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1- Alyssa Rivers

Hoje era o dia em que tudo mudaria, para melhor ou para pior? A ômega não sabia. O dia 20 de junho, no verão, marcava o dia em que Alyssa pediria ao Alfa da matilha para deixá-la ir para a cidade.

Ela estava saindo para um emprego.

O emprego que mudaria sua condição de vida e talvez ajudasse a levar sua mãe ao grande hospital na cidade. Ela estava cansada de ver sua mãe mascarar a tosse como se não fosse nada. Faz anos que ela começou a fazer isso, recusando ajuda para que pudessem economizar dinheiro. Seu irmão beta de dezessete anos pode ter o melhor treinamento e pagar uma escola de elite na cidade.

A cada poucos meses, os lobos da matilha se mudam para a cidade na esperança de ganhar dinheiro. Às vezes, eles nunca voltam. É por isso que o Alfa pode estar hesitante em deixá-la ir. Especialmente porque ela é uma ômega. A maioria dos Alfas que acabaram de completar 18 anos são enviados sem mais perguntas. Alyssa ficou um pouco triste com isso, sabendo que não teria esse tipo de oportunidade apenas por causa de seu gênero.

No fundo de sua mente, a ômega sabia que teria que seguir o que os alfas da matilha dissessem. A palavra deles é final.

Ela pensou em Shawn, que completou 18 anos em novembro passado; ele é um Alfa, então não se opuseram quando ele pediu para deixar a matilha. Ele foi embora assim. Mais tarde, a ômega descobriu que ele estava trabalhando como vendedor em algum shopping. Não pagava muito, mas pelo menos era muito melhor do que o trabalho que tinham que fazer na matilha.

Um arrepio percorreu sua espinha ao pensar em como a maioria dos membros da matilha tinha um pensamento tradicional e retrógrado.

A maioria dos betas trabalhava na fazenda, ou se fossem mais fortes, se envolviam na caça ao lado dos Alfas. A caça era vista como um dos melhores trabalhos dentro da matilha. Os caçadores eram tratados com muito respeito, pois eram eles que forneciam à matilha a maior parte de sua proteína primária. Os Alfas da matilha lhes davam uma parte maior depois dos guardas Alfa.

Os guardas Alfa eram rapidamente os mais bem pagos na matilha. Nenhum beta e ômega era permitido ocupar essas posições. Era explicitamente reservado para Alfas, e é por isso que Alyssa odiava o sistema deles.

Depois vinham os trabalhos braçais para os ômegas. Ômegas como Alyssa. Eles trabalhavam na fazenda, colhendo alimentos, o que era considerado algo comum para lobos do dia a dia. As horas não eram longas, felizmente, a maioria dos ômegas da matilha trabalhava lá, revezando-se para colher e plantar frutas e vegetais. Os mais velhos lidavam com os animais, além de enlatamento e preservação das colheitas, garantindo que a matilha tivesse comida suficiente para passar o inverno. Mesmo no inverno, seus ômegas se esforçavam para trabalhar pela comida com a ajuda da estufa.

A mãe de Alyssa era uma delas. Depois de perder o pai nas guerras da matilha, sua mãe cuidou dos dois. Sempre foram os três contra o mundo. Eles não tinham ninguém para cuidar deles. A maioria das famílias da matilha torcia o nariz para as ômegas viúvas e seus filhos.

Seus pensamentos foram interrompidos quando ouviu sua mãe sair da cozinha, segurando uma tigela de açúcar na mão.

Annie Rivers estava envelhecendo. Seu cabelo começou a ficar grisalho nas pontas, e ela se esforçava para caminhar alguns quilômetros sem respirar fundo. Aqueles olhos cor de mel perderam o brilho desde que ela perdeu seu companheiro. Suas bochechas estavam fundas e ocas, os lábios só se curvavam quando Alyssa estava perto dela ou quando seu filho, Conan, marcava gols no campo. Ela vivia apenas para seus filhos.

"Pronta?"

Alyssa assentiu com a cabeça.

"Bom. Seja educada com o Alfa da matilha, querida."

Alyssa tentou não revirar os olhos com isso. Ela ouviu isso a vida toda. A mesma coisa repetidamente, como um disco quebrado. Antes ela ignorava, mas agora não era o momento, supondo que quisesse sair daquele lugar infernal, essa era a única maneira.

Agir educadamente.

A ômega deu de ombros. "Eu sei, mãe. Não tenho escolha e tenho que fazer o que ele me mandar de qualquer maneira."

Um suspiro escapou de seus lábios quando seus olhos caíram no relógio. Observando os ponteiros do relógio se moverem, chegando cada vez mais perto das 9 da manhã, Alyssa sabia que tinha que ir.

"Não comece agora."

Sua mãe a encheu com uma colher de açúcar. A ômega fez uma careta, mas engoliu.

"Para dar sorte."

"Obrigada. Onde está Conan?"

"No campo, como sempre, esperando ser selecionado para o time da matilha este ano," Annie apertou os lábios.

