Touro em uma loja de porcelana
Um Século Depois
Cayden entrou correndo no quarto do irmão e pulou na cama dele. "Acorda! Acorda! Acorda!" ele gritou até finalmente ouvir Kano gemer. Kano se sentou e olhou para ele com raiva, e ele riu. "Você fica tão mal-humorado quando acorda." Vendo o olhar de seu irmão endurecer, ele deu um sorriso e levantou as mãos. "Tá bom, tá bom! Deixa eu só te contar o que eu preciso e depois você pode voltar a dormir. Irmão, eu finalmente encontrei minha companheira," ele disse, animado.
Kano suspirou e revirou os olhos, e Cayden balançou a cabeça. "Não, desta vez é sério! Eu sei que uso essa desculpa para conseguir o que quero, mas é diferente com a Anastasia. Nós nos conectamos." Os olhos de Kano se arregalaram, e Cayden começou a pular. "Eu sei! Aconteceu tão rápido, e é até engraçado agora que penso nisso. Eu nunca tinha ido àquele clube, mas um casal muito simpático—e igualmente persistente—me convenceu a tentar. De repente, estou lá, e num momento estou bebendo e rindo, e então a vejo no bar. Foi literalmente amor à primeira vista. Ela ficou aqui, e eu quero que você a conheça no café da manhã."
Ele ouviu Kano suspirar enquanto colocava as mãos nos quadris. "Não, você prometeu que se eu encontrasse minha companheira ela moraria aqui, e você sairia do esconderijo tempo suficiente para conhecê-la." Ele falou baixo. "Você sabe, o mundo mudou tanto em um século. As pessoas não são como eram, nossa alcateia não é como era... e nós merecemos nosso verdadeiro alfa."
Kano se virou, e Cayden rapidamente o deteve. "Tá bom, tá bom, desculpa por insistir. De qualquer forma, esteja apresentável para o café da manhã. Talvez penteie o cabelo para que ela saiba que está olhando para uma pessoa, e não para um cão pastor." Levantando-se da cama, ele caminhou em direção à porta. "O café da manhã será uma hora mais tarde. Vamos dormir um pouco mais." Ele piscou para Kano, que revirou os olhos novamente.
Levantando-se, Kano resmungou baixinho. "Droga, eu não quero conhecer a companheira dele." Indo para o banheiro, ele tomou um longo banho para acalmar os nervos.
Os anos não foram gentis com Kano. Fora seu irmão e os empregados, ele ficava fora de vista. Eles construíram cercas altas para que ele pudesse tomar sol e se exercitar sem ser visto, e ele acabou se tornando um mito entre a alcateia.
As histórias mudaram ao longo dos anos, mas a narrativa sempre permaneceu a mesma. Falavam de sua brutalidade e contavam que ele era um bárbaro que foi morto ou exilado. Ainda assim, Kano sentia que, pelo menos, se ninguém soubesse com certeza, não poderiam matá-lo, e isso era melhor do que nada. Ele temia a ideia de conhecer Anastasia, e o pensamento de encontrar outra pessoa que pudesse revelar que ele estava vivo. Ele suspirou e pensou consigo mesmo. Faça isso por Cayden.
Seu irmão sempre foi gentil com ele. Ele assumiu a responsabilidade de alfa com naturalidade. Embora muitas vezes implorasse para que Kano reassumisse seu lugar de direito, Cayden nunca ultrapassou seus limites, e em vez disso implementava as ideias e mudanças que Kano sugeria para a alcateia.
Saindo do banho, Kano se vestiu rapidamente, decidindo que iria ao café da manhã mais cedo para se distrair. Caminhando por sua ala, seus olhos captaram a visão de uma porta aberta. Isso não deveria estar aberto, ele deduziu, espiando dentro. Na enorme cama, ele viu um volume sob os lençóis, e bufou de irritação instantânea. Por que Cayden deixaria suas sobras do meu lado?! Ou come tudo ou não mexe em nada! Espera... ele não deveria estar mexendo em ninguém. Eu vou matá-lo!
Ele entrou no quarto e puxou os lençóis com força. Enrolando o corpo neles, ele o jogou sobre o ombro. Enquanto caminhava, sentiu um chute contra ele e ouviu um grito.
"Que diabos?!"
Ele deixou os lençóis caírem, ouvindo um gemido alto.
"Ai!"
Os lençóis se abriram, e a boca de Kano caiu ao ver o que estava dentro. O cabelo da mulher—tão brilhante quanto o sol—estava em duas longas tranças nas costas. Sua pele lembrava seu doce de caramelo favorito. Seus lábios estavam cheios de sono, e ele podia ver algumas sardas que cobriam a ponte do nariz dela. Seus grandes olhos castanhos o encaravam. "Qual é o seu problema?! Você não pode simplesmente enrolar uma pessoa nos lençóis!" ela fervia.
