Oh, você é puritana!
POV de Liyah
"Ele tem o corpo mais sexy que eu já vi," ouvi Barbara gemer enquanto eu lavava silenciosamente a pilha de taças de vinho espalhadas por todo o balcão da cozinha.
O festival estava se aproximando e precisávamos finalizar os preparativos. Eu nem conseguia contar quantos pratos e copos já tinha lavado hoje, e ainda não tinha tomado café da manhã. Como se fosse um sinal, meu estômago roncou. Quase deixei cair uma taça de medo, rezando para que ninguém tivesse ouvido. Eu pagaria por isso de duas maneiras—perturbar a paz deles e ser um porco nojento, como sempre me chamavam.
Alguns segundos se passaram e ninguém disse nada. Meus ombros relaxaram.
Ok. Eu estava segura.
"Sério?!" Christy gargalhou. "Então você tem um longo caminho pela frente," disse ela em um tom cantarolado, tomando um gole de sua limonada.
Barbara fez um beicinho e cruzou os braços. "O que você quer dizer?"
Reconheci a expressão em seu rosto. Ela odiava ser a novata, a que ainda tinha muito a aprender.
Eu ainda não tinha ideia do que elas estavam falando. Mas mantive minha cabeça baixa, focada no meu trabalho. Procurei por Maria, mas não consegui encontrá-la. Não a tinha visto a manhã toda. Algo revirou no meu estômago enquanto eu esperava que ela estivesse bem. Afinal, não era incomum ela desaparecer completamente por um dia inteiro. Na maioria das vezes, ela estava trancada no porão ou sendo usada como isca no treinamento dos lobos mais jovens.
Suspirei inaudivelmente, mais uma vez esperando que ela estivesse segura.
"Quero dizer," Christy continuou, inclinando-se e abaixando a voz. "Nenhum desses lobos poderia se igualar. Quando eu tinha sua idade, havia hordas e hordas de bestas sexy prontas para te levar para a cama e te foder até perder os sentidos. E com certeza estavam muito além do seu pequeno Jerome."
Uma rodada de risadas encheu a mesa enquanto todos, exceto Barbara, concordavam.
Resisti à tentação de revirar os olhos com as palavras de Christy. Ela tinha apenas vinte e sete anos. Mas na maioria das vezes agia como se fosse uma das antigas Lunas.
"Humpf," Barbara bufou. "Então eu nasci na era errada," disse ela, lançando um olhar de soslaio para sua mãe.
Mira apenas sorriu. "Christy está certa."
"Lembra do Slade?" Paciência, uma das lobas recém-casadas, interrompeu.
"Oh. Meu. Deus." Christy suspirou, relaxando ainda mais na cadeira. "Um desperdício de pau perfeitamente bom, é o que ele era."
A gargalhada de Mira encheu o ar por alguns momentos. "O Alfa mais quente que já existiu, sem dúvida."
"Sério?" Barbara se animou. "Acho que meio que lembro de histórias de um cara chamado Nathaniel Slade ou algo assim."
"Nikolai," Christy corrigiu. "E você era apenas uma criança naquela época, então provavelmente não vai lembrar. Ninguém sabe o que aconteceu com ele. A última coisa que ouvi foi que a esposa dele morreu e depois ele desapareceu."
Eu vagamente lembrava de uma história que ouvi alguns anos atrás, sobre um alfa que era tão poderoso que havia superado o Pai como o alfa mais poderoso. Não lembro quando foi a última vez que ouvi falar dele. Tudo o que lembrava era que o Pai havia recuperado seu título depois.
"Argh, não me diga que ele é um desses namoradinhos chatos que enlouquecem quando perdem suas namoradas," acrescentou Barbara. "Isso é patético."
Todos assentiram em concordância. Todos, exceto Christy.
Ela engoliu o resto de sua limonada e começou a mastigar o limão. "Bem, ele pode ser patético, mas meu Deus, as coisas que eu deixaria aquele homem fazer comigo."
Paciência riu. "E ele com certeza saberia como lidar com uma mulher."
O resto delas gritou, rindo alto.
Baixei minha cabeça ainda mais, minhas bochechas queimando com as coisas que elas estavam dizendo. Me perguntei como elas podiam falar sobre sexo tão livremente. Por algum motivo, comecei a me sentir envergonhada e autoconsciente. Como resultado, derrubei um copo por acidente, fazendo com que todas olhassem na minha direção.
Droga.
"E você, Liyah?" Christy zombou, servindo um copo de vodca para si mesma.
Olhei para ela, minhas sobrancelhas franzidas de confusão. "O-o quê?"
Barbara deu uma risada alta, fazendo-me sentir ainda mais desconfortável.
"Já teve um homem te penetrando?" Christy perguntou, sorrindo para mim.
Por um momento, lutei para entender do que ela estava falando. Quando finalmente me dei conta, meus olhos se arregalaram, o choque quase fazendo o copo cair da minha mão.
"N-não, senhora," sussurrei, ainda sem saber como responder.
"Oh, sua puritana," Christy riu, virando-se para longe de mim e começando outra conversa com as mulheres.
Comecei a arrumar as taças de vinho depois de enxaguá-las, minhas orelhas ainda queimando.
Christy era a única loba que permanecia neutra em relação a mim. Ela não me batia nem implicava comigo, mas também não ajudava nem dizia coisas boas para mim. Mas era melhor do que ter que aguentar o bullying constante. Ela era a companheira de Mario e madrasta de Gavin, e sempre andava com Mira e o resto das mulheres.
Eu esperava não estar por perto no dia em que Christy descobrisse que Mario a estava traindo com Mira, porque inevitavelmente seria o mesmo dia em que o Pai descobriria que seu Beta estava dormindo com sua esposa.
Seria um dia infernal na alcateia Monhowl e eu com certeza odiaria estar no meio disso.
Quando terminei de lavar a louça, dei uma volta pela casa, verificando tudo o que ainda precisava ser preparado. As roupas de Barbara estavam limpas e passadas, os preparativos para a comida estavam indo bem também.
O Pai me deu permissão desinteressada para participar do festival. Como ajudante, é claro. Engoli a dor. Eu sabia que ele preferiria queimar no inferno a me apresentar a alguém como membro de sua alcateia, muito menos como sua filha.
Sacudindo os pensamentos tristes da minha cabeça, peguei a torrada fria do saco Ziploc amassado e a enfiei na boca, o sabor da comida aquecendo meu interior.