Read with BonusRead with Bonus

Um

Ava

Eu me espremei pela multidĂ£o e cheguei ao bar. "Duas cervejas, por favor."

Linea parou ao meu lado, ofegante, com as mĂ£os no balcĂ£o, batendo os dedos. "Sim, duas."

"Cada uma?" O barman levantou uma sobrancelha e olhou entre nĂ³s. "Sim, cada uma. Estamos ambas com sede e precisamos de alĂ­vio," Linea respondeu secamente. Ele entendeu o recado e foi buscar nosso pedido.

"Deus, vocĂª pode ser tĂ£o cruel Ă s vezes." "O quĂª?" Ela revirou os olhos. "Ele pediu por isso."

"DĂ¡ um desconto pra ele. Vamos precisar dele para encher nossos pedidos de bebida a noite toda."

"Fale por vocĂª mesma." Ela fez uma careta. "NĂ£o acho que vou beber nem metade de uma garrafa."

"Vamos fazer uma aposta. VocĂª nĂ£o vai sentir dor atĂ© o fim da noite." "Fechado."

Quatro cervejas geladas foram colocadas no balcĂ£o, e cada uma de nĂ³s pegou duas. "Vou te mostrar, Ava," ela me disse, e depois falou para o barman, "Obrigada."

Eu olhei a multidĂ£o, procurando uma cabine. "Viu? Ele sorriu para mim. Eu sou legal."

"Eu nĂ£o vi."

"Devo ir lĂ¡ e falar doce com ele de novo? VocĂª tem que assistir desta vez."

"Ou podemos pegar a cabine que acabou de esvaziar." Eu apontei para o espaço que um casal acabara de deixar.

"Sim!" Linea correu na frente. "Vai, vai, vai."

Ela deslizou primeiro, e eu rapidamente a segui.

NĂ³s duas rimos e batemos nossas cervejas na mesa lisa e polida. "Essa Ă© a maior vitĂ³ria que tive hoje."

"VocĂª diz isso sobre tudo." Eu balancei a cabeça, um sorriso curvando meus lĂ¡bios. "Terminar a limpeza na cozinha da Ramona, pegar o Ăºltimo pedaço de bolo que ela deixou..."

"O que posso dizer? Estou sempre ganhando." Linea tirou o casaco, passando os dedos pelo cabelo loiro-mel, molhado pela chuva. Gotas de Ă¡gua caĂ­ram no meu rosto.

Eu estendi a mĂ£o. "Cuidado." Ela riu.

Eu tirei meu cachecol e meu prĂ³prio cabelo Ăºmido tocou meu pescoço nu. "Argh." Eu me arrepiei e sacudi o cabelo.

Linea gritou e se afastou de mim, me dando um olhar desaprovador.

Rindo, eu peguei minha bebida e engoli um gole.

Meu olhar percorreu a sala. O Busters estava um formigueiro nesta noite de sexta-feira. Parecia que todos tinham saĂ­do do trabalho e decidido que este era o jeito favorito de relaxar.

Definitivamente era o meu. A cada poucos fins de semana, Linea e eu aparecĂ­amos, tomĂ¡vamos algumas cervejas e relaxĂ¡vamos. NĂ£o que a versĂ£o do cantor de karaokĂª de "Poker Face" estivesse proporcionando qualquer forma de relaxamento.

"O que Ă© isso?" Linea franziu a testa e olhou para o palco.

O cara estava em seu elemento. Ele desfilava pelo palco, jogando seu cabelo longo inexistente sobre o ombro.

"A diva que nĂ£o sabĂ­amos que precisĂ¡vamos."

Minha amiga riu e balançou a cabeça. "Quero subir lĂ¡ e dizer para ele parar. Tive uma semana longa. Ele estĂ¡ arruinando minha noite."

"NĂ£o faça isso." Eu a olhei. "Eu nĂ£o vou."

Mantendo meus olhos nela, eu bebi minha cerveja.

Linea riu. "EntĂ£o, sobre a programaĂ§Ă£o da prĂ³xima semana..." "O quĂª? NĂ£o. É fim de semana, Linea, sem conversa de trabalho."

