




Capítulo 4 - Morte pelo estudo
“Você está atrasada,” apontou um homem idoso sentado no sofá no momento em que Solene entrou pela porta da frente. Para um senhor de setenta e cinco anos, ele ainda tinha uma massa espessa de cabelo grisalho e conseguia andar corretamente sem a ajuda de uma bengala.
Solene abaixou a cabeça timidamente e se aproximou do avô.
“Desculpa, vovô. Estou com a agenda apertada por causa dos trabalhos da escola.” Ela se abaixou e deu um rápido beijo na testa dele.
Seu avô fez uma careta.
“Sério, você é a única estudante universitária que eu conheço que vai à biblioteca quase todos os dias,” ele comentou.
Solene não viu isso como uma reclamação. Ela apenas riu e caminhou em direção a uma estante perto da cozinha.
“Faz parte da vida de estudante, vovô,” ela respondeu enquanto colocava seus livros recém-adquiridos na prateleira.
“Bah!” seu avô acenou com a mão de forma desdenhosa e estalou a língua. “Quando eu tinha a sua idade, eu andava por aí na escola procurando diversão! Sua avó também. Ah, sim, ela era uma fera nas festas. Como é que você não herdou isso de nós?!”
“Porque, pai, eu a criei como a menina estudiosa que ela deve ser,” veio a resposta da mãe de Solene enquanto saía da cozinha.
“Oi, mãe,” Solene se inclinou e beijou a bochecha dela.
“Você está atrasada,” sua mãe lhe deu um olhar penetrante.
“Desculpa. Vou chegar mais cedo da próxima vez,” Solene prometeu.
“Urgh, bobagem,” seu avô interrompeu. “Morte por estudar,” ele resmungou, não olhando mais para a televisão, mas para as duas mulheres rindo entre si. “Sim, tenho certeza de que Solene vai acabar assim se não parar de ler.”
“Pai, você está mimando sua neta,” Meridith suspirou e se aproximou dele, dando um rápido beijo na testa dele também enquanto o velho continuava balançando a cabeça.
“Obrigada, vovô. Vou levar seu conselho em consideração,” Solene sorriu e depois foi para a cozinha.
“Oi, AC! Vem cá,” ela imediatamente se agachou quando viu seu irmão adotivo de dez anos brincando de Lego embaixo da mesa de jantar. Ela levantou o menino e lhe deu um abraço antes que ele decidisse que já era o suficiente.
“A vovó vai vir?” Solene perguntou quando AC escapou de seu abraço e voltou para debaixo da mesa.
Meridith assentiu para ela.
“Sim,” ela se virou para os armários e pegou quatro pratos. “Ela vai chegar antes de—” Mas então ela parou ao perceber seu erro.
“Antes?” Solene repetiu, rápida em notar a falta incomum de palavras de sua mãe. Ela arqueou uma sobrancelha, sentindo que algo estava errado.
“Antes de termos uma conversa de mãe e filha,” Meridith continuou.
“Por quê? O que há de errado, mãe?” Uma súbita ansiedade surgiu dentro dela. Ela esperava que sua mãe respondesse, mas Meridith apenas lhe entregou os quatro pratos e disse:
“Vamos comer primeiro.”
Quando o jantar terminou, a ansiedade de Solene havia crescido cem vezes. Ela sentia que era o centro das atenções de todos quando se sentou na extremidade da sala de estar, onde o playground do lado de fora, onde seu irmão adotivo brincava, podia ser visto.
Dentro da sala de estar estavam seus avós e sua mãe, todos parecendo pensativos. Ela podia sentir que a atmosfera ao seu redor era diferente das noites diárias usuais que tinham. Sempre era alegre e leve, mas agora, parecia que alguém estava sendo enviado para a guilhotina.
“É hora, Solene,” proclamou Meridith sem hesitar.
Pelo peso do olhar de sua mãe, Solene imediatamente soube exatamente o que ela queria dizer.
Ela suspirou e, ao contrário de antes, quando seus ombros estavam rígidos como uma tábua, agora eles haviam afundado.
“Eu esperava que você tivesse esquecido disso,” ela disse, olhando para o chão de madeira.
Meridith balançou a cabeça e franziu a testa. “Você sabe que eu não posso. Foi o último desejo do seu pai.”
“Sim, eu sei,” Solene interrompeu. Ela olhou para seus avós, que escolheram ficar em silêncio, e depois para sua mãe, buscando aprovação. “Mas talvez eu possa pedir à família Rantzen para... você sabe... cancelar o acordo?”
“Solene,” a voz de Meridith abaixou, um aviso silencioso vindo dela.
“Ou talvez me dar mais alguns anos?” ela acrescentou, sentindo a garganta apertar.
“Solene, querida, você vai fazer vinte e um anos dentro de um mês. Você sabe exatamente que esse é o prazo,” sua mãe respondeu.
“É só que eu não entendo por que eu tenho que me casar com essa família. Eu nem sequer vi meu noivo.” Solene se levantou e cruzou os braços sobre o peito. “Ele, quem quer que seja, nem teve a decência de me procurar, ou talvez se apresentar, estabelecer um relacionamento, ou criar uma amizade primeiro? Quero dizer, ele teve doze anos da minha vida para fazer isso e ainda assim não fez.”
“Deve haver uma boa razão para isso, Solene,” sua avó interveio. “Essa família é, afinal, a mais proeminente em Basque.”
Em contraste com a atitude despreocupada de seu avô, sua avó era uma mulher toda certinha. Ela era prim e adequada. Tinha o coque mais limpo na cabeça e usava o vestido mais bem passado. Parecia uma governanta experiente de alguma família real. O que seu avô disse sobre ela ser uma fera nas festas de alguma forma não podia ser acreditado.
“Ainda assim...” Solene conseguiu dizer. Ela podia sentir os olhos de sua avó a lendo como sempre fazia desde que pegou aquele livro estranho de seu pai.
Isso a deixava nervosa às vezes, mas ainda assim sua avó era família. Ela nunca poderia odiá-la.
“Um representante da Família Rantzen ligou ontem e disse que alguém vai vir buscá-la na tarde de sábado. Eles já fizeram os arranjos para sua universidade e a universidade irmã deles em Portugal. Dessa forma, seus estudos não serão afetados.”
“Isso é atencioso da parte deles.” Solene escondeu um riso sarcástico.
Meridith se levantou, se aproximou da filha e apertou seus ombros.
“Você vai ficar bem, querida. Tudo vai ficar bem.”
Solene mordeu o lábio e respirou fundo. Não havia outra maneira senão ceder. Ela sabia que esse dia chegaria. Ela havia aceitado isso desde que entrou na adolescência, quando os primeiros beijos e primeiros encontros deveriam ter sido experimentados. Ela já havia se preparado mentalmente para isso. Ela amava seu pai e cumpriria seu desejo.
“Posso pelo menos saber o nome do meu noivo?” ela perguntou depois de alguns segundos. “Ou nem mesmo esse detalhe eles compartilharam.”
Riza, sua avó, se levantou e, como uma Dama das Águas, deslizou em sua direção e segurou seu queixo como se a abençoasse.
“O nome do seu futuro marido é Lorde Henri Rantzen.”