Capítulo 003
HANNAH
"Você esfaqueou meu filho?" perguntou Alpha Dawson com uma voz suave, mas seus olhos contavam uma história diferente.
Eles queimavam e prometiam o pior tipo de punição para mim. Ele era um homem intimidador nas melhores condições, mas agora, ele parecia absolutamente assustador.
Olhei para ele do meu lugar de joelhos, com lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas, suas mãos muito musculosas se contraindo e relaxando nos apoios de braço da cadeira em que ele estava sentado, como se estivesse resistindo à vontade de envolvê-las em volta do meu pescoço.
Os guardas me forçaram a ficar de joelhos diante dele, mas embora suas mãos não estivessem mais em mim, eu não poderia ter me movido um centímetro, mesmo que quisesse. Eu estava petrificada, congelada no lugar. Minha vida poderia acabar a qualquer momento se o Alpha assim desejasse. Atacar seu filho era o mesmo que atacá-lo.
Abri a boca, mas só consegui suspirar. De alguma forma, minhas palavras se perderam entre minha cabeça e minha boca. Lembrei-me muito bem do meu pai estar na mesma posição em que eu estava enquanto era julgado pela tentativa de assassinato do Alpha, um crime que eu tinha certeza de que ele não cometeu. Agora eu estava aqui, diante do mesmo homem, acusada de quase a mesma coisa.
"Eu repito, você esfaqueou meu filho, Asher?" ele disse novamente.
Comecei a acenar com a cabeça, depois balancei a cabeça.
"Sim," eu guinchei. "Quero dizer, não-"
"Sim e não?"
"Eu fiz isso, mas não queria fazer isso. Eu fiz em legítima defesa." E porque ele parecia achar que eu estava falando bobagem, tive que contar toda a verdade. "Os amigos de Asher estavam prestes a me estuprar na floresta da escola. Ele- ele mandou eles fazerem isso. Eles estavam prestes a fazer, e eu só tive que me defender; essa era a única maneira que eu conhecia. Tudo o que eu queria era que eles parassem. Eu realmente não queria machucar ninguém."
No segundo em que terminei de falar, soube que cometi um terrível erro ao contar exatamente o que aconteceu. Ele parecia assassino. Não consegui suprimir um arrepio. Eu não tinha pensado que ele poderia ficar mais bravo do que já estava.
Com os dentes cerrados, ele disse: "Você tem a audácia de acusar meu filho de estupro?"
Não havia outra opção a não ser continuar com o que eu tinha dito. "Alpha, é a verdade. Eu-"
"Cale a boca!" ele ordenou. "Mais um som de você, e você nunca mais falará novamente. Vou cortar sua língua mentirosa." Ele me encarou por um longo, longo momento. Tapei minha boca com a mão para conter os gemidos assustados. "Eu sei exatamente o que está acontecendo aqui. Você e sua família são um bando de traidores, traidores determinados a destruir a matilha. Seu pai traidor falhou em me matar. Ele falhou. Ele te disse para terminar o trabalho dele."
"Não..."
"E agora... agora você decidiu matar meu filho em vez disso com essa conversa inventada sobre estupro!"
Minhas lágrimas caíram mais fortes e mais rápidas. Balancei a cabeça veementemente, tentando transmitir o fato de que eu não tinha tais intenções. O Alpha se endireitou e acenou para um dos guardas que estavam no canto da sala. O guarda imediatamente deu um passo à frente. Sem tirar os olhos de mim, o Alpha ordenou que ele chamasse Asher.
"Diga a ele para vir aqui o mais rápido possível. Eu tenho a ratinha que o esfaqueou." O guarda correu imediatamente para encontrar Asher.
Embora Asher tenha entrado na sala muito silenciosamente, eu soube no momento em que ele entrou. Parecia que o ódio na sala se intensificou cem vezes.
"Filho, venha para frente," disse o Alpha. Asher obedeceu, segurando o ombro. Certamente, eu não o tinha esfaqueado tão forte. "Ela é quem te esfaqueou, não é?"
"Ela é," Asher respondeu. Eu não achava que um valentão como ele correria para o pai como um bebê, mas ele me provou errado.
O Alpha assentiu. "Eu estava prestes a puni-la, mas achei melhor que você, o mais afetado pelas ações dessa coisa-" Ele me lançou um olhar fulminante antes de se virar para o filho. "-você deveria ser o único a decidir a punição dela. Diga-me, filho. Que tipo de punição você quer para ela?"
Os lábios de Asher se contraíram nos cantos enquanto ele lutava para não sorrir. Os segundos passavam enquanto ele ponderava a questão. Ele deliberadamente prolongou o momento para me fazer contorcer, e ele conseguiu. Minha mente girava com pensamentos de todas as formas de punições sádicas que ele teria reservado para mim.
