




3. O jantar: Eu não faço amizade com idiotas.
O Rei se desligou, aproveitando silenciosamente as emoções que ele e sua besta compartilhavam, até que notou um leve movimento à sua frente. O garoto, sobrinho de Claire, levantou-se e se desculpou.
"Você não vai perguntar onde ficam os banheiros?" Eros levantou uma sobrancelha, olhando o garoto com desconfiança.
"Não, sua alteza, eu estava pensando em verificar como está a princesa. Ela já saiu há um tempo," o garoto sorriu, inclinando a cabeça um pouco.
Eros abriu a boca para protestar, mas Eve falou mais rápido.
"Ah, jovem amor. Vá em frente, só certifique-se de que ela não vai tentar te atacar. Mau humor, lembra," ela riu, ignorando o olhar fulminante de seu companheiro.
O jovem colocou as mãos nos bolsos e saiu preguiçosamente. A brisa do vento refrescou sua pele da maneira mais agradável. Ele deixou seus olhos vagarem pelos arredores até notar uma jaula que parecia construída para lutas. A princesa estava no meio dela - seu cabelo preso em um coque e o vestido enrolado. Ele não conseguia parar de olhar, quase babando assim que notou suas pernas. Acontece que a princesa estava escondendo sua figura.
"Que desperdício," ele pensou consigo mesmo, descaradamente a observando.
"Eu não te disse para encher a cara e cair fora daqui?"
"Disse, mas quem disse que estou disposto a ouvir suas ordens? Sou um convidado na sua casa, e você vai ter que deixar essa atitude durona até irmos embora. Não parece que isso vai acontecer tão cedo - sua mãe e minha tia se deram bem," o jovem sorriu, uma chama de travessura dançando em seus olhos. Ele era bonito, mas até agora parecia ser um total cretino, irritantemente arrogante.
Ally sentiu como se seu sangue começasse a ferver - ele chegou sem ser convidado e decidiu testar sua paciência. Claro, ela bateu no primo dele, mas agora sentia que ambos os homens mereciam um bom soco no estômago - bastardos arrogantes. Ela respirou fundo e tentou se recompor. A jovem tentou imaginar cenários de quão bravo seu pai poderia ficar depois que ela batesse em dois homens no mesmo dia.
"Olha, eu tive um dia péssimo muito antes de você decidir aparecer aqui. Não estou com humor para discutir com idiotas - você vai me arrastar para o seu nível e me vencer com experiência. Obrigada, mas não. Vá fazer o que pretendia e me deixe em paz," Ally resmungou, largando suas luvas e virando as costas para o estranho. Mesmo que ele quisesse conversar - a princesa perdeu todo o interesse no homem misterioso assim que descobriu que ele era parente de Jeffrey. O que eles esperavam? Que ela fizesse amizade com uma pessoa que não é capaz de respeitar sua mãe?
"Não posso reclamar da vista aqui, princesa. Então, não vou a lugar nenhum. Você não precisa ser tão chata; eu só queria fazer amigos," ele ficou parado como uma estátua; o tom de sua voz não mudou nem um pouco. Ally tentou pensar em uma maneira de se livrar dele - o homem não cheirava como um shifter ou humano. Qualquer shifter que foi à escola por um dia sabia que aqueles sem cheiro não são pessoas que você quer encontrar. Não importa qual posição você ocupasse - se o estranho não tinha cheiro, não havia nada além de problemas por vir.
"Eu não faço amizade com babacas," Ally rosnou e abriu a porta da jaula. Ela saiu da enorme construção, e ele finalmente teve a oportunidade de vê-la por completo.
A princesa sentiu suas bochechas ficarem vermelhas enquanto os olhos dele percorriam cada curva de seu corpo. O motivo pelo qual ela se escondia era que Ally tinha o mesmo tipo de corpo que sua mãe. Ela era em forma, mas curvilínea nos lugares certos - algo que chamava a atenção de muitos homens. Ally de repente se lembrou dos dias em que tinha que treinar o dobro dos outros. Os homens queriam desistir ou simplesmente evitar lutar com a princesa. A jovem teve que fazer muito para provar seu valor.
