




CAPÍTULO 4
Jason Barker terminou de roer a unha do dedo mindinho, a última que restava, enquanto esperava pacientemente por sua irmã.
"Relaxa, ou você vai ficar sem dedos," disse Joy, a assistente social, colocando a mão sobre a do jovem.
"Ela está atrasada," disse Jason, levantando-se da cadeira. "Ellis deveria estar aqui há uma hora."
"Provavelmente é só o trânsito," explicou Joy, levantando-se também. Ela caminhou até Jason e continuou: "Tenho certeza de que Ellis tem um bom motivo para estar atrasada."
"Seja qual for o motivo, não sei se eles..." Jason começou, acenando com a cabeça em direção aos dois policiais à paisana sentados no sofá. "Não sei se eles vão aceitar isso bem."
A porta da recepção da clínica foi praticamente derrubada por Ellis, que se aproximou, ofegante. Sim, ela sabia que estava atrasada e que isso nem deveria ter sido uma opção. Não hoje.
Ellis se aproximou do irmão, que a olhava nervoso, mas ainda assim animado. Ele caminhou rapidamente para abraçar a irmã, que também estava emocionada. Foram dois anos de provação, mas finalmente tinham conseguido. O momento poderia ter sido melhor para ambos, se não fosse pela tosse seca deliberada do Oficial Smith, interrompendo o abraço deles. O oficial se aproximou com seu parceiro e então disse:
"Senhorita Barker, como você sabe, seu irmão está em liberdade condicional após ser pego organizando um jogo de pôquer ilegal e também com uma grande quantidade de heroína."
"Eu já disse que as drogas não eram minhas..." retrucou Jason, sendo contido pelo toque da irmã em seu braço. "O que está acontecendo?"
"O acordo feito com a promotoria exigia que ele passasse dois anos em uma clínica de reabilitação, além de 300 horas de serviço comunitário. Ele também será monitorado por mim, seu oficial de condicional," continuou Smith, olhando para Ellis e Jason. "Todos os dias entrarei em contato com os números fornecidos pela Senhorita Barker para comunicar-me com Jason e verificar sua localização, começando hoje às 23h. Se ele não responder, entenderemos que está violando sua condicional e ele será levado diretamente para a prisão. Fui claro?"
"Entendi, senhor," disse Ellis.
"Qualquer coisa, Senhorita Barker, peço que entre em contato comigo," disse Smith, entregando seu cartão a Ellis. Ele então se virou para Jason e disse: "Fique longe de problemas, Barker."
Os dois policiais saíram, deixando os irmãos se encarando. Joy se aproximou dos dois com seu belo sorriso e falou com eles:
"Ellis, preciso que você assine o formulário de liberação do seu irmão. Depois, preciso que vocês saiam daqui e comecem sua nova vida. Vocês dois merecem essa segunda chance."
"Obrigada, Joy," disse Ellis, abraçando Joy.
Aquele abraço não era nada comparado a tudo que Joy tinha feito pelos irmãos. Aquela mulher de sessenta anos, com cabelos grisalhos e um sorriso afetuoso, tinha sido a mãe que os dois precisaram durante aqueles dois anos. Ela era uma daquelas pessoas que Ellis fazia questão de manter em seu coração para sempre.
Ellis então se aproximou da recepção e assinou a liberação de seu irmão. Os dois sorriram um para o outro e depois saíram da clínica para uma nova vida.
Ao norte do Brooklyn, Brownsville é um gueto que tem a reputação de ser um dos bairros mais perigosos de Nova York. Seu nível de violência - entre crimes, contravenções, agressões, drogas e tiroteios - está entre os mais altos de Nova York. E foi lá que Ellis e seu irmão Jason foram criados por seus pais. Muitos diriam que o caminho de Jason era natural, dado o bairro. No entanto, Ellis sabia do esforço que seu pai, Jack Barker, tinha feito para garantir que seus filhos tivessem uma educação decente e não se aventurassem naquele mundo que os cercava.
