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4: O gene Isis

De acordo com os registros, Ísis era uma deusa adorada no antigo Egito. Ela era venerada como a deusa da fertilidade (entre outras coisas), então, quando o gene que tornava os seres humanos compatíveis com os Draygonians foi identificado e um teste foi desenvolvido para ajudar a identificá-lo, os cientistas o apelidaram de gene Ísis. Não era uma descoberta particularmente nova. Na verdade, esse dado hereditário específico já tinha um nome, mas era um nome que ninguém gostava, especialmente quando nomear o gene em homenagem a uma deusa associada à fertilidade vendia mais manchetes.

Assim nasceu o gene Ísis.

Esse gene não estava presente em todos, no entanto. Apenas as mulheres o possuíam e, mesmo assim, nem todas nasciam com ele. No entanto, era esse gene que poderia salvar a existência dos Draygonians. As mulheres com o gene eram responsivas aos feromônios de um macho Draygoniano, mas, mais interessante ainda, era um macho específico. Era como se a evolução tivesse criado um método natural para garantir que machos e fêmeas se encontrassem com o mais compatível para eles.

Tornou-se uma piada carinhosa que era como uma maneira de trapaça para encontrar sua alma gêmea.

Não era obrigatório fazer o teste, mas tinha sido incentivado nos últimos anos. Camille lembrava de ver os anúncios na TV ou os cartazes pela cidade. Nathan zombava toda vez que via algo relacionado ao assunto. Ele odiava os visitantes e achava que qualquer mulher com o gene Ísis não passava de uma prostituta imunda (palavras dele). Então, Camille nunca fez o teste. Ela temia o que Nathan faria se descobrisse ou o que significaria se ela tivesse o gene. Havia histórias de mulheres sendo levadas à força e usadas como reprodutoras ou forçadas a se casar com um Draygoniano e depois enviadas para o planeta deles, nunca mais sendo vistas novamente.

Notícias falsas podiam ser uma coisa aterrorizante.

"Por quê?" Camille finalmente falou quando percebeu que não tinha respondido Heather e o silêncio estava ficando constrangedor.

"Bem, você vai estar perto de muitos Draygonians e queremos garantir que estamos oferecendo o suporte certo. Pode ser bastante assustador descobrir que você é compatível com alguém com quem trabalha." Heather sorriu. "É uma coisa sutil, mas descobrimos que as linhas profissionais estão sendo cruzadas antes que alguém perceba o que realmente está acontecendo."

"Ah, certo. Claro." Camille sentiu suas bochechas esquentarem com um rubor. "Não... quero dizer, sim, quero dizer... eu fiz o teste e não, eu não tenho o gene."

Camille se sentiu péssima por mentir, mas ela realmente não queria problemas e tinha quase certeza de que não tinha o gene. Ela saberia até agora, certo?

"Ok, bem, nesse caso, tudo o que resta fazer é colocá-la no sistema e terminar essa papelada." Heather se levantou de sua cadeira para entregar a papelada para Camille completar. "Também vou mostrar o local e apresentá-la ao gerente. Acho que eles terão sua escala também."

A papelada não era difícil, mas era tediosa. Uma vez concluída, Heather apresentou Camille a um homem corpulento de meia-idade com um forte sotaque do Brooklyn e olhos castanhos gentis. Donnie era o gerente desde que a instalação foi aberta e conhecia cada centímetro do lugar com uma precisão assustadora. Apesar de seu exterior rude e incapacidade de medir as palavras, Donnie era gentil e amável, o que ajudou a acalmar os nervos de Camille enquanto ela o seguia. Ela já se sentia culpada por mentir sobre seu nome para ele.

