




5: Quando éramos crianças
O tempo todo em que Kal falava, Jag não conseguia tirar os olhos da pequena criatura loira diante deles. À luz brilhante do dia, Emma era mais deslumbrante do que Jag havia imaginado. Os Draygonians eram naturalmente abençoados com sentidos aguçados em comparação com seus equivalentes humanos, mas nada poderia ter preparado o guerreiro para ver a fêmea humana à luz do dia. Seu cabelo loiro era curto, emoldurando um rosto redondo. Isso o lembrava dos estilos preferidos pelas guerreiras, pois os mantinham mais frescos e também evitavam que se enroscassem em coisas, mas esse corte em particular parecia mais uma questão de estilo do que de conforto. Olhos azuis que combinavam com a tonalidade do céu eram emoldurados por cílios escuros e espessos, enquanto o nariz de Emma descia suavemente antes de se erguer levemente. Seus lábios eram o que mais prendia a atenção de Jag. Eram de um rosa suave, cheios e em forma de arco.
Olhos dourados cintilaram enquanto percorriam a forma esguia diante de Jag, congelando quando pousaram nas marcas prateadas no pescoço de Emma. Elas eram pálidas e tênues à luz, mas notáveis para Jag, que agora não conseguia desviar o olhar. Várias eram pequenos círculos que provavelmente desapareceriam com o tempo, mas eram as maiores que chamavam a atenção de Jag. Uma estava na junção do pescoço e ombro de Emma. Parecia ter cerca de cinco centímetros de comprimento e seguia a curva do pescoço até a parte de trás. Não havia sinais de ter sido costurada no passado, como os humanos lidavam com cortes profundos antes da chegada dos visitantes. Em vez disso, a largura e a irregularidade da forma sugeriam que havia sido causada por ações repetidas. O que poderia causar tal cicatriz?
"Então, Emma, você vai ao bar na sexta-feira?" A voz de Sid interrompeu os pensamentos de Jag, trazendo-o de volta à conversa.
"O bar?" As sobrancelhas escuras de Emma se franziram de uma maneira que Jag só poderia descrever como fofa.
"É o apelido do bar que todos frequentam." Kal elaborou. "Na verdade, se chama Silver Dollar. Algumas pessoas organizaram um encontro social para todos que puderem ir, se conhecerem e se divertirem. Você deveria ir."
"Ah, eu não sei." A loira gaguejou. "Vou ver se minha colega de quarto está a fim."
"Você tem uma colega de quarto?" Jag franziu a testa. "Eu não pensei que dividir quarto fosse o protocolo, mesmo para os contratados."
"Eu-eu q-quero dizer que ela está me deixando ficar com ela até eu conseguir meu próprio quarto." Emma explicou, com os olhos arregalados. "Eu só cheguei aqui na noite passada, então ninguém teve tempo de me dar um quarto ainda." Ela fez uma pausa, sua expressão mudando, e Jag não pôde deixar de se lembrar de um animal jovem que havia enfrentado o mundo exterior por muito tempo e agora desejava se retirar para o confinamento de sua toca. "Eu devo ir. Eu disse que encontraria minha amiga no terceiro andar."
Jag sentiu uma súbita vontade de estender os braços e envolver a humana. O desejo de segurá-la e não deixá-la sair de sua vista até que estivesse saturada com seu cheiro era quase impossível de ignorar. Seus dedos se contraíram, os músculos de seus braços se flexionando enquanto lutava contra o impulso primitivo de reivindicar. De alguma forma, ele conseguiu se impedir de fazer algo precipitado. Ele precisava falar com os outros primeiro, afinal.
"Você precisa que a gente te acompanhe de volta?" Sid ofereceu.
"Oh, não, eu vou ficar bem." Emma sorriu nervosamente, dando um passo para trás enquanto levantava a mão para dar um leve aceno de despedida. "Foi um prazer conhecer todos vocês."
Os três soldados ficaram em silêncio enquanto observavam a humana se afastar. Só quando ela não estava mais à vista alguém se mexeu. Foi Kal quem desviou o olhar primeiro, seus olhos dourados brilhando enquanto se virava para seus amigos.
"Vocês sentiram isso, certo?" Kal finalmente perguntou, embora fosse óbvio que ele já sabia a resposta.
Jag e Sid assentiram, trocando olhares antes de olhar para Kal mais uma vez, que sorria triunfante. Jag não podia culpar Kal por estar animado, mas se recusava a criar esperanças. De fato, todos eles haviam sentido o gene Isis dentro de Emma. Isso por si só não era a parte incomum. Os machos Draygonians eram capazes de descobrir qual fêmea possuía o gene eventualmente, no entanto, reconhecê-lo tão rapidamente e com tanta força só poderia significar uma coisa.
