Read with BonusRead with Bonus

Capítulo 2

Aqui estava tão pacífico que doía.

Quanto tempo Beth havia sofrido para que o primeiro momento sem dor, apenas calmo e quieto, pudesse machucá-la tanto?

Ela se curvou e caiu de lado, meio estirada, meio encolhida.

Ela não tinha ideia de onde estava ou o que havia acontecido com ela, mas isso era demais para absorver.

Este lugar vazio que ela não conseguia descrever nem ver, ouvir, provar, nada - este lugar onde ela não sentia mais dor, não estava mais morrendo, este lugar onde seu corpo finalmente encontrou paz e alívio do tormento, da agonia...

Ela não sabia se conseguiria suportar. Ela não sabia quem era sem a dor.

"Venha."

A voz suave veio de cima dela, e de repente, alguém estava de pé na sua frente.

O olhar de Beth subiu, seguindo a figura esguia da mulher até repousar em seu rosto.

E oh, ela era linda. Jovem e velha ao mesmo tempo, inocente mas sábia, alegria temperada por uma tragédia antiga. Ela tinha a suavidade das penas, o brilho das flores silvestres, o rosto de uma mãe.

Ela estava nua da cabeça aos pés, e de segundo a segundo, sua forma tremeluzia como se Beth a estivesse vendo do outro lado de um véu cintilante.

"Você é a Deusa da Lua," Beth sussurrou. Ela se sentou, olhando fixamente. "Você é real."

A mulher apenas sorriu.

"Eu parei de acreditar em você. Ou talvez eu só tenha começado a acreditar que você me odiava."

Se ela soubesse que teria essa chance de encontrar a Deusa da Lua cara a cara, Beth teria preparado um discurso mais impressionante, apaixonado e raivoso.

Ela não mostraria fraqueza, apenas uma fúria amarga pelo que a deusa a havia forçado a suportar.

Mas tudo o que ela tinha agora era uma tristeza entorpecida, derrota. "Você me deu um companheiro que me quebrou," ela sussurrou.

"Você fez isso. Você me destinou a um companheiro que queria que eu sofresse, e ele fez coisas comigo piores que a morte. Minha filha..." Ela já não tinha mais lágrimas para chorar.

"Eu rezei para você pela primeira vez em meses pouco antes de morrer. Porque eu deveria estar morta, certo? E se você é realmente a Deusa da Lua, então você sabe disso."

As mãos de Beth voaram para seu peito, pressionando contra o vazio escuro e feio que se expandia dentro dele.

"Estou te dando outra chance. Para fazer as coisas certas."

"Qualquer corpo, qualquer vida que você me der desta vez, eu não quero um companheiro. Nunca. Isso é tudo que eu peço. E..." Lágrimas brotaram em seus olhos, quentes e ardentes.

"Cuide da minha filha. Ela nunca mereceu nada disso. Ela é apenas um bebê... É minha culpa. Eu fui tão estúpida. Agora eu nunca poderei..."

"Você não entendeu," disse a Deusa da Lua. "Eu não estou te dando uma nova vida. Estou te dando uma segunda chance."

"...Eu não entendo?"

"Eu vi todo o sofrimento que você suportou. O companheiro que eu te destinei - o que ele fez foi contra a natureza, contra todas as leis. Isso não será tolerado."

A mulher segurou o rosto de Beth em suas mãos, quentes, suaves e fortes.

"Mas não se engane. Isso também é sobre o sofrimento dos outros em que você teve uma participação. Você deve a eles uma grande dívida, grandes reparações, e com essa chance, caberá a você tomar as decisões certas desta vez. Agora você sabe. Agora você vê. Você terá toda a sabedoria pela qual sofreu tanto, mas desta vez, você pode usá-la para agir com sabedoria... Você pode usá-la para mudar seu destino."

"Deusa, eu não entendo."

"Você entenderá."


Beth se levantou da cama de repente, com o cabelo grudado na testa pelo suor úmido. Um sonho, um pesadelo, uma ilusão confusa. Ela se lembrava de cada segundo da impossibilidade fantástica que sua mente havia conjurado com a chamada Deusa da Lua e segundas chances, toda aquela confusão aterrorizante enquanto o mundo desmoronava ao seu redor.

Mas o que era ainda mais confuso era como ela estava sentada. Não, não apenas sentada, algo que ela não conseguia fazer há meses, mas se sentindo - excelente. Seu corpo estava forte, saudável, embora tremendo de adrenalina. E... o quê? Esta não era a cama em que Annalise a havia empurrado. Esta era sua antiga cama, de casa. Isto era...

"Beth! Elizabeth! Oh, graças à Deusa da Lua, você está acordada."

