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3_Marc Aryan

Marc olhou fixamente para a garota no centro da sala, estudando cada detalhe de seu rosto, desde os cachos castanhos em sua cabeça até os olhos grandes e dourados e a boca que ela deixava aberta como um esquilo assustado.

O que era isso? Seu olhar lentamente se voltou para Jamie, que ainda estendia a mão para a garota estranha.

"Mamãe," chamou a criança novamente.

A carranca de Marc se aprofundou. O que diabos estava acontecendo? Ele quase havia perdido James e chorou de gratidão por seu filho ter sobrevivido, mas... agora James não o reconhecia? E estava chamando essa garota estranha de mãe. O que estava acontecendo?

"Parker?" disse o Dr. Kruger com uma sobrancelha levantada.

"Sim, doutor?!" guinchou Amelia, seus olhos arregalados se voltando para seu superior.

"Não fique tão assustada, a criança ainda está em estado de confusão." Ela olhou para Marc Aryan, que estava ali parado, encarando Amelia como se ela fosse a causa de seus problemas. "Sr. Aryan, por favor, não se preocupe. Tenho certeza de que a amnésia é apenas temporária."

Engolindo em seco, Amelia olhou para a criança que a observava com olhos azuis lacrimejantes.

"Indique possíveis causas," ordenou o Dr. Kruger.

"O trauma na cabeça que ele sofreu," respondeu Amelia, caminhando lentamente em direção a Jamie, que a observava se aproximar. "Dano ao tálamo ou talvez ao hipocampo do cérebro dele..."

Ela começou a se abaixar ao lado da criança.

"Não."

Amelia congelou. Piscando, ela olhou para trás e encarou Marc Aryan. "Desculpe?"

O olhar em seus olhos era tão sombrio quanto na primeira noite em que chegaram ao hospital, só que agora ele também parecia hostil. "Não se sente ao lado dele."

O rosto dela ficou vermelho. "O... oh."

Ela começou a se levantar, mas uma pequena mão segurou a manga de seu jaleco branco.

"Mamãe, minha... minha cabeça dói..."

Amelia olhou para a criança cujos olhos azuis estavam se fechando, mesmo que ele ainda segurasse seu braço. Ele ainda estava fraco.

Ela olhou para a cabeça enfaixada dele e se virou para o Dr. Kruger. "Ele deve estar com dor de cabeça, poderíamos prescrever—"

"Saia."

O coração de Amelia pulou uma batida ao sentir os olhos verdes penetrantes dele fixos nos seus. Ela tinha ouvido falar da beleza rústica de Marc Aryan, mas a intensidade de seu olhar era algo que ela nunca esperou.

Amelia hesitou. Seus olhos subiram do Dr. Kruger para o homem ao lado dela. Seu rosto era tão bonito quanto ela tinha ouvido. Seus olhos se estreitaram. Mas ninguém lhe contou sobre sua atitude grosseira? Como sua atitude podia ser tão ruim quando ele quase foi despedaçado há pouco tempo? Por que ela estava surpresa? Era típico do tipo dele.

Ela tentou ignorar a atração que sentia por ele e se concentrou no assunto em questão. "Jamie é meu paciente. Estou fazendo meu trabalho."

"Sua presença está confundindo-o, você deveria sair," ele disse facilmente, sua voz profunda calma e respeitosa. Isso era ainda mais irritante. Como ele podia falar tão diretamente e ainda assim tão educadamente?

Seus olhos verdes estudaram de perto o rosto dela e Amelia tinha certeza de que ele podia ver seu descontentamento. Com um bufar, ela se endireitou e enfiou as mãos nos bolsos do jaleco.

Ele franziu a testa enquanto seu olhar percorria o rosto dela. "Você parece descontente por eu ter lhe dito para sair."

Ela fez uma careta. Sério? O que havia com esse homem?

Ninguém mais na sala disse uma palavra, não podiam. Não para Marc Aryan.

Ele inclinou a cabeça de uma maneira estranhamente robótica, uma mecha de seu cabelo preto caindo contra sua testa enquanto ele fazia isso.

O Dr. Kruger suspirou. "Leah, eu a chamarei, você pode se concentrar em seus outros pacientes por enquanto."

Amelia franziu a testa. "Mas, doutor, Jamie precisa—"

"Isso é uma ordem, Dra. Parker."

"Ah, sim!" murmurou Amelia com um sorriso forçado. "Uma ordem. Sim, senhora."

Os olhos castanhos do Dr. Kruger se estreitaram, mas ela não disse nada.

Lançando um último olhar para seu paciente, Amelia se virou e saiu da sala.

Enquanto se virava para sair, não pôde deixar de dar uma última olhada em Marc. A camiseta preta e o jeans que ele usava abraçavam perfeitamente seu corpo musculoso, que estava adornado com hematomas e bandagens visíveis.

Ao sair da sala, não pôde deixar de se perguntar como seria conhecer o verdadeiro Marc por trás de toda aquela dureza.


Fazia apenas duas semanas desde que eles haviam retornado da Alemanha. Ele não havia saído deste hospital desde então e não permitiu que ninguém entrasse. Sete anos, ele havia estado fora.

Marc estava com a cabeça abaixada e os olhos fechados. Em sua mão repousava a pequena mão de Jamie.

No mesmo dia em que retornaram, tudo começou. No primeiro dia, logo na chegada, começou. Eles estavam dirigindo do aeroporto.

Ele só precisava fechar os olhos para se lembrar das luzes brilhantes do carro que se aproximava. Seu motorista gritou em pânico enquanto segurava o volante, mas foram atingidos antes que qualquer um deles pudesse pensar.

O ataque veio do lado de Jamie. Marc deveria ter sido mais rápido para protegê-lo.

