




Três
Ava
Toquei a campainha na casa do papai e esperei.
A porta se abriu com força. “Ava!” Papai saiu correndo e me envolveu em um abraço de urso.
“Papai, não—” O ar saiu dos meus pulmões enquanto ele me apertava forte.
Ele sorriu e deu um beijo borboleta na minha bochecha. Um sorriso relutante surgiu nos meus lábios. Seu abraço provavelmente estalou minhas costas em cinco lugares, mas era aconchegante e quente, então eu permiti.
“Como você está, Amendoim?” Ele me soltou, bagunçando meu cabelo.
Esse era o ritual sempre que eu vinha para os jantares de domingo. Desisti de arrumar meu cabelo e simplesmente optei por rabos de cavalo. Os muitos abraços e esfregões na cabeça do papai me deixavam parecendo que tinha sido eletrocutada.
“Estou bem, papai.” Passei a mão livre pelo cabelo. “Você está tão animado como sempre.”
Seus olhos castanhos sempre sorridentes se enrugaram nos cantos. “Você sabe disso.” “Aqui.” Entreguei a ele o saco de papel que de alguma forma sobreviveu ao seu abraço esmagador.
Papai pegou e espiou dentro. “Bolo,” ele exalou. “Você fez isso?” “Quem me dera. Peguei na padaria embaixo do meu apartamento.”
Ele riu. “Clássica Ava. Entre.”
Ele deu um passo para trás, e eu passei pela sua figura imponente para dentro da minha casa de infância. Tudo era em tons quentes, creme e marrom, com um toque ocasional de laranja que papai adorava. O espaço familiar parecia diferente hoje.
“Você fez algo novo com o lugar?” Tirei minha jaqueta e a pendurei.
“Não, nada realmente.” Papai fechou a porta. “A menos que você conte essa nova peça de arte contemporânea!”
Ele correu até a lareira, fazendo um gesto com as mãos à la Vanna White.
Meu olhar passou pelas fotos e lembranças até a mais nova adição.
Eu ofeguei, correndo para o lado dele. A mini estátua tinha a forma de uma abelha, mas com a cabeça de uma mulher. “A dama e a abelha! Você sempre quis isso.”
“E agora eu tenho.” Papai olhou para ela, olhos suaves. “Não é gloriosa?” “É sim. Como você conseguiu?”
“Eu posso ter prometido seis meses de cereais em troca.” “Papai,” eu ri. “Você sempre troca mantimentos por mercadorias.”
Ele administrava uma mercearia de sucesso e podia se dar ao luxo. Mas ainda assim.
“O quê? Eu não faço isso sempre.” Seus olhos rolaram para cima e ele pressionou os lábios juntos. “Bem, talvez. Desta vez foi pelo desejo do meu coração.”
Balancei a cabeça, ainda sorrindo. “Bom para você, então.”
“Melhor para mim.” Papai pegou minha mão. “Nunca me senti tão vivo. Estou tentando coisas novas. Como esta receita que vi online.”
Ele puxou meu braço e eu me encolhi.
“Você está bem?” Papai soltou minha mão e virou seus olhos castanhos preocupados para mim.
Duas noites atrás, tive uma transa incrível com um estranho, e agora estou dolorida em lugares que nem sabia que podia estar, pensei, guardando para mim mesma. Em vez disso, respondi: “Sim?”
“Hmm.” Ele lançou um olhar incrédulo sobre mim.
“Vamos, papai.” Dei um empurrãozinho no ombro dele. “Me conte sobre sua nova receita!”
“Ah, sim.” Ele se animou e eu o segui.
Minha agenda confirmava três casas para limpar amanhã. Seria um desafio no trabalho. Cada passo que eu dava revelava músculos rígidos.
Mas valeu a pena. Sexo fantástico com um estranho bonito era o que eu precisava—e consegui. Tive minha noite selvagem e despreocupada, única na vida, que poderia lembrar para sempre.
Mesmo que significasse lidar com algumas dores e incômodos. Pelo menos eles vinham com a memória de uma noite prazerosa que nada poderia superar.
“Ava?”
“O quê?” Pisquei.
“Você está aí, sorrindo para o nada.” Uma linha se formou entre as sobrancelhas do meu pai.
