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Seis

CapĂ­tulo 6

Liam

Caminhei pelas portas da minha clĂ­nica, olhando ao redor. Um prazer tomou conta do meu estĂ´mago.

Recentemente, os empreiteiros haviam terminado o trabalho no espaço. Imediatamente mandei limpĂ¡-lo de cima a baixo e depois abasteci com suprimentos e equipamentos mĂ©dicos. Nomear a equipe foi um trabalho rĂ¡pido, o que nos trouxe atĂ© agora.

A prĂ¡tica de Liam Cooper—aberta e recebendo pacientes. Minha clĂ­nica.

Minha garganta se apertou enquanto eu atravessava o chĂ£o brilhante. Eu deveria me preparar para receber os pacientes. Mas nĂ£o pude deixar de parar para apreciar o lugar.

Paredes cinza-quentes corriam em um fluxo contĂ­nuo, interrompidas apenas por pinturas de natureza ao estilo renascentista. SofĂ¡s confortĂ¡veis em um tom mais claro de cinza cobriam o espaço. Uma mesa de centro baixa, marrom, adornada com um arranjo de flores, segurava revistas para os pacientes.

As grandes janelas completavam tudo. Elas mostravam o jardim além, e a luz inundava a sala.

Tudo isso se misturava para formar um ambiente pacĂ­fico e acolhedor. Era isso que eu precisava para meus pacientes.

Em Nova York, eu nĂ£o tinha controle sobre o espaço do hospital onde trabalhava. Tudo era determinado pela administraĂ§Ă£o. Qualquer mudança que eles faziam aumentava as contas dos pacientes.

Era nojento.

Mas aqui, eu podia oferecer um cuidado adequado sem cortar custos. NĂ£o sĂ³ meus pacientes tinham o melhor, mas minha equipe tambĂ©m.

Eu garanti que os empreiteiros prestassem atenĂ§Ă£o aos seus postos de trabalho, equipando-os com bons mĂ³veis e espaço amplo.

Pelo caloroso cumprimento que recebi da recepcionista, do caixa e da enfermeira, eles adoravam estar aqui.

TĂ­nhamos apenas começado, mas meu instinto dizia que estava Ă³timo atĂ© agora.

O laboratĂ³rio ficava por uma porta Ă  esquerda, e eu coloquei a cabeça para dentro.

A cientista do laboratĂ³rio estava em seu posto. Acenei com a cabeça em cumprimento e segui em frente.

A cereja do bolo—os consultĂ³rios—eram espaçosos e iluminados. Assim como a sala de espera, eu havia pedido ao empreiteiro que os tornasse acolhedores e convidativos.

AtĂ© eu, que nĂ£o era paciente, sentia vontade de ficar na sala. Bem, eu ficaria, jĂ¡ que os primeiros pacientes chegariam em breve. Fui para o meu escritĂ³rio fazer alguns papĂ©is antes de começar o dia. Tudo era diferente e incomum, mas de uma maneira boa.

Meu peito se encheu de alegria quanto mais eu pensava nisso.

Eu havia transformado um lado da minha casa geracional em uma clĂ­nica. Graças a trĂªs gerações de antepassados que compraram enormes lotes de terra. Mesmo com a clĂ­nica, eu ainda tinha o luxo de jardins e gramados.

Tudo isso nĂ£o teria sido possĂ­vel se eu tivesse vendido a propriedade quando meus pais faleceram. Eu fui tentado. NĂ£o havia nada em Hannibal para mim naquela Ă©poca.

Mas em vez de vender, eu aluguei.

Agora eu estava grato pela minha hesitaĂ§Ă£o. Aparentemente, tudo o que era importante para mim estava em Hannibal agora.

Minha nova vida.

Afastei meu trabalho e girei na cadeira para olhar pela janela. O gramado verde e bem cuidado transmitia paz pelas minhas veias. Muito diferente da vista da cidade que eu mal olhava antes.

