




CAPÍTULO 8
Ellis se acomodou na cadeira ao mesmo tempo que Vittorio mexia em seu paletó de smoking. De seu bolso, ele tirou um charuto e um isqueiro dourado, marcado com suas iniciais. Ele acendeu o charuto calmamente e então acenou para Ellis, que abriu os lábios e disse:
"Então, você vai me dizer onde está meu irmão agora?" perguntou Ellis.
"Seu irmão está seguro," respondeu Vittorio antes de dar uma tragada no charuto.
"Isso não me conforta nem um pouco, porque pelo que eu sei, um dos seus capangas disse que iria picar meu irmão em mil pedaços," argumentou Ellis, irritada. Se havia uma coisa que ela não suportava, era fumaça, e aquele homem parecia estar fumando só para provocá-la.
"Ezio não é um capanga," corrigiu Vittorio após exalar a fumaça.
"Eu não me importo com o que ele é. A única coisa que eu quero é meu irmão... inteiro. Não em 500.000 pedaços como seu capanga disse que faria," retrucou Ellis, respirando fundo. "Então, que tal irmos direto ao ponto dessa conversa, porque a polícia deve estar me procurando."
"Procurando você?" questionou Vittorio, parando o charuto entre os dedos. Ele sorriu e deu outra tragada antes de perguntar através da fumaça expelida, "Por que eles estariam procurando você?"
"Bem, eu não sei se você está bem informado, mas eu estava na delegacia quando seu motorista veio me buscar. Eles devem estar curiosos para saber por que eu saí da delegacia quando estava prestes a denunciar um assassinato envolvendo você e sua gangue, equipe, máfia, ou seja lá o que vocês são," explicou Ellis com um sorriso irônico nos lábios que não passou despercebido por Vittorio. "Entendeu agora?"
"Entendi, mas eu não sabia que convidar alguém para almoçar era considerado um crime..." disse Vittorio, inclinando-se em direção a Ellis. "Pelo que eu sei, foi isso que fizemos, certo?"
"Em parte, mas nós dois sabemos que estou aqui porque você sequestrou Jason," corrigiu Ellis.
"Eu não sequestrei seu irmão, Srta. Barker," afirmou Vittorio enquanto se afastava lentamente.
"Não?" repetiu Ellis, chocada com a audácia de Vittorio.
"Claro que não. Eu nunca sequestraria alguém," disse ele enquanto pegava o charuto e o apagava no prato. "Seu irmão está... sob custódia."
"Custódia? Você só pode estar brincando comigo," disse Ellis, indignada.
"Eu não estou brincando, Srta. Barker," respondeu Vittorio, sério. "Esta é a audiência de custódia dele, e você é a advogada dele."
"E você seria o quê? O juiz?" perguntou Ellis, revoltada.
"Também," respondeu Vittorio. "Mas eu também sou uma vítima do seu irmão."
"Uau, justo quando eu penso que você não pode dizer nada mais absurdo... agora você é a vítima," comentou Ellis, rindo nervosamente.
"Srta. Barker, veja bem, nós dois temos algo em comum..."
"Sim, meu irmão. Mas eu garanto que se você o soltar, nunca mais teremos nada em comum," prometeu Ellis, séria.
"Eu acredito em você, mas o que temos em comum é nossa fraqueza. Nosso calcanhar de Aquiles é nossa família," continuou Vittorio, gesticulando com as mãos. "Você é capaz de qualquer coisa pelo seu irmão, que é sua única família. E eu sou capaz de qualquer coisa pela minha. Mas sua família se envolveu nos negócios da minha família. E assim como você tem esse instinto protetor com a sua, eu tenho com a minha. Se fosse algo comigo, eu poderia deixar passar, mas foi com minha família, e pela família, somos capazes de qualquer coisa, certo?"
"Então, em resumo, você está aqui apenas para me dizer que não vai soltar meu irmão porque ele te deve dinheiro?" perguntou Ellis.
"Não, como eu disse, esta é a audiência de custódia do seu irmão. E você é quem vai me dizer se devo soltá-lo ou não," informou Vittorio.
"Solte-o," disse Ellis.
"Não é tão simples assim, Srta. Barker," disse Vittorio, balançando a cabeça. "Eu preciso de garantias..."
"Garantias? Que garantias seriam essas?"
"Quem vai pagar a dívida?" perguntou Vittorio. "Será você ou seu irmão? E antes de responder, se você disser que será seu irmão, eu sei que ele não pode pagar... E então o acordo seria com a morte dele. Em segundo lugar, como você vai pagar a dívida dele? Se você puder arcar com a dívida, eu posso ser mais flexível com o acordo e devolver seu irmão, ileso. Vê como sou um juiz legal?"
"A única opção é eu assumir a dívida," disse Ellis, olhando para Vittorio.
"Isso mesmo!" exclamou Vittorio, animado ao ver Ellis indo exatamente pelo caminho que ele queria.
"Ok, eu vou assumir a dívida. O que eu tenho que fazer?" perguntou Ellis, balançando a perna nervosamente.
"O que você estaria disposta a fazer?" perguntou Vittorio, inclinando o torso em direção à mesa.
"Se você entregar meu irmão hoje," começou Ellis, aproximando-se da mesa até que seu rosto estivesse muito próximo do de Vittorio. "Eu farei qualquer coisa para pagar a dívida dele."