"Seu padrão de turno não vai mudar, mas, por questões de segurança, os níveis em que você trabalha vão." Donnie explicou. "Eu garanti que seus turnos sejam, na maioria das vezes, os mesmos que os da Charlotte. Tudo o que você precisa fazer é bater o ponto e o sistema vai te dizer em qual andar você está. Os carrinhos de limpeza são mantidos perto do elevador de serviço, no entanto, são os supervisores que são responsáveis por verificar os carrinhos para reabastecimento de equipamentos e garantir que não haja nada suspeito neles. Seus primeiros turnos serão no mesmo andar que a Charlotte para que ela possa te mostrar o local e te ensinar o trabalho. Alguma pergunta?"

"Ah, não." Camille balançou a cabeça, sua mente um pouco atordoada.

"Ótimo. Agora vamos te registrar no sistema." Donnie fez um gesto para que Camille o seguisse em direção aos elevadores. "Normalmente temos nossos próprios caras de TI para adicionar pessoas ao sistema, mas eles nunca parecem acertar, então pedimos para um dos nerds do décimo andar fazer isso por nós. Não é exatamente o trabalho deles, mas eles tendem a fazer o trabalho direito."

O décimo andar era muito mais movimentado e muito mais aberto do que o terceiro andar. Janelas do chão ao teto envolviam o espaço, deixando a luz amarela e suave entrar de fora. Camille notou que alguns dos painéis de vidro eram mais escurecidos do que outros e percebeu que deviam ter algum tipo de sistema onde podiam bloquear mais o sol em alguns painéis do que em outros, conforme a necessidade. As mesas estavam dispostas de forma semelhante à do escritório de Heather. Elas estavam alinhadas em filas semicirculares, todas voltadas para telas gigantes que pareciam flutuar no meio da sala. Camille não conseguia dizer se eram várias telas pequenas ou oito enormes. De qualquer forma, havia uma quantidade enorme de informações rolando por elas e nada daquilo fazia sentido para Camille.

Donnie não ficou tempo suficiente para Camille realmente absorver o quão impressionante era tudo aquilo. Ele a levou a um dos escritórios que era basicamente uma caixa de vidro com um chão acarpetado. Dentro, em um dos consoles futuristas, estava sentado um Draygoniano com características semelhantes ao que Camille viu na noite anterior, exceto que este tinha cabelo branco como a neve e era mais magro. Ele a fez pensar em um nadador olímpico com seus ombros largos, cintura afilada e músculos magros, mas visíveis. Ela até viu o brilho quase brincalhão em seus olhos felinos. Ao contrário da maioria dos Draygonians que usavam seus uniformes militares, este estava vestido com roupas humanas. Calças de tweed marrom escuro eram ajustadas para destacar suas longas pernas, enquanto um colete combinando estava sobre uma camisa branca de botões. As mangas estavam arregaçadas até os cotovelos, mostrando símbolos semelhantes aos de seu queixo e testa ao longo do interior de seus antebraços.

"Emma, este é o Tenente Kal." Donnie fez um gesto entre os dois. "Kal, Emma está começando conosco, então preciso que ela seja registrada no sistema para passar pela segurança."

Olhos quentes e brilhantes da cor de âmbar fecharam um circuito com as íris azuis frias de Camille. Por um momento, Camille achou que viu algo se mexer nos olhos de Kal, mas isso desapareceu em um segundo, deixando Camille sem chance de entender. Isso aumentou um pouco sua ansiedade e pensamentos ilógicos de que esse macho a reconheceria e planejava relatar a Nathan encheram sua cabeça. Ela sabia que era estúpido, Nathan desprezava os Draygonians e não sonharia em se associar a eles, mas não fazia nem uma semana desde que ela escapou de suas garras e ela não tinha ilusões de que ele não estava procurando por ela.

Se você tentar fugir de mim, eu vou te caçar e deixar os garotos se divertirem com você antes de te matar.

O medo começou a subir por sua garganta como bile.

"É um prazer conhecê-la, Emma." Kal falou, sua voz nem muito profunda nem muito suave. Era tingida de simpatia e algo como surpresa, que Camille não conseguia entender. "E bem-vinda à Arca."

"A Arca?" As sobrancelhas de Camille se franziram em confusão, o ataque de pânico iminente parou imediatamente.