"Doutor," a enfermeira chamou atrĂ¡s de mim. "Os primeiros pacientes chegaram. Devo mandĂ¡-los entrar?" E assim começou.

A primeira pessoa que vi foi o Sr. Harold. Ele veio com sua filha. Ou melhor, ela o arrastou para dentro.

"Ele se cortou consertando o telhado. Ele queria lavar e encerrar o dia."

"Primeiro," protestou o Sr. Harold, "eu nĂ£o me cortei consertando o telhado. NĂ£o diga como se eu tivesse quebrado as costas. Eu terminei de consertar o telhado, entĂ£o, ao descer a escada, me cortei."

"É a mesma coisa."

"É diferente. VocĂª disse que eu quebraria as costas. Eu nĂ£o quebrei. Me trazer a um mĂ©dico em um... o que Ă© este lugar? Isso nĂ£o vai me atrasar. Ainda tenho o pĂ¡tio para trabalhar."

"É uma clĂ­nica, papai. E eu sĂ³ estou tentando cuidar de vocĂª."

Interrompi o resmungo do Sr. Harold com uma saudaĂ§Ă£o. "VocĂª conserta muitas coisas?"

"Sim. Minha casa Ă© meu orgulho e alegria, e eu nĂ£o vou parar sĂ³ porque cheguei aos setenta." Ele lançou um olhar severo para sua filha.

"VocĂª parece bastante ativo para a sua idade, e isso Ă© bom."

Um sorriso orgulhoso se formou no rosto do Sr. Harold. Enquanto eu examinava o corte em seu braço, ele me contou sobre todos os reparos que havia feito em sua casa no Ăºltimo inverno.

"Vou dar alguns pontos para que cicatrize bem e te dar alguns antibiĂ³ticos para prevenir uma infecĂ§Ă£o."

"Faça o que tiver que fazer, doutor." O Sr. Harold parecia um pouco menos tenso.

Eu via muito isso no meu antigo trabalho. Pacientes mais velhos tendiam a ser rabugentos. Mas nunca havia tempo suficiente para deixĂ¡-los Ă  vontade.

Era correria, correria, correria. O tempo todo.

Eu apressava a examinaĂ§Ă£o dos pacientes como se fossem seringas usadas.

Agora, porĂ©m, depois de uma sessĂ£o cuidando do corte do Sr. Harold, ele havia se acalmado. AtĂ© mesmo em relaĂ§Ă£o Ă  sua filha. Eles trocaram histĂ³rias de visitas engraçadas ao mĂ©dico, atĂ© me envolvendo em algumas.

"Isso Ă© tudo por hoje," eu disse a eles, depois dei uma data para a prĂ³xima consulta.

O Sr. Harold nĂ£o teve problemas com isso. "Estou ansioso para vĂª-lo novamente, doutor."

Assim que eles saĂ­ram, pude atualizar os registros dele antes que o prĂ³ximo paciente entrasse. Luxos de uma prĂ¡tica em uma cidade pequena.

Ao contrĂ¡rio do Sr. Harold, o prĂ³ximo paciente era mais reservado e quieto. Eu a fiz se abrir com um pouco de conversa, e entĂ£o ela se abriu e me contou tudo sobre suas necessidades mĂ©dicas.

Respondi adequadamente, e quando a sessĂ£o terminou, ela sorriu para mim. "Meu mĂ©dico de famĂ­lia estava fora da cidade, e eu precisava de ajuda. Por isso vim aqui. Estou feliz por ter vindo."

Droga. Que maneira de derreter meu coraĂ§Ă£o.

Paciente apĂ³s paciente apreciava os serviços que eu oferecia. Alguns prometeram me recomendar a amigos, e outros marcaram consultas para visitas de acompanhamento.

O orgulho crescia no meu peito. Claro, eu queria que meus pacientes ficassem bem, mas a verdade nĂ£o podia ser negada—pessoas adoecem. Eu queria que o Dr. Liam Cooper fosse o provedor de saĂºde preferido deles.