Emma não era apenas uma fêmea compatível. Ela era a fêmea compatível deles.
—
"Como foi?"
Camille levantou os olhos do livro que estava lendo quando ouviu a voz familiar de sua amiga de cabelo rosa. Com certeza, Charlotte estava encostada no batente da porta do vestiário, o metal escuro de seus piercings brilhando na luz artificial e seu cabelo preso de forma desleixada em um coque. Charlotte parecia que mal tinha saído da cama quando entraram na Arca naquela manhã, mas agora parecia que tinha saído da cama direto para um arbusto.
"Bem," Camille respondeu enquanto fechava o livro. "O que aconteceu com você?"
"O que você quer dizer?"
Camille olhou para Charlotte por um momento, surpresa com a expressão de confusão em seu rosto. Isso era puramente por causa do trabalho? Se sim, o que exatamente os faxineiros estavam fazendo para sair parecendo... bem, assim?
"Deixa pra lá. Vamos?" Camille perguntou, levantando-se.
"Deixe-me só me trocar, mas não pense em ficar se lamentando no sofá quando chegarmos, eu tenho uma surpresa para você." Charlotte sorriu, mexendo as sobrancelhas antes de correr para os vestiários.
Com Charlotte trocada e parecendo muito menos desleixada, elas voltaram para o apartamento. Tinham se passado apenas algumas horas, mas parecia que tinham estado lá dentro o dia todo. Camille se pegou revendo tudo o que aconteceu, até mesmo seu encontro com três Draygonians, cada um tão bonito quanto o outro, mas de maneiras diferentes. Foi surpreendente. Ela tinha visto muitas imagens dos visitantes para saber que eram uma espécie bonita, então por que esses três se destacaram tanto para ela? Só de pensar naqueles olhos âmbar que brilhavam contra a pele lisa de vários tons de azul, o coração de Camille acelerava.
"Então, você conheceu alguém além da Heather?" Charlotte perguntou enquanto esperavam para sair da arca.
"Donnie." Camille assentiu. "E alguém chamado Kal."
"Kal?"
Camille assentiu. "Ele é um... um Draygonian. Um tenente, eu acho."
"Oh, Kal!" O rosto de Charlotte se iluminou com a realização antes de sorrir. "Eu conheço o Kal, ele é muito legal e seu amigo Sid também. Um pouco mulherengo, aquele, o que é provavelmente melhor do que o que o outro amigo deles, Jag, é."
"E o que é isso?"
"Um idiota." Charlotte bufou. "Todos os faxineiros o odeiam. Ele é rude e ninguém gosta de limpar o escritório dele porque ele só grita com eles até que saiam sem terminar e depois tem a audácia de reclamar."
Camille franziu a testa. Embora não quisesse admitir, Jag tinha sido rude com ela por algo que realmente não era da conta dele. Ela só esperava que não fosse encarregada de limpar o escritório dele. Realmente poderia passar sem outro homem gritando com ela sem motivo.
O apartamento estava, sem surpresa, exatamente como elas o haviam deixado, mas Charlotte parecia despreocupada em arrumar. Em vez disso, insistiu que Camille comesse algo antes de empurrá-la para fora da porta. Elas ficaram no pequeno apartamento por menos de meia hora antes de Camille se ver caminhando pelas ruas de Nova York. O sol estava quente contra a pele que Camille ousava expor, mas como ainda era primavera, as sombras dos prédios e outdoors eram consideravelmente mais frescas. Charlotte estava de boca fechada sobre para onde estavam indo. Ela constantemente mudava de assunto até que Camille desistiu. Só quando estavam paradas em frente a uma loja de roupas que Charlotte finalmente contou a Camille o que estavam fazendo, mesmo que a essa altura fosse bastante óbvio.
"Compras?" Camille franziu a testa. "Charlotte, eu tenho quase nenhum dinheiro."
"Eu sei, mas isso é por minha conta." Charlotte respondeu antes de suspirar. "Mills, vamos lá. Você literalmente não tem nada. Quando foi a última vez que alguém comprou algo que você queria usar?"
Camille odiava que Charlotte tivesse razão. Fazia muito tempo desde que alguém comprou algo que ela queria. Nathan não a privava exatamente. Ela era sua namorada troféu, afinal, então ele se certificava de que ela parecesse adequada, mas esse era o ponto. Nathan escolhia o que ela vestia e quando. As poucas peças de roupa que ela trouxe consigo eram coisas que usava quando não estava sendo exibida como um pedaço de carne. Mesmo assim, elas mal eram apropriadas, mesmo para um trabalho de faxina.
