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1__Colher de prata, colher de pau

As linhas de batalha foram traçadas.

Erin olhou para seu inimigo com olhos castanhos inabaláveis. Claro, seu lábio tremia um pouco, mas ela escondeu bem. Ela não choraria. Mesmo que ele fizesse isso, ela não choraria.

Mas ele faria? Ele realmente faria isso?

Seu coração parou de medo em seu peito, Erin observou o garoto sorrir enquanto sua mão envolvia firmemente a cabeça de sua preciosa boneca de lã.

Ele não ousaria.

Aquele brilho maligno cintilou em seus olhos e, antes que Erin pudesse dizer uma palavra, ele puxou o braço para trás, arrancando a cabeça da boneca e, sem remorso, jogando-a pelo vasto quintal.

Erin ficou paralisada no lugar, seus olhos arregalados de incredulidade.

"Eu te disse que faria," ele disse, com a boca curvada naquele sorriso que ela tanto desprezava. Ele zombou. "O quê? Vai chorar?"

Erin olhou para ele, seu lábio tremendo abertamente agora.

"Aquilo..." ela começou. "...foi um presente de Natal da minha mãe!" Com os olhos cheios de lágrimas e um grito de raiva, ela se jogou sobre ele, batendo nele com toda a força que seus punhos de nove anos podiam reunir.

Eles caíram no chão, lutando sobre a grama verde da luxuosa propriedade.

"Saia de cima de mim!" o garoto gritou, enojado por ter a garotinha mimada tocando suas roupas caras.

Erin enfiou os dedos no cabelo loiro e grosso dele, agarrando e puxando com toda a força até ele gritar o mais alto que podia.

"Socorro!" gritou o garoto, mas logo ele não conseguia mais formar palavras porque os dentes afiados de Erin haviam cravado em sua bochecha e ele não podia fazer nada além de gritar.

"Erin! Braden! O que está acontecendo?!"

Mãos fortes os puxaram um do outro e as duas crianças ficaram de pé, olhando uma para a outra e sem fôlego pela briga.

"Ele começou!!" gritou Erin, incapaz de parar as lágrimas que agora fluíam.

Sua mãe soltou os braços deles e cruzou os próprios enquanto olhava para sua filha.

"Erin! O que eu disse—"

"Ele realmente começou, mamãe!" ela chorou, envergonhada de suas lágrimas, mas incapaz de parar de chorar. Braden realmente era um garoto horrível. Se ela soubesse que teria que viver com ele, Erin teria fugido para o oceano para viver na praia. "Ele quebrou minha boneca! E era meu presente de Natal!"

"Você me mordeu!" Braden retrucou, olhando furioso para Erin.

"Os dois, parem com isso," disse a mãe de Erin. "Braden, eu vou manter Erin fora do seu caminho, então, por favor, você pode voltar para suas aulas."

Erin olhou para sua mãe em descrença. "Mãe! Eu disse que ele começou!"

"Cala a boca!" Braden disse a ela, segurando a bochecha latejante.

"O que está acontecendo aqui?"

Erin viu sua mãe se virar, assustada pela voz de seu chefe.

Caminhando em direção a eles estava Julius Stone, Presidente da Stone Inc. e dono da grande propriedade onde estavam. Um homem com milhões no bolso e ainda mais no banco. Seu cabelo branco parecia brilhante à luz do sol, o terno que ele usava era de uma das marcas de roupas mais elitistas. Para Erin, ele parecia possuir o mundo inteiro.

E ele era simplesmente o avô de Braden.

"Oh! Bom dia, senhor!" disse a mãe de Erin apressadamente. "Eu não sabia que o senhor estaria em casa tão cedo."

"Vovô!" Braden gritou, sua voz lamentável enquanto corria para o lado de seu avô. Ele imediatamente apontou um dedo acusador para Erin. "A filha da empregada me mordeu! Olha!"

A mãe de Erin ofegou, segurando a frente de seu uniforme. Balançando a cabeça, ela levantou as mãos em súplica. "Foi apenas um erro, senhor! Eu prometo que não vai acontecer de novo! Erin..." Estendendo a mão para trás, ela puxou Erin para frente. "Peça desculpas a Braden. Vamos!"

Tão silenciosa quanto uma pedra, Erin mordeu o lábio enquanto mais lágrimas escorriam. Ela não pediria desculpas a Braden Stone, mesmo que prometessem um pônei para ela!

Silenciosamente, Julius inclinou o rosto de seu neto, estudando as marcas claras de mordida em sua bochecha avermelhada. Ela realmente o mordeu.

Ele olhou para Erin. "Garotinha?"

Levantando os olhos lentamente para o homem alto à sua frente, Erin fungou e tentou parar de chorar. "S-sim, senhor."

"O que aconteceu?"

Engolindo em seco e passando a mão pela bochecha, Erin olhou para o avô de Braden. "B-braden quebrou minha boneca," ela explicou chorosa.

"Não fiz!" ele retrucou.

