




2. O jantar: Voltou para levar outra surra, gatinha?
Eve se envolveu no roupão felpudo que Eros lhe deu. Ele continuava insistindo que ela ficava fofa, mas Eve achava que parecia uma bola de lã. Ela abriu a porta do quintal e gritou para sua filha: "Ally, entra, por favor!"
Ela sabia que levaria um tempo até Ally reconhecer sua presença. Aquela menina era muito parecida com o pai. Sempre pronta para se meter em qualquer tipo de encrenca ou briga. "Ally!" Assim que Eve avistou sua filha, gritou novamente.
"Um segundo, mãe, vou mostrar para esse lixo qual é o lugar dele. De cara na terra," Ally sorriu para sua mãe. A jovem tinha uma grande habilidade de controlar suas emoções, não importava a pressão que estivesse sentindo. Sempre que Ally estava perto dos pais, ela era a pessoa mais amorosa, doce e gentil do mundo. Vê-la no campo de treinamento era como ver outra pessoa - independente, forte e temível.
"Se apresse; você precisa tomar banho e se trocar antes do jantar. Seu pai vai receber convidados," Eve soava calma apesar do medo que sentia sempre que sua filha lutava contra alguém. Já tinham passado por isso milhões de vezes, mas Ally era seu bebê e sempre seria. Como mãe, Eve tinha todo o direito de se preocupar com sua filha.
Seus olhos não deixavam a forma de Ally - os movimentos, a técnica e a velocidade lembravam Eros. Levou menos de um minuto para derrubar o homem. Eve riu, notando a pequena dança da vitória de Ally. Não importava o quanto Ally insistisse que já era adulta - o comportamento infantil ainda estava lá. Raramente, mas estava.
"Parabéns, querida! Agora, por favor, me siga - temos muitas coisas para fazer antes dos convidados chegarem," Eve abriu os braços e abraçou Ally. As duas estavam de ótimo humor, brincando e rindo enquanto se dirigiam para dentro do castelo.
Nenhuma delas notou o Rei, que estava ao lado da janela do escritório, observando suas meninas. Eros sorria como se tivesse ganhado na loteria, e na verdade - ele tinha ganhado o prêmio máximo. Um dos guerreiros o notou e ficou boquiaberto, era raro ver o Rei demonstrando qualquer emoção. Eros lançou um olhar severo para o homem, seu rosto voltando à habitual expressão fria.
Eros ficou ao lado da porta do escritório, esperando que sua companheira e filha passassem. Assim que ouviu as risadas, saiu do gabinete para esperá-las no corredor.
"Senhoras," ele sorriu, piscando para sua companheira. Apesar da falta de sono e das incontáveis rodadas de enjoo matinal, aos olhos dele, Eve ainda era a mulher mais bonita do planeta.
"Oi, pai, a mãe já me contou sobre os convidados. Prometo me comportar," Ally levantou as mãos, tentando passar pelo pai o mais rápido possível. Ela não estava com humor para ouvir mais um sermão sobre sua natureza explosiva.
"Eu sei, só estou garantindo que você vai se comportar e usar um vestido. O jantar será bastante formal; discutiremos alguns assuntos importantes. Não se preocupe, sua mãe e algumas Ômegas vão te ajudar. Agora, corra e tome um banho, você está fedendo," Eros anunciou, com um toque de diversão na voz. Todos sabiam que sua filha não era exatamente uma princesa-princesa. Ela corria com os meninos, lutava com eles e se metia em muitas encrencas. Ela agia mais como um filho do que como uma filha.
"Pai, você está realmente dizendo para sua filha de dezesseis anos que ela está fedendo?" Ally reclamou, fingindo um suspiro e colocando a mão sobre o coração.
"Eu te amo, Ally, mas você está fedendo. Vai, quero passar um tempo de qualidade com sua mãe," o sorriso no rosto de seu pai significava apenas uma coisa - ele estava prestes a beijar sua mãe intensamente. Os olhos de Ally se arregalaram; ela olhou para Eros, engoliu em seco e saiu correndo assim que ele se aproximou de Eve.
A jovem correu para seu quarto e fechou a porta com um estrondo. Ally trancou-a duas vezes para garantir que seus pais não se convidassem para entrar como de costume. Um longo vestido azul claro estava estendido em sua cama, acompanhado de sapatos e alguns acessórios. Ela estremeceu de desgosto, esperando a oportunidade de se livrar daquela peça de roupa temida antes de vesti-la. Se pudesse escolher, Ally usaria um moletom, calças de moletom e tênis. Ela deu uma última olhada nas roupas escolhidas pelas Ômegas e gemeu, caminhando lentamente para o banheiro.
Ally não percebeu quanto tempo passou no banho, então as batidas agressivas na porta de seu quarto a assustaram. Ela pulou do chuveiro, enrolou uma toalha ao redor do corpo e correu para a porta. Do outro lado estava uma mãe muito irritada e algumas Ômegas frenéticas.
"Finalmente, demorou," Eve resmungou, entrando no quarto da filha. Seu andar lembrava Ally de um pinguim nos últimos dias.