"Quero que ela seja minha serva na escola," ele finalmente disse. "Lá, ela tem que atender a todas as minhas necessidades e fazer tudo o que eu pedir... sem hesitação."
O Alpha assentiu uma vez de maneira satisfeita. "Você ouviu, garota. Eu pessoalmente não teria escolhido uma punição tão fácil para você. O preço por colocar suas mãos inúteis no meu filho deveria ser o banimento ou... execução." Ele fez uma pausa para deixar isso claro. Tive uma visão horrível da minha cabeça se separando dos meus ombros. Estremeci novamente. "Sim. Você tem razão em ter medo. Mas como Asher já decidiu seu destino, você deve fazer o que ele pede. Sem hesitação. Lembre-se dessa parte. O que você tem a dizer por si mesma, garota?"
"Obrigada. Obrigada, Alpha," eu disse entre soluços.
"Mostre sua gratidão adequadamente," ele latiu. "Curve-se. Agora."
Eu rapidamente me curvei com a testa tocando o chão. "Obrigada, Alpha."
"Precisamos colocá-la para trabalhar imediatamente. Realmente não há necessidade de esperar pelo horário escolar para começar sua punição." Asher assentiu em concordância.
"Guardas!" Levantei a cabeça a tempo de ver dois guardas aparecerem ao lado do Alpha. "Levem-na para o chiqueiro. Precisa ser limpo."
A um sinal do Alpha, os guardas me agarraram e me arrastaram para fora da sala, mesmo que eu não tivesse intenção de resistir. Fui arrastada pela casa, pelo pátio e até onde os animais eram mantidos. Um guarda me soltou tempo suficiente para abrir a porta do chiqueiro, e então fui jogada dentro dele. Caí dolorosamente sobre meu braço. Os porcos grunhiram com minha intrusão e correram para o outro lado do chiqueiro.
Eu me sentei lentamente quando a dor lancinante no meu ombro diminuiu um pouco. Olhei para mim mesma. Eu estava machucada por toda parte, especialmente no ombro. O cocô dos animais manchava minhas roupas e meu cabelo. Franzi o nariz. O cheiro me fez querer vomitar, mas eu não tinha nada no estômago. Lutei contra a ânsia e cuidadosamente me levantei em um pé.
Meu outro pé doía. Mal tive tempo de colocá-lo no chão para verificar se meu tornozelo estava quebrado quando um guarda gritou uma ordem, "Comece a trabalhar agora! O que você acha que está fazendo? Treinando para o balé? Há mais dois chiqueiros para limpar!"
O outro guarda parecia mais inclinado a me machucar fisicamente se eu demorasse, então peguei rapidamente uma pá e comecei a recolher o cocô no chiqueiro.
Afinal, eu tinha mais dois chiqueiros para limpar.
O fedor e minha dor fizeram meus olhos lacrimejarem.
"Se você não vai me matar, então me dê força." Rezei silenciosamente para a deusa da lua enquanto trabalhava. "Estou cansada desta vida. Sinto falta do meu pai e quero me juntar a ele onde quer que ele esteja."
Certamente, a morte era muito melhor do que esse nível de sofrimento.
Uma parte de mim, a parte que me manteve sã todo esse tempo, não queria desistir. Mas era difícil não desistir. Muito difícil. Essa parte de mim rezava à deusa por ajuda, por força.
O riso interrompeu meus pensamentos. Virei-me para ver Julia apontando para mim e rindo alto.
"Olhe para você, porca! Você finalmente encontrou onde pertence. Que doce." Eu franzi os lábios, continuei trabalhando e esperei que ela fosse embora. "Ah, sim. É melhor você permanecer em silêncio para sempre. Ande com cuidado, ou eu farei sua vida pior do que já é. A melhor parte é que ninguém acreditará na sua versão da história. Da próxima vez, não serei tão gentil com você."
O quê? A pá escorregou das minhas mãos enquanto eu me virava para Julia em choque, quando a realização me atingiu.
"Foi você," eu chorei. "Você espalhou aquele boato sobre mim, dizendo a todos que Asher era meu companheiro, não foi?"
Julia jogou a cabeça para trás e riu ainda mais.
"É bom saber que você não é tão estúpida quanto parece," ela disse. "Mas ouça, eu vou fazer algo pior com você se você chegar perto de Asher. Asher é meu. Estaremos juntos para sempre. Eu serei a Luna dele, e terei os filhos dele enquanto você estará aqui limpando merda ou seja lá o que você deveria estar fazendo."
Ela cuspiu aos meus pés e foi embora antes que eu pudesse dizer outra palavra. A raiva que senti fez minhas têmporas latejarem e dificultou minha respiração.
"Você vai pagar por isso," eu jurei em voz baixa. Julia tinha que pagar pelo que fez, mesmo que fosse a última coisa que eu fizesse.
"Ei!" um guarda gritou. "O que eu te disse? Volte ao trabalho agora!"