"Fez sim! Você arrancou a cabeça dela e jogou ali!" Erin chorou. Ela olhou para o avô dele com um aceno. "Ele realmente fez! Ele disse que era f-fedorenta e velha e que minha mãe era muito pobre para me dar brinquedos como os dele!"

"Porque é verdade!" retrucou Braden.

"Pare com isso!" Erin voou para cima dele com os punhos, sendo segurada no meio do caminho pelos braços de sua mãe.

"Erin!" repreendeu sua mãe. "Pare com isso imediatamente." Ela olhou para seu chefe, que permaneceu em silêncio, observando Erin e todas as suas travessuras. "Sinto muito, senhor!"

Julius levantou a mão, dispensando as desculpas de sua empregada.

"Garotinha."

Ao ser chamada, Erin parou e ficou imóvel, levantando o olhar para encontrá-lo. "Sim, senhor."

"Você acha que é certo bater ou machucar os outros?"

A leve repreensão fez Erin baixar o olhar. "Foi... foi meu presente de Natal... minha mãe fez."

Com as lágrimas gordas rolando pelo rosto da garotinha, Julius suspirou.

"Era fedorenta e feia de qualquer maneira," Braden disse a ela.

"Chega!" latiu Julius. Assustado pelo grito repentino de seu avô, Braden recuou. "Nem mais uma palavra, Braden." Voltando-se para a garotinha, Julius adotou um tom mais gentil. "Eu fiz uma pergunta, garotinha."

Os ombros de Erin caíram.

Claro. O avô de Braden iria defendê-lo. E ele provavelmente mandaria ela e sua mãe embora porque ela mordeu Braden. O pensamento fez o coração de Erin tremer de medo. Elas viviam ali desde que Erin tinha cinco anos e sua mãe ficaria tão triste se as mandassem embora. Elas não tinham para onde ir.

Erin cerrou os punhos. "Não," ela disse baixinho. "... não é certo machucar os outros." Lentamente, ela levantou o olhar para Julius Stone. "Mas também é ruim quebrar a boneca de alguém."

"Erin!" repreendeu sua mãe.

"Eu sei que mordi ele, mas foi porque ele me deixou com raiva quando quebrou minha boneca! Eu disse para ele não fazer isso! Minha mãe não fez nada de errado, então você não pode mandá-la embora, senhor! Tudo bem!" Ela olhou para Braden com raiva. "Desculpa por ter te mordido, Braden!" Seu olhar cheio de lágrimas voltou para o avô dele. "Eu pedi desculpas, você não pode nos mandar embora! Ele estava errado em quebrar minha boneca!"

Julius levantou a mão, silenciando-a enquanto olhava para Erin com olhos de leve curiosidade. A garotinha tinha mais espírito do que todos os seus descendentes homens juntos. "Isso é verdade," Julius concordou calmamente, voltando-se para seu neto. "Ele estava errado. É por isso que Braden também vai se desculpar."

A cabeça de Braden se levantou para olhar para seu avô. "Vovô!"

"Imediatamente, Braden. Ou então."

Com as últimas duas palavras de seu avô causando medo nele, Braden não teve escolha a não ser olhar para Erin. Ela olhou de volta para ele com olhos desafiadores. Ele cerrou o maxilar, olhando furioso para ela. Como ela ousava? Quem ela pensava que era para receber um pedido de desculpas dele?! Ela era apenas a filha da empregada enquanto ele... ele era o herdeiro de uma fortuna bilionária.

Os dentes de Braden se cerraram ainda mais. Ele faria ela pagar por isso. "Eu... sinto muito."

Julius colocou a mão no ombro de seu neto. "Bom." Ele olhou para Erin. "Ele se desculpou e eu prometo garantir que sua boneca seja substituída por uma idêntica. Está bem assim?"

Erin ficou em silêncio, chocada. Braden havia se desculpado com ela. Pela primeira vez. Ela piscou para o avô dele. Ele conseguiria uma nova boneca para ela? Lentamente, ela assentiu. "S-sim. Sim, senhor."

Atrás dela, sua mãe soltou um suspiro de alívio. "Vou preparar o almoço, senhor."

Julius assentiu e se virou para levar seu neto embora.

"Venha comer, querida," disse sua mãe para ela, limpando as lágrimas de Erin e beijando sua testa antes de se apressar em direção à casa.

Erin observou Julius Stone se afastar com seu neto e coçou a cabeça, intrigada.

Ele fez Braden pedir desculpas e ele ia conseguir uma nova boneca para ela? Erin não podia acreditar. O avô de Braden não era tão assustador quanto ela sempre acreditou. O Presidente era alguém que possuía tudo e, no entanto, ele era... gentil.

No meio do caminho para a casa, Braden se virou e seu olhar afiado de olhos azuis encontrou o de Erin. Ela sentiu um arrepio percorrer seus braços com o olhar frio dele e se abraçou.

Aquele brilho cintilou em seus olhos. Ele iria se vingar.

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