Antes que ela pudesse entender o que estava acontecendo, um par de braços a envolveu, e uma mulher soluçou em seu cabelo. Beth congelou, seu corpo inteiro rígido. "Mãe?" ela sussurrou. "Mãe - você... você não pode estar aqui, você... você está morta... você está morta há anos..."

"O que você está dizendo? Oh, Deusa da Lua, eu estava tão assustada quando disseram que você não estava se curando corretamente. Seu pai e eu estamos bem aqui, tudo vai ficar bem. E eu já falei com ele, não vamos seguir com esse noivado. Oh, Beth! Eu não sabia que você estava tão desesperada para sair disso que se machucaria assim."

Sua mãe começou a chorar enquanto Beth olhava por cima do ombro para o homem sombrio parado ao lado da cama, com o rosto abatido e cinzento. Oh, Deusa da Lua. Seu pai, sua mãe, ambos bem aqui... Como isso era possível? E o quê? Isso era... Memórias desmoronaram e fluíram em sua cabeça, preenchendo sua consciência. Memórias antigas, aquelas que ela havia enterrado há tanto tempo que mal conseguia se lembrar delas.

Oh, Deusa da Lua, ela pensou, um choque frio explodindo em sua consciência como um banho de gelo. Como isso era possível?

Isso era - a noite antes de ela ir encontrar Matt, o homem destinado a se casar com Annalise, e convencê-lo a fugir com ela. Esta era a noite em que ela havia selado seu destino, ignorante de toda a dor que a esperava no final do caminho que ela havia tomado. Esta era a noite em que tudo havia mudado.

"Seu pai discorda, pois ele diz que o casamento é muito importante, mas ele vai ceder. Sua felicidade é mais importante do que a política, Beth." Sua mãe acariciou seu cabelo, a voz quebrando. "Você é muito importante. Vamos cancelar o noivado, e você pode escolher com quem quer se casar. É o fim disso."

Esta era a mesma conversa de anos atrás. E esta era a mesma conversa que havia levado a outra discussão, outra briga... No final, Beth ainda havia fugido. Isso era real? Como isso era possível? Tempo... ela havia voltado no tempo, anos atrás, para quando tinha dezessete anos.

"Espere," ela interrompeu. "Está tudo bem. Eu vou seguir com o casamento. Do jeito que vocês arranjaram, quero dizer. Deixe acontecer como planejado."

Sua mãe congelou, e ao mesmo tempo, a expressão solene desapareceu do rosto de seu pai, dando lugar à confusão.

"...Querida, eu falo sério. Seu pai vai ceder -"

"Eu também falo sério. Mas espere, me conte o que aconteceu. Não consigo me lembrar de nada claramente depois que pulei da varanda. Eu deveria estar experimentando o vestido e certificando-me de que ainda servia, certo?"

"Oh, querida! Disseram que sua memória ficaria confusa, mas eu esperava... sim, querida. Seu pai estava tentando correr atrás de você e todos os outros também, então você pulou do segundo andar, mas não terminou de se transformar a tempo e..."

E caiu de cabeça, ela se lembrou. Estúpida! Ela tinha sido tão estúpida naquela época. Mas sim, agora Beth podia confirmar com certeza. Esta era a noite antes de seu casamento, apenas horas antes de ela fugir novamente e tentar fugir com Matt. Tudo para poupar Annalise de um casamento que ela não queria... tudo por sua irmã mais nova que a havia traído. Ela apertou os punhos sob os cobertores. Mas agora estava tudo bem. Seu corpo estava forte novamente. Ela havia se machucado, ela se lembrava, mas havia se recuperado completamente - e agora, ela tinha algo que precisava fazer.

"Eu vou me casar com a família Heether, do jeito que vocês arranjaram," ela anunciou mais uma vez. "Não cancelem o noivado."

"Querida, não poupe nossos sentimentos. Isso é sobre o seu futuro."

"Papai sabe que eu não falo levianamente para poupar os sentimentos de ninguém. Eu sei que isso é sobre o meu futuro. Estou fazendo isso por mim. Não se preocupe, eu falo sério. Não cancelem o noivado." Beth encontrou o olhar de seu pai. "E eu não vou tentar fugir novamente e me machucar. Confie em mim. Eu não vou decepcioná-los."

Seu pai olhou de volta. Ele estava confuso, ela sabia. Durante meses até o casamento, ela havia lutado tanto, dado tanto desgosto a eles... e agora, ela estava cedendo sem explicação. Claro que ele não entenderia.

Se ao menos ele soubesse a verdade. Mas era melhor que ele não soubesse. Melhor que ninguém soubesse.