"Desculpa, perdi a noção do tempo. E ninguém me disse a que horas os convidados chegariam. Achei que teria pelo menos uma ou duas horas se o papai te sequestrasse," Ally riu enquanto sua mãe corava. As servas sussurravam entre si, rindo como a princesa.
"Pare de brincadeira, vamos te arrumar para que eu possa tirar uma soneca antes do jantar. Minhas costas estão me matando sem suas piadas, mocinha," Eve sentou na cama e suspirou, revirando os olhos. "Vamos ao trabalho, meninas," ela acrescentou.
Por mais de trinta minutos, Eve se divertiu com a expressão de desagrado no rosto da filha - a variedade de expressões de nojo divertia a Rainha. As Ômegas trançaram parte do cabelo de Ally, deixando o restante solto. A maquiagem era simples, mas extravagante - a sombra esfumaçada fazia os olhos azuis da princesa se destacarem, mesmo com um vestido tão claro ela lembrava mais uma guerreira viking do que uma realeza.
"Ally, você está linda," Eve quase chorou. Sua filha havia se tornado uma jovem linda, apesar do comportamento e das características. "Espere até seu pai te ver, ele vai cair de joelhos em choque," a mãe orgulhosa soluçou.
"Não precisa exagerar, mãe, mal posso esperar para sair dessa coisa. Não sou eu - a maquiagem e o vestido. Mas eu gostei do cabelo."
"Desça e se junte ao seu pai enquanto ele recebe os convidados. Vou tentar encontrar um paraquedas para caber meu traseiro gordo," as Ômegas ajudaram a Rainha a se levantar e a levaram para o quarto principal. Por alguns minutos, Ally considerou várias maneiras de escapar da tortura. Ela poderia pular pela janela ou sair sorrateiramente pela ala das Ômegas. A tentação era terrível, mas a princesa sabia que a guarda poderia notar suas tentativas de fuga, especialmente com aquela roupa. Ally gemeu em derrota e saiu do quarto - descendo as escadas o mais devagar possível. Ela não estava acostumada com sapatos de salto, outro problema para lidar naquela noite.
Seu pai estava no hall, apertando a mão de um homem que Ally nunca tinha visto antes. Uma mulher estava ao lado dele, com um sorriso brilhante nos lábios.
Ao lado da mulher estava um jovem - mais ou menos da mesma idade de Ally ou um ano mais velho. Ela parou e deu uma boa olhada no estranho - ele era bastante bonito. Alto, visivelmente em forma, até a voz dele soava gentil e convidativa. Ela não conseguiu notar a cor dos olhos dele, mas o cabelo loiro sujo parecia combinar com ele. Ela continuou observando a cena por um tempo, mordendo o lábio inferior. Do nada, uma onda de autocrítica a dominou, fazendo Ally pensar que fez a escolha certa ao cumprir as decisões dos pais. O rapaz era um colírio para os olhos, e Ally aproveitou a vista por um tempo. Até que alguém se moveu ao lado dele - outro jovem. Ally apertou os olhos na tentativa de perceber quem era; a voz soava estranhamente familiar.
"Jeffrey maldito Thompson," Ally rosnou.
"Voltou para levar outra surra, covarde?" Ela rosnou, descendo as escadas apressadamente. O rapaz bonito não a interessava mais - ela via vermelho, sua loba exigia o sangue de quem ousou desrespeitar sua mãe.
A mulher gritou, toda a cor sumiu de seu rosto. Se o homem mais velho não a segurasse tão firmemente, ela teria desmaiado. Os olhos de Jeffrey se arregalaram de medo; seu queixo caiu ao notar Ally. Desta vez, o jovem não pensou em correr ou se esconder - vê-la vestida como uma mulher o deixou chocado. Ally estava tão focada em sua presa que não notou o estranho sorrindo para ela; ele a observava silenciosamente, divertido. Eros agarrou sua filha pela cintura e a jogou sobre o ombro.
"Calma, querida, não precisa de violência," ele tentou acalmar Ally. Ela tentou sair do aperto dele, mas a ideia de bater com os punhos nas costas do pai não passou por sua mente.
"Calma? Calma, você diz? Oh, pai, eu vou. Me solte e eu vou ficar calma como um pepino do mar na maldita Antártica," a loba de Ally - Serafima - rosnou.
"Serafima, devolva o controle à minha filha. Não precisamos de problemas desnecessários durante o jantar. Comporte-se," Eros sorriu para seus convidados. A família os observava horrorizada, todos menos um.
"Queridos convidados, por favor, não se deixem afetar pelo comportamento de nossa filha. A princesa está cansada e de mau humor. Vamos para a sala de jantar," Eve desceu as escadas enquanto falava. A família se curvou diante da Rainha, recebendo um aceno de reconhecimento.
"Ally, Serafima, comportem-se - ou nada de treinos ou corridas por um mês," Eve sorriu ameaçadoramente para sua filha. Ela conhecia a princesa muito bem - escolhendo as duas coisas com as quais poderia manipulá-la.
