TRÊS
CELESTIA
"Você não dormiu bem na noite passada?" A pergunta abrupta me fez levantar os olhos da xícara de café para minha mãe, sentada do outro lado da mesa de jantar. Ela também chegou bem tarde e, se eu não estivesse enganada, ela também não dormiu. No entanto, a expressão em seu rosto estava mais fresca do que cansada. Como? Bem, isso estava além da minha compreensão.
"Eu dormi bem," eu disse a ela. "É um lugar novo."
Sem levantar o olhar, senti os olhos dela em mim, julgando e avaliando em silêncio. Eu sabia que ela estava pescando por detalhes, sempre paranoica.
"Eu sei. Fique à vontade; se precisar de alguma coisa, por favor, me avise, e eu providenciarei."
Eu queria revirar os olhos para suas formalidades. "Quanto tempo vamos ficar aqui?" perguntei em vez disso. A pergunta que eu sabia ser inútil porque não importava em qual cidade eu estivesse morando. Eu não seria permitida ir a lugar nenhum sem homens agindo como cães de guarda ao meu redor de qualquer maneira.
"Por algum tempo," minha mãe respondeu, tão vaga como sempre. "Vegas é um lugar bonito. Se você quiser dar uma volta, posso providenciar para que o Oscar te leve."
Sim, Vegas era bonita, desde que você não andasse com seguranças.
"Está bem. Eu te aviso." Pegando um prato cheio de hash browns, salsichas, cogumelos e duas fatias de bacon, concentrei-me mais na comida. Além disso, eu tinha minha própria pequena investigação para conduzir.
"Eu estava esperando que fosse hoje ou amanhã," ela falou, forçando meu olhar de volta ao dela.
"Por que há um prazo?" franzi a testa.
"Eu tenho que ir para Nova York em dois dias, e sem mim, se você sair do lugar, haverá vários problemas—"
"Você realmente acha que eu não sou capaz de me cuidar?"
Eu a vi suspirar como se eu fosse uma criança desobediente tentando impor sua vontade aos pais. Desnecessário dizer que isso me irritou profundamente. "Tivemos essa conversa um milhão de vezes—"
"E em todas essas milhões de vezes, você me calou." Minha mãe abriu a boca para dizer algo, mas eu a interrompi. "Desde que eu era criança, você ditou cada parte da minha vida. Eu deixei você fazer isso por lealdade e amor por você; eu tenho que fazer isso porque você é tudo o que eu tenho!"
Em raras ocasiões eu explodia, e esta era uma dessas ocasiões únicas e excepcionais em que eu não apenas explodi, mas explodi de verdade. Respirando fundo e com força, apertei firmemente o garfo na minha mão direita como se toda a força de vontade estivesse concentrada ali.
"Eu entendo que tudo isso deve ser difícil para você, Celestia," minha sempre calma mãe, Kyla Donovan, tentou argumentar comigo. Mais uma vez, era tudo um show para ela. "Mudar de um lugar para outro deve ser realmente difícil."
Eu estreitei os olhos. "Você realmente quer dizer o que diz, mãe?"
"Na verdade, sim." Ela colocou o café da manhã de lado, limpou delicadamente os lábios com um guardanapo antes de realmente encontrar meu olhar. "Mas a verdade maior é que eu perdi um marido, o pai da minha filha, porque temos inimigos que são implacáveis o suficiente para usar você para extrair informações de mim. E essa informação foi algo pelo qual seu pai morreu. Então, me diga, Celestia, você preferiria ter o destino que nem seu pai nem eu jamais quisemos para você?"
"Você preferiria que eu me escondesse nas sombras para sempre?" eu retruquei.
Para minha surpresa, ela sorriu. "Minha menina," ela acalmou. "Eu não tenho intenção de esconder você para sempre, mas apenas até o momento certo. Enquanto isso, quero que você faça alguns cursos online de negócios para que, quando chegar a hora, você esteja pronta para os desafios."
Essa era uma conversa sem saída, eu deveria ter sabido desde o início. Isso me levou a acreditar que eu estava presa em um ciclo interminável de conversas infrutíferas com minha mãe. Desanimada, assenti e me levantei.
"Com licença," eu me despedi, alisando a saia. "Vou continuar procurando novos cursos. Tenha um bom dia, mãe."
"Você também, querida," ouvi a voz quando estava a meio caminho do meu quarto.
Fechando a porta, quando liguei o laptop, definitivamente não tinha nada a ver com cursos online, mas tudo a ver com minha curiosidade sobre o estranho.
