Capítulo 3: A ira de um dragão
Cassius
Se meus pais ainda estivessem vivos, eu perguntaria a eles por que achavam que meus irmãos e eu precisávamos de uma babá. Principalmente, esse pedaço patético de carne que está esparramado no chão do meu quarto. Avery não vai desaparecer, não importa o quanto eu a empurre. Meus irmãos e eu não precisamos dela como nossa serva pessoal. Não precisamos de uma serva pessoal, precisamos de nossas companheiras. Mas não seremos capazes de sentir o cheiro de nossas companheiras até nossa Grande Cerimônia. Então, até eu encontrar minha companheira, vou aproveitar para transformar a vida de Avery em um inferno.
Ela está de mãos e joelhos limpando os restos do meu café da manhã. Eu empurro o rosto dela contra o meu tapete, “Lamba tudo! Cada gota maldita!”
Avery
Eu preciso apenas fazer o que ele diz para que eu possa sair daqui o mais rápido possível. Quanto mais tempo eu ficar aqui, mais terei que suportar. Enquanto lambo o líquido derramado, imagino que é chá de jasmim. Eu amo chá de jasmim, pois é a única coisa que me traz conforto e paz. Cassius nem está me observando agora, ele está muito ocupado mandando mensagens para uma de suas muitas namoradas.
O Trio é imensamente popular, especialmente com as garotas malvadas, que todas por acaso são líderes de torcida. Mal posso esperar para ser velha o suficiente para deixar este inferno e nunca mais olhar para trás. Eu rapidamente absorvo o líquido restante com meu vestido e empilho comida sobre ele. Também coloco tudo de volta na bandeja. Eu junto minha saia e depois a bandeja. Eu me levanto e faço uma reverência, “Tudo pronto, Vossa Alteza. Posso ir agora?” Eu mantive meus olhos baixos, sem ousar olhar para o rosto bonito dele que esconde o monstro que ele é.
Cassius colocou o dedo sob meu queixo. Ele estava em sua forma humana, mas eu tremia ao pensar que ele poderia se transformar ou liberar seu dragão a qualquer momento. “Abra os olhos. Olhe para mim!” ele ordenou. Meus olhos se abriram lentamente. “Mais abertos!” ele gritou. Eu permiti que meus olhos se abrissem completamente. Eu vi um olho humano azul e um olho de dragão vermelho me encarando. Sua voz era rouca e cheia de malícia, a voz de seu dragão, “Nós devemos vir primeiro. Se você algum dia colocar meus irmãos antes de mim novamente, eu farei você sangrar.”
Eu assenti em compreensão e ele me empurrou para fora da porta. Usando as escadas dos servos, corri para a cozinha e joguei a bandeja na pia. A equipe da cozinha pode limpar isso porque agora eu precisava trocar de roupa antes de me atrasar para a escola. Coloquei um vestido azul simples e corri para a escola.
Salvation é uma escola para todos os seres sobrenaturais e os humanos que os servem. Infelizmente, até mesmo os humanos não querem nada comigo, então mantenho minha cabeça baixa e foco nos meus cursos e no meu plano de desaparecer depois de me formar. Se eu pudesse sair mais cedo, eu sairia, mas qualquer um que tentasse era caçado e o resto do tempo aqui era pior do que o inferno do qual tentaram escapar.
Meu dia estava passando rápido até chegar a hora da aula de Educação Física. Sempre odiei Educação Física porque sinto como se meus ossos fossem quebrar ou fico sem fôlego com o menor esforço. Odeio ser fraca quase tanto quanto odeio dragões. Mamãe J e Papai A são os únicos pontos brilhantes nessa espécie monstruosa. Entro na cabine do banheiro para colocar meu uniforme. Mal consigo olhar para as cicatrizes que as crianças do orfanato deixaram, então não quero que os outros as vejam também. Não preciso de mais problemas e não preciso dar aos outros um motivo para me atormentar ainda mais.
A Sra. Kyer começa a introdução do que faremos no próximo mês. Para meu horror, é líder de torcida. Enquanto eu tentava engolir o bile que subia na minha garganta, Jessica, a capitã das líderes de torcida, e suas duas melhores amigas, Heidi e Lenore, entraram. Elas estavam todas com sorrisos animados, mas seus olhos ferviam de ódio quando me viram. As três garotas malvadas acham que não apenas possuem a Salvation, mas também o Trio. Elas me desprezaram desde o momento em que me tornei assistente pessoal do Trio e ainda mais desde então.
Eu morri um pouco por dentro quando a Sra. Kyer entregou a aula para as Bruxas Arrogantes. A voz irritante de Jessica ecoou por todo o ginásio, “Certo, antes mesmo de tentarmos ensinar a vocês o básico, precisamos saber se vocês têm resistência para atuar no nível que eu exijo.” Meu dia acabou de ir de ruim para pior.
Heidi saltitou até mim como uma gazela premiada. Seus olhos perfuravam os meus, me deixando extremamente nervosa. Enquanto estamos no campus, qualquer transformação ou uso de magia é expressamente proibido, a menos que faça parte de um requisito do curso. A maioria dos alunos, especialmente os dragões, dobram e até quebram essas regras. Batendo forte na parte de trás da minha cabeça, Heidi gargalhou, “Comece a correr.”
Eu tropecei para frente, mas felizmente me segurei antes de cair de cara no chão de madeira brilhante. Depois de ser ultrapassada algumas vezes por um grupo de alunos, eu desacelerei ainda mais. Meus pulmões estão queimando e sinto como se estivesse sendo esfaqueada a cada respiração que tomo. As líderes de torcida me flanqueiam de todos os lados, “Tão inútil, não consegue nem dar algumas voltas,” Lenore provoca. Heidi me cutuca, “Como ela ainda não morreu? Apenas role e morra de uma vez.” Jessica me faz tropeçar e eu caio com força no chão, rachando meu lábio. Ela ri, “Quando eu for rainha, exterminarei todos os vermes começando por você.”
Eu queria enfrentá-la. Eu queria derrubar suas pernas, mas não tinha mais luta em mim. Cada dia é uma luta apenas para existir. Quando será o suficiente?