CAPÍTULO QUATRO
Ponto de vista de Enya
Nos preparamos no escuro; cada um de nós veste pelo menos duas camadas de roupa. Uma protetora e uma preta, para garantir que nenhum lobo nos note enquanto nos escondemos nas sombras. Você tem que combater fogo com fogo, então procedemos como eles faziam. Eles são os monstros, as criaturas das sombras, mas agora estamos nos tornando eles mesmos. O fone de ouvido no meu ouvido zune; rapidamente guio minha mão até lá e aperto o botão. Meu pai é o único líder que não pode se juntar a nós na emboscada - ele está lidando com problemas médicos, e todos concordam que precisamos mantê-lo seguro. Então, ele está no bunker subterrâneo com a equipe de tecnologia, que nos enviará atualizações ou nos avisará de qualquer perigo potencial. "Enya, você precisa se mover, a cerimônia deles começou, e nossos guerreiros devem cercá-los a tempo. Um erro custará muitas vidas; lembre-se disso," anuncia meu pai, e eu aceno com a cabeça como se ele pudesse me ver. Dou um tapa mental em mim mesma e respondo, "Entendido."
Ele desconecta, e eu suspiro de alívio. Talvez desta vez, não haja ninguém gritando no meu ouvido para me distrair durante a luta. Verifico meu equipamento uma última vez. As adagas de prata estão presas nas minhas pernas, dois rifles e uma armadura pesada pendem dos meus quadris, e a metralhadora está nas minhas costas. Deixo meu olhar percorrer a multidão e levanto uma sobrancelha na escolha de armas deles. Às vezes, precisamos de algo prático e de funcionamento rápido, então só posso rezar por aqueles que escolheram flechas e facões. Alguns desses jovens não teriam tempo suficiente para balançar o facão antes que um metamorfoseado adulto cravasse suas garras neles. Balanço a cabeça, mas não posso dizer nada. Esta é a noite deles, e assim como na minha primeira caçada, nenhum líder ou guerreiro poderia me ajudar a escolher nada. Se alguém cair esta noite, é culpa própria. Nosso mundo é cruel e implacável.
"Caçadores, estamos em movimento!" Viro-me para a massa de seguidores e começo a andar. Certamente alguns deles encontram a oportunidade de fazer um comentário desrespeitoso, mas não consigo me conter e devolvo o favor. "Quando sua coleção tiver tantas cabeças de monstros quanto a minha, você pode falar comigo. Até lá, mantenha sua boca suja fechada, pois não hesitarei se tiver que eliminar alguém que coloque nossa operação em perigo. Não me distraia nem a ninguém aqui. Entendido?" Rosno para os adolescentes. Todos acenam com a cabeça, e começamos a nos mover em direção ao destino. Os fundadores da Aliança, que se juntaram a nós esta noite, riem das minhas palavras. Faz tempo que sugeriram que eu defendesse minha posição, e acho que finalmente chegou a hora.
Chegamos ao local em menos de vinte minutos, e envio nossas tropas para os pontos no mapa. Só posso esperar que eles permaneçam cautelosos e não encontrem nenhum desses metamorfoseados. Tomo minha posição no meio da emboscada e me sento. Devemos esperar pelo comando do meu pai antes que alguém decida deixar sua posição. Meu olhar se fixa na grande fogueira e nas fileiras de mulheres em vestidos brancos. Cada uma é mais bonita que a outra, e quase me pego admirando os erros que a natureza cometeu. Elas são lindas, deslumbrantes até, mas há uma razão para isso. Elas são criaturas de sangue frio que usam sua boa aparência para atrair humanos e nos matar um por um. Fixo meu olhar em uma mulher, que parece ter a mesma idade que eu. Bem diante dos meus olhos, ela de repente vira a cabeça e caminha em direção a um homem que se assemelha a uma montanha de músculos. Ele abre os braços, e ela pula nele; ambos repetem a mesma palavra. "Companheiro." Não sei o que isso significa para ela, mas não consigo parar de olhar para eles. Monstros ou não, eles irradiam tanta felicidade, como se este fosse o auge de suas vidas. Nunca vi tal emoção. Nesse momento de fascinação, quase baixo a guarda, mas o som de alguém pisando em um galho me traz de volta à realidade. Viro a cabeça para o lado e vejo uma garota caminhando em minha direção. Ela é uma de nós. "Quando você andar por aqui, certifique-se de não pisar em nada; um erro como esse pode custar sua vida. Considere-se sortuda porque os metamorfoseados estão ocupados com a cerimônia; em qualquer outra circunstância, você estaria morta agora. Você cairia pelas garras deles ou pela minha arma; não é uma boa ideia se aproximar de mim sorrateiramente."
"Oh, desculpe, ainda sou bem nova nisso tudo, mas tenho certeza de que você sabe," ela sussurra enquanto se acomoda ao meu lado. "Aqui," a garota me entrega uma pequena bolsa. "Seu pai disse que você tinha que usar isso esta noite. Ah, eu sou Emmy, a propósito."