Kano se viu preso, seu lobo implorando para ser libertado. Seus olhos ficaram dourados, e ele rapidamente os fechou. Agarrando-a pelo braço, ele tentou arrastá-la para o lado do castelo de Cayden. Ela puxou o braço de seu aperto. "Me solta, esquisito!" Ele a olhou com raiva e bufou, apenas para vê-la devolver o olhar. "Toca em mim de novo e eu vou te dar uma surra," ela disse baixo.
Ele riu alto, imaginando uma mulher tão pequena sendo capaz de machucá-lo. Ele viu os olhos dela se estreitarem enquanto ela deslizava os pés pelo carpete. Ele a olhou confuso enquanto ela colocava os dedos indicadores na cabeça como chifres. Correndo diretamente para ele, ela o derrubou com força no chão. Ele a olhou selvagemente, e ela zombou. "Quem está rindo agora, hein?" Em busca de uma arma, seus olhos se fixaram em um taco de beisebol que estava no chão, e ela correu até ele, pegando-o. "Tudo bem, Primeiro 48, você pode me matar, mas vai levar uma surra antes de eu ir," ela disse. Ela bateu o taco no chão, e Kano percebeu que os olhos dela estavam fixos entre suas pernas.
"Prepare-se, docinho!" ela gritou, e Kano se levantou e correu para fora do quarto. Ele a ouviu gritar. "Era o que eu pensava! E onde diabos está Anastasia?! Eu vou matá-la por me meter nessa confusão!" Correndo pelo corredor, Kano esbarrou em seu irmão e quem ele supôs ser Anastasia. Ele levou um momento para olhar para ela e notou que ela era o tipo de seu irmão.
Ela tinha olhos verdes que pareciam brilhar, embora a expressão nervosa em seu rosto dissesse a ele que ela estava tão incerta sobre ele quanto ele estava sobre ela. Ele olhou para o cabelo ruivo ligeiramente despenteado que caía pelas costas dela, sabendo que a cor era mais uma coisa de que seu irmão gostava. Em outras circunstâncias, ele teria tentado ao máximo ser educado, mas após seu encontro anterior, ele se viu muito irritado para esconder isso.
Anastasia lhe deu um olhar apologético. "Eu... eu sinto muito. Estávamos bem bêbados, e acho que Essence foi para o lado errado da casa."
Essence.
Ele gostou do nome dela, mesmo que não gostasse particularmente dela. Anastasia estendeu a mão. "Olá, Cayden tem falado sobre você a manhã toda. Eu sou Anastasia, a companheira dele—mas, uh, acho que você já sabe disso." Kano apertou a mão dela e assentiu, e ela olhou além dele, vendo uma porta se abrir.
"Você conhece o Rain Man?!" Essence gritou, caminhando em direção ao grupo.
O rosto de Anastasia ficou vermelho. "Este é Kano, o irmão mais velho de Cayden. Ele... hum... ele não fala."
Os olhos de Essence se arregalaram. "Como assim, ele não pode?"
Cayden balançou a cabeça. "Como assim, ele escolhe não falar." Kano olhou para os três conversando ao seu redor. Seus olhos pousaram em Essence, e ele franziu a testa, irritado com o quão bonita ela era.
Ela bufou. "Ah, eu não vou pedir desculpas, Lobisomem, se é isso que você está querendo. Você me enrolou em um maldito lençol. Quem diabos faz isso?!"
Ele tentou ao máximo controlar sua raiva, sabendo que poderia ser volátil. A amargura de estar sozinho e ostracizado o havia endurecido em algo que às vezes até o assustava. No entanto, ao olhar para a mulher que de alguma forma o venceu e o envergonhou, Kano sentiu seu lobo emergir. Ele soltou um rosnado, para o choque de seu irmão.
Essence inclinou a cabeça para trás. "Para quem você está rosnando? Eu posso não ser um lobo, mas vou te derrubar de novo. É melhor você aprender alguns bons modos antes que eles sejam enfiados em você, Bob Silencioso."
Os olhos de Kano se arregalaram, e ele olhou para Cayden, que rapidamente o provocou. "Ela é uma convidada, irmão. Seja gentil." O sorriso no rosto de Cayden irritou Kano, sabendo que Cayden havia percebido o que havia acontecido. Aproveitando o que estava vendo, Cayden se virou para Essence. "Parece que houve um mal-entendido. Parece que, bem... Kano se conectou com você."
Os olhos de Kano se arregalaram, e seu punho se fechou em seu desejo de socar Cayden no rosto. Não querendo olhar para Essence, ele manteve os olhos fixos em Cayden, embora ainda sentisse a raiva dela atrás dele. Ela falou entre dentes cerrados. "Eu não sei o que é isso, mas juro que se você fez algo comigo enquanto eu dormia, seu pedaço de—"
Ele já tinha tido o suficiente. Ela o envergonhou, ele estava sendo provocado, e ele não podia nem se defender. Pela primeira vez em um século, Kano soltou um rugido tão alto que sacudiu o castelo. "Eu não fiz nada com você enquanto você dormia, sua maníaca! Isso significa que você é minha companheira!"