Alyssa entendia por que sua mãe não se importava muito com o time da matilha. Eles não recebiam exatamente oportunidades justas desde que perderam o Alfa da casa. Era absolutamente cruel, e Alyssa sofreu muito, mas ela queria mudar isso para seu irmão.

"Ok. Vejo vocês no jantar."

Sua mãe sorriu. "Boa sorte."


O ar gelado sacudiu a ômega até o âmago enquanto ela caminhava pela neve, sabendo que tinha que se encontrar com o Alfa na casa da matilha. Arrepios surgiram em sua pele, e ela apertou o casaco ao redor do corpo.

A casa da matilha ficava a apenas quinze minutos de caminhada de onde elas moravam. Não porque fossem uma matilha grande, mas simplesmente porque o Alfa da Matilha queria ficar isolado e longe de seus membros. Sim, ele era um desses. Às vezes, ela se perguntava por que os membros da matilha concordavam com tudo o que ele dizia. Ele era um tolo que não conseguia tomar decisões a tempo. Isso custou a vida de seu pai. Ela nunca o perdoaria por isso.

As mãos da ômega foram em direção ao seu chapéu, e ela o puxou mais sobre as orelhas, chutando a neve abaixo de suas botas.

Quando se aproximou da cabana de madeira, um suspiro escapou de seus lábios.

A casa da matilha era enorme, cercada por grandes árvores e arbustos. Era o maior edifício nas terras da matilha, com um salão embutido. Era onde o Alfa da Matilha vivia e também onde as reuniões do conselho eram realizadas. Ela se esgueirou para aquela sala uma vez, quando era criança, e foi punida por isso. A sala era proibida para ômegas. À medida que amadureceu, percebeu que a sala do conselho era onde os Alfas se reuniam e pensavam em maneiras de rebaixar ainda mais os ômegas. Isso é o que eles vinham fazendo nos últimos anos.

Quando ela tocou a campainha, um beta abriu a porta, deixando o ar quente sair.

"Sim? Como posso ajudar?"

Ela engoliu em seco. "Tenho uma reunião com o Alfa da Matilha."

"Alyssa Rivers, certo?" O beta perguntou, ainda sem abrir totalmente a porta.

"Sim."

"Entre."

Um suspiro de alívio escapou de seu peito, e ela relaxou os ombros. Sem pensar mais, ela chutou a neve e a lama molhadas de suas botas. Seria simplesmente desrespeitoso deixar rastros na casa dos Alfas. Isso era a última coisa que ela queria. Desrespeitar o Alfa.


O beta a levou diretamente para a sala de estudos do Alfa da Matilha. Ela foi sentada no sofá, pediram para esperar sua vez porque alguém mais estava falando com o Alfa.

Alyssa olhou ao redor da sala, sentindo um pouco de inveja da quantidade de sofás e poltronas de couro que havia ali. Eles nem sequer tinham uma cama decente em sua casa.

"Alyssa Rivers?" James, o Alfa da Matilha, fez um gesto em sua direção.

Ela se levantou apressadamente, correndo em sua direção.

"Você é a que pediu para sair para um emprego, certo?"

A ômega assentiu com a cabeça.

"Ok, mas vejo que você é uma ômega sem parceiro," o Alfa da Matilha afirmou, lambendo os lábios.

"O que isso tem a ver com qualquer coisa?" Ela retrucou, incapaz de conter a raiva em seu tom.

"Não fale assim comigo," o Alfa da Matilha rangeu os dentes, levantando a cabeça para dar à pequena ômega um olhar sombrio.

"Como seu Alfa da matilha, eu mereço mais respeito do que isso."

Ela ficou quieta. Se dependesse dela, a ômega nunca o respeitaria. Ele não merecia nada.

"Não acha?" Ele levantou a sobrancelha.

"Sim, Alfa."

"Bom. Agora, cuide do que diz e fique quieta. Ninguém gosta de uma ômega que pensa que sabe tudo. Você deve saber seu lugar," ele disse com um rosnado.

Ela apertou a mandíbula, tentando não dizer nada. O Alfa da Matilha estudou sua aplicação.

"Esse emprego... você tem certeza de que vai conseguir?"

Alyssa assentiu com a cabeça. "Meu tio conhece o dono da empresa. Ele disse que falaria com o dono."

O irmão de sua mãe sentiu a necessidade de ajudá-las. Depois que o pai de Alyssa faleceu, seu tio insistiu em levá-las de volta para sua casa da matilha, mas Annie recusou. Ela queria ficar por perto pelas memórias de seu marido. Alyssa e Conan não tiveram voz nisso. Quando Alyssa contou ao tio sobre a piora da condição de Annie, ele ficou preocupado com sua irmã e quis ajudar. Em vez disso, Alyssa pediu a ele que lhe conseguisse um emprego.

O Alfa da Matilha deu de ombros. "Você pode ir."

Seus olhos se arregalaram. Um suspiro repentino deixou seus pulmões. Ela não podia acreditar. A ômega estava finalmente livre.


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