




6. “Charlotte está em boas mãos.”
"Você está interrompendo minha conversa com Charlotte. Minha esposa." Christopher cruza os braços, seus olhos escurecendo. "Mamãe ficaria mortificada ao ver você se comportando tão rudemente."
"Acho que já passamos da fase de nos preocupar com as lições da Mamãe... afinal, ela não pode mais dá-las," retruca Sebastian, dando de ombros enquanto sua mão desliza levemente sobre minha cintura.
Esse movimento sutil chama a atenção de Christopher, seu olhar permanecendo nos dedos que não tocam minha pele, e certamente não são mais quentes do que seu olhar reprovador.
"Viu? Não é porque você é dois anos mais novo que não está envolvido nos negócios e na política, Seb... É porque você não aprendeu o básico da etiqueta. Olhe para esse terno. Você realmente acha que branco é uma boa escolha para usar no casamento do seu irmão mais velho? Você conhece a tradição da nossa família..." Apesar do tom de Christopher permanecer calmo e polido, o desdém é palpável. "Branco é a cor do noivo."
Sebastian sorri maliciosamente, um sorriso que não chega aos olhos.
"Impressionante, Christopher. Você está certo... Branco é a cor do noivo... pelo menos, deveria ser. Mas muitas coisas estão trocadas esta noite, não acha?"
Christopher não parece muito incomodado com as palavras do irmão mais novo, apenas esboça um sorriso cínico, enquanto diz, "Certamente, isso não é da sua conta, Sebastian."
Eu esfrego a ponta do meu nariz.
Essa é uma dinâmica que eu não testemunhava há muito tempo.
Sebastian sempre viu seu irmão mais velho como um rival, mas Christopher, talvez por arrogância ou simplesmente porque sabia que nunca seria superado, nunca se importou com os comentários do irmão.
"Você está certo. Eu não deveria me preocupar com seus assuntos... Mas estou preocupado, irmãozão... Você tem um compromisso agora, não tem?" Sebastian me puxa levemente contra ele, marcando território que Christopher claramente não se importa.
Ou pelo menos, não deveria se importar.
"...Divirta-se, e não se preocupe — Charlotte está em boas mãos."
Os olhos de Christopher se estreitam, e pela primeira vez, algo brilha em sua expressão geralmente impassível. Sua mandíbula se aperta um pouco, o canto da boca se contraindo como se estivesse segurando uma resposta, e seus olhos, escuros e calculistas, permanecem fixos na mão de Sebastian, ainda descansando possessivamente nas minhas costas.
"Boas mãos?" Christopher zomba, sua voz tão suave e afiada quanto uma faca. Ele dá um passo à frente, olhos fixos na mão de Sebastian nas minhas costas, seu sorriso amargo. "Você sempre teve talento para ultrapassar limites."
Sebastian não se abala... ele inclina a cabeça ligeiramente, uma calma perigosa tomando conta de suas feições, "Melhor do que seu talento com promessas, aparentemente."
O sorriso de Christopher vacila, apenas ligeiramente, mas é o suficiente — ele se endireita, olhos se estreitando, enquanto a máscara fria começa a se quebrar.
"Você adora o som da sua própria voz, não é?" ele diz de forma displicente, tom casual mas apertado o suficiente para trair a irritação que está tentando esconder. "Mesmo quando está falando bobagens."
Sebastian levanta uma sobrancelha, ainda impassível, e rebate, "Bobagens ou não, alguém tem que preencher os silêncios que você deixa para trás."
Christopher solta um suspiro seco, sem humor, passando a língua pelos lábios antes de responder.
"Ainda pairando, eu vejo." Ele murmura, o som fingindo ser casual, mas soando mais como um aviso. Ele ajusta o punho da manga, lento e deliberado. "Você adora interpretar o papel do homem melhor, né? Algumas coisas nunca mudam."
"E algumas pessoas nunca aprendem," Sebastian responde suavemente.
Cansada de ficar entre os irmãos Houghton, um papel que já desempenhei muitas vezes, eu me afasto do aperto de Sebastian, fazendo-o me olhar com uma mistura de surpresa e mágoa.
Embora eu não queira machucar alguém que sempre me amou, preciso me afastar. Sei com certeza que nada de bom vem de se envolver com os irmãos Houghton.
