




1_ Kamila
1__ Kamilla
As árvores eram um borrão obscuro enquanto Kamilla fugia pela floresta. Sua visão estava turva pela névoa da noite. Ela não conseguia ver. Era como correr por uma nuvem cheia de armadilhas, com a morte espreitando a cada esquina. Ela não sabia o que a esperava a cada passo apressado que dava.
Sua respiração ficou ofegante enquanto forçava suas pernas a correrem mais rápido do que nunca. Ela precisava escapar. Lágrimas encheram seus olhos, aumentando a cegueira que a névoa já havia criado. As palavras desesperadas de sua mãe ecoavam em sua mente. Repetidamente.
“Você não é um monstro, Kamilla, nunca diga isso! Você é minha linda princesa guerreira, entendeu? Você é forte e bonita e especial.”
Kamilla correu mais rápido, ignorando as lágrimas que ardiam para serem derramadas. Não havia nada de especial no que ela era. Nada de especial no que seu pai havia feito antes de morrer. Ela não sofreria por algo que nem sequer havia nascido para decidir. Algo com que ela nasceu amaldiçoada.
“Antes de morrer, Kamilla... seu pai, Klayton, prometeu você ao Rei como alma gêmea para seu filho... o futuro Rei de Onyx.”
O solo de repente cedeu sob seu pé e Kamilla caiu no chão com um grito assustado. Ofegante, ela lançou olhares em busca de algo por cima do ombro enquanto se levantava. Ela estaria condenada se a pegassem. Literalmente. Mas Kamilla lutaria com tudo o que tinha. Ela precisava.
Ela começou a correr novamente, rapidamente ganhando velocidade. Sons noturnos estranhos da floresta a cercavam, fazendo-a sentir-se como a presa de uma centena de feras. Ela afastou folhas de seu rosto e se esquivou sob galhos baixos.
Algo surgiu do chão. Kamilla engasgou. Em uma fração de segundo, ela tropeçou e foi lançada pelo chão da floresta. O solo estava frio sob sua pele, úmido pela chuva da manhã. Seu cheiro terroso encheu seus sentidos. Ela se virou de costas, olhando em todas as direções da floresta que escurecia. Nada, apenas árvores.
Um súbito flash de preto passou em sua visão periférica. O olhar de Kamilla se voltou na direção dele. Nada. Ela engoliu em seco. Um animal. Provavelmente era apenas um animal. Tinha que ser.
Seu coração batia forte em seu peito, pulsando um ritmo que apenas os corações dos caçados conheciam. Os corações daqueles que uma vez se encontraram na mira de uma besta sedenta de sangue. Alvo. Presa.
Ela começou a se levantar, mas congelou de medo. Com um suspiro agudo, cobriu o rosto, encolhendo-se contra o chão da floresta quando outro flash de preto passou zunindo acima de sua cabeça. Eles a haviam encontrado. Kamilla estava além de aterrorizada, sem mencionar furiosa. Os desgraçados a haviam encontrado.
Apertando sua bolsa, ela rastejou pelo chão até conseguir se levantar. Com a cabeça baixa, Kamilla correu o mais rápido que suas pernas cansadas podiam carregá-la, mantendo-se nas sombras atrás das árvores altas e grossas.
O som de galhos quebrando a fez engasgar e se agachar contra uma grande árvore. Kamilla mordeu o lábio, tentando respirar o mais silenciosamente possível e achando a tarefa difícil, considerando o quão rápido seu coração estava batendo.
Ela sentia calor e frio ao mesmo tempo, seu rosto brilhando de suor. Kamilla apertou os olhos, engolindo para umedecer a garganta seca. Por que isso estava acontecendo com ela? Por que diabos seu pai teve que fazer um juramento tão ridículo antes de morrer?! E para um Rei Vampiro, nada menos! O pensamento era aterrorizante.
Kamilla tinha ouvido histórias assustadoras sobre a espécie dos Vampiros. Ela ouviu dizer que eles eram implacáveis e frios até a raiz de suas almas sombrias! Ela ouviu dizer que, se você fosse pego por um no meio da noite, eles envolveriam suas asas de morcego ao seu redor e te apertariam até a morte! Muito parecido com uma cobra.
O pensamento enviou calafrios pela sua espinha e Kamilla se encolheu mais perto da árvore, escondendo-se em sua sombra.
Foi o frio que rastejou sobre sua pele que a fez se transformar em gelo. Kamilla congelou quando todo o seu ser se tornou consciente da presença atrás dela.
Tremendo da cabeça aos pés, Kamilla se virou lentamente. Era como se uma nuvem de escuridão pairasse atrás dela e, dela, ela assistiu com horror enquanto dois olhos verdes brilhantes a olhavam.
Um rosto irrealisticamente bonito emergiu com os olhos e se aproximou de Kamilla. Seu rosto estava congelado de horror até que a boca do homem revelou duas presas afiadas e sorriu para ela.
“Boo!” ele sussurrou.
O grito que saiu de sua garganta foi alto o suficiente para quebrar vidro. Rastejando de costas, Kamilla tentou escapar, seus gritos não cessando nem por um segundo.
“Droga, Vlad!” ela ouviu alguém murmurar sombriamente. “Eu te disse para não assustá-la!”
Sem parar nem ao som das vozes, Kamilla continuou suas tentativas de escapar, as presas assustadoras que ela tinha visto ainda frescas em sua memória.
Quando sua mão pousou em algo duro e com a forma muito parecida com um pé coberto por um sapato, Kamilla parou de rastejar nas sombras e lentamente levantou o rosto.
Era outro! O homem tinha as mãos estendidas em uma pose calma. “Olá,” ele disse, suas pupilas vermelhas brilhando como pedras preciosas de rubi puro. “Não tenha medo—”
“Oh, meu Deus! Socorro! Socorro!” gritou Kamilla, se afastando dele. “Oh, Deus! Oh, Deus!”
“Espere! Não vamos te machucar!” ele implorou, se aproximando. “Por favor, só espere...”
Kamilla rastejou para longe dele, tão rápida quanto um coelho. Como se ela fosse esperar! Esperar pelo quê? Para ele apertá-la até a morte com suas asas de morcego? Levantando-se, Kamilla saiu correndo o mais rápido que pôde, mas sua saída foi logo cortada. Outro apareceu, seu cabelo loiro penteado para trás, de modo que suas maçãs do rosto altas e olhos verdes afiados eram claramente visíveis para ela.
Kamilla levantou uma mão trêmula, a outra segurando sua bolsa enquanto se movia lentamente para trás. “P-por favor... não me machuquem.”
Seu coração disparou em pânico e Kamilla se virou para continuar correndo, mas imediatamente parou bruscamente.
Seus joelhos ficaram fracos e ela lentamente afundou no chão da floresta.
Seus olhos estavam arregalados, seu coração agora disparado. Kamilla sentia que nunca mais seria capaz de respirar.
Ela olhou, incapaz de desviar os olhos da visão à sua frente. Embora aterrorizante, era hipnotizante em sua beleza.
Eles a cercaram, como uma parede de preto.
Seus olhos brilhavam e o poder que exalavam podia ser sentido até por um homem morto.
Sete deles. Altos, de pele pálida e pecaminosamente bonitos.
Kamilla engoliu em seco.
O de cabelo loiro que a encurralou deu um passo à frente, seus olhos verdes focados nela.
“Kamilla,” ele disse, sua voz um sussurro sedutor. Ele inclinou a cabeça. “Nossa Rainha.”