Read with BonusRead with Bonus

Capítulo 8: Fingir

Hana

"Hana? O que você está fazendo aqui?"

Ouço uma voz abafada, mas minha visão está turva pelo turbilhão de emoções que me atingem de uma vez só.

Não consigo falar. Não consigo pensar em uma única desculpa que justifique minha presença aqui na frente dos dois.

Meus olhos piscam entre Nathan e John, de um para o outro em uma fração de segundo, tentando entender essa cena surreal.

Deus, o que eu faço? O que eu digo?

E então, recorro à única coisa que sempre fiz de melhor em momentos de crise:

Fingir.

"Preciso mesmo explicar, Nathan?" respondo, firmando minha voz com uma coragem que na verdade não sinto. Escolho ignorar a possibilidade de que ele já saiba sobre mim e John. Pelo tom e linguagem corporal dele, não sabe.

A recepcionista nos olha com uma expressão confusa, e por um momento, quase rio. Coitada. Ela está tão perdida nessa confusão quanto eu.

Ela traz uma cadeira extra para eu me juntar a eles. Sento-me relutantemente, preparando-me para o que provavelmente será o almoço mais desconfortável da minha vida.

John não disse uma única palavra. Ele ainda está observando, provavelmente processando tudo tão lentamente quanto eu.

"Papai, esta é a Hana. Minha namorada." Nathan me apresenta com um sorriso que só piora as coisas.

Papai.

Ele nunca o chamou assim na minha frente. Na verdade, nunca mencionou dessa forma.

"Esta é minha ex-namorada," corrijo, levantando as sobrancelhas. "Você terminou comigo, lembra?"

Nathan dá uma risada constrangida, claramente pego de surpresa.

John quase engasga com a bebida, e por um segundo, penso que é nervosismo. Mas quando finalmente reúno coragem para olhar nos olhos dele, há um sorriso se formando no canto dos lábios.

Ele sabia.

Ele sabia quem eu era.

Ou pelo menos... sabe agora.

Isso é algum jogo doentio para ele? Algum tipo de demonstração de poder? Eu nem sei mais quem estou olhando.

"Prazer em conhecê-la, Hana," ele diz calmamente, como se não estivéssemos enredados nos lençóis há apenas quatro noites.

Quem é você? E no que eu me meti?

"Igualmente, Sr. Kauer," respondo docemente, o nome tendo gosto de veneno na minha boca.

O impacto é imediato—o punho dele se fecha contra a mesa de madeira.

E assim, as memórias voltam com força total.

Memórias que estou tentando enterrar.

Foco, Hana. Agora não é hora.

"Podemos conversar?" Nathan se vira para mim, completamente alheio ao caos que se desenrola na minha mente.

"Acho que devemos. Especialmente depois do que descobri," respondo, e vejo a expressão dele congelar.

"Papai, você se importa de nos dar um momento?" ele pede, sinalizando para John se afastar. Meu estômago despenca enquanto John caminha em direção ao bar, passando perigosamente perto de mim.

Nathan aproxima a cadeira assim que John se afasta. De onde estou sentada, posso ver John nos observando do bar, tomando sua bebida com uma tempestade nos olhos.

Como ele ousa parecer bravo? Depois de tudo?

"Eu sei que você está chateada, Hana. Mas eu posso explicar."

"Chateada?" Pisquei. "Nathan, estou decepcionada. Eu nunca quis descobrir dessa forma."

"Eu também não," ele responde rapidamente. "Eu tinha um plano. Ia falar com você antes de tudo vir à tona."

Ele parece genuinamente arrependido. E talvez... talvez meu coração ainda queira acreditar nele.

"Teria sido mais fácil se você fosse honesto sobre me trair," murmuro.

Ele parece surpreso, como se achasse que eu fosse dizer outra coisa.

"Não, Hana. Quero dizer... sei que isso não consertaria nada, mas as consequências não teriam sido tão ruins. O que aconteceu na noite do baile não foi planejado. Agi por impulso."

