Capítulo 7: Sawyer
O jeito que Bryn está me olhando agora faz minha pele esquentar. Este é um território desconhecido e agora vamos morar juntos, o que significa que podemos nos deparar com essas situações com frequência. Isso se ela decidir ficar, e caramba, eu quero que ela fique.
“Bryn…”
Seus olhos se levantam rapidamente e ela pisca para mim como se tivesse acabado de sair de um transe.
“Hm? Sim? O quê?” Ela gagueja.
Eu sorrio e contraio um pouco os músculos do meu braço só para obter outra reação dela.
“Eu perguntei se isso está bom?” Eu faço um gesto com a mão sobre minha roupa e ela segue o movimento.
“Ah, sim. Claro! Muito melhor!” Ela se vira tão rápido que seu cabelo balança.
Seus cachos estão tão longos agora, e os anéis castanhos parecem tão macios que eu quero estender a mão e enrolar uma mecha no meu dedo. Em vez disso, coloco minhas mãos nos bolsos e me junto a ela na cozinha.
“O que você está fazendo?” Eu pergunto.
Ela tem vários vegetais diferentes no balcão e um pacote de tofu.
“Um mexido de tofu com vegetais.” Ela diz enquanto pega uma faca e uma tábua de corte.
Eles estão encostados na parede perto do balcão, então foi fácil para ela encontrar. Ela tira o tofu do pacote e usa um dos panos de cozinha para secá-lo e depois o envolve e coloca uma panela em cima.
“O que você está fazendo?”
“Estou tirando o excesso de líquido para que o tofu fique mais fácil de esfarelar.” Ela explica, e tenho que dizer que estou impressionado com a ideia.
Ela começa a picar pimentões, cebola e cogumelos antes de adicioná-los a outra panela. Há um som de chiado satisfatório e quase imediatamente o cheiro de vegetais cozinhando nos envolve.
“Acho que nunca experimentei essa receita antes.” Eu saio do caminho dela e me sento no balcão para observá-la trabalhar.
“Aprendi muito ao longo dos anos.” Ela diz e eu sinto aquele puxão de culpa.
Eu teria tentado isso se tivesse estado mais perto dela. “É uma ideia interessante.”
Ela faz um som de reconhecimento, mas nada mais. Ela está entrando no modo de foco dela, como costumava fazer. Se você tentar falar com ela quando está assim, ela não vai ter ideia do que você está falando. Então eu observo em silêncio e deixo-me absorver cada detalhe dela. Parece que ela saiu de um sonho. Nunca pensei que a veria ou estaria na mesma sala que ela novamente, por causa das minhas próprias ações, é claro. Quando finalmente tirei a cabeça do meu traseiro e percebi o quão horrível eu tinha sido com ela, sabia que precisava me desculpar, mas não o fiz. Fui um covarde.
“Você tem treino hoje?” Ela pergunta de repente.
Estou surpreso com a pergunta repentina, já que ela nunca costumava falar enquanto cozinhava antes.
“Não. Vou encontrar o treinador e depois pegar meu equipamento primeiro.”
“Legal. Seus números têm estado bons.”
O quê? Como ela sabe sobre meus números?
“Você tem acompanhado?”
Todo o corpo dela congela e isso é o suficiente para me dar minha resposta. Quando ela se vira para me olhar, tem a expressão de alguém que foi pega no flagra.
“Eu estava curiosa sobre como as coisas estavam indo desde…”
A raiva surge ao lembrar da minha lesão, mas esta é Bryn. Eu costumava falar com ela sobre tudo...
“Sim, eu voltei quase ao ponto onde estava.” Eu digo despreocupadamente.
“Eu sei!” Ela limpa a garganta e volta a cozinhar. “Estou orgulhosa de como você se recuperou bem da sua lesão.”
Ela diz isso alto o suficiente para eu ouvir, mas se eu não estivesse prestando atenção em cada palavra dela, teria facilmente perdido.
“Eu teria me recuperado melhor com minha enfermeira habitual.” Eu digo cuidadosamente.
“Quem quer que tenha trabalhado com você parece ter feito um bom trabalho.” Ela diz enquanto esfarela o tofu na mistura de vegetais.
“Sim, acho que sim, mas eu não confiava neles. Muito otimistas.”
Ela ri e balança a cabeça. “Isso se chama atendimento humanizado. Eles querem te dar uma perspectiva positiva. Você ficaria surpreso com a rapidez com que um paciente pode se curar mantendo-se o mais positivo possível. A cura não é apenas física, é mental também.”
Eu realmente não sabia disso. Por isso eu deveria tê-la comigo quando me machuquei. Ela sempre soube como me fazer sorrir, mesmo nos meus piores dias.
