




Parte 1
Mia desceu até o térreo, onde ficava a sala de correspondências. Era um lugar movimentado, com muitas pessoas entrando e saindo regularmente. Mas havia uma constante: um homem sentado à mesa, feliz, cantarolando uma música que ela não reconhecia, mexendo nos papéis como se não quisesse estar em nenhum outro lugar.
Ela olhou para o homem antes de apressar seu trabalho, mesmo sendo recebida com um grande sorriso.
"Não foi tão ruim, foi?" Sean perguntou, com um brilho de travessura sempre presente em seus olhos. Era sobre o cantarolar dele. Ela sabia disso.
"Nem um pouco, Sean." Mia mentiu enquanto tentava terminar seu trabalho. Não deveria ser responsabilidade dela, pelo amor de Deus. Há tantas pessoas no escritório, mas ela foi encarregada disso. Com um suspiro, ela olhou para a luz piscando, seu interior se contorcendo com o tique-taque do relógio.
"Uma mulher do meu coração. Você é a única que aprecia meu talento, Mia," Sean exclamou como o homem exagerado que era, jogando os braços no ar. Sentar no pequeno e abafado escritório fazendo cópias de todos do andar faz isso com você. Não é um trabalho glamoroso, afinal.
"Tá, tá," Mia respondeu, embora não conseguisse entender as palavras dele.
Nesse momento, ela ouviu a porta se abrir. Olhando por cima do ombro, ela notou Lizzie. Ela também trabalhava como recepcionista no mesmo escritório.
"Oi."
Lizzie sorriu timidamente. "Oi. O Sr. Rossi está hoje?"
Sean fez um barulho. "O chefão?"
Mia engoliu a pouca saliva extra na boca ao pensar naqueles olhos verdes brilhantes. A maneira como eles ficavam nela. A maneira como se arregalavam e se inflamavam toda vez que ele ficava irritado. Ela nunca o viu sorrir. Aposto que ele ficaria hipnotizante com aqueles olhos enrugados. Sua voz profunda, tão tensa e áspera, quase fazia seu interior derreter.
Não! Ela não pode ter esse tipo de pensamento sobre seu chefe. Isso não é nada profissional.
"Não é a única coisa grande nele," Lizzie arqueou as sobrancelhas, inclinando-se para trás.
"Cristo, Lizzie, você não pode simplesmente dizer isso," Sean fez um barulho ofendido.
Mia corou com a insinuação. Ela não tinha nada a acrescentar além do fato de que entendia o apelo, com certeza.
Damon Rossi, seu chefe, era tudo o que uma mulher poderia querer. Rico, espirituoso e CEO de uma das maiores empresas de Nova York. Exceto pelo charme. Ele carecia severamente disso. E sempre tinha uma expressão vazia e nunca sorria, também gritava muito com ela. A lista poderia continuar.
Lizzie riu. "Ele é realmente gostoso," comentou despreocupadamente. E claro, seu interesse foi imediatamente despertado.
Mia queria saber o que era tão atraente nele que encantava Lizzie. Não que ela estivesse interessada ou algo assim, mas apenas curiosa. Focando seus olhos na recepcionista, Mia mordeu os lábios.
"Quero dizer, você já viu aqueles braços? Eles são tão poderosos e grandes que eu quero que eles me segurem enquanto ele me fode contra a parede. Ou qualquer superfície, na verdade. Eu só quero muito o pau dele."
Mia riu disso, resistindo à tentação de imaginar seu chefe. "Você está aqui há o quê, dois meses e já quer transar com nosso chefe?"
Lizzie deu de ombros. "Quem não iria querer?"
Ela entendeu o ponto. Mia odiava que a recepcionista tivesse um ponto muito válido com isso e, em vez disso, pegou suas cópias e saiu da sala. Hora de encarar a realidade.
"Olá, Srta. Grace," Damon estava parado na porta do escritório dela, seu corpo pressionado contra a borda da porta. Sua voz era afiada, os lábios pressionados juntos enquanto seus olhos percorriam o corpo dela. Um arrepio percorreu sua espinha com aqueles olhos verdes musgo a seguindo.
Mia estava tendo o pior dia. Depois de derramar água no celular e de alguma forma se enroscar nos lençóis, ela caiu de cara no chão. Como se isso não fosse suficiente, teve um pneu furado e teve que pegar o metrô, o que a fez chegar algumas horas atrasada. Como uma tola, deixou o trabalho de fazer cópias para o último minuto e acabou de terminá-las. Agora ela tinha que lidar com Damon Rossi como a cereja do bolo.
Esboçando um sorriso educado, a jovem de vinte e cinco anos respondeu o habitual "Bom dia, Sr. Rossi," esperando que ele respondesse com seu habitual aceno de cabeça.