Felizmente, tudo isso vai acabar em seis meses.
“Vou me encontrar com o Vovô Marshall para garantir que ele saiba que estou bem, depois vou embora,” digo com um sorriso ensaiado e olho para Christopher, que parece... estranhamente intrigado.
Sem dizer mais nada, levanto a pesada saia do meu vestido e me afasto, ignorando Sebastian me chamando.
Volto ao salão de baile, cada passo ecoando no frio chão de mármore, com todos os olhos em mim como se me espetassem com agulhas, enquanto respiro fundo, tentando acalmar a tempestade dentro de mim.
Sinto como se estivesse carregando o mundo nos ombros, um fardo construído a partir das expectativas e julgamentos de todos. Tenho certeza de que os rumores sobre meu retorno repentino do jardim já estão circulando, especialmente quando os irmãos entram juntos no salão, fingindo que a breve discussão nunca aconteceu.
Os olhos de Christopher encontram os meus brevemente, e milhões de palavras não ditas passam entre nós em um pesado silêncio. Ele desvia o olhar primeiro, voltando sua atenção para os homens ao redor, mantendo sua expressão habitual.
O gosto amargo permanece na minha boca enquanto Sebastian me oferece um sorriso apologético que não consigo retribuir. Pego uma taça de champanhe da bandeja de um garçom que passa e bebo rapidamente, sentindo o líquido borbulhante deslizar pela minha garganta.
Mas ainda sinto sede.
Antes que o garçom se afaste com a bandeja cheia de taças, eu o paro— “Você tem algo mais forte?”
“Sim, Sra. Houghton. Temos uísque, vodka, tequila e rum. Qual você prefere?” ele pergunta com seu melhor sorriso profissional.
“Traga-me uísque. E vodka,” digo sem piscar, mantendo um tom firme.
Ele me dá um olhar curioso, seus olhos permanecendo no meu rosto um momento a mais do que o necessário, mas não diz uma palavra e mantém sua postura profissional enquanto se afasta rapidamente.
Felizmente, não demora muito para ele retornar com a bandeja, agora segurando as duas bebidas que pedi.
“Obrigada,” não espero ele oferecer... apenas pego ansiosamente e bebo o uísque, que arde ao descer, espalhando uma sensação quente pelo meu peito.
A vodka segue rapidamente, acalmando minha garganta e contrastando com o calor já espalhado pelo meu corpo.
Respiro fundo, sentindo o álcool começar a me afetar, enquanto observo meus convidados usando máscaras ao meu redor, e aqueles sorrisos falsos e conversas superficiais parecem ainda mais irritantes agora.
O garçom continua circulando pela festa, oferecendo mais champanhe e me dando olhares curiosos enquanto eu me sirvo de mais de uma taça, talvez se perguntando por que a noiva está com tanta pressa para se embebedar.
—— ꭗ ——
Finalmente, depois de mais algumas horas de pés doloridos e dedos apertados, a festa chega ao fim.
Agora, sozinha no meu quarto, ainda vestindo meu pesado vestido, lembro de como esperei a noite toda por Christopher no quarto dele. Anos se passaram, mas o gosto na minha boca continua amargo.
“Hah, que se dane!”
A grande cama com lençóis macios parece me chamar, convidando-me a deixar essa fadiga de lado. Acho que vou procurar Elodie.
Quando estou me virando, a porta se abre de repente, me assustando.
Para minha surpresa... minha verdadeira, genuína surpresa — uma que é mais forte que um soco no estômago, e contrária às minhas memórias da minha primeira vida, meu marido está aqui.
“Christopher?” Minha voz escapa em um sussurro surpreso enquanto me apoio na penteadeira, observando-o congelar no meio do quarto com seus ombros largos e postura arrogante.
Ele não está mais no impecável terno preto. Na verdade, ele parece pronto para dormir, com o cabelo ainda molhado do banho... mas sua presença ainda pode ser muito... imponente.
Embora ele esteja a uma distância segura neste quarto espaçoso, tê-lo aqui causa um desconforto que aperta minha garganta... Afinal, Christopher não deveria estar aqui.
Não agora, não nesta casa, esta noite...
E definitivamente não no meu quarto.
“O que você está fazendo aqui?”