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UM

Celestia Donovan olhava para as luzes da cidade através da enorme janela do chão ao teto, parecendo mais brilhantes do que a galáxia de estrelas. Para ela, Las Vegas era mais uma cidade dos sonhos do que a infame cidade do pecado.

A Vegas Strip de oito milhas era parcialmente visível de seu apartamento de luxo situado no trigésimo andar, com letreiros de néon e fontes dançantes. As vistas eram de tirar o fôlego para ela, principalmente por causa de seus personagens ousados e de espírito livre que seu coração ansiava para sempre.

"Você pode desfazer tudo amanhã, se quiser," a voz familiar de sua mãe a trouxe de volta ao virar-se.

Kyla Donovan, sempre a mulher afiada e bem-vestida, com o cabelo preso em um penteado clássico, era a mãe de Celestia. Mas o relacionamento familiar delas era altamente questionável.

Kyla estava ausente na maior parte do tempo enquanto sua filha era educada em casa. Ela foi enviada para uma faculdade comunitária em uma cidade desconhecida. Antes de terminar, Celestia teve que voltar para casa porque sua mãe estava se mudando para Las Vegas.

"Você vai a algum lugar?" Celestia olhou para o traje de calça de carvão de sua mãe. "A essa hora?"

"Bem, os clientes em Las Vegas não se importam com reuniões tarde da noite, desde que seus bolsos fiquem mais pesados," Kyla respondeu, com os olhos grudados no telefone em sua mão, e então levantou a cabeça. "Vou deixar o Oscar na porta se você precisar de alguma coisa."

"Não vou," veio a resposta rápida.

Uma garota de vinte anos não deveria precisar de um babá-guarda, mas Celestia sabia que sua mãe não concordaria. A razão pela qual toda a sua vida esteve nas sombras era sua segurança e a paranoia de Kyla.

Bruno Donovan, o magnata dos negócios e pai de Celestia, foi baleado em plena luz do dia, deixando o império nos ombros de sua mãe quando Celestia tinha apenas um mês de vida.

"O jantar de delivery está na mesa da cozinha. Espero que você não se importe com comida mexicana por uma noite." E antes que a jovem pudesse objetar veementemente seu desgosto pela culinária, Kyla já havia se virado, seus saltos batendo contra o mármore polido. Em alguns passos longos, ela estava fora da sala.

Voltando seu olhar para as luzes cintilantes da cidade, Celestia ansiava por um momento de emoção. A vida incognita estava pesando em sua mente e alma por tanto tempo que ela estava desejando um pouco de perigo. Além disso, qual era o ponto de estar em Las Vegas e não pecar um pouco?

Num piscar de olhos, ela pegou seu MacBook e abriu o software para criar uma identidade que parecesse real o suficiente para um clube ou cassino próximo lhe conceder entrada. E servir-lhe álcool.

O isolamento do mundo lhe deu tempo de sobra para aprimorar suas habilidades em informática, e tendo aprendido sozinha programas específicos e técnicas de hacking amadoras, Celestia estava confiante o suficiente para se safar de tais travessuras.

Em meia hora, ela criou uma nova identidade falsa para si mesma. De acordo com ela, ela era Jessica Woods, de vinte e dois anos e de Miami. No fundo de sua mente, ela até inventou uma história falsa para si mesma, caso fosse necessário. Só faltava escolher o clube mais próximo de seu novo apartamento para garantir que pudesse sair e voltar antes que seu babá-guarda-costas de quarenta e poucos anos, Oscar, descobrisse.

Club Cosmos, ela decidiu. Na era do Google, uma busca pelo clube noturno era tão precisa quanto se poderia esperar.

Enquanto vestia seu melhor vestido, soltando o rabo de cavalo e se posicionando diante do espelho, pouco sabia Celestia Donovan que sua beleza cativante poderia prender os olhos de qualquer homem. Não eram apenas seus grandes e expressivos olhos castanhos ou os lábios cheios ou o rubor natural que ela usava nas bochechas. Ainda assim, o olhar de inocência excêntrica espalhado por suas feições como belas sardas.

Espiando para fora de seu quarto, ela não viu Oscar nas proximidades e supôs que ele havia se retirado para seu quarto. Não era a primeira vez que ela escaparia sob seu nariz; isso já havia acontecido tantas vezes que ela praticamente dominou a arte da evasão.

Uma vez que chegou às ruas, sentiu uma pequena sensação de liberdade lavando sobre ela. Sua viagem de Uber a deixou diretamente no destino enquanto ela descia de seus novos saltos prateados e traje de vida noturna da moda.

O Club Cosmos tinha o estilo de uma clientela sofisticada, e os seguranças se certificavam de escanear a pessoa que estavam deixando entrar.

"Você está sozinha?" Um dos homens musculosos olhou para trás dela. A essa hora tardia, a noite já estava a todo vapor, mas não havia fila.

"Sim," ela fingiu confiança e pagou a taxa de entrada.

"Identidade?" O mesmo homem estendeu a mão enquanto ela procurava.