“Ah, não ligue para mim.” Corri para a cozinha, sorrindo para esconder minha careta. “Estou apenas aproveitando os aromas.”
De fato, tudo cheirava delicioso. Meu estômago roncou em resposta.
Papai era um cozinheiro como nenhum outro.
“Eu nem sempre soube cozinhar. Se sua mãe pudesse me ver agora, ela ficaria tão orgulhosa,” ele costumava dizer. Mamãe morreu quando eu era muito jovem, então papai e suas refeições incríveis eram tudo o que eu conhecia.
“Fiz sopa de abacate como entrada, caçarola de frango com brócolis assado como prato principal, e para a sobremesa—” ele tirou um recipiente de vidro da geladeira e levantou em minha direção “—mousse de chocolate cremoso.”
Eu quase podia ouvir coros cantando com raios de luz do céu iluminando-o.
“Ooh…” Minha voz diminuiu. “O que torna isso diferente de todas as outras mousses de chocolate que já tivemos?”
Papai sorriu. “Não se preocupe, você verá. É um ingrediente novo e fresco.” “Nossa, papai, não me diga que você colocou um vegetal nisso.”
“O quê? Não.” Ele colocou sua mousse preciosa de volta na geladeira. “É doce, eu prometo.”
A mesa de jantar estava coberta com tanta comida. Sempre era muito quando papai cozinhava, mas hoje à noite, era o dobro da quantidade usual. Meus olhos se estreitaram.
“Papai, estamos recebendo um—” A campainha tocou.
“Ah, Amendoim, esqueci de te contar. Estamos recebendo um convidado.” Ele começou a tirar o avental.
“Papai, que convidado?” Olhei para ele, um sorriso no rosto. “Não, não é uma mulher.”
“Então, é um homem?” Eu ofeguei, sobrancelha levantada. “Você nunca me contou.”
“Ava!” Ele ficou vermelho no rosto. “Não é o que você está pensando.”
Eu sorri. “Sério? O que estou pensando?”
Ele revirou os olhos. “É apenas um amigo de fora da cidade que está visitando.”
“Um amigo. Que enigmático.”
Papai fez um som irritado, suas sobrancelhas franzidas. Ele começou a falar, mas a campainha tocou novamente.
“Papai, não deixe seu amigo esperando.” Enfiei um dedo na caçarola, mas papai bateu na minha mão. “Ai.”
“Não toque em nada. Esta noite tem que ser perfeita.”
“Para o seu amigo?” Esfreguei a parte de trás da minha mão, mas ainda consegui mexer as sobrancelhas.
Ele resmungou algo sobre uma filha espertinha, mas foi atender a porta. Sempre era divertido provocá-lo.
Meu olhar voltou para a mesa e minha boca se encheu de água. Lancei um olhar para o arco que levava à cozinha. A voz retumbante do papai soou enquanto ele recebia seu convidado.
Isso deve demorar um pouco.
Peguei um pedaço da caçarola fumegante no meio da mesa e roubei um pedaço de frango. Ponto! Isso me sustentaria até papai e seu convidado voltarem.
Definitivamente era um encontro. Ele só estava tímido demais para admitir. “E aqui está minha filha, Ava,” papai anunciou atrás de mim.
Engoli e me virei rapidamente. “Eu não estava tocando na comida!”
Meus olhos encontraram olhos cinzentos que se estreitaram e minha respiração parou. O que diabos o estranho tempestuoso estava fazendo na casa do meu pai? “Você…” Eu parei, incapaz de falar.
Não porque eu estava muito atordoada. Algo estava na minha garganta. Eu não conseguia respirar.
Minhas mãos agarraram minha garganta, o peito arfando. “Ava, você está bem?”
“Papai…” Eu ofeguei, me curvando e tossindo, meus olhos lacrimejando. Minha tosse não conseguiu desalojar o pedaço. Doía tanto.
Em algum lugar distante, papai gritou, “Ajude-a!”
Tentei falar, mas todo o meu ser só queria respirar.
Braços fortes envolveram minha cintura, e um corpo cobriu o meu por trás.
Perdendo o fôlego…
Os braços ao meu redor apertaram e minhas costelas se cravaram no meu lado. A dor mal foi registrada. Eu só precisava de ar.