Parecia que Jack tinha conseguido, mas quando ele se tornou parte das estatísticas de tiroteios, tudo mudou. Ellis tentou cuidar da casa, mas Jason sabia que sua irmã sozinha não conseguiria. No início, ele até procurou um emprego, mas tendo acabado de terminar o ensino médio, sem experiência e ainda morando em Brownsville, ele sentiu na pele que não havia outra chance a não ser seguir o caminho mais prático.
No começo, Jason não gerenciava os jogos; ele apenas recebia os jogadores, enviava mensagens sobre os pontos de encontro. No entanto, à medida que ganhava a confiança dos jogadores, decidiu assumir o negócio, mesmo sabendo que haveria consequências.
Ele começou a operar jogos ilegais e até usou os contatos de seus antigos chefes para adquirir drogas, o que era uma maneira de estimular ainda mais os jogadores a permanecerem nas mesas de pôquer.
Sua ambição falou mais alto, e ele pagou o preço. Se você olhar mais de perto, foi um preço baixo, porque as pessoas de quem ele roubou os jogadores poderiam tê-lo matado.
"Sorte," Jason sussurrou enquanto olhava pela janela do carro em direção à velha casa onde cresceu.
"O que você disse?" Ellis perguntou, desligando o carro.
"Eu disse que tenho sorte de estar vivo," respondeu Jason antes de sair do carro.
"Sim," concordou Ellis, saindo do carro. Ela pulou nas costas do irmão e continuou falando, "Você tem uma grande oportunidade de recomeçar agora."
"É," respondeu Jason, carregando sua irmã até a porta. "Só quero ver quem vai querer um condenado como empregado."
"Primeiro, você precisa se concentrar no trabalho comunitário," lembrou Ellis, abrindo a porta da casa com alguma dificuldade. Isso a lembrou de que precisava trocar a fechadura o mais rápido possível, ou ficaria na rua. "Joy conseguiu um emprego para você no centro comunitário do bairro. Você será o zelador deles."
"Ótimo," respondeu Jason sem muito entusiasmo, jogando-se no sofá de casa. Ele pegou o controle remoto da TV e a ligou. "Mal posso esperar."
"Jason, você precisa ver tudo isso como uma coisa boa," explicou Ellis, parando em frente à TV. Ela se sentou à mesa em frente e então disse: "Irmãozinho, você está livre!"
"Livre, mas com um preço na minha cabeça," retrucou Jason. "Eles vão vir atrás de mim, Ellis."
"Não, não vão," respondeu Ellis, segurando a mão do irmão.
"Como você pode ter tanta certeza?" Jason perguntou, sem entender como sua irmã podia estar tão certa de que os homens a quem ele devia drogas e de quem roubou clientes não buscariam vingança.
Antes que ela pudesse responder, a campainha tocou. Talvez algum vizinho curioso tivesse visto eles chegarem e tivesse vindo confirmar as fofocas do dia. Ellis se levantou relutantemente da mesa de centro e caminhou até a entrada, onde foi surpreendida pela visita de Troy Lamar.
Troy Lamar era um garoto negro magro, totalmente oposto a Jason, que tinha sido seu melhor amigo desde a infância. Ao contrário de Jason, Troy decidiu seguir uma vida acadêmica e foi para a faculdade comunitária fazer um curso que Ellis não conseguia lembrar.
"Oi, Troy, o que você está fazendo aqui?" perguntou Ellis antes de abrir completamente a porta.
"É verdade? O Jason voltou?" o garoto perguntou animado.
"Sim," respondeu Ellis.
Como um raio, Troy entrou na casa e caminhou em direção à sala, onde encontrou seu melhor amigo. Os dois se abraçaram, uma cena que emocionou Ellis, que assistia a tudo da porta da sala. Eles colocaram a conversa em dia, com Troy contando a Jason como estava perto de se formar, enquanto Jason falava sobre a vida na clínica. Enquanto isso, Ellis preparava um lanche para os garotos, algo que costumava ser rotina em sua casa e de que ela sentia falta. Ela estava terminando de fazer o sanduíche do irmão quando o telefone da casa tocou. Ela caminhou em direção à sala onde os dois garotos agora jogavam videogame e atendeu:
"Alô, quem fala? Olá, Sr. Williams," cumprimentou Ellis ao reconhecer a voz implacável de seu chefe do restaurante. "Não, eu não estou na escala hoje, meu irmão recebeu alta... Sim, eu já peguei meu irmão... Ele já está em casa... Sr. Williams, eu expliquei que não podia... Eu sei que estão com falta de pessoal, mas não posso deixar meu irmão sozinho... Eu sei que você... Eu entendo..."
