




Capítulo 4 Luz e Sombra
Naquela noite, minha mente estava uma bagunça. Como a festa terminou? Minhas memórias confusas não podiam me dizer. Só me lembrava que, depois que a família Pitt foi embora, Ronan apagou todas as luzes, sentou-se no sofá e fumou um cigarro atrás do outro. O chão estava coberto de bitucas. Ele acendia um novo assim que o antigo se apagava. A fumaça nublava seu rosto, e a escuridão e o silêncio tornavam impossível saber o que ele estava pensando.
Helen não suportava ver Ronan tão desanimado. Ela saiu para discutir com Emma sobre tudo o que aconteceu na festa. Ela usou palavras como "insensível", "descarada", "indiferente" e "traição", culpando Hugh e Emma por não controlarem seu filho. Mas, mesmo em sua raiva, Helen nunca disse nada de ruim sobre Daniel.
Eu me escondi no meu quarto, chorando incontrolavelmente a princípio. Mas depois de quinze minutos, me acalmei. Meus olhos estavam secos e inchados, incapazes de chorar mais.
Deitei na minha mesa perto da janela, olhando para a garota fraca no reflexo.
Era eu?
A luz noturna no quarto ao lado se acendeu, interrompendo meus pensamentos.
Apenas uma parede separava o quarto de Daniel do meu. Nós íamos para a mesma escola e tínhamos nossas próprias maneiras de nos comunicar.
Ouvi a lâmpada de sua mesa piscando em um padrão, fazendo seu quarto alternar entre claro e escuro.
"Ponto, ponto, traço, ponto..." recitei em minha mente.
Pelo piscar da lâmpada, li sua mensagem de reconciliação.
Por trás daquele código Morse estava um pedido de desculpas do garoto que eu amava.
[Jane, fui muito impulsivo hoje.]
Eu não sabia o que Daniel estava pensando quando enviou aquela mensagem, mas como meu coração partido poderia ser consertado?
A lâmpada no parapeito da janela dele começou a piscar novamente.
[Você ainda está aí? Por favor, responda!]
Eu silenciosamente apaguei minha luz, deixando a escuridão preencher meu quarto. A escuridão engoliu meu coração, e eu não podia recusar. O desespero significava rejeitar qualquer coisa que pudesse despertar emoções.
Então, eu rejeitei sua luz.
A lâmpada de Daniel piscou a noite toda, irritando os vizinhos.
Emma só descobriu quando um vizinho gentil mencionou isso enquanto ela estava fazendo compras.
"Emma, compre uma lâmpada melhor para o garoto. Com os exames chegando, uma lâmpada defeituosa vai prejudicar os olhos de Daniel, e isso seria uma verdadeira perda."
Na manhã seguinte.
O sol alongava as sombras das pessoas na estrada. As sombras dos casais que passavam se entrelaçavam, tornando difícil separá-las, o que me deixava com inveja.
Eu estava pronta para sair para a escola. Quando desci as escadas, vi uma figura familiar. Daniel ainda estava esperando no nosso ponto habitual na esquina. Nós costumávamos ir para a escola juntos todos os dias. Mas depois do que aconteceu, eu não sabia como enfrentá-lo. Me escondi na saída da escada, metade do meu corpo atrás da parede, espiando.
À medida que o horário da aula se aproximava, Daniel olhava ansiosamente para o relógio, balançava a cabeça frustrado e então corria em direção à escola. Suspirei aliviada, feliz que sua teimosia não se manifestou, ou definitivamente chegaríamos atrasados.
Acelerei o passo, correndo. De repente, esbarrei em um peito alto e quente, e a tontura dificultava ver o rosto da pessoa.
"Jane!" A voz forte me trouxe de volta à realidade.
Daniel, aquele cara sorrateiro, tinha se escondido na esquina para me emboscar. "Por que você está me evitando?"
A voz profunda de Daniel não deixava espaço para argumentação. Reuni coragem para responder. "Se você quer terminar comigo, então vamos terminar de uma vez."
"Então sua melhor aposta é se mudar!" Daniel retrucou.
"Meu pai já está procurando uma casa."
"Você!" Daniel ficou sem palavras com minha resposta, sua expressão de raiva me fez rir. "É melhor você estar falando sério!"
Daniel saiu com aquela observação dura, virando-se e caminhando lentamente à frente. Ele parecia despreocupado com o atraso, andando tranquilamente. Eu o segui, presa em um dilema, constantemente preocupada com o sinal da escola.
Daniel tinha certeza de que eu não ousaria andar à frente dele!
Ele tinha um olhar presunçoso no rosto, confiante de que eu não o desafiaria, resistiria ou superaria, porque eu estava seguindo atrás dele há dezoito anos.
Quanto mais rápido eu andava, mais devagar ele se movia. Quanto mais aflita eu ficava, mais relaxado ele estava. Ele bloqueava completamente meu caminho.
Não pude deixar de dizer com raiva, "Você pode andar mais rápido? Pare de bloquear o caminho!"
Ele respondeu com palavras frias, "Ei, você está pisando na minha sombra."
Sombra.
Inúmeras vezes indo e voltando da escola, eu caminhava silenciosamente ao lado de Daniel, deixando minha sombra se fundir com a dele. Parecia que eu podia sentir seu toque dessa forma. Mas essa última doce memória foi despedaçada pelas palavras de Daniel.
Levantei o pé e pisei forte na sombra de Daniel, descontando minha raiva. "Daniel! Você é um idiota!"