"Você não me conhece," ele respondeu, mordendo o lábio inferior. Por mais que tentasse, ele não conseguia evitar o sorriso que surgia em seus lábios, especialmente perto da princesa. Jeffrey lhe contou muitas histórias sobre ela, mas todas estavam ligadas à sua natureza agressiva. Seu primo nunca mencionou os olhos azuis brilhantes, o cabelo longo e um pouco ondulado, e um corpo de tirar o fôlego. E aquela boca - a boca rude, sarcástica e profana dela. Talvez a princesa pensasse que estava afastando o homem, mas ela fazia o oposto.
"Basta que você seja parente do Jeffrey e esteja me olhando como um maldito pervertido. Eu já tenho amigos suficientes, não preciso procurar novos." Ally deu de ombros. Ela desfez o nó do vestido e deixou a saia cair, escondendo suas pernas. A princesa examinou os arredores; ela estava esperando por alguém. Suas ações fizeram o jovem se sentir desconfortável - um pouco ciumento. Por que ela não estava esperando por ele? Talvez fosse a primeira vez que se encontravam, mas seus olhos não mentiram quando o avaliaram.
O estranho abriu a boca para falar, mas alguém correu direto para a princesa, tirando sua oportunidade de conversar.
"Amor!" o homem gritou, puxando Ally para um abraço apertado.
"Demorou. Pronto para levar uma surra?" ela sorriu.
O recém-chegado os observava de longe - era evidente que ambos eram algo mais do que apenas amigos. Muito mais do que parceiros de treino, aliás.
"Quem é esse?" Damien voltou sua atenção para o homem que estava de lado. Ele jogou o braço em volta dos ombros de Ally de maneira um tanto protetora. Suas ações deixaram o jovem confuso - agindo como namorado e apenas um amigo próximo ao mesmo tempo. Não podiam decidir o que eram?
"Convidado. Papai convidou a família cujo filho eu bati hoje. Este é o primo do bastardo." A princesa tentou ao máximo soar malvada. Ela não queria nada com a família e seus parentes. O plano era simples - se eles acharem que ela é uma mimada, ninguém vai querer ser amigo. Aparentemente, um era burro o suficiente para ficar perto de alguém que agia como a pessoa mais tóxica de todas.
"Eu sou Damien, prazer em conhecê-lo. Não ligue para a Ally; obviamente, algo subiu no rabo dela hoje e morreu lá," Damien riu, estendendo a mão para o estranho apertar.
"Arex, prazer em conhecê-lo também," ele retribuiu o aperto de mão e sorriu. Seus olhos pousaram em Ally mais uma vez enquanto ele falava: "Você faz parecer que é difícil fazer amizade com a princesa. Nome bonito, aliás," Arex piscou para ela.
"Não acredito. Cara, você quase compartilha o mesmo nome com o lobo do Rei. Isso é louco, mas de um jeito incrível." O amigo de Ally riu.
"É, exceto que ele soa como um maldito dinossauro, o que provavelmente é," Ally resmungou e revirou os olhos. Ela queria se afastar do estranho, não assistir Damien fazer amizade com ele. Damien continuou falando; não importava sobre o quê - ele simplesmente falava. Ally e Arex não precisavam dizer nada, já que não conseguiam falar uma palavra quando Damien se empolgava. Ambos se encaravam com tanta intensidade - qualquer outra pessoa vendo-os de lado sairia do lugar instantaneamente. Ally olhava para o jovem com ódio enquanto Arex continuava desafiando-a. Nenhum dos dois percebeu como a conversa foi desaparecendo; ambos ficaram sozinhos, ainda se encarando.
"Eu gosto do seu nome," Arex afirmou. Ele não conseguia decidir exatamente o que queria - uma amizade genuína ou irritar a princesa. Qualquer que fosse, mais cedo ou mais tarde, ele teria sucesso.
"Eu não gosto do seu," Ally retrucou sem pensar nas palavras que saíam de seus lábios entreabertos.
"Então, você não gosta do nome do lobo do seu pai, hein? Aposto que ele ficaria magoado ao descobrir que sua própria filha odeia o nome dele. Quão insensível você pode ser? Hoje foi tão agitado para você - bater no meu primo, ser uma idiota comigo sem motivo aparente, e agora isso," ele continuou provocando Ally.
