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CAPÍTULO 7

A aurora sucumbiu ao nascer do sol e Ellis permaneceu sentada na soleira da porta, esperando por um milagre. Um milagre que seria seu irmão virando a esquina e caminhando lentamente em sua direção, já curvado com os ombros em antecipação à palestra de Ellis Barker sobre responsabilidade e pontualidade. Ellis deixou as lágrimas nos cantos dos olhos escorrerem enquanto sua mente lhe mostrava a cena familiar de seus irmãos.

Então, a garota de cabelos castanhos enxugou o rosto e se levantou. Ficar ali era torturante demais e ela precisava fazer algo, qualquer coisa.

Ela entrou e decidiu limpar todos os cômodos enquanto esperava... Esperava pela patrulha do Oficial Smith, ou pelo chefe de Ezio, que sem dúvida enviaria uma resposta que não era a que Ellis ansiava.

A casa estava completamente limpa ao meio-dia e ainda nada do Oficial Smith ou do chefe de Ezio, deixando Ellis preocupada. Ela ligou a televisão para tentar se distrair, mas não estava preparada para a notícia que veio a seguir:

"Partes de um corpo foram encontradas presas em um dos pilares da Ponte do Brooklyn. A polícia está no local tentando identificar os restos mortais." relatou a repórter negra no início da ponte, enquanto a polícia fechava o acesso à área. "Ligando a região à Ilha de Manhattan, a ponte é um dos principais cartões-postais da cidade..."

Ellis desligou a televisão em choque. Ezio provavelmente havia espalhado os restos de seu irmão pelo bairro. A expressão de preocupação desapareceu de seu rosto e foi substituída apenas por ódio. Se Ezio antecipou o que faria, agora ela só teria que levá-lo para o inferno. Ele e qualquer um que ficasse em seu caminho.


A delegacia estava em caos quando Ellis chegou. Os policiais se moviam em completo desespero. Não era surpresa. Há anos, um corpo não aparecia na Ponte do Brooklyn, e o prefeito certamente lançaria uma caça às bruxas em busca de justiça pela falta de patrulha na área. No entanto, nada disso importava para Ellis. Ela só buscava vingança por seu irmão, e o único que poderia ajudá-la era Smith, que estava sentado em sua mesa fazendo inúmeras ligações desde que o corpo foi encontrado. Ele estava no meio de uma quando parou para ver Ellis Barker se aproximando com o olhar de alguém que havia passado a noite em claro, mas ao mesmo tempo com determinação.

"Senhorita Barker, o que está fazendo aqui?" Smith perguntou antes de colocar o telefone no gancho. "Onde está Jason?"

"Oficial Smith, estou aqui porque preciso falar sobre Jason," Ellis começou lentamente, ainda de pé. Ela controlou as lágrimas que estavam presas em sua garganta enquanto tentava falar sobre a noite passada. "Jason..."

"Smith, venha!" O Comissário chamou, saindo de seu escritório e gesticulando para o oficial.

"Sim, senhor," Smith concordou, levantando-se. Ele olhou para Ellis, que parecia estar pedindo ajuda, e então disse enquanto colocava a parte superior de seu uniforme, "Fique aqui, e eu a atenderei em breve, Senhorita Barker."

Ellis simplesmente assentiu e observou enquanto Smith caminhava em direção ao Comissário, que o segurou pelas costas e o conduziu para seu escritório.

"Sabe, este é um lugar terrível para você falar sobre seu irmão," uma voz masculina fez Ellis se virar rapidamente, assustada. O lugar de Smith foi ocupado por um homem de cabelos pretos curtos, olhos castanhos dramáticos e uma barba bem cuidada. Ele até lembrava um pouco alguém que Ellis já conhecia, mas ela não conseguia se lembrar.

"Como você sabe sobre meu irmão?" Ellis perguntou, levantando o tronco em direção ao homem. "O que você sabe sobre ele? Diga-me, ou eu chamarei Smith..."

"O que eu sei é que seu irmão está vivo," o homem revelou, recebendo um olhar aliviado de Ellis. Ele acendeu um cigarro e continuou, "E para que ele continue assim, você deve sair da delegacia agora e entrar no carro preto estacionado do outro lado da rua."

"O quê?" Ellis questionou, sem entender.

"Vá agora, Senhorita Barker," o homem ordenou, levantando-se da mesa.

Ele passou por Ellis, deu-lhe um sorriso, e então continuou caminhando em direção a Smith, que já estava saindo do escritório do Comissário. A jovem observou os dois homens conversando, e então, quando percebeu que Smith estava olhando para ela, começou a caminhar em direção à porta da delegacia.

"Senhorita Barker!" Smith chamou, caminhando em direção à jovem que começou a acelerar o passo. "Senhorita Barker!"

Ele continuou caminhando em direção à saída, passando entre as mesas até chegar à porta, que abriu com toda a força, e tudo o que viu foi Ellis atravessando a rua apressadamente. O oficial já estava abrindo os lábios para chamá-la novamente quando a viu entrar no carro preto que acelerou e foi embora.