Satisfeito, ele concedeu a entrada e ela entrou no Club Cosmos.

A boate estava completamente escura, exceto pelas luzes estroboscópicas em arco-íris. À sua esquerda estava o DJ, que frequentemente mudava a música enquanto o som explodia a ponto de enlouquecer.

Celestia adorava o caos da escuridão e da música alta. Felizmente, ela podia dançar como se ninguém estivesse olhando, beber sem supervisão e escapar novamente antes que alguém a notasse.

Empurrando seu caminho através da multidão que dançava sob as luzes cintilantes e girava na névoa esfumaçada de gelo seco, ela chegou ao bar.

"Posso pedir um Cosmopolitan?" ela gritou para o jovem barman que acenou com a cabeça e balançou ao ritmo da música ao mesmo tempo.

"Obrigada." Celestia murmurou e pegou sua bebida, girando para encarar a multidão.

Enquanto sorvia o líquido vermelho, Celestia começou a saborear seu pequeno momento de liberdade. Era a única coisa que ela conseguia sentir-se bem, dadas as suas circunstâncias. A escuridão, a música, o caos... tudo encobria sua identidade, mas permitia que ela saboreasse a emoção da noite.

Ela observou as duas mulheres dançando no pole dance colocadas no centro da pista de dança. A noite parecia tão jovem, ela pensou que o amanhecer nunca chegaria tão cedo.

"Oi, linda!" Um homem se aproximou e imediatamente, ela recuou.

"Ocupada. Com licença." Celestia abriu caminho entre algumas pessoas, visivelmente bêbadas, para se afastar do homem assustador. Para seu alívio, ele não a perseguiu.

Quando se encontrou na beira da multidão enlouquecida, dançando ao som alto, ela balançou um pouco e tirou a mente da existência sombria de sua vida. O ritmo pulsante rugia alto em seus ouvidos, bloqueando o resto dos sons.

Ela estava simplesmente extasiada.

Bem, a felicidade foi de curta duração. Ela não aprendeu sobre a história da Chapeuzinho Vermelho e o lobo?

Uma mão fechou-se sobre seu traseiro que instantaneamente a fez se virar.

"Qual é o seu problema?" ela gritou para o cara, o mesmo assustador, que sorriu e olhou como um idiota bêbado.

Irritada e um pouco nervosa, Celestia afastou a mão dele de seu corpo e desapareceu na multidão. Desta vez, ela não cometeu o erro de parar a alguns metros de distância ou de se virar, mas foi direto para fora da horda dançante.

"Droga!" ela murmurou, procurando uma saída daquele lugar e caminhou por um corredor com luzes neon verde ácido e rosa. Parecia uma área VIP com menos homens passeando.

"Quem é você?" Um homem alto bloqueou seu caminho.

"Eu estava apenas procurando o banheiro," ela mentiu. Embora o homem não parecesse acreditar na mentira, ela ficou grata quando ele a deixou passar.

"Por ali," ele disse secamente e apontou para trás dela. "A curva à direita."

"Oh, obrigada." Ela ofereceu um sorriso e saiu correndo, tão rápido quanto aqueles saltos desconfortáveis podiam carregá-la.

Exceto que ela não conseguiu encontrar a curva certa. O lugar parecia um labirinto para ela. Corredores escuros se conectavam com luzes fracas emitidas pelas decorações de neon. Com toda sua vida querida, ela segurou o copo em sua mão, vagando em busca da saída. E finalmente, quando encontrou uma porta, uma com superfície polida e detalhes dourados, ela empurrou.

"O que diabos!" A voz áspera cortou o ar enquanto Celestia mal conseguiu não cair de costas após colidir contra a parede de músculos duros, como um navio batendo em um iceberg.

O copo escorregou de sua mão, mas não antes de derramar seu conteúdo avermelhado na camisa de seda branca impecável do estranho.

"Eu... eu sinto muito." Em vão, ela tentou limpar a mancha da camisa dele. Como se isso fosse funcionar.

Um aperto forte como um torno agarrou seu pulso e o afastou. "Quem é você?" A voz era profunda e altamente desagradável no momento.

Até então, Celestia não tinha olhado para o homem imponente, mas quando olhou para cima—o sangue em suas veias congelou sob seu olhar gélido. Suas feições eram afiadas como se alguém o tivesse esculpido em pedra de mármore e esquecido de polir as bordas. Mas era aquele olhar ameaçador que o fazia parecer mais uma besta do que um homem.

"Eu... eu sinto muito," ela implorou sinceramente e puxou o pulso para se libertar do aperto selvagem.

Um rosnado distorceu suas feições. "Eu. Perguntei. Seu. Nome."

Como se sua língua estivesse colada na boca, ela continuou balançando a cabeça com medo de ser descoberta. Para sua grande sorte, alguém veio correndo, procurando pelo homem que a mantinha presa no momento.

"Chefe, eles estão esperando por você."

No momento em que ele olhou para o lado, Celestia aproveitou essa pequena trégua e correu. A adrenalina tomou conta de seu sistema, e ela fugiu antes que outro perigo a tocasse.

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