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Salvando o dosador

Ontem foi um dia agitado. Liguei para Ana mais tarde à noite para saber como ela estava. Ela estava bem. Matt ligou para ela duas vezes desde o incidente, o que foi muito gentil da parte dele. Fiquei mais do que feliz pelo que ele fez por Ana. Se algo acontecesse com ela, eu não conseguiria viver. Ela era mais minha irmã do que minha amiga, junto com Beth. Desde a nossa infância, enfrentamos tudo de bom e ruim juntas. Uma vez, quando estávamos no jardim de infância, Ana enfrentou meus agressores por mim, mesmo sendo a menina mais sensível e doce da escola. Naquele dia, eu soube que não poderia mais ser fraca. Eu tinha que ser forte. Ela era a razão pela qual eu conseguia olhar as pessoas nos olhos agora, sem me encolher.

Hoje decidi explorar a biblioteca. Estava esperando por isso desde o dia em que pisei pela primeira vez nesse lugar celestial.

Seção política... seção histórica... seção de negócios... seção de contabilidade... periódicos... Que droga! Você está brincando comigo? Sem romance? Sem aventura? Sem romances de fantasia? Quem diabos estava encarregado desta biblioteca? Eu preciso dar uma lição sobre como dar vida a uma biblioteca morta.

Resmungando, me virei para sair quando meus olhos caíram no canto esquerdo da sala, onde havia uma pequena estante. Aproximei-me e me abaixei. Os livros na estante pareciam velhos e intocados há anos. Peguei um livro de capa verde e soprei a poeira. Uma rodada de tosse saiu da minha boca. Ah! A pessoa responsável estava prestes a aprender uma lição eficaz, e eu faria questão disso.

Observei as inscrições no topo do livro.

"O Chamado Selvagem... por... Jack London"

Meu coração saltou de alegria. Li esse livro quando estava na oitava série. Era meu favorito naquela época. Eu poderia ler esse livro repetidamente sem me cansar. Ah, e veja só! Esta era a cópia original.

Procurando pela sala, encontrei um parapeito perto de uma pequena janela e me acomodei no local. Virei a capa e me perdi no mundo mágico dos livros.

Eu estava quase na metade do livro quando latidos altos interromperam minha concentração, seguidos por um som de algo quebrando e então os gritos de Donna. Colocando o livro de lado, saí correndo da biblioteca, meu coração batendo forte no peito.

Um suspiro saiu da minha boca quando entrei na sala de jantar. Estava uma bagunça. Boomer e Doser estavam sentados no chão, a toalha de seda da mesa entre seus dentes sendo puxada de dois lados. Comida e pratos quebrados estavam espalhados por todo o lugar.

A comida do almoço...

Danadinhos peludos, muito danadinhos.

Donna e o velho cozinheiro estavam lá com as mãos na cabeça, uma expressão horrorizada colorindo seus rostos. Senti pena do pobre John! Ele teria que cozinhar tudo de novo.

Alguém ofegou atrás de mim, me fazendo girar. Bella estava com a mão sobre a boca, a mesma expressão em seu rosto com um pouco de culpa.

“Bella! Você deveria estar de olho neles. O que você estava fazendo?” Donna resmungou, com as mãos nos quadris e as sobrancelhas franzidas. Eu nunca a tinha visto assim antes. Ela parecia bastante assustadora.

“E-eu... sinto muito, Donna! Fui beber um pouco de água. Eu não sabia que eles fariam isso... Desculpe!” Bella implorou, com lágrimas brotando nos cantos dos olhos.

Fechando os olhos, Donna respirou fundo e chamou outras empregadas para limpar os cachorros e a bagunça no chão. Ela levou John para a cozinha, prometendo ajudá-lo a cozinhar o almoço mais uma vez.

Um soluço soou ao meu lado, e eu me virei para Bella. Lágrimas escorriam por suas bochechas como cachoeiras. Imediatamente, minhas mãos se levantaram para segurá-la. “Bells, não, não, não chore. Está tudo bem.”

