Sete
Como subir as escadas correndo com uma criança ferida não era aconselhável, deixei Ruby no sofá e subi rapidamente para descobrir o que poderia ter justificado meu nome sendo gritado daquela maneira.
"Senhorita Sands! Venha aqui agora mesmo!" Uh... ok?
Acelerei meus passos enquanto subia a escada em espiral.
"Senhorita Sands..." A pessoa na minha frente estava muito, muito zangada e... coberta de farinha e gema de ovo!
Tive que reunir todo o meu autocontrole para não explodir de rir ao ver meu empregador. Seu rosto estava completamente branco, com gotas de amarelo aqui e ali escorrendo pelo corpo, até o peito, que ele de alguma forma conseguiu deixar à mostra em menos de um minuto.
E isso fazia seu peito parecer ainda mais atraente. Como alguém consegue parecer tão sexy mesmo depois de ser furiosamente atacado por farinha e ovo?
Cruzei os braços, olhando para ele, claramente divertida, embora tentasse parecer indiferente. Quando olhei de volta em seus olhos, as únicas coisas não brancas em seu rosto, me dei conta.
Ruby! Aquela pequena de... anjo!
"Você sabe sobre isso, não sabe?" Balancei a cabeça 'não' diante de seu rosto irritado. "Não minta para mim. Eu vi aquele olhar no seu rosto. Aquele olhar de realização."
Dei de ombros. "Talvez eu tenha ouvido Ruby mencionar pegadinhas ou algo assim..." Tive que ser o mais vaga possível. Não queria que ele gritasse com a menina de novo.
"Então você decidiu ajudá-la, né?" Sua voz profunda ainda estava cheia de raiva, mas com seu rosto, era difícil discernir qualquer outra emoção.
"Eu não tive nada a ver com isso."
"Você espera que eu acredite em você depois de você ter mentido sobre o incêndio?"
Eu estava pronta para explodir com uma resposta cheia de raiva, mas me contive. Respirando fundo e soltando lentamente, respondi calmamente. "Pela última vez, eu não comecei o incêndio. Ou qualquer incêndio, aliás."
Ele resmungou e se dirigiu para a porta do seu quarto, seus movimentos liberando nuvens de pó branco no ar. Ele parecia uma fada de farinha. Ou algo assim. Ele pegou a maçaneta da porta, virou-se para mim e disse: "Quando eu terminar de tirar essa bagunça de mim, vamos ter uma conversa. Então não vá a lugar nenhum."
"O quê? Eu preciso ir para casa."
Ele suspirou alto, como se estivesse cansado da minha presença. "Tem um quarto extra que você pode usar esta noite."
"Mas eu não tenho roupas para trocar." Uma ruga apareceu em sua testa coberta de farinha.
"Apenas... apenas resolva isso. Eu preciso limpar essa porcaria de mim."
"Ok. Boa sorte!" Respondi alegremente. Ele me deu um olhar indecifrável, mas então percebi que estava me fazendo parecer cúmplice da situação atual dele, então ofereci um sorriso tímido e desci para verificar Ruby, me perguntando como ela conseguiu fazer a pegadinha.
Aproveitando o ar fresco natural que entrou pela janela que eu havia aberto antes de dormir, abracei um travesseiro contra o peito. Precisando saber a hora, alcancei o banquinho ao lado da minha cama onde normalmente colocava meu celular. Minha mão procurou a área atrás de mim sem sucesso, e eu me sentei imediatamente, com uma pequena carranca no rosto.
"Oh," sussurrei sonolenta. Certo, eu ainda estava na cobertura. Bocejando alto, alcancei meu celular, que estava do outro lado do travesseiro que eu estava abraçando. Verificando a hora, percebi que havia passado cinco horas dormindo confortavelmente em uma cama que não era minha.
Na noite anterior, tive que ficar por perto porque o Sr. Powers queria falar sobre algumas coisas, e se eu me lembrava corretamente, ele nunca falou. Ruby e eu esperamos por ele por quase duas horas, e quando percebemos que ele não ia sair, levei Ruby para a cama dela e fui para o quarto de hóspedes, precisando descansar.
Lembrando do ferimento de ontem, toquei o lado da minha testa e senti o curativo. Ainda me sentindo sonolenta, mas com a garganta seca, decidi me levantar. Coloquei os pés nos chinelos peludos que encontrei no canto do quarto.
A casa estava quieta, como geralmente estava, exceto quando a empregada vinha limpar. Decidi primeiro verificar Ruby, cujo quarto ficava em frente ao meu.