"Eu vou me comportar." Ally suspirou em derrota, e Eros finalmente a colocou de volta no chão. Enquanto os adultos se dirigiam para a sala de jantar, Ally lançou um olhar mortal para sua vítima e murmurou, "Eu sei onde você mora. Eu sei em qual escola você estuda, desgraçado."
"Obrigado pelo convite, sua alteza. Em primeiro lugar, queríamos pedir desculpas em nome de nosso filho. O que ele fez foi errado, e estamos realmente desapontados com suas ações. Esse é o principal motivo pelo qual pedimos que meu sobrinho nos acompanhasse - ele pode cuidar de Jeffrey como ninguém," a mãe, Claire, falou. Ela soava genuína, mas o tom de medo era facilmente perceptível em sua voz.
"Vamos falar sobre o assunto depois do jantar. Agora, devemos aproveitar o jantar e a companhia uns dos outros. Minha companheira é forçada a passar muito tempo em casa devido a complicações na gravidez, mas acredito que vocês, senhoras, poderiam se tornar grandes amigas." Eros falou, alcançando a mão de Eve e beijando o topo de seus dedos. Claire quase pulou de alegria, obviamente animada para passar mais tempo com a Rainha. Ela admitiu que uma parte dela estava feliz pelas ações de seu filho - a mulher sonhava em conhecer o casal real há anos. Todos estavam sentados ao redor de uma grande mesa - os pais conversavam e apreciavam a comida. Até Jeffrey enchia as bochechas enquanto Ally olhava para o prato sem rumo, e o estranho a observava. Ela tentou ao máximo se comportar, mas a princesa não conseguiu manter sua promessa quando o olhar do estranho parecia queimar buracos em sua pele.
"Por que você não tira uma maldita foto e fica olhando para ela? Eu não sou uma estátua ou pintura - siga o exemplo do seu porco de primo e coma. O mais rápido que puder, e suma daqui," Ally se levantou de um salto, fazendo a cadeira cair com um estrondo.
"Ally, o que deu em você? Você não age assim!" Eve ofegou. Todos os olhos estavam em Ally; ninguém notou o sorriso orgulhoso no rosto do Rei. Eros e Ares estavam esperando por esse momento - quando sua filhote explodisse e jogasse um pouco de gasolina na chama. Pelo menos o jantar não está chato.
"Esse idiota me irritou, obviamente! Ele tem o direito de andar por aí, falar merda sobre minha mãe humana e sair impune? Eu deveria ter feito pior. Oh, Jeffrey, como me arrependo de ter parado quando você começou a chorar. Da próxima vez que eu te pegar, é melhor rezar aos deuses para que eu não leve um taco de beisebol comigo! Lobisomem ou não - vou garantir que você não ande por meses. E quando se recuperar - vou fazer isso de novo e de novo. Vamos ver como você vai manter seu orgulho humano então. Notícia de última hora, idiota - você foi espancado por uma meio-humana, mulher ainda por cima. Qual é o problema? Não consegue ser um herói na frente dos seus pais e manter a pose, hein? Mantenha seu estúpido cão de guarda na coleira; eu odeio quando as pessoas me encaram." Ally tremia de raiva. Ela desviou o olhar para os pés, fechou os olhos e respirou fundo. A princesa deixou todos sem palavras, então falou novamente.
"Mãe, pai, não estou com fome. Não consigo encontrar forças dentro de mim para comer perto de latas de lixo. Com licença; vou bater no Damien se não puder socar o idiota do outro lado da mesa," Ally sorriu falsamente para os pais de Jeffrey e saiu da sala de jantar.
"Ela é uma garota difícil, leva tempo para se acostumar com novas pessoas," Eros riu, balançando a cabeça.
"Contanto que Damien esteja de acordo com a luta, ela pode se divertir," Eve decidiu deixar passar o surto de Ally. Ela sabia que sua filha estava defendendo-a. Apesar do ódio pela violência, Eve ficará ao lado de sua filha e apoiará suas ações.
"Por favor, vamos aproveitar a noite e a comida maravilhosa juntos, queridos convidados," ela falou enquanto enchia as bochechas. Eros riu de sua companheira, mesmo depois de todos esses anos ela ainda podia agir como uma jovem filhote. As conversas fluíram suavemente; Eros e os pais de Jeffrey discutiram a briga entre a princesa e o jovem. Todos concordaram que ambos os lados eram culpados - Jeffrey por falar mal dos humanos, incluindo sua Rainha. E Ally por atacar o jovem visivelmente mais fraco. Os pais decidiram conversar com os filhos em particular para garantir que tais coisas não aconteçam novamente.
"Vou comprar aquele carro que ela queria," Ares uivou no fundo da mente de Eros. A besta pulava como uma criança que comeu doces demais. O orgulho que sentia por sua filhote era outro nível de amor paternal.
"Correção - nós vamos comprar aquele carro," Eros concordou. No fundo, ele sabia que o que Ally fez estava errado, mas não podia deixar de sentir orgulho. Ela defendeu sua mãe, mesmo na frente do valentão e de sua família.
"Com certeza!" Ares uivou.