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5__Intrusões

Marc observava Amelia, estudando-a de perto. Ele podia sentir sua hesitação, mas era difícil ler sua expressão. Seus olhos dourados estavam fixos e inabaláveis, tornando impossível saber o que ela estava pensando.

“Casar com você,” ela disse, seu tom plano e sem entusiasmo. “Que ótima ideia.”

Esperança e hesitação se agitaram dentro dele. “Você realmente acha isso?” ele perguntou, mas o rosto dela permaneceu inexpressivo.

De repente, seus lábios se curvaram em um sorriso frio e sarcástico. “Se você terminou de se divertir, Sr. Aryan, posso ir embora?”

Ele ficou confuso. “Mas você não respondeu—”

“Eu tenho trabalho a fazer!” ela interrompeu, seus olhos brilhando de raiva.

Ele percebeu que a tinha deixado com raiva. “Desculpe, eu não quis—”

“O que há de errado com você?” Amelia o interrompeu. “Seu filho está doente, e você tem tempo para piadas?!”

Ele precisava explicar rapidamente antes que o mal-entendido crescesse. “Eu não estou brincando, não estou zombando de você, eu…” Ele parou, lutando para encontrar as palavras certas.

Amelia o observava com uma expressão de dúvida no rosto. “Se você não tem nada a dizer, vou me retirar.”

“James e eu precisamos sair do hospital em breve, mas ele ainda precisa de cuidados. Agora, você é a única pessoa que pode acalmá-lo. Ele tem medo de mim…” Marc se aproximou, desespero em sua voz. “Por favor, Dra. Parker.”

Amelia cruzou os braços, não convencida. “Não há razão para que cuidar de Jamie exija que eu me case com você. Eu não sou uma dessas garotas que desmaiam por celebridades como você.”

Marc estava confuso. “Eu não sou uma celebridade. Sou um engenheiro químico treinado e CEO.”

Amelia revirou os olhos. “Obviamente, é por isso que há repórteres lá fora esperando por você. Você é famoso por ser o herdeiro da Aryan Gold. Você não se viu em todos os tabloides?”

Ela se conteve antes de dizer mais alguma coisa. Casar com ele era a piada menos engraçada que ela já tinha ouvido.

Com um suspiro, Amelia verificou Jamie, que ainda estava dormindo. Ela então notou a medicação na bandeja. Aquilo não era de Jamie. Ela olhou para Marc. “Tome seu remédio. Delírio não é um sintoma dos seus ferimentos, mas a medicação ainda pode ajudar a curá-lo disso.”

Marc estreitou os olhos. “Isso é sarcasmo?”

Amelia pigarreou. “Interprete como quiser.” Com isso, ela passou por ele e saiu do quarto do hospital.

Enquanto Amelia marchava pelo corredor, o ar fresco a acalmava. Ela tentava não pensar no passado, mas Marc Aryan estava cutucando suas memórias com um bastão irritante. Ela desejava que ele deixasse o hospital e se transferisse para um lugar melhor, mas não podia arriscar deixar os cuidados de Jamie para outra pessoa.

Não havia como evitar. Ela teria que fazer o seu melhor para ajudar a tratar Jamie para que Marc pudesse ir embora o mais rápido possível.


A voz rouca no telefone riu alto. “O quê? Eu sou avô?!”

Amelia olhou fixamente para seu reflexo no espelho do banheiro. “Jeffery Jules Parker. Isso não é motivo de riso.”

Seu pai riu ainda mais alto e Amelia podia jurar que ele acabara de cair da cadeira. Um riso escapou dela enquanto sua boca se abria em um sorriso hesitante. Fazia três semanas desde que seu pai desaparecera em uma de suas viagens de acampamento e ele finalmente havia retornado. Desabafar com ele era tão curativo.

Mas confiava em seu pai para rir quando ela estava furiosa.

“Oh, Deus,” ele murmurou, rindo roucamente. “Acabei de cair da minha maldita cadeira.” Ela riu disso, balançando a cabeça. “Então, o que? Ele quer você como mãe agora, é isso?”

Ela suspirou, colocando cuidadosamente uma máscara facial. “Ele está apenas confuso. É tudo tão bizarro.”

“Ah, vamos lá, querida, não é tão difícil assim,” disse seu pai. “Você é incrível no seu trabalho, continue ajudando ele e o garoto provavelmente vai se recuperar quando a lesão na cabeça estiver curada.”

Ela franziu os lábios e olhou para o telefone. “Sim, eu estava esperando pacientemente por isso, mas então algo aconteceu hoje.”

“Oh? O que foi?”