Linea e eu administrĂ¡vamos nosso prĂ³prio negĂ³cio, limpando casas para viver. AdorĂ¡vamos ajudar os outros criando refĂºgios impecĂ¡veis e organizados para eles. Era gratificante e divertido trabalhar com minha melhor amiga. Mas tambĂ©m invadia as horas pĂ³s-trabalho.

"Tudo bem." Ela levantou as mĂ£os e deu de ombros.

Linea pegou o celular, e a luz azul iluminou seu rosto. Eu me afundei mais na cabine, soltei um suspiro e olhei ao redor. Eu podia nomear quase todos os rostos com os quais meus olhos se encontravam, e alguns acenaram. Eu acenei de volta.

Conversas animadas ecoavam ao meu redor. Eu poderia facilmente iniciar uma conversa com qualquer pessoa enquanto minha melhor amiga tirava selfies de diferentes Ă¢ngulos para postar no Instagram. Mas conversar com as mesmas pessoas era tudo o que eu sempre fazia.

Todo dia, a mesma rotina. Limpar casas. Ver os mesmos rostos. Visitar nosso bar da cidade natal.

Eu amava viver em uma cidade pequena; realmente amava. Mas ultimamente eu estava... entediada. Eu sĂ³ queria algo diferente. Qualquer coisa para apimentar minha vida. Mas em Hannibal, isso era pedir demais.

Ou era?

Meus olhos caĂ­ram na entrada justo quando um homem entrou. Diferente daqueles que compunham a multidĂ£o tĂ­pica do Busters, ele estava vestido impecavelmente. Um terno preto moldava sua figura alta, e uma gravata azul escura descia pela frente da camisa branca abotoada por baixo.

Eu inclinei a cabeça, tentando distinguir suas feições. Seu rosto estava voltado para baixo, concentrado em seu guarda-chuva preto. Com dedos longos e Ă¡geis, ele prendeu a tira da gravata. Guarda-chuva sortudo.

EntĂ£o seu olhar se levantou. Meu coraĂ§Ă£o apertou.

Olhos cinza profundos em um rosto robusto e forte observaram a sala. Aqueles olhos tempestuosos passaram por mim, e minha respiraĂ§Ă£o parou. Uma sensaĂ§Ă£o serpenteou pelo meu ventre—algo estranho e delicioso.

Seu olhar se fixou no bar, e seu corpo o seguiu. Força magra e Ă¡gil se manifestava a cada passo medido que ele dava.

Ele se sentou agilmente em um banquinho do bar, de costas para as cabines. Eu me sacudi do meu transe, olhando ao redor. Eu me perdi ali por um minuto.

A julgar pelas mulheres viradas em sua direĂ§Ă£o, eu nĂ£o estava sozinha. Todas, exceto Linea.

Ela ainda estava focada no celular. Eu a cutuquei com o cotovelo e apontei para o homem.

Ela se inclinou, tentando ver seu rosto. "Oh meu Deus." Ela se recostou. "Quem Ă© aquele gato grisalho?"

"NĂ£o faço ideia." Minhas palavras saĂ­ram um pouco ofegantes.

Linea nĂ£o deu indicaĂ§Ă£o de que notou, seus olhos ainda no homem. "Mas sĂ©rio. Quem Ă© ele? De onde ele veio? Esse rosto Ă© difĂ­cil de esquecer."

Mais do que o rosto dele. A energia ao redor dele era potente, crepitando como eletricidade. Meu corpo vibrava, querendo se conectar com aquele poder.

"Alguém novo? Um visitante?"

"Provavelmente," murmurei, entĂ£o bebi minha cerveja. Meu interior ainda estava se recuperando.

Alguém novo. Isso fez sentido. Diferente de todas as pessoas que eu conhecia—e amava—mas, caramba, eu as conhecia bem demais.

Eu nĂ£o precisava pensar nisso. Eu deveria, em vez disso, seguir meus instintos. Quantas vezes estranhos de tirar o fĂ´lego apareciam em Hannibal?

Isso era o universo decidindo que eu merecia um bom momento. Apenas uma noite para esquecer minha vida monĂ³tona. Eu nunca tinha tido uma aventura de uma noite. Era algo que toda mulher confiante deveria experimentar pelo menos uma vez na vida, certo? Minhas partes femininas concordavam, ansiando por serem tocadas por aquelas mĂ£os habilidosas que agora seguravam uma cerveja.

Eu engoli em seco. Ele era o que eu precisava.