"Bom dia?" Ele zombou. "Mais como 'boa tarde', Srta. Grace? Que horas são no seu mundinho?"
Ela apertou os olhos. Ah, então ele percebeu isso.
Mia não pôde deixar de pensar no dia em que lhe ofereceram o emprego. Tudo começou com uma simples sugestão de sua amiga Jane, que conhecia várias pessoas que trabalhavam na empresa e insistiu que poderia puxar alguns fios para pelo menos conseguir um estágio para Mia. Para uma estudante lutando para sobreviver em Nova York, ela quase gritou de empolgação.
O Grupo Rossi era uma das maiores empresas do mundo. Havia várias filiais em todos os lugares, incluindo LA e Londres, mas a filial principal, ou o que você chamaria de sede, ficava bem no coração de Nova York.
Aos dezenove anos, ela já havia sido aceita para ser entrevistada para um estágio remunerado durante o semestre de outono. Tudo o que ela sonhava desde jovem deu certo a seu favor. Dias após sua entrevista, ela recebeu um e-mail que a convocava para um dos prédios de escritórios mais altos e conhecidos de Nova York, às 8 da manhã de uma segunda-feira.
Anos depois, ela ainda trabalhava lá. Só que agora com um novo chefe.
Ela piscou para ele, ciente de seu olhar gelado. Ele era muito mais alto que ela e, antes de trabalhar para ele, Mia nunca se sentira tão pequena. Para encontrar seus olhos, ela precisava levantar o queixo para olhá-lo. Isso claramente o satisfazia, se aquele certo brilho nos olhos verdes fosse um indicativo.
"Tive uma manhã desastrosa, Sr. Rossi. Pode ter certeza de que isso não vai acontecer novamente." Ela engoliu em seco, aliviada por sua voz ter saído sem tremer.
Mia nunca tinha se atrasado antes, mas é claro que seu chefe tinha que fazer uma cena na primeira vez que isso aconteceu. Por que ele não pode deixar passar? Mais de cem pessoas trabalhavam no mesmo andar, sob seu comando, mas de alguma forma ele sempre se deliciava em mirá-la. Passando por ele, ela colocou sua pasta e casaco na mesa e ligou o computador. Tentou fingir que ele não estava lá, parado na porta, observando cada movimento dela.
"Uma manhã desastrosa é uma ótima descrição do que eu tive que passar na sua ausência. Fiz o seu trabalho e o meu esta manhã. Tenho certeza de que, mesmo com uma manhã desastrosa, você conseguiria chegar aqui às oito, Srta. Grace. Algumas pessoas começam a trabalhar antes mesmo do café da manhã."
Com isso, ela levantou a cabeça para encará-lo enquanto seus olhos a julgavam com os braços cruzados sobre o peito — tudo porque Mia estava algumas horas atrasada.
Era difícil para ela desviar o olhar, não encarar como aquele terno escuro envolvia seus ombros largos. Galã era um eufemismo ao olhar para ele; ele estava vestido com um terno de grife, com um relógio de ouro chamativo (que deve ter custado mais do que seu apartamento) preso ao pulso. Suas botas de couro preto com um salto pontudo. Sob a luz solar penetrante acompanhada pelo brilho na sala, ele brilhava, seu cabelo castanho sedoso estilizado de forma muito casual. Como se ele tivesse puxado o cabelo muitas vezes.
Mas é claro, ele tinha que arruinar o momento abrindo a boca: "Espero que saiba que esta é a última vez que você está autorizada a fazer isso. Considere-se sortuda por eu não estar te demitindo pelo seu atraso."
Filho da mãe.
Ela limpou a garganta. "Desculpe, senhor. Entendo o sacrifício que deve ter feito para atender suas ligações na minha ausência. Como eu disse, não vai acontecer de novo."
"Exatamente, não vai." Ele respondeu, com o sorriso pretensioso firmemente no lugar. Se ao menos ele mantivesse a boca fechada, ele poderia ser perfeito. Um pedaço de fita resolveria o problema. "E só para você não esquecer deste pequeno incidente, eu gostaria de ver toda a situação dos nossos três projetos na minha mesa. E então você vai compensar esta manhã fazendo uma apresentação na sala de conferências às cinco."
Seus olhos se arregalaram. Antes que ela pudesse abrir a boca para argumentar, ele já estava fora da sala. Ele sabia muito bem que ela tinha acabado de começar esse projeto. Ela ainda tinha meses para preparar os slides depois que os contratos fossem assinados, o que ainda não havia acontecido. Eles nem sequer tinham sido redigidos ainda. Agora, com tudo o mais jogado em seu colo, ele também queria que ela organizasse uma apresentação. Como ela o odiava!
Murmurando palavrões, ela abriu o arquivo do projeto e começou a trabalhar.
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