Charlotte soltou um grito de excitação e triunfo quando viu a determinação de Camille desmoronar. Antes que a loira pudesse desistir, Charlotte a pegou pela mão e a arrastou para dentro da loja.
Felizmente, Charlotte permitiu que Camille tivesse alguma liberdade criativa na escolha de suas próprias roupas. Ela se certificou de que tivesse o essencial, como meias, roupas íntimas, camisetas e outro par de jeans, mas Charlotte foi rápida em adicionar algumas leggings e tops esportivos à mistura, fazendo com que a sobrancelha de Camille se arqueasse em suspeita enquanto a culpa se enrolava em seu estômago. Ela já havia decidido que iria pagar Charlotte por tudo o que estava comprando, mas Charlotte parecia determinada a comprar a loja inteira. Claro, tudo tinha um preço razoável, mas devia haver pelo menos $100 em coisas na enorme sacola de compras e elas só tinham empregos de faxina...
"Eu tenho uma surpresa." Charlotte apareceu de repente por trás de um cabide de vestidos de verão que Camille estava tentando arduamente não olhar.
"Uma surpresa?" Camille repetiu como uma pergunta.
"Mhm!" Sua amiga assentiu rapidamente com empolgação antes de estender um braço de trás e segurar um par de luvas. "Tada!"
Essas não eram apenas quaisquer luvas, ou melhor, não eram projetadas para manter as mãos de alguém aquecidas em um dia frio de inverno, mas sim para proteger os nós dos dedos de alguém ao bater repetidamente em algo.
"Luvas de sparring?"
"Para as aulas que nos inscrevi." Charlotte sorriu timidamente. "São aulas de autodefesa... mais ou menos. Quero dizer, Jujutsu é um tipo de autodefesa. É sobre parar seu agressor e se proteger, certo? De qualquer forma, são aulas só para mulheres e eu só pensei..."
"Jujutsu?" Camille interrompeu Charlotte no meio do discurso. "Char, faz tipo quatro anos desde que fiz isso. Não acho que conseguiria mais."
"Claro que consegue." Charlotte argumentou. "Além disso, é uma aula para iniciantes e acho que seria bom para você ter algo para fazer além de dormir e trabalhar. Você costumava adorar Jujutsu. Vamos lá, vai ser ótimo."
Quando eram crianças, ir às aulas de Jujutsu era uma das poucas coisas que Charlotte e Camille podiam fazer. Serem crianças adotivas significava que não tinham muitas atividades extracurriculares (a menos que incluíssem furtar lojas e fumar maconha). Os professores das aulas se sentiam mal por as meninas não poderem pagar após os testes gratuitos, então fizeram um acordo de que elas poderiam frequentar a aula, mas teriam que ajudar a arrumar e guardar tudo depois. Era um acordo mais do que justo e Camille e Charlotte adoravam ir. Elas nunca perderam uma aula nos três anos em que frequentaram.
E então Nathan apareceu e Charlotte foi para Nova York.
Camille suspirou em derrota. "Vou pensar nisso, mas não estou prometendo nada."
Charlotte sorriu, disposta a aceitar isso como resposta por enquanto. "Ótimo. Ok, mais uma coisa..."
Camille não pôde deixar de se sentir exasperada, mas rapidamente se recuperou quando Charlotte levantou um conjunto de pulseiras. Elas não eram aquelas elásticas horríveis dos anos oitenta, mas sim laços de couro fino adornados com contas de quartzo rosa e jaspe. Havia um fecho simples de macramê que permitia ao usuário apertar e afrouxar com facilidade, sendo leves e justas o suficiente para se mover livremente sem prender em nada.
"Eu sei que você é autoconfiante sobre as cicatrizes nos seus pulsos." Charlotte deu um sorriso tímido. "E elas vão desaparecer, mas até lá, você poderia usar isso para cobri-las."
Camille sentiu a garganta apertar de emoção, seus olhos se enchendo de lágrimas. Ela ficou tocada pelo gesto e só conseguiu acenar antes de pegar as pulseiras de Charlotte e dar-lhe um abraço.
"Sem problemas." Charlotte murmurou em resposta ao gesto de agradecimento de Camille. "Agora vamos, vamos pagar isso e tomar um café."
Camille sorriu e deixou sua amiga guiá-la até o caixa, praticamente arrastando a cesta de compras atrás de si.
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