"É o apelido dado a este lugar. Não por causa de toda a coisa bíblica, mas porque literalmente temos de tudo aqui, incluindo alguns animais." Kal sorriu, mostrando dentes brancos perfeitos, incluindo quatro presas muito afiadas. "Vamos lá, vamos te registrar. Tenho certeza de que você prefere apenas escanear do que ser revistada pela segurança todos os dias."

"Vou deixá-los a sós. Não poderia dar a ela um tour completo, poderia?" Donnie interrompeu. "Você conhece o lugar como a palma da sua mão."

"Eu ficaria honrado." Kal assentiu. "Emma estará em boas mãos."

A ideia de ficar sozinha com qualquer homem deveria ter deixado Camille nervosa, como normalmente acontecia, mas ela se sentiu surpreendentemente calma, embora um pouco cautelosa. Ela atribuiu isso ao fato de que Kal, apesar de ser alto e ter toda a boa aparência de um modelo, era amigável e aberto. Talvez fosse a leve curva para cima de seus lábios que parecia permanente ou o fato de ele estar vestido com roupas civis ou a gentileza e curiosidade em seus olhos dourados. De qualquer forma, Camille não estava prestes a sair correndo, mesmo que estivesse tensa.

"Ok, então primeiro precisamos fazer uma varredura de palma e retina, pois é assim que acessamos tudo aqui. Depois podemos fazer seu crachá de identificação." Kal explicou.

O nervosismo de estar perto de alguém novo estava afetando os nervos de Camille. Fazia muito tempo desde que ela tinha estado perto de tantas pessoas em um dia. Estar trancada e isolada por vários anos com acesso irregular a pessoas faria isso com uma pessoa. Especialmente se o único contato humano fosse Nathan...

Independentemente disso, Camille seguiu as instruções de Kal. Ela tinha ficado boa nisso. Ela apenas se lembrava de que, uma vez que tivesse seu crachá, poderia se misturar ao fundo e se tornar invisível. Limpar pode não ser o que ela queria fazer da vida, mas no momento era um meio para um fim. Kal não parecia incomodado com o silêncio de Camille. Camille estava feliz em ouvir enquanto o Draygoniano explicava que o décimo andar desta torre em particular era dedicado a comunicações, inteligência e vigilância. Eles analisavam milhares de bits de dados não apenas em projetos internos, mas em missões fora da Arca.

"Então, você é de Nova York originalmente?" Kal perguntou enquanto conduzia o caminho de seu escritório para uma das muitas passarelas entre os prédios.

"Ah, não." Camille respondeu. "Colorado."

As sobrancelhas brancas perfeitas de Kal se ergueram em surpresa. "É uma jornada e tanto."

"Sim, mas não tão longe quanto a sua." Camille apontou.

A risada de Kal surpreendeu Camille, que observava o homem com cautela. Ela não tinha pensado completamente no que disse, o que era incomum para ela, mas em vez de ser recebida com hostilidade, Camille encontrou alguém que apreciava seu humor. Foi uma experiência estranha para alguém mais acostumado a ser ridicularizado.

"Verdade, mas não é tão longe quanto você pensa. Temos nossos meios." Kal riu.

"Os anéis." Camille assentiu, uma vaga lembrança vindo à mente sobre as estruturas metálicas gigantes atualmente flutuando a pouco mais de três mil quilômetros da Terra. "Posso imaginar que eles ajudam."

"Eles têm seus benefícios, mas também suas limitações, por isso não os usamos para todas as viagens entre nossos mundos." Kal explicou. "Não podemos garantir que eles serão estáveis todas as vezes."

A luz fresca da primavera entrava pelas janelas da passarela enquanto a dupla atravessava para a próxima torre, que Kal explicou ser onde a maioria dos soldados Draygonianos que viviam no local trabalhavam e também moravam. Era como uma base militar, mas vertical em vez de espalhada. Era a maior das estruturas, com a maior parte dos veículos estacionados no andar térreo, que era basicamente uma oficina e garagem. Um grande pátio se estendia para o leste, onde unidades estavam ou se exercitando ou patrulhando.