Ela apontou para a bagunça e abriu os lábios, mas nenhum som saiu, apenas um soluço.

“Não. Isso não é sua culpa,” eu a assegurei.

“M-mas...”

“Que tal levar os cachorros para um passeio? Assim podemos nos divertir também.”

Enxugando o rosto, ela assentiu. “O-Ok.”


Dois rabos balançavam à frente, se mexendo pelo parque. Eles estavam brincando e correndo por uma hora e ainda pareciam cheios de energia. Enquanto isso, nós estávamos ofegantes como cachorros de tanto correr atrás deles.

Pequenos diabinhos fofos!

Eles me lembravam do cachorro, Buck, do livro que eu estava lendo. Ele era um animal de estimação mimado de uma família até o dia em que foi roubado para ser escravo como cão de trenó e sofreu terrivelmente. Meu coração doía toda vez que eu lia sobre ele. Espero que nenhum cachorro jamais sofra um destino assim.

“Então... como estão as coisas entre você e o jovem senhor?” Bella perguntou, me tirando dos meus pensamentos.

“...Hã? Ah... bem?”

“Bem?”

A lembrança daquela noite na cozinha veio à minha mente e minhas bochechas coraram. “Sim! Bem, muito bem.” Olhei para o meu telefone. “Bells, vamos voltar. Será hora do almoço em 20 minutos,” acrescentei apressadamente, não querendo falar sobre o tópico anterior.

“Ah, ok. Vamos então.”

Depois de dois minutos-

Fechei os olhos e respirei fundo o ar fresco. Mhm, um dia normal fina-

“Ember! Doser...”

Franzindo a testa, me virei. A figura esbelta e parecida com uma Barbie de Bella veio correndo em minha direção. Espera... Ela não estava bem atrás de mim?

“O quê?”

“Doser-” ela disse, inclinando-se sobre os joelhos e ofegando, “-Doser fugiu.”

“O quê!” Meu coração deu um salto, e não de uma maneira agradável.

“Outro cachorro o assustou e-e ele fugiu. Eu-eu tentei pegá-lo, mas ele foi muito rápido. Sinto muito…” Seus olhos se arregalaram enquanto a cor sumia de seu rosto. “O que eu faço agora, Ember? Hunter vai me matar!”

“Bella, calma e me diga para onde ele foi.” Segurei seu ombro, o pânico crescendo em mim também.

Ela levantou um dedo trêmulo. “Lá. Por ali.”

“Vá, informe a administração do parque,” dizendo isso, corri na direção indicada. “Doser!” Onde ele estava? Para onde ele poderia ter ido? “Doser!” Olhei ao redor. Esquerda. Direita. Atrás de cada arbusto. Mas ele não estava em lugar nenhum.

“Com licença, senhor! Você viu um husky branco com olhos azuis?” Perguntei a um homem que passava.

“Não, senhorita. Eu não vi,” veio sua resposta de olhos arregalados.

Perguntei a outra pessoa. Depois a outra. Depois a uma senhora. Mas em vão. Ninguém o viu. Ninguém sabia onde ele estava. Os músculos das minhas pernas ardiam de tanto correr, e meus pulmões pareciam vazios. Parando, me inclinei segurando os joelhos e ofeguei por ar. “Doser...” Eu o perdi. Por que não fui mais cuidadosa?

O rosto zangado de Hunter apareceu na minha mente, seguido pela história de Buck.

Engoli um grande nó que se formou na minha garganta. Não, não, não, eu vou encontrá-lo. Só preciso me acalmar e continuar procurando. Eu disse a mim mesma. Ele tinha que estar aqui em algum lugar. Eu não deixaria nada de ruim acontecer com ele. Com essa nova determinação, corri novamente.

“Doser!”