“Foi uma piada ruim, mas o pai dele disse algo sobre eu me casar com ele.”

“Você se casar com o garoto?”

“Não, o pai! Deus, pai!”

“Certo, certo, o pai!” Ele riu.

“A criança tem seis anos!”

Seu pai engasgou. “Você tem vinte e quatro, teria tido ele aos dezoito.”

Ela bufou para o telefone com os olhos arregalados. “Uh?! Por que estamos até calculando isso??”

“Ok, de qualquer forma, então o pai dele quer que você se case com ele? Seja a madrasta? Eu não aprovo.”

“Nem eu, não se preocupe,” ela murmurou ironicamente.

Ela suspirou, aplicando o sérum na máscara facial. Ela havia deixado de fora vários detalhes. Como o grande detalhe de que o homem e a criança de quem ela estava falando eram da família Aryan. Amelia não precisava reabrir as feridas cicatrizadas de seu pai, ela manteria essa informação para si mesma.

“Tudo bem, querida, vou te ligar de volta em breve…”

Ela franziu a testa. “Hã? Por quê? Esta é a nossa primeira conversa desde que você voltou à civilização.”

Ele riu. “Desculpe, querida. Acabei de receber uma mensagem da Sra. Annie. Acho que tenho que ir.”

O coração de Amelia afundou. “Não. Não vá. Diga a ela para chamar a polícia.”

“Vamos, amor, você sabe que o papai é o único amigo em quem a Sra. Annie pode contar. Vou lá e me certifico de que ela está bem.”

Soltando um suspiro exasperado, Amelia balançou a cabeça. “Pai—”

“Eu te amo, querida, conversamos depois.”

A linha ficou muda e ela gemeu de frustração. Seu pai tinha acabado de voltar e já estava se envolvendo em problemas.

Pegando seu telefone, ela saiu do banheiro e foi para o quarto adjacente para se deitar na cama.

A Sra. Annie era uma senhora que tinha sido amiga de ambos os pais de Amelia. Isso foi... antes de sua mãe falecer.

A senhora sempre se beneficiou muito da bondade de seus pais, desde que Amelia se lembrava. Ela estava em um casamento abusivo com uma criatura estranha, porque Amelia se recusava a chamar aquilo de homem.

Depois que a mãe de Amelia morreu, a Sra. Annie se tornou ainda mais dependente de seu pai. Sendo o tipo de pessoa que ele era, muito gentil, alguém incapaz de dizer não, seu pai ia ao resgate dela toda vez que ela ligava.

Amelia estava cansada disso. Ela não estava cansada de seu pai ajudar a Sra. Annie, ela estava cansada de sua ajuda nunca mudar nada na vida da mulher. Não importava o quanto seus pais a ajudassem e a tirassem de seu marido abusivo, a mulher sempre voltava.

Várias vezes, seu pai se envolveu em brigas com o homem e a polícia foi chamada. Amelia estava cansada disso. Ainda assim, a mulher não deixava o marido e continuava a usar seu pai para depositar sua bagagem emocional.

Ela pedia ajuda e, uma vez que seu pai ia ao resgate, o próximo passo da Sra. Annie era sempre arranjar desculpas para o marido e voltar porque “ele não poderia sobreviver” sem ela. Isso acontecia há mais de dez anos.

Amelia suspirou. Todo esse drama. Se a criatura com quem ela era casada caísse morta, resolveria todos os seus problemas.

Ignorando a natureza homicida de seus pensamentos, ela olhou fixamente para o teto por quinze minutos e depois rolou para fora da cama, batendo na máscara facial enquanto saía do quarto.

Ela queria ligar e verificar Jamie, mesmo estando de folga. Isso não significava que ela era uma workaholic, ela só queria ter certeza de que seu paciente mais crítico estava bem.

Terminando de se justificar, Amelia desceu as escadas, cantarolando no silêncio de seu apartamento.

Amelia congelou quando ouviu uma batida na porta.

Ela olhou para a porta, uma ruga se formando em sua testa.

Ela se perguntou quem poderia ser. Ela não havia pedido nada, e seus vizinhos sempre se mantinham reservados.

Um pensamento repentino ocorreu a ela, mas ela rapidamente o afastou e caminhou em direção à porta.

Ela disse a si mesma que não havia como ser Marc Aryan batendo. Isso não era um romance onde o protagonista masculino aparece na porta da protagonista feminina em momentos aleatórios da noite.

Respirando fundo, ela abriu a porta e se viu cara a cara com Marc Aryan. Ele tinha olhos verde-mar que a encaravam, e ele a cumprimentou educadamente.

“Boa noite.”

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