




Os seguidores leais
Lucia decidiu parar por um momento no Parque Rottenbir, observando cada canto do lugar que guardava tantas memórias de sua infância. Balanços, escorregadores, piscinas de areia e outros brinquedos que permanecem na mesma posição, nada mudou.
Cit... cit... cit...
O som dos sapatos de uma criança podia ser ouvido junto com passos e vozes quebrando o silêncio da noite.
Lucia virou a cabeça e olhou para uma garotinha que corria alegremente porque seus sapatos faziam um som que a atraía muito.
"Molly, cuidado!" disse um homem que estava parado em frente ao portão do parque.
O homem ficou esperando a menina correr em sua direção. No entanto, sendo muito entusiasmada, a garotinha entrou no parque e correu animadamente.
"Que doce!" murmurou Lucia, que já estava sentada em seu balanço favorito antes de perceber.
"Papai! Papai!" gritou a garotinha chamando seu pai, que ainda estava parado em frente ao parque.
"Molly, vamos para casa, querida! A vovó e o vovô estão esperando!" disse o homem.
Como o homem estava parado bem em frente ao poste de luz, seu rosto não podia ser visto claramente. Por algum motivo, Lucia lembrou-se da conversa que teve com Olivia na loja de conveniência mais cedo. Sobre Chris, que já tem uma filha de sua esposa falecida.
Bruuukkk...
A garotinha tropeçou e caiu. Espontaneamente, ela começou a chorar porque sua perna estava machucada.
Lucia, que estava bem perto dela, imediatamente se aproximou da garotinha e a ajudou a se levantar, mesmo que ela ainda estivesse chorando muito.
"A dor foi embora, voou para o céu, a dor foi embora-" Lucia foi forçada a cantar para confortar a garotinha.
"Molly, você está bem, minha querida?" O homem foi imediatamente até sua filha quando descobriu que ela havia caído e estava chorando.
"Papai, a dor foi embora, hiks-" disse ela soluçando, embora não chorasse tão forte quanto antes. A garotinha já estava tentando suportar a dor.
Lucia, que havia adivinhado o paradeiro de Chris desde o início, estava de alguma forma nervosa e não conseguia se mover. Na verdade, ela nem conseguia levantar o rosto. Lucia continuou a manter sua postura agachada e abaixou a cabeça para evitar fazer contato visual com o homem que estava diante dela.
"Muito obrigado por ajudar minha filha!" disse ele. Lucia não sabia, será que essa voz era realmente a voz de Chris, o covarde e chorão do grupo de Nothingville? Parecia impossível, essa voz que soava masculina e cheia de dignidade pertencia àquele covarde.
"Não foi nada!" disse Lucia, que estava ainda mais nervosa. Talvez, esse homem estivesse confuso sobre por que Lucia continuava agachada daquele jeito? No entanto, seria rude perguntar.
"Vamos, Molly. Vamos para casa!"
"Tá bom, papai! Obrigada, tchau tchau...?" A garotinha acenou com a mão com um sorriso, enquanto a outra mão era segurada por seu pai.
Lucia sentiu-se aquecida, vendo o sorriso sincero de uma criança pequena. Quem sabe há quanto tempo ela não sentia esse tipo de sentimento. Parecia realmente calmo e confortável. Depois que o homem se virou, só então Lucia se atreveu a se levantar e olhar para suas costas cada vez mais distantes.
"Será que aquele homem é o Chris? Mas, pode ser outra pessoa!" pensou ela. Se ela tivesse tido coragem de olhar para o rosto dele, teria reconhecido na hora. Porque o rosto de uma pessoa não muda tanto assim.
Depois que o homem e sua filha foram embora, Lucia decidiu ir para casa, lembrando que tinha que entregar o sal que a Sra. Joana estava esperando.
"Cheguei em casa!"
"Uau... bem, você deve ter dado uma volta, né?" perguntou a Sra. Joana, que já podia imaginar.
"Hahaha... desculpe por demorar a trazer o sal que você pediu!"
"Não tem problema, vamos comer! Vou chamar a vovó, assim podemos comer juntas!"
"Tá bom!"
Convite para uma reunião, Lucia de repente lembrou do convite para a reunião que Olivia havia mencionado. Será que ela deveria ir ao evento? Mesmo que ela não estivesse com eles até a formatura. Eles ainda se lembrariam dela?
"Por que você está sonhando acordada? Minha comida não está boa, é isso?"
"Não, não é isso! É só que estou um pouco confusa-"
"Por que você está confusa?" perguntou a Sra. Joana seriamente. Enquanto isso, a vovó parecia não entender muito bem por causa de sua condição auditiva.
"Encontrei uma amiga da escola, ela trabalha como caixa em uma loja de conveniência!"
"Você quer dizer, Olivia Atkinson?"
"Ah... sim! Você a conhece?"
"Claro, ela trabalha lá há muito tempo. Afinal, só tem quatro funcionários no minimercado. Então, como foi? Não é de se admirar que você tenha chegado tarde em casa, acabou batendo papo com amigos, né?"
"Sim, ela me convidou para uma reunião da escola!"
"Sério? Que bom, vá sim!"
"Mas eu só estive naquela escola até o verão do segundo ano. Deve ser estranho se eu aparecer de repente!"
"O que você está preocupada? Você mudou muito, né? Mesmo que parecesse que você não tinha medo de nada naquela época, por que a reunião te deixou tremendo?"
"Tenho medo de encontrar outros amigos-"
"Bryan, Christopher, Pierre e Galileo, certo? Se não me engano, eles eram seus amigos mais próximos da infância, né?"
"Sim, é isso mesmo! Parece que você ainda se lembra dos nomes deles,"
"Claro! Como eu poderia esquecer aquele grupo de pestinhas como vocês que sempre compravam cinco hambúrgueres, mas só pagavam por quatro!" disse ela, segurando o riso.
Lucia não conseguiu segurar o riso, porque seus pecados do passado foram trazidos à tona novamente. Lembrando que a ideia de pagar por quatro porções era uma ideia dela que seus amigos tiveram que concordar.
"Joana, coloque mais sopa...!" gritou a vovó. O riso delas parou imediatamente porque a voz da vovó era muito alta.
"Sim, mãe! Não grite assim!" disse a Sra. Joana enquanto servia a sopa na tigela da vovó.
"Você acha que eu devo ir?"
"Quando?"
"Sábado, no hotel do Bryan!"
"É melhor você ir, você não quer encontrar um emprego também? Quem sabe um amigo seu pode ajudar. Ah, ouvi dizer que o Bryan já é o CEO da empresa de navios de cruzeiro da família dele. Se você encontrá-lo, peça para ele te contratar!" disse ela, dando um conselho que era realmente muito razoável, considerando que Lucia e Bryan eram amigos desde os cinco anos de idade.
Lucia ficou em silêncio, talvez ninguém soubesse por que ela se sentia tão preocupada em ter que encontrar aquelas quatro pessoas, incluindo Bryan. Os pecados que ela cometeu contra seus amigos são enormes e parece difícil de perdoar.
"Como posso contar a ela, se eu me mudei desta cidade sem avisá-los." pensou.
Naquela época, ela se sentia muito arrogante porque pensava que nunca precisaria daqueles que por 12 anos sempre foram seus seguidores leais. As pessoas que sempre andavam atrás dela sem protestar. Sim, pessoas que sempre estavam lá para ela sempre que precisava. Amigos que para ela nunca seriam substituídos. Esse era o arrependimento que fazia Lucia desejar que o tempo pudesse voltar.