Capítulo 2: VOCÊ SIMPLESMENTE NÃO É BOM O SUFICIENTE
Ela tirou os sapatos na porta e colocou tudo na mesa da sala de jantar. Ela estava orgulhosa do seu apartamento de dois quartos. Sempre esperou que fosse dela e de DeAngelo... ela fez uma careta e estava se preparando para tirar o terno e vestir uma camiseta e calça de moletom quando o telefone tocou. Por um breve segundo, seu coração saltou de antecipação—e depois de medo. Ele havia ligado uma vez, mas foi para devolver algumas roupas dela que ela tinha deixado no apartamento dele.
Ela sabia que ele demorou, esperando que ela o convidasse para entrar; em sua casa, em sua cama, de volta à sua vida, mas ele a machucou demais para que ela pudesse perdoá-lo. E ela pegou suas coisas e fechou a porta após um breve agradecimento. Ela foi forte naquele dia. Não sabia se seria tão forte da próxima vez.
"Alô?" Ela disse ofegante, pois teve que se apressar para vestir as calças e atender o telefone.
"Ash? Você está se exercitando?"
Era o Lance. "Claro que não!"
"Então por que você está ofegante?"
"Hum... para eu poder viver."
Ele riu. "A Garota de Rosa Shocking vai passar às oito-"
Ela gritou. "A Garota de Rosa Shocking!"
"Sim, estou indo aí com uma pizza-"
"Eu já comprei PF Chang's! Mas não o suficiente para você," ela acrescentou. "Então é melhor você comer antes de vir... e talvez pegar um sorvete para acompanhar esse cheesecake."
"Mmm. Cheesecake. Estarei aí em uma hora."
"A Kendra vem?"
"Você sabe que ela não vai assistir a um filme do John Hughes. Acho que ela não assistiu a um filme do John Hughes nem quando tinha dezesseis anos!"
Verdade. E estava tudo bem só com ela e Lance porque ele era como sua irmãzinha... bem, se ela tivesse uma irmã branca com um pênis.
Todo mundo sempre zombava dela por ser uma mulher adulta que largaria tudo para assistir Gatinhas e Gatões ou Clube dos Cinco, e seu favorito pessoal Alguém Muito Especial. Ela sempre desejou ser a estrela de um filme do John Hughes porque então ela sempre teria um final feliz. Haveria algum cara incrivelmente bonito segurando um boombox acima da cabeça bem do lado de fora da janela dela, ou o atleta da escola largaria a namorada líder de torcida por ela. Mas na realidade, a líder de torcida sempre ficava com o cara.
Várias horas depois, os dois amigos estavam ouvindo a música dos créditos finais e contemplando a natureza da vida pelos olhos de uma garota de dezesseis anos. Lance sempre pegava o lugar mais confortável; a chaise, enquanto ela se jogava no sofá. Ele trouxe pizza de qualquer maneira e seu estômago estava fazendo sons estranhos, pois ela não conseguiu se controlar e pegou algumas fatias, mesmo estando cheia do PF Chang's.
"Deus," ele gemeu. "Não acredito que ela não escolheu o Ducky."
"Eu sei. Por que ela não podia ver que eles eram perfeitos juntos?! Blaine era um babaca."
"Sim, ele a jogou aos lobos e depois teve a cara de pau de aparecer no baile com aquela peruca horrível tentando parecer coitado."
Ashleigh riu. "É. Aquela peruca não era convincente. E a Andie simplesmente cede e o aceita de volta." Ela se levantou e levou o lixo deles para a cozinha. Lance a ajudou.
"Bem, você sabe por que isso acontece," ele disse.
"Por quê? Ele tinha um pênis grande?"
Lance hesitou. "Não. Quem tem o pênis grande é o Ducky. Mas a Andie nunca vai saber disso porque ela estava muito envolvida no fato de que ele tem dinheiro e popularidade, algo que ela secretamente quer, mas nunca pode ter."
"Vadia superficial."
"Não somos todos? Eu li uma lista que dizia os cinco principais motivos pelos quais uma pessoa que nunca se casou está solteira. O número cinco dizia que é porque você simplesmente não é bom o suficiente."
"Ai. Isso é cruel."
"Mas é verdade." Ele se encostou no balcão ainda segurando uma lata vazia de refrigerante diet. "Pense nisso, estamos solteiros porque não estamos procurando parceiros que sejam nossos iguais. Estamos procurando alguém melhor que nós; mais dinheiro, mais bonito, blá blá blá."
Ela assentiu, concordando com isso. "E o número quatro?"
Ele coçou o queixo bem aparado. "Acho que o número quatro é que você é egoísta, o número três é que você é uma vadia, o número dois—"
Ashleigh levantou a mão para interrompê-lo. "Uma vadia? Como isso se encaixa em não estar casado?"
"Porque você está dando as coisas boas de graça em vez de guardá-las como um tesouro." Eles tiveram que rir alto dessa.
"Ok, e qual é o número dois?"
"Dois é que você é superficial; o que ambos determinamos ser verdade, e o principal motivo para não estar casado... é porque você é uma megera."
"Sério?" Ashleigh franziu o nariz. "Não sei se isso é verdade."
"Oh... Ashleigh," ele assentiu com um sorriso. "Você já foi uma megera antes. Todos nós já fomos. Lembra quando o cara do aquecimento e resfriamento não conseguiu fazer o termostato funcionar no escritório e-"
Ela corou. "Sim, sim, eu lembro!" Ela suspirou. "Sabe de uma coisa? Acho que essa lista é bem verdadeira." Ela olhou para ele e seus olhos brilharam um pouco demais com algo que parecia lágrimas não derramadas. Ela tentou oferecer um sorriso, embora trêmulo. "Mas eu ainda teria escolhido o Ducky em vez do Blaine!"
Lance sorriu suavemente e a abraçou.
~*~
Ashleigh usava um terninho creme que custava quase tanto quanto a prestação do seu carro, mas ela estava ótima nele. Mulheres grandes que também queriam ser estilosas sabiam os segredos para esconder os quilos a mais. Tudo estava no corte do casaco que afinava sua cintura, escondia sua barriga e destacava seu decote onde sua blusa decotada mostrava sua 'coroa de glória'. Ela usava saltos que combinavam com os tons terrosos da blusa e brincos grandes e chamativos.
Enquanto se apressava para entrar no restaurante, já alguns minutos atrasada, ela sabia que estava bonita, mas se sentia longe de estar confiante. Rosto bonito... corpo gordo. Era apenas uma questão de preferência se alguém iria gostar dela ou não. Isso a fazia se sentir mal por se pegar rezando para que algum completo estranho que ela nunca tinha conhecido antes gostasse dela.