A hora do almoço chegou, e eu me acomodei no meu escritĂ³rio para um almoço rĂ¡pido.

Por escolha, Ă© claro. No meu antigo trabalho, escolha nĂ£o era um luxo que eu possuĂ­a.

Eu estava sempre de pé. Sempre correndo de uma sala de exame para a outra.

NĂ£o que nĂ£o fosse um trabalho importante. NĂ³s salvĂ¡vamos vidas, pelo menos.

Mas eu morria um pouco a cada dia.

Afastei essa sensaĂ§Ă£o desagradĂ¡vel e terminei minha refeiĂ§Ă£o. Eu fazia um trabalho gratificante aqui, e isso me animava a voltar lĂ¡ fora e ver quem precisava da minha ajuda a seguir.

A enfermeira me entregou um prontuĂ¡rio. Eu o abri, lendo os sinais vitais que ela havia registrado. O paciente estava com boa saĂºde no papel.

Agora, para descobrir qual era o problema. Abri a porta e parei.

Uma mulher estava sentada na mesa de exame, com as pernas cruzadas nos tornozelos. Por que ela parecia familiar?

Meu olhar subiu para as mĂ£os cerradas em seu colo, depois mais alto, para uma cabeleira rica e castanha caindo sobre seus ombros esguios e cobrindo seu rosto.

Ava.

Mesmo que eu nĂ£o pudesse ver seu rosto, eu tinha cada outra parte do corpo dela memorizada, por algum motivo.

Um motivo que eu definitivamente nĂ£o exploraria em breve.

Meu coraĂ§Ă£o bateu forte no peito. Ela ainda nĂ£o tinha olhado para cima, mas eu ainda nĂ£o tinha fechado a porta. Isso certamente chamaria sua atenĂ§Ă£o.

Por que eu nĂ£o estava fazendo isso, entĂ£o? Porque eu estava olhando para ela como um idiota. Droga.

Fechei a porta, determinado a me recompor.

Ela se sobressaltou, levantando a cabeça rapidamente, e seus olhos encontraram os meus, arregalados. "Oh, Deus."

"NĂ£o, sĂ³ eu. Liam." Sorri enquanto caminhava atĂ© ela.

Mas ela nĂ£o compartilhou minha piada; continuou me olhando como se eu fosse um fantasma.

"O que—o que vocĂª estĂ¡ fazendo aqui?" Ela piscou. "Uh, eu trabalho aqui?"

Seu olhar percorreu meu corpo, e minha garganta se apertou. Eu estava de jaleco—uniforme padrĂ£o para minha descriĂ§Ă£o de trabalho.

Mas seus olhos castanhos brilharam com algo escuro e sugestivo, me trazendo de volta Ă  nossa primeira e Ăºnica noite juntos.

"NĂ£o, vocĂª nĂ£o trabalha," ela finalmente disse, encontrando meus olhos novamente. Eu franzi a testa. "O quĂª? Thomas nĂ£o te contou?"

Suas sobrancelhas se ergueram, o lĂ¡bio inferior escorregando entre os dentes.

"VocĂª estĂ¡ duvidando de mim?" Contive minha risada. "Meu nome estĂ¡ na porta. VocĂª nĂ£o viu?"

"NĂ£o, eu nĂ£o vi. Eu estava distraĂ­da. Eu—" Seus olhos se estreitaram. "Espere aqui." "Eu nĂ£o vou a lugar nenhum; eu trabalho aqui."

Ela passou por mim rapidamente, me lançando um olhar fulminante enquanto passava.

Eu a observei desaparecer pela porta. O que diabos acabou de acontecer?

Ava voltou para a sala depois de alguns segundos. "VocĂª... vocĂª estĂ¡ certo. É a sua clĂ­nica."