O vidro escuro impedia Ellis de identificar quem estava dirigindo o carro que seguia para o oeste na Blake Avenue em direção a Manhattan. Foram os trinta minutos mais angustiantes para Ellis até agora, e ela estava completamente arrependida de ter concordado em entrar naquele carro.

Até que ela viu pela janela do carro que eles estacionaram em frente ao Carbone, um restaurante sofisticado em Greenwich Village. O lugar era tão exclusivo que, para reservar uma mesa, o cliente tinha que fazê-lo com 30 dias de antecedência. E ela sabia disso precisamente por causa de um terrível primeiro encontro que teve naquele lugar com um idiota que fez questão de jogar na cara dela quando exigiu que fossem a um lugar mais íntimo após a refeição.

"Idiota," Ellis sussurrou, observando a porta do carro se abrir. Sua expressão foi tomada pela surpresa ao ver a figura masculina que apareceu. "Você?"

"Bem-vinda, Senhorita Barker," disse Rocco, abrindo a porta para ela.


Rocco conduziu Ellis pelo salão principal com azulejos que lembravam os vários restaurantes retratados em filmes de máfia, em direção à melhor mesa do lugar, onde dois homens de smoking conversavam. Ellis se lembrava muito bem de quem estava sentado.

"Grazie mille per averci dato questo tavolo dell'ultimo minuto, Mario. So che il tuo ristorante è affollato. In ogni caso, ho avuto bisogno di pranzare con la mia fidanzata," disse Vittorio ao homem em pé.

"Sempre ao seu serviço, Don Vittorio," respondeu Mario, apertando a mão de Amorielle antes de caminhar em direção a outras mesas e cumprimentar seus clientes.

Vittorio olhou para Ellis, que estava de pé, olhando para o homem que provavelmente era responsável por tudo.

"Por favor, sente-se, Senhorita Barker," pediu Vittorio, estendendo a mão em direção à cadeira com encosto em forma de coração à sua frente.

Sem esperar pela resposta de Ellis, Rocco puxou a cadeira e empurrou a jovem pelos ombros, forçando-a a sentar-se sem nenhum cuidado.

"Ei!" protestou Ellis enquanto era empurrada com a cadeira e tudo em direção à mesa.

"De nada," disse Rocco, afastando-se da mesa deles.

"Que maneira de tratar uma convidada," disse Ellis, irritada, para Vittorio.

"Desculpe-me, mas foi você quem solicitou esta reunião..." argumentou Vittorio enquanto apreciava os antipasti na mesa: salame; pão; giardiniera de couve-flor oleosa polvilhada com pimenta; e pedaços de parmesão do tamanho de um punho.

"Onde está meu irmão?" perguntou Ellis, furiosa e querendo jogar tudo o que tinha na mesa na cara de Vittorio. "O que você fez com ele?"

"Senhorita Barker, na minha família, não discutimos negócios durante as refeições. Não é apropriado," explicou Vittorio, limpando o canto da boca com o guardanapo. "Venha, sirva-se."

"Não estou com fome," rebateu Ellis, recusando a comida. "Onde está meu irmão?"

"Não minta para mim. Eu sei que você deve estar com fome... Quando foi a última vez que você comeu?" perguntou Vittorio pensativamente. Ellis percebeu que não era realmente uma pergunta dirigida a ela, com o que veio a seguir: "Ah sim, o café da manhã de ontem antes de ir ao banco..."

"Onde está meu irmão?" repetiu Ellis, severamente.

"Eu me pergunto como você ainda está de pé, Senhorita Barker," disse Vittorio antes de morder um pedaço de pão com salame por cima.

"Por favor, me diga onde está Jason?" implorou Ellis, séria.

"Um ser humano normal precisa comer pelo menos três refeições por dia..." continuou Vittorio a explicar, ignorando as palavras de Ellis.

"Onde diabos está meu irmão?" gritou Ellis, batendo na mesa.

"O que isso significa?" perguntou Ellis, sem se importar.

"Uma vez chefe, sempre chefe," respondeu Vittorio. "Minha bisavó era chef de cozinha em um restaurante no norte da Itália. Meu bisavô adaptou o lema de sua esposa para seus negócios e se tornou: Un débito non pagato sarà per sempre un debito... Uma dívida não paga será sempre uma dívida. E alguém na família sempre terá que cobrá-la."

"Então, depois de dois anos, você decidiu cobrar a dívida do meu irmão, ou matá-lo, é isso?" questionou Ellis, irritada.

"Um momento, Senhorita Barker," pediu Vittorio, que acenou levemente para Caesar.

Rapidamente, todos, clientes, funcionários e até os seguranças de Vittorio deixaram o salão. Ellis observou a comoção, assustada. Em todos aqueles anos, ela nunca havia testemunhado o que um simples aceno de cabeça poderia fazer, especialmente quando vinha de alguém tão poderoso. E o homem à sua frente, que estava terminando seu café, era um homem poderoso. Vittorio sorriu para Ellis e então continuou:

"Agora, Senhorita Barker, vamos falar de negócios."

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