"O que foi?" Jason perguntou, voltando sua atenção para a conversa.
"Meu chefe quer que eu vá trabalhar, mas eu já disse a ele que fui liberada para ficar com você hoje," explicou Ellis enquanto cobria o bocal do telefone. "Mas ele continua insistindo que dois funcionários faltaram e ele precisa de mim. Ele até dobrou o pagamento das horas extras."
"Mana, você deveria ir," disse Jason, olhando para a televisão.
"E deixar você sozinho na sua primeira noite em casa? De jeito nenhum," recusou Ellis, balançando a cabeça.
"Ele não está sozinho, eu estou aqui," argumentou Troy antes de fazer um movimento que o faria ganhar contra Jason. "E ganhando do Jason de novo."
"Eu não sei... Não acho que seja uma boa ideia."
"Mana, só vai. Precisamos do dinheiro," disse Jason, colocando o controle na mesa de centro. Ele se aproximou da irmã, segurou seus ombros e disse: "Eu vou ficar bem..."
"Eu não sei..."
"Ellis, são só algumas horas. Você sabe que Troy e eu podemos jogar por horas a fio. Quantas vezes o papai chegava em casa e ainda estávamos jogando?"
"Eu sei, mas as coisas estão um pouco diferentes agora," Ellis começou a dizer quando notou a culpa no rosto do irmão.
"Confie em mim, Ellis," implorou Jason, olhando para sua irmã. "Por favor..."
"Tá bom," cedeu Ellis, voltando ao telefone. "Sr. Williams, pode contar comigo."
Ela desligou o telefone, foi para o quarto e se arrumou. Em poucos minutos, já estava na sala de uniforme, dando todas as instruções para os dois garotos que ouviam atentamente.
"Jason, não se esqueça que o Smith vai ligar às 23h, então, não importa o quanto você esteja concentrado, por favor, atenda," ela lembrou ao irmão pela milésima vez.
"Tá bom," disse o irmão.
"Ótimo. Estou indo, mas por favor, me ligue se acontecer qualquer coisa," pediu Ellis novamente.
Ela caminhou em direção à saída, acompanhada pelo irmão que trancou a porta cuidadosamente. Ellis foi para o carro com a sensação de que algo ruim estava prestes a acontecer.
Hambúrgueres, fatias de pizza, milkshakes, mesas cheias - essas eram as coisas que preenchiam a mente de Ellis enquanto ela corria pelo restaurante tentando compensar a falta de pessoal. A vantagem de um restaurante movimentado era que as horas passavam rapidamente. Ela nem tinha percebido que já haviam se passado quatro horas.
"Barker," chamou o Sr. Williams, encostado no caixa.
Ellis se aproximou com seus patins e bandeja, notando que seu chefe já estava separando sua parte das gorjetas do dia. Ela já imaginava que com aquele dinheiro levaria seu irmão para comprar roupas e sapatos novos.
"Obrigado pelo apoio," disse Williams antes que a funcionária saísse.
Ellis correu para casa para chegar antes das 23h. Ela sabia, no fundo, que seu irmão provavelmente não ouviria o telefone tocar e acabaria sendo pego jogando videogame.
Assim que parou em frente à casa e viu todas as luzes apagadas, teve certeza de que seu irmão estava completamente focado no jogo. Pelo menos até ela chegar à porta e ver que estava apenas fechada, e não trancada...
"Jason?" chamou Ellis ao entrar na casa e acender as luzes.
Não havia sinal de seu irmão na sala, então ela se dirigiu ao quarto dele, mas ele também não estava lá.
"Jason!" chamou Ellis novamente ao entrar em seu próprio quarto, que também estava vazio. "Jason, onde você está?"
Ellis procurou em todos os cômodos enquanto chamava por ele, mas não houve resposta. Seu estômago começou a revirar, temendo o pior, mas o pior ainda estava por vir.
TRIM! TRIM! TRIM! O telefone na sala começou a tocar.