




4. Fertilização em outubro
POV de Sophia
Esfrego o balcão da cozinha com fervor, determinada a livrá-lo de cada último vestígio de sujeira. Limpar sempre foi minha maneira de encontrar consolo em meio ao caos da minha vida diária. À medida que a água morna escorre sobre as louças na pia, sinto o estresse lentamente derreter. Mas, assim que começo a encontrar minha calma interior, o som da porta da frente se abrindo interrompe meus pensamentos.
"Ei, nerd! Limpando as bagunças do mundo de novo?" A voz de Jake ecoa pelo apartamento, carregada com seu tom de provocação característico. Reviro os olhos e me viro para encará-lo, minha expressão uma mistura de diversão e irritação.
"Alguém tem que fazer isso, e claramente não vai ser você," retruco, levantando uma sobrancelha para sua aparência desleixada. Jake é o irmão mais novo do meu colega de quarto, um jogador de rugby robusto que parece prosperar no caos. Ele é o completo oposto de mim, sempre buscando aventura e ultrapassando limites.
Jake sorri, imperturbável com minha resposta. Ele se encosta no batente da porta, um brilho travesso nos olhos. "Então, Sophia, você conseguiu aqueles preservativos para mim?" ele pergunta com um sorriso brincalhão. É um pedido típico dele, e um ao qual já me acostumei.
Eu paro, minha mente momentaneamente distraída pela pergunta dele. "Ah, certo. Eu esqueci," respondo, genuinamente surpresa com meu esquecimento. Mas assim que as palavras saem da minha boca, noto uma mudança na postura de Jake. Seus olhos se estreitam, e há um tom de suspeita em sua voz.
"Você esqueceu? Vamos, Sophia. Você nunca esquece nada. O que está realmente acontecendo?" ele investiga, sua curiosidade aguçada. Suspiro internamente, sabendo que não posso mais esconder a verdade dele.
"Eu saí do meu emprego na loja de conveniência," digo casualmente, tentando minimizar a importância das minhas palavras. "Ou melhor, fui demitida."
A expressão de Jake muda de surpresa para preocupação genuína.
"Você foi demitida? Por quê? Está acontecendo mais alguma coisa?" Jake pergunta, sua voz cheia de preocupação genuína. Sua preocupação me pegou de surpresa, pois não esperava que ele reagisse com tanto cuidado.
Respiro fundo, reunindo meus pensamentos antes de explicar a situação. "Havia uma cliente, uma mulher que estava agindo de forma suspeita há um tempo. Eu a vi tentando roubar alguns itens, e não podia simplesmente ficar parada e deixar isso acontecer. Então, eu a confrontei," conto, as memórias daquele incidente ainda frescas na minha mente.
Jake parece surpreso, seus olhos se arregalando. "Espera, você brigou com uma cliente? Isso não parece nada com você. Você nunca briga com ninguém. O que aconteceu?" ele pergunta, genuinamente curioso sobre meu comportamento atípico.
Uma mistura de culpa e desafio me invade enquanto conto os eventos. "Eu não briguei fisicamente com ela, mas tentei impedi-la de sair com os itens roubados. Isso escalou para uma discussão acalorada, e acho que a gerência não apreciou a confusão. Eles me demitiram por 'criar uma perturbação'," explico, um gosto amargo permanecendo em minhas palavras.
As sobrancelhas de Jake se franzem, sua expressão uma mistura de descrença e admiração. "Uau, Sophia. Eu nunca soube que você tinha isso em você. Mas ainda assim, é uma droga que eles te demitiram por fazer a coisa certa," ele diz, sua voz tingida de simpatia.
Dou de ombros, um sorriso melancólico surgindo em meus lábios. "Bem, é o que é."
Os olhos de Jake me examinam de cima a baixo, um sorriso travesso se espalhando pelo rosto dele. "Então, qual é o próximo passo para você, destemida defensora da justiça? Vai procurar outro emprego ou tirar um merecido descanso?" ele pergunta, me provocando de forma brincalhona.
Dou uma risada, apreciando sua abordagem leve para a situação. Eu não queria falar sobre a maternidade de substituição sabendo muito bem que não era algo em que eu deveria ter me envolvido se não fosse por falta de opções.
"Na verdade, estou tentando encontrar outro emprego. Não é fácil, mas estou determinada a conseguir algo em breve," respondo, meu tom cheio de um leve otimismo.
Jake acena com a cabeça, um sorriso brincando em seus lábios. "Bem, se você precisar de uma referência, sabe onde me encontrar. Eu vou atestar suas habilidades de combate ao crime," ele diz, fazendo uma piada sobre o comentário dos preservativos que tivemos antes.
Eu rio, grata pelo alívio cômico em meio à seriedade da conversa. "Obrigada, Jake. Vou lembrar disso," digo, o calor da amizade evidente na minha voz.