Ele seria uma pausa do mesmo de sempre. Um sopro de ar fresco.

Eu queria—nĂ£o, precisava—daquele ar fresco. Uma noite de sexo quente e sem sentido.

As memĂ³rias durariam uma vida inteira.

Um arrepio subiu pela minha espinha, meus nervos pulando. Eu ia fazer isso. Sem voltar atrĂ¡s agora.

Eu ia dar em cima de um estranho bonito.

O que quer que resultasse, a palavra-chave era estranho. Uma noite divertida, sem amarras. E se o sexo fosse terrĂ­vel, eu nunca mais o veria, entĂ£o nĂ£o importava.

"Quantos segundos até alguém se aproximar dele?" O olhar de Linea percorreu o bar.

Eu ajeitei meu cabelo. "Cinco segundos."

"O quĂª?" Minha amiga se virou. "Eu estava pensando que deixariam ele tomar pelo menos uma bebida... Oh." Os olhos de Linea percorreram meu corpo. "Desabotoa um botĂ£o. NĂ£o, dois."

Eu fiz o que ela pediu. "Assim?"

"Uhum." Ela esvaziou sua garrafa.

"Me deseje sorte." Eu joguei meu cachecol para ela. Ele atrapalharia meu visual sexy.

"Que minhas vitĂ³rias estejam com vocĂª." Linea levantou sua garrafa vazia. "Nossa, eu preciso de outra."

Sorrindo para minha amiga, eu deslizei a alça da minha bolsa sobre o ombro e comecei a sair da cabine. Ela fez o mesmo. Mas enquanto eu me dirigia ao bar, ela mergulhou na prĂ³xima cabine. Um coro de "oi" soou atrĂ¡s de mim enquanto nossos amigos cumprimentavam Linea.

Eu nĂ£o dei atenĂ§Ă£o a eles, toda minha atenĂ§Ă£o estava colada nas costas fortes do estranho. Enquanto os outros se curvavam sobre suas bebidas, ele se sentava ereto, com postura perfeita.

Uma imagem passou pela minha cabeça de minhas unhas arranhando suas costas. Aposto que seu traseiro era musculoso e firme. Perfeito para segurar enquanto ele bombeava entre minhas coxas.

Minhas pernas viraram gelatina quanto mais eu me aproximava. Respirei fundo, sacudindo o cabelo e relaxando os ombros. E daĂ­ se eu esfregava pisos para viver? E em contraste, esse estranho quente e musculoso parecia que poderia estampar a capa da GQ?

Nada disso importava. NĂ£o trocarĂ­amos nada alĂ©m do fĂ­sico. PoderĂ­amos ser uma distraĂ§Ă£o de uma noite um para o outro, satisfazendo nossas necessidades animalescas.

Cheguei ao banquinho ao lado dele em dois passos e deslizei para cima dele. A Ăºnica indicaĂ§Ă£o de que ele notou minha existĂªncia foi o leve movimento de sua mandĂ­bula. Ela relaxou enquanto ele voltava a olhar para sua bebida.

Isso me deu uma oportunidade de realmente olhar. Suas feições afiadas—maĂ§Ă£s do rosto altas e uma mandĂ­bula forte—eram suavizadas por lĂ¡bios cheios e cĂ­lios longos. Seu cabelo grisalho estava penteado para trĂ¡s da testa, desbotado nas bordas e mais cheio no topo. Eu deslizei um olhar discreto para seu dedo. Sem anel ou marca de anel.

Meus olhos lingeram em seus dedos longos, e eu engoli em seco. Eu queria aquelas mĂ£os em mim.

"Oi." Minha voz saiu rouca e baixa, apesar dos meus nervos. VitĂ³ria! O homem me olhou de lado.

Oh, droga. Meu estĂ´mago se encheu de calor lĂ­quido sĂ³ com um olhar.

Apenas aquele olhar me fez querer ou encolher ou me esfregar nele. "VocĂª nĂ£o Ă© daqui," continuei, internamente me encolhendo com minha cantada brega.

Seu rosto se virou para mim agora, sobrancelha levantada. "O quĂª?"

Arrepios percorreram meus braços com seu barĂ­tono suave e profundo. Eu nĂ£o sabia de onde encontrei a voz para continuar falando. "Eu conheço quase todos os rostos em Hannibal. VocĂª nĂ£o Ă© daqui."