"Qualquer coisa é muita coisa, Srta. Barker," repetiu Vittorio, olhando para os lábios vermelhos e entreabertos de Ellis. "E eu terei total poder para escolher a forma como você pagará a dívida. Está certo? Você fará qualquer coisa?"
Ellis respirou fundo, por algum motivo, ela sabia que isso poderia não acabar bem para ela. Enquanto torcia os lábios levemente, pensando nas palavras dele, Amorielle sentiu um impulso de beijá-los. "O que está acontecendo comigo?" pensou Vittorio ao perceber que ainda estava olhando para os lábios de Ellis.
"Tudo," repetiu Ellis, chamando a atenção de Vittorio. Ela se afastou dele e continuou, agora com os braços cruzados defensivamente. "Mas eu quero meu irmão em casa antes das 10 horas da noite, entendeu?"
"Considere feito, Srta. Barker," respondeu Vittorio com seu melhor sorriso. "Rocco!"
Em questão de segundos, Rocco entrou no espaço e parou ao lado de Ellis.
"Rocco, leve a Srta. Ellis para casa," pediu Vittorio, observando Rocco puxar a cadeira de Ellis enquanto ela se levantava, surpresa com o gesto. "Entrarei em contato, Srta. Barker. Ah, e peço que não fale com ninguém sobre nosso almoço... Eu não gostaria de revogar os termos da nossa audiência..."
"Como desejar, senhor...?" começou Ellis, percebendo que não se lembrava do nome dele.
"Amorielle. Sr. Vittorio Amorielle. Você esqueceu meu nome, Srta. Barker?" perguntou Vittorio, surpreso, enquanto se levantava.
"Desculpe, mas até 24 horas atrás, você não era ninguém para mim," explicou Ellis, levantando-se. Ela olhou para ele com certo desprezo ao dizer, "E espero que continuemos assim em breve."
"E eu espero completamente o contrário," disse Vittorio, levantando a mão em direção a Ellis.
Ellis olhou para a mão dele e, sem apertá-la, afastou-se da mesa, acompanhada por Rocco, enquanto era observada por Vittorio, que já pensava em quando teria a oportunidade de encontrar a morena de olhos castanhos novamente, os olhos mais vívidos que ele já tinha visto em sua vida.
Ellis observava a paisagem mudar enquanto o carro percorria a cidade. Apesar de seu desejo, ela não se sentia completamente confiante sobre as palavras trocadas com Vittorio. Além do sentimento de desprezo por aquele homem que só lhe trouxe problemas desde que apareceu em sua vida. Talvez por isso ela não conseguia parar de pensar nele, na maneira como sua voz profunda dominava todo o ambiente e naquela calma que só de pensar nela deixava Ellis irritada.
"Chegamos," anunciou Rocco ao abaixar a janela interna de acesso. Ele estacionou a alguns metros seguros da casa de Ellis. "Vou deixá-la aqui, pois você tem uma visita."
Suas palavras fizeram Ellis olhar em direção à sua casa e ver um carro de polícia estacionado do lado de fora. O oficial Smith estava do lado de fora, analisando a casa da jovem.
"E quanto ao meu irmão?" Ellis perguntou a Rocco. "Quando terei ele de volta?"
"Como Don Vittorio disse: Considere feito, Srta. Barker," respondeu Rocco, destravando a porta de Ellis. "Tenha uma boa tarde."
Ellis saiu do veículo, que se afastou lentamente como se Rocco estivesse observando o carro cautelosamente. Ela caminhou com certa pressa e só foi notada por Smith quando já estava na calçada em frente à sua casa.
"Srta. Barker?" perguntou Smith, olhando ao redor surpreso. "Onde você esteve?"
"Almoçando..." respondeu Ellis, com os braços cruzados. "O que você quer, oficial?"
"O que eu quero?" questionou Smith, passando a mão pelo cabelo loiro. "Bem, eu não consegui falar com seu irmão ontem e você veio à delegacia hoje para denunciar... O que está acontecendo, Barker?"
"Nada, eu só vim avisar que está tudo bem e você não precisa se preocupar," mentiu Ellis. "Depois fui almoçar."
"Desculpe, mas não parecia que você estava lá só para isso," retrucou Smith. Ele deu dois passos em direção à casa de Ellis enquanto dizia, "Onde está seu irmão? Eu preciso falar com ele."
"Ele não está aqui," disse Ellis, posicionando-se na frente do policial. "Jason foi para o serviço comunitário..."
"Mentira. Eu passei pelo local de referência, e seu irmão não pôs os pés lá hoje," revelou Smith, encarando Ellis severamente. "Saia da frente, Srta. Barker, eu preciso revistar a casa. Se Jason Barker não estiver aqui, ele será considerado um fugitivo da justiça, e sua liberdade condicional será revogada."
"Não," recusou Ellis, posicionando-se na frente do policial. "Por favor, não faça isso."
"Você está obstruindo uma operação policial, Barker," explicou Smith. "Saia da frente, ou terei que prendê-la por desacato, por ser cúmplice de um fugitivo e obstrução da justiça."
"Então pode me prender, porque eu não vou deixar você entrar na minha casa," respondeu Ellis, estendendo as mãos em direção ao policial.
"E aí, pessoal, o que está acontecendo aqui?" Jason perguntou, abrindo a porta da casa.