E se esta era realmente sua segunda chance, ela garantiria que faria tudo certo desta vez.

"Bem... vamos conversar mais sobre isso depois que você descansar, querida." Sua mãe deu um tapinha em suas costas e acariciou seu rosto, relutante em sair. "Bons sonhos, Beth. Querido, vamos."

Era muito difícil explicar qualquer coisa para eles. Eles pensariam que ela estava louca, e mesmo que acreditassem nela, isso só partiria seus corações. Não, ela pensou enquanto os observava saindo lentamente de seu antigo quarto, olhando um para o outro e de volta para ela. Era melhor que eles não soubessem.

Especialmente porque os planos de Beth envolviam a filha mais nova deles. Sua irmã. Annalise.

"Beth? Posso entrar?"

E lá estava ela, entrando sorrateiramente com aquele rosto inocente e olhos grandes e lacrimejantes. Deusa da Lua, se Beth soubesse naquela época que aquele rosto inocente escondia tanta crueldade o tempo todo, ela teria simplesmente... Mas era isso. Esta era sua segunda chance. Ela tinha essa oportunidade agora. Ela observou impassível enquanto Anna se aproximava de sua cama, as mãos mexendo na frente de sua camisola e a boca em um beicinho trêmulo. Tudo uma farsa... tudo uma fachada.

"Eu estava ouvindo do outro lado da porta," Anna sussurrou. "Estou feliz que você esteja bem. Mas você não deveria desistir. Continue lutando! Você é tão forte, eu sei que você tem o que é preciso. Você sabe que eu sempre estou do seu lado... Se você quiser tentar escapar de novo esta noite, eles não vão suspeitar. Você terá outra chance, e eu vou te ajudar -"

"Não, obrigada. Vou seguir com o que papai quer. Sinto muito, Anna, eu fiz tudo o que pude. Vamos ter que nos virar."

A fachada de Anna escorregou ligeiramente. Há muito tempo, Beth nunca teria notado. "M-mas você ia fugir com Matt. Você disse que nunca o esqueceu, mesmo depois de todos esses anos... E você disse que tinha uma queda por ele antes mesmo de aprender a se transformar. Você não se lembra? Quando você me disse que o conheceu naquela época e se sentiu atraída por ele? Isso tem que significar algo, que vocês são compatíveis. E você ficará tão miserável se casar com um estranho em vez disso, deveria pelo menos ser alguém que você gostava antes..."

"Bem, os sentimentos desaparecem." Beth deu de ombros. "Não é grande coisa. Talvez eu acabe gostando do meu noivo também."

"Mas Beth, não deixe a mamãe e o papai vencerem! Você pode fazer isso. Você tem que fazer isso. Pela sua felicidade. Eu vou te ajudar, eu falo sério. Você pode encontrar Matt, e você é tão bonita, como ele poderia dizer não? Você pode convencê-lo a fugir com você, e então você não terá que se casar com aquele outro cara, e -"

"E você não terá que se casar com Matt. Sim, eu me lembro." Beth sorriu. "Mas todos nós temos que crescer em algum momento. Vamos nos comportar, ok? Anna."

Oh, sim. Deusa da Lua, como era bom ver o brilho de frustração, raiva e confusão nos olhos de Anna. Como era bom frustrar seus esquemas desta vez em vez de cair neles...

"Além disso, estou realmente cansada. Que tal você se preparar para dormir. Eu vou dormir um pouco mais."

"Mas Beth -"

"De verdade. Minha cabeça dói. Boa noite."

Oh, isso era um sonho se tornando realidade. Quando a porta se fechou atrás da Anna emburrada que não conseguia parar de olhar para ela com uma confusão estupefata, Beth suspirou e se recostou na cabeceira.

Renascida. Mas não como outra pessoa - como ela mesma, anos antes. A Deusa da Lua havia respondido sua oração de uma maneira que ela nunca imaginou... Como isso poderia ser possível?

Bem, não importava. O que importava era que era real, e já estava acontecendo. Beth não perderia tempo se perguntando sobre isso. Não quando ela tinha tanto a fazer, tantos erros a corrigir. Uma segunda chance...

Uma batida na porta a fez franzir a testa. Quem era desta vez? "O que é?" ela chamou. "Estou descansando."

"Ah... Senhorita Beth, desculpe, mas tem alguém que veio vê-la."

Oh, um dos servos de seu pai. Ele deve tê-lo postado na porta dela caso ela não fosse sincera sobre sua promessa de não fugir novamente. Inteligente. "Quem é?" ela perguntou.

"É o noivo de sua irmã, Senhorita Beth. É Matt da família Catii."

Previous ChapterNext Chapter