“Bem, acho que é sorte sermos colegas de quarto. Você vai poder ficar de olho em mim.”
Ela não diz nada, o que me deixa preocupado. Será que ela decidiu ir embora?
“Não sei que ajuda eu vou poder te dar.” Ela se vira para mim e se encosta no balcão. “O time aqui tem seu próprio fisioterapeuta e equipe médica.”
Eles têm, mas não são a Bryn.
“Você não vai trabalhar com o time?”
Ela morde o lábio inferior e se mexe nervosamente. “Eu não estava planejando trabalhar com o time de hóquei. Muitas memórias envolvidas, sabe? Eu ia trabalhar com o time de basquete.”
De jeito nenhum!
“Não. Você não vai trabalhar com o time de basquete! Que porra é essa, B?”
Ela se afasta como se não esperasse minha reação. “Não é sua decisão. Os treinadores também escolhem sua equipe, e eu já fui aprovada.”
Não. Eu pego meu telefone do balcão e rapidamente procuro o número do meu novo treinador. Ele atende após dois toques e eu pergunto se podemos adiantar nossa reunião. Ele concorda se eu puder chegar ao escritório dele em trinta minutos, então, quando termino a ligação, pego meus sapatos e as chaves da Bryn.
“Vou pegar seu carro emprestado!” Eu grito enquanto corro para fora da porta da frente.
“O quê? Sawyer!” Ela corre atrás de mim, mas eu já estou ligando o carro e saindo.
Não me preocupo em seguir o limite de velocidade porque o escritório do treinador fica dentro do rinque, que está do outro lado da escola. Felizmente, a segurança da escola não está por perto, senão eu estaria encrencado por isso. Ainda é cedo, então não há muitos alunos por aí, e eu chego ao rinque em bom tempo.
A porta do carro velho da Bryn fica presa, o que desperdiça um bom tempo. Acabei tendo que sair pela janela, mas depois não consegui fechá-la novamente. As chances de alguém tentar roubar o velho carro parecem baixas, então vou ter que arriscar deixar a janela aberta. Corro em direção à entrada do rinque e pelos corredores até encontrar o vestiário. Alguns caras estão no gelo praticando e estão entrando no vestiário quando eu chego.
“Oh! Você é o nosso novo cara! Como vai, cara? Eu sou o Mitch.” Um dos caras diz. “E este é o nosso goleiro, Bishop.”
O outro cara acena com a cabeça.
“Sim, prazer em conhecê-los, mas eu tenho que encontrar o treinador e estou com pressa.”
“Sim, cara, vá em frente. A gente se fala depois.”
“Legal!” Eu me viro e continuo meu ritmo até o escritório do treinador.
Quando o encontro, estou um pouco sem fôlego, o que é um mau sinal. Minha falta de tempo de jogo me deixou mole, vou ter que pegar pesado nos pesos e na esteira antes do jogo.
Bato na porta e ouço o treinador me chamar para entrar. Ele está assistindo a jogos antigos em um laptop quando eu entro, e quando ouço com atenção, reconheço um nome familiar. O meu.
“Ah, bom te ver, filho. Faz um tempo.” Ele se levanta e oferece a mão para apertar.
Eu a aperto e dou um sorriso apertado.
“Pode se sentar.” Nós dois nos sentamos e eu sinto os olhos dele me seguindo.
Eu sinto olhos em mim desde que me machuquei. É como se o mundo inteiro estivesse assistindo para ver se eu finalmente vou desistir.
“Então, o que foi tão urgente que você precisava me encontrar agora?” Ele pergunta.
“Os estudantes de medicina esportiva. Há alguma maneira de mudar quem será designado para o nosso time?”
Ele me dá um olhar confuso. “Acho que sim, mas por que trocaríamos os estudantes?”
“Eu quero a Bryn Raven.”
“E por que isso?” Ele cruza os braços sobre o peito e levanta uma sobrancelha para mim.
“Ela é uma amiga minha e me ajudou com minhas lesões no passado. Ela é a mais qualificada.”
“Eu não dou tratamento especial para ninguém, Sawyer.”
“Não estou pedindo como um favor, senhor, é porque ela é a melhor e eu confio nela mais do que em qualquer um. Ela vai provar seu valor.” Eu juraria isso pela minha vida.
Bryn nunca falha em nada.
“Você tem certeza de que essa garota é apenas uma amiga?” Ele pergunta.
Eu hesito por um segundo. Somos amigos de novo? Eu não sei a resposta para isso, mas não parece o mesmo que era quando éramos mais jovens. Há algo mais lá, mas não tenho certeza se posso explicar o que é.
“Sim, ela é apenas uma amiga.”
Ele me observa cuidadosamente. “Tudo bem, vou perguntar, mas não posso garantir nada. Agora que você está aqui...”