Enquanto Jake se prepara para sair, noto que ele está vestido de forma mais casual do que o habitual, sua roupa sugerindo que ele tem planos. "Você vai a algum lugar?" pergunto, curiosidade aguçada.
Ele sorri e endireita a gola, um brilho de excitação nos olhos. "Sim, vou me encontrar com os caras na pista de corrida," responde, sua voz cheia de antecipação.
Levanto uma sobrancelha, uma mistura de preocupação e curiosidade borbulhando dentro de mim. "Só tome cuidado lá fora, Jake. Corridas podem ser perigosas," advirto, incapaz de suprimir minha preocupação.
Ele ri, apreciando minha preocupação. "Não se preocupe, Sophia. Eu tenho tudo sob controle. Além disso, é minha chance de mostrar minhas habilidades de direção," diz, um brilho brincalhão nos olhos.
Quando ele se vira para sair, meus olhos se arregalam ao perceber algo de repente. Dou um passo à frente rapidamente, parando-o em seu caminho. Quando ele se vira para me encarar, a curiosidade estampada em seu rosto, respiro fundo antes de falar.
"Jake, tem algo que quero te pedir. Prometa que não vai contar para o Tyler sobre isso, pelo menos por enquanto," imploro, minha voz cheia de uma mistura de urgência e segredo.
Surpreso, as sobrancelhas de Jake se erguem inquisitivamente. "Por que eu não contaria para o Tyler?"
Mordo o lábio, lutando com a decisão de confiar nele. Finalmente, reúno meus pensamentos e falo, minha voz firme, mas cautelosa. "Eu só... não quero que ele se preocupe. Você sabe como ele é," explico, esperando que ele entenda.
Jake acena com a cabeça, eventualmente rindo enquanto faz um gesto de fechar os lábios com um zíper para significar que seus lábios estão bem selados. "Claro, não vou contar para ele."
Aceno com a cabeça enquanto ele se vira e caminha até a porta. "Ok, até mais."
Depois que Jake sai, me vejo sozinha no apartamento. Ao me sentar no sofá, minha mente começa a divagar, e pensamentos sobre o acordo de maternidade de substituição começam a surgir. É uma decisão que tomei com Alexander. Concordamos que eu seria fertilizada em outubro, pois a gravidez pareceria menos óbvia nos meses de inverno.
Mas, ao refletir sobre nosso plano, não posso deixar de me surpreender com minha atitude casual e despreocupada sobre algo que normalmente me faria surtar. A enormidade do que concordei começa a pesar, e começo a questionar se fiz a escolha certa. Será que é algo que eu posso lidar?
A ideia de carregar outra vida dentro de mim, a responsabilidade e as mudanças físicas que vêm com isso, é ao mesmo tempo emocionante e aterrorizante. Nunca me imaginei nesse papel, mas aqui estou eu, contemplando o caminho que escolhi.
Perdida em meus pensamentos, de repente ouço passos se aproximando da porta da frente. Assumindo que é Tyler voltando ou Jake percebendo que esqueceu algo, não presto muita atenção a princípio. Continuo ponderando sobre a maternidade de substituição, minha mente lutando com as implicações e incertezas.
Mas, à medida que as vozes ficam mais altas e distintas, fico curiosa. Levanto-me do sofá e caminho em direção à porta, esforçando-me para captar fragmentos da conversa. As vozes soam familiares, mas algo parece errado. Posso sentir a tensão no ar, e meu coração começa a bater mais rápido.
Quando chego à entrada e espreito pela pequena janela, fico surpresa com o que vejo. Tyler e Alexander estão na varanda, encarando-se com sobrancelhas franzidas e mandíbulas cerradas. É uma visão inesperada, e a confrontação entre eles me deixa perplexa.
Não consigo entender as palavras que estão dizendo, mas é evidente pelas posturas que não é uma conversa amigável.
Olho para Alexander, que está vestindo um casaco preto sobre sua roupa e com a mão no bolso, me perguntando por que ele veio. Ele não me disse que viria. Além disso, ainda não é hora da fertilização.
Suspiro e rapidamente saio pela porta, chamando os dois.
"Tyler, você voltou," chamo enquanto corro para ficar entre eles e encarar Alexander. "Sr. Williams, você está aqui?"
Ficando entre eles, a tensão parece dissipar e eles param de se encarar. Alexander olha para mim, seu olhar mudando um pouco e, por um momento, quase pensei que ele estava bravo comigo.
Eventualmente, ele diz: "Hm. Eu vim te ver."
Olho para trás dele, meus olhos agora captando o carro estacionado do lado de fora. Não há motorista nele, então posso dizer que ele dirigiu sozinho.
"Você veio me ver?"
"Sim," ele responde, balançando a sacola de compras na mão.
Então ele olha na direção de Tyler, sua voz carregada de sarcasmo. "Bem, até que alguém aparentemente não conseguiu ver e suspeitou que eu fosse um ladrão."