Arex se pegou admirando a carranca no rosto dela - ela franziu os lábios e arqueou as sobrancelhas. Ele tinha certeza de que a princesa tinha um motivo para agir de forma tão rude e afastá-lo. Ele não fez nada de errado, afinal. Sim, Arex a observou, mas não pôde evitar - a jovem o encantou assim que ele pôs os olhos nela. Quem ela poderia culpar? A princesa era a definição de beleza. E a raiva, ah, como ele admirava o temperamento dela.
"Pare de me confundir; eu não quero ser amiga. E o nome da besta do meu pai é Ares, não Arex. Parecido, mas não igual." Ally continuava resistindo a ele. Havia algo errado com ele, e como ela não conseguia descobrir o que era, a jovem decidiu manter distância. Por outro lado, Arex se sentia mais atraído por ela a cada minuto enquanto ela tentava afastá-lo.
"Vamos, princesa, eu não acredito que você tenha isso tão enfiado no rabo assim," quando a última palavra saiu de seus lábios, Ally teve o suficiente. Ela levantou o punho e desferiu um soco em Arex, mirando diretamente no rosto dele.
Ela arfou quando o homem agarrou seu punho e a puxou para perto, seu rosto colidindo com um peito duro como pedra. Ally tentou se afastar dele, mas suas mãos se enrolaram em sua cintura como cobras. Ela estava presa pelo homem que acabara de tentar socar. Arex se inclinou para seu ouvido e sussurrou: "É só isso que você tem, princesa?"
Ele estava zombando dela de propósito.
Ally não pensou muito, levantou o joelho, desta vez mirando nos testículos dele, mas o homem arrogante prendeu sua coxa entre as dele.
Seus olhos se encontraram; ela não queria nada mais do que arrancar aquele sorriso do rosto dele. "E agora, princesa?" Arex mordeu o lábio, seus olhos alternando entre os olhos e os lábios dela. Ele se inclinou. Ally se afastou dele, tentando sair de seu aperto. Ela esqueceu que poderia bater a testa na dele, pelo menos ganhando algum tempo, mas já era tarde demais. Arex usou seu estado de impotência e pressionou os lábios contra os dela. Ele beijou seus lábios; o homem teve a decência de evitar beijá-la à força.
"Você tenta ao máximo parecer um limão azedo, princesa, mas deixe-me te dizer uma coisa," seus lábios mais uma vez se aproximaram de seu ouvido. Sua respiração fez cócegas na pele sensível do pescoço dela enquanto ele falava: "Mas seus lábios são doces como bala. Continue fingindo; você não vai esconder o sabor dos seus lábios, não importa o quanto tente."
Ele a soltou e se afastou da princesa confusa. Ele esperava que ela surtasse, gritasse ou tentasse bater nele novamente. O que ela fez o chocou. Ally virou as costas para Arex e foi embora. Ela não olhou para trás nem disse uma palavra, simplesmente foi embora.
Por um tempo, Arex ficou ali, esperando que a princesa voltasse, provavelmente com armas. Mas ela não voltou.
Arex deu de ombros e voltou para a casa, seguindo as risadas e vozes altas. O Rei e sua família estavam sentados à mesa, mas a Rainha não estava à vista.
"Onde está a Ally?" Eros questionou o jovem, levantando-se lentamente de seu assento.
"Ela foi embora," o jovem respondeu casualmente - como se não estivesse nem um pouco afetado. Ele realmente se sentia inquieto, no fundo, preocupado com o bem-estar dela.
"O que você quer dizer com 'ela foi embora'?" Eros colocou suas grandes mãos na mesa e se inclinou mais perto do jovem. Sua estrutura maciça era intimidante por natureza, mas os movimentos lentos e predatórios assustariam qualquer um. Shifter ou não - a maioria da população parecia aterrorizada ao seu redor.
"Bem, a princesa não queria conversar. Ela não queria fazer amizade ou falar. Sua filha tentou me atacar - duas vezes," quando Arex explicou o que aconteceu, um sorriso cresceu em seus lábios. O tipo de sorriso que não significava coisa boa.
"É estranho, minha filha não é de atacar sem um bom motivo," Eros se sentiu confuso. Havia uma razão para ela ter atacado Jeffrey, mas o jovem que estava na sua frente não parecia ter feito nada.
"Talvez porque eu a beijei? Espere, eu fiz isso depois que ela tentou me socar."
"Você fez o quê?!"