"EntĂ£o?" Sua sobrancelha cheia arqueou mais alto, olhos cinza rivalizando com os cĂ©us tempestuosos lĂ¡ fora.

Eu resisti Ă  vontade de gaguejar e continuei. Ele poderia estar apenas no fim de um dia ruim. Um pouco de simpatia poderia ajudĂ¡-lo a relaxar. "VocĂª Ă© novo, estĂ¡ sozinho. Eu poderia fazer companhia."

Seus olhos percorreram meu corpo, parando no meu decote exposto. Sua garganta trabalhou por um segundo antes de seu olhar se levantar para meu rosto. "NĂ£o, obrigado."

Suas palavras frias apagaram o calor que corria pelas minhas veias. E ainda assim... por um segundo, ele parecia pronto para aceitar minha oferta.

Jogando o cabelo, eu sorri. "Ah, vamos lĂ¡. Todo mundo diz que sou boa companhia."

"EntĂ£o vĂ¡ e faça companhia a todo mundo."

"Eles nĂ£o estĂ£o sozinhos em um bar numa noite de sexta-feira."

Ele suspirou, olhando para longe de mim. Em vez de mostrar interesse, parecia que eu o estava irritando. Eu era tĂ£o chata assim? Uma sensaĂ§Ă£o de afundamento tomou conta do meu estĂ´mago. Olhei para trĂ¡s e vi Linea. Ela acenou e me deu um sinal de positivo entusiasmado.

Eu me virei de volta para o homem com uma confiança ligeiramente aumentada. "EntĂ£o, vocĂª gostaria de me comprar uma bebida?" Eu me inclinei para frente no cotovelo. Seus olhos me devoraram mais uma vez, e eu sorri. "Isso seria o mĂ­nimo a se fazer."

Ele desviou o olhar de mim, olhos de volta para sua bebida. "Talvez vocĂª devesse ir embora; isso seria o mĂ­nimo a se fazer."

Eu me recostei, meu rosto queimando. Abri a boca e a fechei. Nenhuma resposta espirituosa veio Ă  mente.

NĂ£o havia como dar uma reviravolta divertida em suas palavras. Ele me rejeitou.

Claramente.

Eu pulei do banquinho, mĂ£os envoltas na alça da minha bolsa. Olhei para Linea, mas ela estava ocupada torcendo pelo prĂ³ximo cantor de karaokĂª, que estava fazendo um Ă³timo trabalho. Com a cabeça baixa, me dirigi para a saĂ­da.

A chuva grudou meu cabelo no rosto e minhas roupas na pele. Mas eu mantive a cabeça baixa e continuei andando, determinada a chegar em casa e esquecer meu encontro embaraçoso de hoje à noite.

Por que eu pensei que poderia ser uma sedutora sexy e atrair um homem sofisticado como ele? Eu era apenas a velha e chata Ava. E ficar encharcada na chuva torrencial era o que eu merecia por sair da minha zona de conforto.

De repente, a chuva parou. Eu levantei a cabeça. NĂ£o, ela nĂ£o tinha parado. Ainda estava caindo ao meu redor, mas nĂ£o em mim porque... alguĂ©m estava segurando um guarda-chuva.

Eu me virei, e meu olhar encontrou olhos cinza. Dei um passo para trĂ¡s, voltando para debaixo da chuva. "O que vocĂª quer?" Eu olhei para o homem.

Ele olhou para a estrada vazia antes de encontrar meus olhos. "Eu fui um idiota mais cedo." Ele abaixou a cabeça, como se o pensamento o envergonhasse. EntĂ£o seu olhar encontrou o meu novamente. "Compartilhe meu guarda-chuva e deixe-me te levar para casa."

Eu comecei a dizer nĂ£o, mas ele interrompeu. "É o mĂ­nimo a se fazer."

Um pequeno arrepio percorreu meu corpo ao perceber que ele usou minha frase de mais cedo.

"Tudo bem."

Algo que nĂ£o era exatamente um sorriso passou pelo rosto dele.

Nos aconchegamos debaixo do guarda-chuva enquanto comeĂ§Ă¡vamos a caminhar. NĂ£o era o jeito que eu esperava que a noite fosse. Mas o calor do corpo dele era bem-vindo.

Previous ChapterNext Chapter