Uma dor profunda encheu seu peito e ele apertou mais a mão de seu filho.

Tinha sido apenas o primeiro dia de sua chegada à Inglaterra e a guerra já havia começado.

Seu maxilar se contraiu. O motorista tentou desviar, mas o impacto sozinho causou muitos danos.

Levantando a cabeça, ele olhou para a criança adormecida. Tinha causado muitos danos.

Os olhos verdes gentis que observavam a criança escureceram de raiva. Para terem tocado em Jamie, eles realmente queriam passar sua mensagem de forma clara. Então, eles começaram.

Ele engoliu em seco. Agora Marc iria terminar.

"S... Senhor?"

Ele se virou e viu um jovem enfermeiro tremendo perto da porta.

"Sim."

"É hora de tomar seus remédios... você precisa tomar sua medicação."

Marc assentiu para a bandeja ao lado da cama de James. "Coloque ali. E meu filho? Dê a medicação dele."

O rapaz assentiu. "Sim, senhor! Ah, espere... não, quero dizer..."

Marc olhou para ele com uma carranca.

O pobre rapaz congelou de medo. Lentamente, ele apontou para o soro acima da cama de James. "A enfermeira dele coloca os remédios diretamente no soro... eu sou apenas seu enfermeiro, senhor."

Houve um momento de silêncio e então Marc finalmente desviou o olhar do enfermeiro, ouvindo-o respirar audivelmente.

A porta se abriu e uma enfermeira entrou, piscando quando seu colega praticamente correu para fora da sala. "Olá, olá," disse ela alegremente. "Como está meu menino?"

Marc olhou para ela. "Por que ele não está acordando?"

A enfermeira sorriu. "Ah, ele vai acordar, está apenas descansando. Na verdade, vou acordá-lo agora para ele comer um pouco."

Ele não retribuiu o sorriso dela, encarando-a com uma expressão inexpressiva. O sorriso dela lhe dizia que ela estava... feliz. O que havia para estar feliz, Marc se perguntou. Seu filho ainda estava doente.

O sorriso da enfermeira murchou e ela voltou sua atenção para James, que dormia pacificamente. "Certo, Jamie. Jamie? Acorde, querido, vamos lá. Jamiiee."

Ela o acordou gentilmente, seu sorriso brilhante retornando quando ele se mexeu e abriu os olhos.

No momento em que a criança viu Marc, ele puxou a mão para longe de seu pai. Marc observou os olhos azuis que costumavam olhar adoravelmente para ele se encherem de medo e desconfiança enquanto James se afastava dele.

Ele não conseguiu esconder a decepção em seu rosto por ser tratado assim por seu filho, então Marc se levantou e começou a andar pela sala. Por que ele esperava que James o reconhecesse quando acordasse desta vez?

Outra enfermeira entrou com uma bandeja de comida enquanto ele pegava seu telefone. Havia muitas chamadas perdidas e Marc decidiu que não queria retornar nenhuma delas. Em vez disso, ligou para sua secretária para lidar com isso.

"Eu vou até aí, senhor," disse a voz no telefone.

"Não," disse Marc. "Não ouse trazer trabalho para cá, meu filho está se recuperando nesta sala."

"Oh. Sim, senhor, peço desculpas. O que devemos fazer sobre a reunião dos acionistas? Adiar novamente?"

"Adie," murmurou Marc, levantando a mão para esfregar o rosto. Suas feridas doíam e ele achou melhor abaixar o braço.

"Você ainda está doente, senhor?" perguntou sua secretária, ansiosa. "A... a reunião realmente precisa ser realizada. Eles podem reconsiderar sua tomada de posse da empresa, caso contrário. O presidente—"

O maxilar de Marc se contraiu. "Eu não me importo—"

Um barulho alto encheu a sala e Marc se virou, olhando para os pratos quebrados no chão.

James estava chateado.

"Ok, ok," a primeira enfermeira estava dizendo, segurando gentilmente os ombros do menino enquanto ele empurrava tudo para longe dele. "Calma, Jamie, devagar agora."

A criança começou a chorar e outro prato caiu no chão, fazendo a outra enfermeira soltar um gritinho.

"James, olhe para mim," a primeira enfermeira estava dizendo. "Respire, querido, está tudo bem. Veja, papai está aqui! Olhe para o papai!"

Marc observou com frustração e impotência enquanto seu filho olhava para ele, mas não havia reconhecimento naqueles olhos azuis. Apenas dor. Ele não reconhecia nada nem ninguém e estava com dor. Ele estava frustrado.

"Vamos lá, papai está aqui com você," a enfermeira estava dizendo, tentando acalmá-lo. "Não chore, está tudo bem."

O rosto da criança estava coberto de lágrimas enquanto ele lutava contra sua enfermeira. "Eu não... eu não quero. Eu não quero comer..."

"Está bem, querido, podemos comer mais tarde," disse sua enfermeira gentilmente. "Está tudo bem."

"Minha mamãe. Eu quero minha mamãe..." Caindo de volta contra os travesseiros, ele chorou e segurou a cabeça tristemente. "Minha cabeça dói... eu quero minha mamãe..."

Marc observou em silêncio frustrado. A dor que ele sentia ao ver seu Jamie assim... era indescritível. Como ele poderia ajudar? Como ele poderia tirar a dor de seu filho?

"Eu quero minha mamãe!" Jamie chorou. Quanto mais as enfermeiras tentavam acalmá-lo, mais ele chorava e tremia.

Marc olhou para a porta, o desespero entrando em seu coração. Aquela garota. Aquela garota estranha que havia acalmado James apenas com sua presença.

Ele atravessou a sala e correu para fora da porta.

"Não deixe ninguém além dos médicos entrar," ordenou aos guardas.

Ele tinha que encontrar aquela garota.

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