Capítulo 1
AMELIA
Aqui estou eu, de volta ao meu antigo quarto na casa da minha mãe, na Alcateia da Noite. Meu quarto parece menor do que antes, sinto que estou ficando sem espaço, tanto literal quanto figurativamente. O quarto é muito simples, com uma cama de solteiro, uma escrivaninha e uma biblioteca bem abastecida. Na verdade, a biblioteca transborda até debaixo da cama, na minha mesa de cabeceira e na sala de estar.
Sinto que deixei este lugar há uma eternidade, mas foram apenas três anos, mesmo que eu sempre voltasse durante as férias de verão para visitar minha mãe. Estudar em outra cidade foi a melhor decisão que já tomei. E pela primeira vez na vida, eu me senti no meu lugar na Universidade, cursando Literatura Inglesa.
Crescer como humana em uma alcateia de lobisomens não foi fácil todos os dias, porque eu nunca me senti realmente "normal", o que é estranho, tenho que dizer, porque o que é mais normal do que um humano? E você deve estar se perguntando... espera... ela é humana e vive em uma alcateia? Bem, sim, a família da minha mãe se estabeleceu nessas terras e viveu em harmonia com os lobisomens por décadas e nós ficamos lá.
Quando todos começaram a se transformar pela primeira vez e depois começaram a treinar, eu estava estudando, lendo e sonhando com um lugar onde eu pudesse simplesmente me encaixar. Pelo menos eu tinha minha melhor amiga, Sophia, comigo. Ela também é uma transformadora, mas nunca me tratou de forma diferente. Não como todos os outros. Sempre me senti próxima dela desde que éramos pequenas. As pessoas costumavam dizer que éramos como gêmeas porque temos apenas oito meses de diferença, temos o mesmo cabelo preto, os mesmos olhos castanho-esverdeados, mas ela é mais magra e um pouco mais alta do que eu. Eu sou mais do tipo comum.
Sophia encontrou seu companheiro na semana passada, Alec. Ele é o Beta de uma alcateia que estava visitando aqui com seu alfa. Como o pai de Sophia, David, é o Alfa da nossa alcateia, eles se conheceram e, obviamente, foi amor à primeira vista.
Pode ser ótimo simplesmente conhecer alguém e saber que essa pessoa vai te amar e cuidar de você pelo resto da vida, não importa o que aconteça. Sempre senti inveja dos lobisomens por isso, nem tanto pela força ou pela velocidade, mas pelo vínculo de companheiro. Pode ser porque minha mãe sempre foi solteira e me criou sozinha, já que meu pai morreu durante a gravidez dela, eu sempre sonhei com um amor de conto de fadas. No mundo humano, você tem que beijar um monte de sapos antes de encontrar seu Príncipe Encantado e, honestamente, não estou exagerando. Todos os garotos com quem já saí só queriam uma coisa e uma coisa apenas. Com certeza você pode adivinhar o que quero dizer? Não? Bem, sexo. É tudo o que eles se importam e eu vi garotas ao meu redor que, uma vez que deram o que eles queriam, são covardemente abandonadas. Então, fiz uma promessa a mim mesma, de não dar minha virgindade a qualquer um. O homem a quem eu me entregaria teria que ser excepcional e provar para mim que eu não era apenas um brinquedo. É por isso que, aos vinte e um anos, ainda sou virgem.
Ouço uma batidinha na porta e minha mãe entra.
"Oi, querida", ela para e me olha enquanto verifico meu reflexo no espelho, "Você está linda". Ela termina após uma pausa.
Viro-me para encará-la. "Eu não tinha certeza sobre a blusa", digo olhando para minha roupa. Estou usando uma regata de renda preta com um decote discreto na frente e transparente nas costas, que coloquei dentro do jeans, com um par de sapatos de salto preto. Estou com uma maquiagem leve e deixei meu cabelo natural com ondas. Simples e eficaz.
"Não. Não, não mude nada, você está perfeita." Ela diz, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Nós olhamos no espelho e, se eu provavelmente tenho os olhos do meu pai, com certeza tenho o sorriso da minha mãe.
"Você sempre diz isso." Reviro os olhos.
"Porque você é minha filha linda." Ela me diz mais uma vez.
"Obrigada, mãe."
"Então você vai conhecer o companheiro da Sophia hoje à noite?"
"Sim, vou. Estou tão feliz por ela. Ele parece ser um cara muito legal pelo que ela me contou. Você já o conheceu?"
"Sim, ele veio ao Diner com a Sophia dois dias atrás e ela o apresentou para mim."
Minha mãe é dona de um Diner na cidade que é muito apreciado pelos membros da alcateia. Todos os hambúrgueres e milkshakes são deliciosos. Nunca comi algo melhor do que o que sai dessa cozinha.
"Serão só vocês três hoje à noite?"
"Não, o Tom também estará lá. Na verdade, ele vai me buscar em alguns minutos."
Ouvimos a campainha tocar e eu olho para minha mãe.
"Você pode abrir a porta para ele, por favor? Vou terminar de me arrumar e já desço."
Minha mãe sai do meu quarto e eu dou o toque final na minha maquiagem leve com um batom vermelho, pego meu blazer vermelho e minha bolsa preta e desço para me juntar a eles.
Enquanto desço as escadas, ouço um assobio. E o irmão da Sophia está ao pé das escadas. Sophia se parece muito com o pai deles, mas Tom é o retrato da mãe deles, Luna Victoria. Ele é alto, atlético, seu cabelo loiro está perfeitamente estilizado, longo em cima e curto dos lados, olhos azuis e ele tem um sorriso que faz todas as garotas caírem. Esta noite, como de costume, ele optou por um visual chique e casual, jeans, uma camisa branca e completou o visual com sapatos sociais pretos.
"Bem, cabeçuda, você está bonita." Ele afirma, olhando para mim de cima a baixo. Eu o agradeço e o abraço.
"Depois de você, madame." Tom diz, abrindo a porta para mim.
"Divirta-se esta noite e mande um oi para a Sophia", minha mãe diz enquanto eu saio.