"Então, se você não estiver trabalhando no prédio um, provavelmente será encarregada das áreas comuns dos alojamentos ou de alguns dos escritórios entre os andares dois e quinze." Kal continuou seu tour suavemente, segurando as portas abertas para a pequena loira. "Há dois andares onde a maioria dos residentes passa seu tempo livre. É onde fica a academia, bem como um refeitório e estúdios para treinamento. Há até uma piscina e uma quadra de basquete."

"Uau." Camille piscou surpresa. "É muita coisa."

"Não mais do que uma base militar padrão." Kal deu de ombros, olhando para cima quando viu movimento no canto do olho. "Ah! Justamente quem eu estava procurando. Emma, conheça meus amigos Sid e Jag."

Camille olhou na direção que Kal estava indicando, seu corpo inteiro congelando enquanto seu coração subia até a garganta. Caminhando em sua direção, vestidos com uniformes militares pretos combinando, estavam dois gigantes adônis. Um ela reconheceu imediatamente como o homem que tinha visto na noite anterior. Seus olhos brilhavam magnificamente como chamas excitadas. Ele já era uma visão impressionante na iluminação fraca dos terrenos à noite, mas agora suas maçãs do rosto altas e mandíbula afiada estavam totalmente expostas pela luz do sol para todos verem. Até mesmo a cicatriz fina que cruzava um dos olhos não fazia nada para diminuir suas características dolorosamente bonitas. A camiseta preta estava esticada sobre um peito e braços musculosos como uma segunda pele. Desta vez, havia duas faixas pretas ao redor de seus pulsos que, em uma inspeção mais detalhada, pareciam ser algum tipo de metal. Um coldre pendia em seu torso enquanto um tablet ocupava uma de suas mãos gigantes.

No entanto, não era apenas a visão desse macho que deixava a boca de Camille seca e os joelhos de repente parecendo gelatina.

O terceiro soldado era tão alto quanto seu parceiro, mas com a pele de um azul suave. Como Kal, seu cabelo era branco brilhante, mas cortado curto em um estilo militar mais clássico. Seus olhos eram igualmente brilhantes, mas mais amarelos, e sua intensidade primal era inconfundível. Ao contrário de Kal e do outro macho, Camille notou que não havia manchas brancas em suas têmporas e os símbolos em sua testa e queixo pareciam diferentes, mesmo que fossem do mesmo branco que os de Kal.

"Sid aqui é um tenente como eu." Kal indicou o macho mais claro. "E Jag aqui é um General e nosso comandante de unidade. Jag, Sid, esta é Emma. Ela vai trabalhar aqui."

A vontade de recuar era intensa. Sid deu um sorriso amigável, misturado com uma emoção que Camille não conseguiu decifrar, mas foi a expressão de Jag que fez o coração de Camille bater forte contra sua caixa torácica. Suas características eram neutras, mas seus olhos ardiam com desejo primal. Camille já tinha experimentado muitos olhares de homens no passado, mas nenhum a afetou como o de Jag. Um arrepio percorreu sua espinha apenas para se enrolar nas profundezas dela como uma pulsação prazerosa.

"É um prazer conhecê-la." Sid falou, dando um passo à frente, sua expressão relaxando em um sorriso amigável que revelava o quanto ele era um encrenqueiro. "E bem-vinda à Arca. Como está achando o lugar?"

"Grande." Camille respondeu, tentando ignorar o olhar ardente enquanto sentia que Jag ainda a observava. "Sem dúvida vou me perder."

"Bem, você receberá um dispositivo de comunicação no seu turno, então se você se perder, basta ligar para um de nós e ficaremos mais do que felizes em ajudar." Sid respondeu.

Parecia um gesto completamente inocente e amigável, mas enquanto Camille olhava entre os três machos, seu coração disparou. Todos estavam observando-a e ela não conseguia se livrar da sensação de que havia mais na oferta do que apenas amizade.


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