"Chefe, eles estão esperando por você."
Então, ele era ou o dono ou algum figurão que casualmente frequenta um clube com seu segurança ou funcionário. Portanto, ele não seria difícil de encontrar. Se havia uma coisa que eu me equipei ao longo dos anos de isolamento social, seria a habilidade de uma especialista amadora em informática.
Levou menos de dez minutos para identificar o homem, o estranho com poder místico intimidador que assombrava sonhos, mesmo de longe. Raffaele Roselli, dizia o perfil. Meus olhos percorreram várias fotos dele. Avaliaram as características: cerca de um metro e noventa, musculoso, definitivamente mais de noventa quilos, olhos cinza e cabelo castanho.
Surpreendentemente, havia mais artigos sobre ele do que fotos, e em todos eles, ele parecia principalmente descontente. Isso me levou a acreditar que o homem não sabia sorrir e que a intimidação fazia parte dele.
Nota para mim mesma, disse em voz alta, nunca mais pisar no Club Cosmos novamente.
RAFFAELE
Eu não tinha certeza de quando o poder se infiltrou nas veias e me deixou eufórico. Se você perguntasse ao meu pai, ele diria que foi no dia em que nasci. Que no momento em que vim ao mundo, meu destino foi selado e meu trono garantido. Um herdeiro, nascido com vícios sombrios em cada dobra do meu corpo e caráter.
Mas não era apenas o poder que me dava a euforia suprema. Havia outros tons, nuances de segredos sombrios que cultivei ao longo dos anos que me fizeram ser quem eu sou hoje.
Raffaele Roselli, herdeiro e chefe do império Roselli.
Quando a sufocação clorada começou a cegar meus sentidos, eu emergi à superfície da água, respirando com dificuldade. Engraçado, que no momento em que ressurgi, parecia que meu cérebro estava pesado e preso.
Forçando-me, fui para mais uma volta, e desta vez, sob a pressão da água fria, o mesmo rosto flutuou. De novo. Alguns diriam um pressentimento, talvez uma premonição, mas para mim, parecia pura tortura não saber nada sobre o rosto aleatório e sem nome.
Na próxima vez que ressurgi, Amadeo entrou na área da piscina, vestido com uma camisa casual e jeans, e se acomodou na cadeira próxima.
"Você conseguiu alguma coisa?" perguntei, saindo da água e enrolando uma toalha na cintura para sentar em frente a ele.
"Sim e não."
"O que isso quer dizer?" perguntei.
Franzindo a testa, Amadeo abriu um tablet e rolou sem rumo por um longo momento e puxou certos documentos. "Significa que a identidade era falsa. Limpei as filmagens e consegui recuperar a identidade apenas para descobrir que não existe."
Ele assentiu lentamente. "E o reconhecimento facial?"
"Com os recursos que temos, estranhamente, ainda não houve correspondência. Na verdade, não há nem uma única multa de estacionamento."
Assenti, apertando a ponte do nariz. "Ela era nova. Não conhecia bem os clubes, e se estou certo, ela é nova em Vegas."
Amadeo fechou o tablet. "Entendi, Rafe. Seu pressentimento estava certo e a garota é um mistério. Mas, vamos lá, isso é Vegas." Ele acenou com a mão ao redor. "Todo mundo com menos de vinte e um anos tenta falsificar uma identidade e entrar nos clubes. Esse fenômeno não é novo."
Era um pouco complicado explicar para ele quando eu estava completamente confuso. Ela me olhou como se tivesse visto um fantasma e depois se comportou de forma evasiva. E na nossa linha de negócios, apenas as pessoas com intenções duplas são elusivas.
"Continue cavando," eu disse, levantando-me da cadeira. "Se encontrar algo, me avise."
"Eu vou."
Enquanto caminhava em direção ao meu quarto, tentei ao máximo ignorar o fato de que estava quase obcecado por essa garota, simplesmente não conseguia deixar de lado. E eu era um homem de controle, e sabia que perder tudo era uma exceção terrível.
Tomando um banho rápido e fazendo a barba, entrei no closet e vesti as roupas. A camisa preta e as calças cinza já estavam dispostas, e quando vi meu reflexo no espelho, me perguntei se cada tom de preto estava crescendo em mim.
Mas, então, quem se importava?
Com a batida suave na porta, eu estava bem ciente de que Cesar estava esperando por mim do lado de fora da porta com a lista de tarefas agendadas para o dia. Graças a Deus, murmurei. Provavelmente agora eu realmente poderia me concentrar em algo que era importante.