Depois de ver que ela estava dormindo tranquilamente, abraçando seu urso favorito, fechei a porta dela suavemente e me dirigi para as escadas. Ao passar pelo quarto do Sr. Powers, olhei para a porta, lembrando de como ele havia gritado com sua filha mais cedo quando ela tentou me defender. Talvez Ruby não estivesse exagerando sobre o quão pouco ele falava com ela. Eu nunca o tinha visto sentar para conversar com Ruby depois de voltar do trabalho, o que era triste.
Lembrando da pegadinha de Ruby, ri baixinho. Eu tinha esquecido de perguntar a ela como ela fez aquilo, mas ainda estava curiosa.
Chegar ao final das escadas parecia uma jornada interminável, e a caminhada até a cozinha parecia igualmente longa. Minhas pernas imploravam para eu voltar para a cama, mas a sede venceu, e continuei andando.
Quase na metade da sala de estar, ouvi um som fraco. Convencida de que tinha ouvido algo, esfreguei os olhos, tentando afastar o sono, e caminhei em direção à fonte do barulho.
Ofegando ao ver a cena diante de mim, desejando ter ignorado o som, agarrei a área do peito da minha camiseta, com a boca aberta.
"Senhorita Sands..." Sua voz era baixa e cautelosa. Ele lentamente se desvencilhou da mulher espalhada sobre o grande piano. Vislumbrei sua ereção antes que ele apressadamente puxasse as calças para cima. A mulher com quem ele estava sentada se ajeitou, ajustando seu vestido minúsculo, seus olhos cheios de desdém pela minha interrupção.
O quê? Da próxima vez, suba as escadas.
Inclinei a cabeça ligeiramente, ainda com a boca entreaberta. Eu estava sem palavras.
É porque eu vi um vislumbre de sua masculinidade? Não sei.
Ou porque acabei de ver meu chefe atraente no meio de um encontro acalorado? Realmente não sei.
Ou é o pensamento de que Ruby poderia ter sido a pessoa descendo as escadas em vez de mim? Agora, essa é a preocupação mais razoável.
Observei enquanto ele se aproximava de mim, a mulher no piano descendo para se ajustar, ainda me lançando aquele olhar. "Senhorita Sands... o que você está fazendo aqui?"
"Uh... eu vim pegar água." E acabei de ver você no ato!
"Você poderia apenas..." Ele gemeu, claramente procurando as palavras certas. "Não diga nada, ok? Você não viu nada."
Minhas sobrancelhas se ergueram instantaneamente. "Ah, eu vi algo. Definitivamente vi algo." Assenti enfaticamente para pontuar minha afirmação.
Ele passou a mão pelo cabelo, olhando para mim com uma mistura de frustração e algo mais. "Você poderia, por uma vez, cuidar da sua própria vida?" ele retrucou furiosamente.
"Uh... não, senhor, não posso. Cara," vi a carranca em seu rosto se aprofundar.
Sim, eu acabei de te chamar de cara, o que você vai fazer sobre isso?
"Poderia ter sido Ruby descendo para pegar água. Nem consigo imaginar o quão traumático seu pequeno... espetáculo teria sido para ela." Meu tom agora era sério. "Você mora com uma criança de cinco anos. Se precisar ser íntimo, encontre um lugar privado. Aqui vai uma sugestão: há uma piscina lá em cima," apontei para cima, e seu olhar seguiu minha mão, "Sim, lá em cima. Você poderia usar aquele espaço em momentos como este."
Vi seu maxilar se contrair. "Você está realmente me dizendo o que fazer agora?"
"É uma situação ganha-ganha. Você evita traumatizar Ruby e... sua experiência melhora! É verdade, a água pode melhorar. Mais movimento, mais..."
"Já chega, Senhorita Sands."
Sim, eu estava divagando. "Desculpe, senhor. Apenas... por favor, seja discreto. Pelo bem de Ruby."
Ele assentiu brevemente, dizendo, "Muito bem então." Ele sinalizou para sua companheira, que caminhou até ele com um sorriso presunçoso enquanto ele a envolvia com um braço. Observei-os subirem as escadas, presumivelmente para retomar o que havia sido interrompido pela babá. "Senhorita Sands..." De repente, lembrei-me da vez em que ele me chamou pelo primeiro nome e os arrepios que isso me deu voltaram. "Aprenda a cuidar da sua própria vida."
Dei-lhe um sorriso largo e me dirigi à cozinha. Passando pelas obras de arte, me dei conta.
Acabei de ver Dominic Powers em um momento de intimidade.
Olhei para meus braços.
Arrepios.