Balancei a cabeça, incapaz de esconder meu sorriso. "Agora que determinamos que esta Ă© minha clĂ­nica, vocĂª pode me dizer por que estĂ¡ aqui?"

Seu rosto ficou vermelho, e ela desviou o olhar. "NĂ£o."

"NĂ£o?"

"Eu... eu nĂ£o posso." Ela correu de volta para sua bolsa na mesa de exame, pegando-a rapidamente. "VocĂª nĂ£o pode me ajudar."

O quĂª? "Ava, eu sou um bom mĂ©dico. Diga-me qual Ă© o seu problema. Podemos resolver isso."

"Eu nĂ£o tenho um problema."

Franzi a testa. "VocĂª estĂ¡ em uma clĂ­nica. NinguĂ©m entra aqui a menos que esteja com algum problema de saĂºde."

"Sim, bem, eu sĂ³ queria ver como era por dentro. Afinal, Ă© uma nova adiĂ§Ă£o."

"EntĂ£o vocĂª veio fazer turismo e marcou uma consulta? SĂ©rio? VocĂª espera que eu acredite nisso?"

Seus olhos vagaram antes de encontrar os meus. "Sim, bem. Sim."

"HĂ£."

"Eu sou minuciosa no meu turismo."

Quando eu nĂ£o disse nada, ela girou em um cĂ­rculo, estendendo os braços. "Estou bem, veja?"

Abri seu prontuĂ¡rio e li. AlĂ©m de registrar seus sinais vitais, a enfermeira nĂ£o havia anotado o motivo da visita. "Olha, Ava. VocĂª nĂ£o precisa se preocupar." Fechei o prontuĂ¡rio e a encarei. "O que aconteceu entre nĂ³s nĂ£o vai atrapalhar eu te dar o melhor atendimento como seu mĂ©dico."

Droga, isso provavelmente me fazia querer cuidar dela ainda mais. O desejo que senti de cuidar dela na primeira noite em que nos conhecemos surgiu novamente. Eu queria resolver todas as suas preocupações, para que ela nĂ£o parecesse tĂ£o pĂ¡lida e preocupada.

Deixei essa parte de fora, no entanto. NĂ£o queria assustĂ¡-la. "VocĂª estĂ¡ segura aqui."

Ela deu um passo para longe de mim. "Eu... eu nĂ£o posso. VocĂª sĂ³ tem que me prometer uma coisa."

Meus olhos se estreitaram, mas eu assenti.

"VocĂª nĂ£o vai contar ao meu pai, certo? VocĂª nĂ£o vai contar a ele que eu estive aqui."

"Por que eu sequer—"

Ela se aproximou de mim, olhando nos meus olhos. "Apenas me prometa que vocĂª nĂ£o vai contar a ele."

"Ok, ok. Eu nĂ£o vou." A preocupaĂ§Ă£o em seus olhos castanhos apertou meu coraĂ§Ă£o. "Olha, mesmo que vocĂª nĂ£o pedisse, a confidencialidade mĂ©dico-paciente exigiria que eu mantivesse esta visita privada. NinguĂ©m fora destas paredes saberĂ¡ disso. É isso que te preocupa? VocĂª pode simplesmente se sentar, e nĂ³s—"

"Estou bem. É sĂ³ isso." Ela girou e saiu correndo da sala de exame.

Olhei novamente para o prontuĂ¡rio, como se ele contivesse a resposta. Mas nĂ£o havia nada. "NĂ£o conte a ele."

Olhei para cima. Ava tinha enfiado a cabeça de volta na sala. "Por favor."

"Eu prometo."

Seu rosto se acalmou um pouco, e ela desapareceu. Duvidava que ela voltasse.

Como ela insistiu tĂ£o veementemente, ela estava bem.

Espero que ela realmente estivesse e nĂ£o precisasse de atenĂ§Ă£o mĂ©dica. Ou serĂ¡ que ela estava muito envergonhada para me deixar atendĂª-la?

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