levante-se desse chão e vá para a cozinha, mas antes disso, vá trocar de roupa, antes que você me cause mais vergonha," disse Envylin, saindo do depósito e fechando a porta com um estrondo.
Bella apertou os olhos de dor quando a porta bateu em seus ouvidos. Levantando-se com dificuldade, apoiando-se na parede, ela caminhou até a porta. Ela não estava pronta para encontrar Lucas, a besta que queria desonrá-la, nem estava pronta para enfrentar toda a alcateia. Já recuperando um pouco de energia, olhou para suas roupas, que estavam rasgadas em pedaços por aquela besta. Colocando o ouvido na porta, tentando ouvir vozes ou sons do outro lado do corredor, e não ouvindo nada, Bella abriu a porta levemente, olhando para os lados. Não vendo ninguém, ela saiu rapidamente do depósito, apressando-se para seu quarto, que mais parecia uma masmorra.