Pego a bolsa dela e sorrio. Eu duvidaria do meu pai se ele não me enviasse a capa vermelha; nunca participei de uma caçada ou batalha sem usá-la. A essa altura, ela se tornou um símbolo da nossa guerra. "Obrigada. Enya," acrescento.
"Eu sei seu nome. Quem não sabe?" Emmy ri um pouco nervosa. Será que ela se sente intimidada pela minha presença? "Você é uma espécie de lenda entre nós." Ela afirma, suas palavras rapidamente me distraindo dos meus pensamentos.
Não pretendo continuar a conversa, temos uma caçada para preparar, mas ela não está na mesma sintonia que eu, pois Emmy continua falando. "Olha, você pode me contar como é? Você sabe, ser uma caçadora e treinar como uma verdadeira caçadora. Meus amigos e eu fizemos algumas aulas de treinamento, mas foram em ambientes fechados. Vou soar como uma stalker, mas nunca te vi treinar com os outros; se é que você treina, você sai e volta da floresta depois. Você ainda treina? Ou você caça enquanto os outros estão treinando? Sei que sou curiosa, mas essas perguntas estão me matando." Estranhamente, acho sua natureza ingênua excitante. Ela é pura e tão nova nesse estilo de vida; é refrescante. Às vezes, invejo os outros porque tiveram uma infância enquanto eu nunca tive.
Tenho tempo suficiente para esperar o momento em que atacaremos os metamorfoseados, então coloco a capa de lado e balanço a cabeça. "Faz um tempo desde a última vez que tive a chance de me juntar aos outros. Eu não sou mais realmente uma caçadora, fui rotulada como assassina, e esse é o trabalho que faço. Se quer que eu seja honesta - você é sortuda. Você é sortuda porque pode lutar entre si e mostrar suas habilidades enquanto sofre pouco ou nenhum ferimento. Meu caso é um pouco diferente. Você ficaria surpresa ao ver as cicatrizes de batalha que tenho sob essas roupas. Como assassina, não posso mais treinar com humanos. Tenho que manter meus sentidos alertas o tempo todo, e para isso, há apenas uma criatura com a qual posso treinar - os renegados."
Emmy se aproxima um pouco mais de mim e sussurra. "Desculpe minha ignorância, mas o que são renegados?"
Ah, droga. Eu não esperava essa pergunta. Os caçadores ensinam seus filhos sobre os renegados e outras criaturas sobrenaturais quando eles completam treze anos. Caramba, Emmy é jovem demais para participar de qualquer caçada, quanto mais uma desse calibre. "Renegados são geralmente metamorfoseados, lobisomens exilados que vivem como lobos selvagens em áreas desabitadas. Resumindo, eles enlouquecem e perdem o pouco de humanidade que têm. Portanto, para mim, eles são a criatura perfeita para treinar. Renegados não sentem nada além de sede de sangue e o impulso de sobreviver." Posso ver que ela está pensando em outra pergunta quando meu fone de ouvido zune novamente, e ouço a voz do meu pai. Precisamos nos posicionar para o ataque. Coloco a capa e aceno para Emmy. O medo brilha em seus olhos, então a tranquilizo dizendo que ela estará segura enquanto ficar perto de mim. Não quero que ninguém da Aliança caia esta noite.
A partir daí, tudo acontece rápido demais. Massas de caçadores saem de seus esconderijos e correm para atacar. Os lobisomens imediatamente retribuem com a mesma energia, e algo me diz que eles sabiam dos nossos planos. Deixo a ideia de lado e decido lidar com isso quando a luta acabar; agora, preciso focar no ataque, não nos detalhes que eles sabem.
"Um," conto cada criatura que cai com minhas balas. Mantenho meu rifle apontado para um lobo e puxo o gatilho. "Dois." Outro lobo grita e se lança sobre mim por trás, mas meus reflexos são quase tão bons quanto os deles. Tenho tempo suficiente para pegar a adaga de prata e jogá-la no lobo. Ela corta profundamente o pescoço da criatura, e a besta cai impotente no chão. Ela não pode curar as feridas infligidas pela prata.
Estou tão ocupada matando os metamorfoseados que perco o momento do desaparecimento de Emmy. O grito de dor chama minha atenção, e meus olhos se arregalam ao ver a cena diante de mim. Emmy está presa no chão por um metamorfoseado adulto enquanto grita por ajuda.
"Emmy!" Grito e corro até ela. Sou estúpida o suficiente para dar conselhos aos outros que eu mesma não sigo. Enquanto meus olhos estão nela, um metamorfoseado aparece do nada e se lança sobre mim. Eu não esperava isso, mesmo depois de todos os anos sendo uma caçadora e assassina. Não é à toa que meu pai sempre me disse que a única pessoa de quem eu tinha que cuidar era de mim mesma. A garra afiada colide com minhas costelas, algumas das quais provavelmente estão quebradas pelo impacto. Paro, olho para baixo e encaro o sangue escorrendo do meu lado.
Caio de joelhos enquanto meu sangue forma uma poça abaixo de mim. Toda a cena se transforma em um caos total enquanto me entrego à escuridão.