Outro aperto e o pedaço se moveu. No terceiro aperto, a comida se desalojou. Ela voou para fora da minha boca e atravessou a sala.
Papai se abaixou a tempo de evitar. “Ava.” Ele me recolheu em seus braços. “Você está bem?”
Respirei profundamente enquanto tremia. “Estou bem.”
“Jesus, Amendoim. Da próxima vez, belisque algo que você possa engolir rapidamente.”
“Eu não…” Papai me olhou.
Suspirando, murmurei, “Tá bom.”
“Liam, graças a Deus você estava aqui.” Papai olhou para trás de mim. Eu congelei e mordi o lábio. Ele estava realmente aqui.
“Não foi nada, Thomas. Engasgar é bastante comum. Ajuda saber a manobra de Heimlich.”
Isso não pode estar acontecendo. Minha aventura selvagem deveria permanecer anônima. Agora ele estava na casa do meu pai. E como ele conseguia fazer a palavra “engasgar” soar tão sexy?
“Não nesta casa,” papai respondeu. “Mas eu deveria aprender a fazer isso em vez de gritar como uma banshee da próxima vez.”
Papai compartilhou uma risada com seu amigo. Liam. Oh meu Deus. Agora eu podia associar um nome ao rosto dele na minha cabeça.
O que aconteceu com o bom e velho anonimato e os casos de uma noite? Papai descobriria. Ele ficaria bravo, e eu—
“Ava, diga oi para o Liam. Ele é o amigo de quem eu te falei.”
Forçando-me a não me encolher, fui me virando para encarar Liam.
Como na noite de sexta-feira, ele usava uma camisa social e calças pretas com sapatos sociais. Desta vez, não havia gravata. Apenas dois botões abertos revelando a pele bronzeada.
Minhas bochechas queimaram e meu olhar subiu para o rosto dele. Ele estava me avaliando assim como eu estava avaliando ele.
Suas sobrancelhas escuras estavam um pouco franzidas sobre os olhos cinzentos que pareciam uma tempestade pronta para liberar seu poder. Maçãs do rosto altas. Lábios cheios e sensuais que haviam descido em mim duas noites atrás.
“Oi.” Minha voz saiu engasgada, meu coração disparando.
“Jesus, eu esqueci. Você precisa de água.” Papai correu atrás de mim e trouxe um copo. “Beba.”
Peguei o copo e bebi, evitando os olhos de Liam.
“Vamos. Venha sentar.” Papai me conduziu ao meu lugar na mesa. Eu me joguei na cadeira e esvaziei o copo.
“Você precisa de mais?”
Antes que eu pudesse responder, papai pegou o copo. Ofereci-lhe um sorriso agradecido. No momento em que seus passos se afastaram, lancei um olhar para trás para ter certeza de que ele realmente tinha ido.
Então me inclinei para frente. “Você é amigo do meu pai?” Sibilei para Liam, que estava sentado do outro lado da mesa.
Seus ombros se moveram despreocupadamente, sobrancelha levantada. “E daí?”
“E daí?” Meus olhos se arregalaram. “E daí?” Ele não podia estar falando sério. “Se ele descobrir o que aconteceu entre nós na sexta-feira à noite…”
“Eu não ia contar para ele,” ele disse. “Você ia?”
“Ah, não.” Recostei-me e pensei por um segundo. “Você sabia?” “Que você era filha do meu amigo antes de eu te foder?”
Um arrepio percorreu minha espinha. “Você não precisa soletrar isso.” “Não, eu não sabia quem você era.”
Seu tom dizia que ele não teria me tocado se soubesse. Mas seus olhos diziam que ele faria isso de novo.
Meu corpo esquentou com essa última observação. Apertei minhas coxas e cerrei os dentes com a sensação no meu núcleo. Isso nunca poderia acontecer de novo.
“Certo,” eu disse com raiva. “Ele nunca pode descobrir. Nunca.” “Ava,” papai disse atrás de mim, incrivelmente perto.
Eu me virei rapidamente, coração martelando. “Sim?” Ele nos ouviu? “Você nunca vai adivinhar o que eu descobri.”
Engoli em seco, minha garganta de repente seca. “O quê?”