Ponto de Vista Desconhecido~

Sorri com satisfação enquanto observava a garota correndo desesperada. Então ela parou, mãos nos joelhos e bochechas coradas de tanto correr. A expressão de dor em seu rosto só aumentava minha felicidade. Mhm, eu estava adorando. Quanto mais ela lutava, mais eu ficava em paz. “Você cometeu um grande erro. Agora, você vai pagar por isso.”

Ela saiu correndo novamente.

Não desiste fácil, não é? Vamos ver por quanto tempo ela consegue continuar.

“Corra, Ember, corra porque eu estou vindo atrás de você. Seu dia do juízo final começa. Tic tac tic tac.” Soltei uma risada.

“Grmph grmhm,” veio um som de gemido de baixo.

“Cale a boca, cachorro!” Apertei mais a boca dele. “Vamos assistir nossa ingênua Ember lutar um pouco mais.”

Ponto de Vista de Ember~

Aproximei-me do depósito do parque. Achei que ouvi alguns sons vindo de dentro.

“Doser? Você está aqui?”

Nada...

Segurei a maçaneta velha e enferrujada e empurrei. A porta se abriu com um rangido. No momento em que entrei, a porta dos fundos do quarto bateu, indicando que alguém acabara de sair.

“Espere!” Corri até a porta e puxei, mas ela não se mexia. A porta estava emperrada. Não, não, não. Eu precisava saber quem era. E se eles estivessem com Doser? Puxei a porta novamente com mais força, e ela se abriu de repente, me desequilibrando. Caí de costas, minha mão roçando contra o chão de concreto. Gemei de dor, me levantei e corri para fora. Não havia ninguém. Eu estava atrasada. Quem quer que fosse, já tinha ido embora. Oh não! Doser! Eles poderiam estar com Doser. Eu estava prestes a correr novamente quando um som de gemido vindo de dentro do quarto me parou. Corri de volta para dentro e estreitei os olhos, tentando enxergar no escuro.

Do canto mais distante, dois olhos azuis brilhantes me encaravam e rosnavam.

“Doser.” Ajoelhei-me diante dele, não querendo assustá-lo ainda mais. “Está tudo bem, garoto. Sou eu, Ember,” falei suavemente. “Ei! Eu não vou te machucar, ok?”

O rosnado parou, e ele se aproximou de mim. Sua cabeça inclinada de lado, como se estivesse me avaliando.

Estendi meus braços. “Vamos, garoto. Vamos!”

Ele veio direto para mim, esfregando a cabeça no meu pescoço e lambendo minha bochecha. Minhas mãos o envolveram. “Estou aqui agora. Não vou deixar ninguém te machucar.”

Quem poderia ser tão cruel a ponto de assustá-lo assim?

Boomer veio correndo quando chegamos onde Bella nos esperava. Ele pulou em Doser, lambendo-o enquanto ambos latiam felizes.

“Você o encontrou! Oh, graças a Deus! Ele está bem?” Bella se abaixou e acariciou Doser, mas o pobre animal se encolheu.

“Ei, está tudo bem, Doser. Está tudo bem! É só a Bella. Ela não vai te machucar.” Ajoelhei-me e o abracei, esfregando suas costas. Algo molhado empurrou meu braço. Olhei para cima e uma risada saiu da minha boca. “Você quer um abraço também, Boomer?” Desta vez, envolvi meus braços em volta dos dois cachorros e os abracei apertado. Eu os protegeria de quem quer que fosse.

Puxando o cobertor sobre os cachorros, me abaixei e beijei ambos na cabeça. Doser adormeceu, mas Boomer continuava se mexendo, ainda com vontade de brincar. Um sorriso surgiu em meus lábios. Eu perdi meu almoço e fui repreendida por Julia, mas no final do dia, ver esses dois saudáveis e seguros encheu meu coração de felicidade e alívio. Olhei para cima e vi Donna acenando para alguém atrás de mim. Virei a cabeça e vi alguém se afastando, mais especificamente, Hunter se afastando.

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