Ele estende a mão para tocar a minha, mas antes que consiga, John bate o copo de uísque no balcão.

Eu puxo minha mão e me afasto na cadeira.

Isso está saindo do controle.

"E você achou que me oferecer um emprego resolveria tudo?" pergunto amargamente, pegando a bebida intocada na mesa só para me distrair. "Sério, Nathan? Você achou que podia me comprar?"

"Que emprego?" ele pergunta, parecendo genuinamente confuso.

Eu paro.

Espera—ele não sabe?

"O emprego na Desire," digo devagar. "Você não me recomendou para ele?"

"Não! Eu nem sabia que você tinha se candidatado." Suas sobrancelhas se juntam. "Mas... É uma grande oportunidade, certo? Você não precisaria ir para o Japão."

Minha garganta aperta. Eu tinha essa oportunidade—e a joguei fora por orgulho e confusão.

"Eu já recusei, Nathan. Achei que você estava por trás disso, e eu... Eu entrei em pânico."

Passo a mão na testa, tentando acalmar meus pensamentos.

"Você não precisa se preocupar," ele diz rapidamente. "Eu posso ajudar. Bem, não eu exatamente, mas o John pode. Ele é sócio na Desire. Ele possui vários negócios aqui e em Nova York. Tenho certeza de que, se eu explicar—"

Ele salta da cadeira, prestes a chamar o John. Meu peito se aperta em pânico.

Sem pensar, agarro seu braço, puxando-o de volta. O movimento repentino faz com que ele esbarre em mim, e eu sinto o cheiro do seu perfume.

Muito familiar. Muito confuso.

"Não," digo suavemente. "Por favor... Eu quero um tempo sozinha com você."

É uma mentira, e eu instantaneamente me sinto culpada.

Mas não posso arriscar ele falando com o John. Não agora.

Ele hesita—então acena com a cabeça, sentando-se novamente. Há um lampejo de esperança em seu rosto, e isso me deixa doente de culpa.

"Hana, por favor," ele diz gentilmente. "Me dê outra chance. Eu preciso de você. Vou consertar tudo o que quebrei. Apenas me diga o que fazer."

Eu o encaro. Ele soa tão convincente. Ou ele é sincero, ou mente melhor do que eu.

Melhor do que John, que agora está lá fora, encostado no carro, fumando um cigarro como se nada tivesse acontecido.

Frio. Distante. Calculista.

Nossos olhos se encontram através da janela. Seu olhar é intenso. Ele sabe que eu o vejo.

"Eu preciso de tempo para pensar, Nathan. Eu realmente preciso ir agora."

Ele parece desapontado, mas não me impede. Enquanto ele se afasta para atender uma ligação, eu deslizo da cadeira e me dirijo para a saída. Penso em parar no bar—confrontar John—mas não confio em mim mesma.

Não estou no controle. Nem dos meus pensamentos, nem das minhas emoções.

Vir aqui foi um erro. Um erro perigoso.

Paro na porta, avistando John ao lado de um Lamborghini preto fosco. Ele está de costas para mim. Está falando ao telefone.

Por um segundo, penso em me aproximar dele. Perguntar o que diabos é isso. Mas mal consigo processar qualquer coisa.

Aproveito o fato de que ele não me viu e saio apressada. Os saltos que estou usando tornam cada passo mais difícil, mas não paro. Não até chegar à faixa de pedestres.

Então ouço o familiar ronco de um motor se aproximando ao meu lado.

"Hana, precisamos conversar."

John.

Claro.

Olho para ele. "O que você quer, John?"

Começo a atravessar, mas ele acompanha meu ritmo, dirigindo devagar ao meu lado na rua quase vazia.

"Entre," ele diz firmemente, parando o carro.

Eu hesito.

Cada instinto grita não. Mas não posso ir embora. Ainda não.

Isso é uma péssima ideia. Eu sei. Mas ainda assim alcanço a porta e entro—porque preciso de respostas. E porque, em algum lugar bem profundo, estou apavorada com o que essas respostas podem ser.

Previous ChapterNext Chapter