




Capítulo 2 Eu o derrubei
Eu não conseguia parar de olhar para ele. Seu cabelo negro como a meia-noite emoldurava um rosto de tom oliva. Seus olhos verde-floresta espiavam através de cílios espessos, fitando a mulher à sua frente.
— Não comece comigo, Arthur — disparou Sofia, jogando seu cabelo loiro-mel para trás dos ombros. Uma pequena mala de mão estava ao lado dela. Será que ela pretendia deixar o navio?
— Estamos juntos há oito anos, Sofia. Além disso, somos destinados. Não entendo por que você continua me negando — a voz de Arthur saiu tensa, o desgosto evidente em cada sílaba. Apesar de sua atitude anterior, meu coração se compadeceu dele.
— Já discutimos isso. Você só quer se casar comigo para que eu possa te dar herdeiros e à sua família. E você sabe tão bem quanto eu que ser destinado não é igual a amor. Você não me ama de verdade — disse Sofia, de forma categórica. Eu queria dizer a ela que isso era uma mentira, mas ninguém sabia sobre a habilidade de Lily de ler emoções e tínhamos que manter isso em segredo.
O corpo de Arthur enrijeceu. — Eu te amo.
Sofia bufou e colocou as mãos nos quadris. — Não. Se você me amasse, teria esperado até depois da turnê de balé. Teria esperado eu realizar meus sonhos. Esperar que eu largue tudo não é amor. É uma prisão.
Ela respirou fundo antes de continuar com uma voz mais suave. — Eu sei que sua avó quer netos. Mas eu não posso sacrificar tudo o que sempre quis para minha carreira só para fazê-la feliz. E gravidez definitivamente acaba com a carreira.
Arthur se aproximou dela, segurando suas mãos. Eu realmente não deveria ter ficado para testemunhar isso, mas não conseguia fazer meu corpo se mover ou desviar os olhos da cena à minha frente.
— Minha avó está doente, Sofia. Ela pode não estar aqui por muito mais tempo — sua voz agora implorava, pedindo que ela entendesse. Eu honestamente não conseguia entender a relutância dela em ter uma família com ele. Ter uma família própria era tudo o que eu sempre quis.
— O que isso tem a ver comigo? Tudo o que eu quero agora é ser a melhor. E ter filhos vai me impedir disso. Sinto muito, mas os desejos da sua avó não superam os meus — disse Sofia com uma nota de finalização, jogando as mãos de Arthur para longe. Ela o contornou e caminhou em direção ao corrimão. Para onde ela estava indo?
— Tudo bem. Você deixou claro, Sofia. Apenas vá — Arthur ainda estava de costas para ela e sua voz era enganosamente calma, mas a tempestade se formando sobre sua cabeça contava uma história diferente. Tons alarmantes de azul e preto se entrelaçavam. O pobre homem estava em agonia.
Eu dei um passo à frente, sentindo que precisava fazer algo, qualquer coisa, para ajudar essas pessoas a resolverem isso, mas sem aviso, Sofia pegou sua mala de mão e pulou do lado do navio. Um grito estrangulado saiu dos meus lábios e eu me joguei contra o corrimão, espiando na escuridão como se realmente pudesse fazer algo para salvá-la.
Mas meu medo era infundado. Havia um barco a motor esperando por ela e já estava levando-a para longe do navio de cruzeiro. Eu só conseguia ficar ali em choque, assistindo enquanto Sofia desaparecia de vista.
— Bem, isso foi dramático — Lily interveio, me tirando do transe. Sacudi a cabeça para me livrar do resto da névoa.
— Isso é um eufemismo — concordei, colocando a mão na cabeça. Talvez tudo isso tivesse sido um sonho febril. Minha pele estava úmida, mas isso era devido ao oceano, não a uma febre.
— Como está o bonitão? — Lily perguntou e desta vez eu revirei os olhos. Mas ela estava certa. Eu deveria verificar como ele estava.
Arthur não havia se movido do lugar onde Sofia o deixara. Achei ter ouvido um soluço, mas não tinha certeza. Um segundo depois, ele levou a mão aos olhos, enxugando a umidade que eu não conseguia ver.
— Acho que ele está chorando. O que devo fazer? — perguntei. Eu não queria deixá-lo sozinho. Não em seu estado atual. Mas ele também era um estranho.
— Por que você não vai até lá e o conforta? Tenho certeza de que há muitas coisas que você pode fazer para tirar a mente dele da situação — sugeriu Lily de forma insinuante e meu rosto queimou.
— Estou com Robert — lembrei-a firmemente. — Você precisa controlar seus impulsos lupinos.
— Diz a mulher que precisa trocar de calcinha — Lily zombou e com isso eu fechei nossa ligação mental o melhor que pude. Não havia realmente uma maneira de desligar Lily completamente, mas eu podia deixar claro quando já tinha tido o suficiente de sua intromissão.
Enquanto Lily e eu estávamos tendo nossa pequena discussão, Arthur finalmente se moveu. Ele estava mais perto do corrimão e eu podia ver claramente seus olhos vermelhos e as lágrimas que caíam livremente por suas bochechas.
A tempestade acima de sua cabeça havia se transformado em um furacão. Um choque de medo passou pelo meu corpo.
Desde muito jovem, eu podia ver as verdadeiras emoções dos outros flutuando acima de suas cabeças. Eu mantive isso em segredo. Não é comum que lobos tenham poderes extras, especialmente alguém insignificante como eu. Eu queria acreditar que era um presente da Deusa da Lua. Mas havia uma chance de que nem todos pensassem assim. Então, guardei para mim. As cores vívidas das emoções das pessoas foram o que inicialmente despertou meu interesse pela pintura. Eu queria capturar tudo o que via. E, na maioria das vezes, as cores eram calmas e felizes. Mas isso... isso era o pior estado emocional que eu já tinha visto e eu não tinha ideia do que esperar.
— Lily, você não acha que ele vai pular, acha? — perguntei, me abrindo mais uma vez para minha loba.
— Ah, agora você quer meu conselho? — Lily respondeu, mas eu ainda podia sentir sua preocupação enquanto ambas observávamos Arthur dar mais um passo em direção ao corrimão. — Mas para responder à sua pergunta, não, eu não acho que ele vai pular.
— Como você pode ter tanta certeza? — Minha respiração ficou presa quando ele deu mais um passo. — Eu não posso deixar isso acontecer.
— Ele não vai pular — Lily disse novamente, mas eu não estava ouvindo. Arthur havia alcançado o corrimão e estava subindo no primeiro degrau.
Meu corpo se moveu antes que minha mente pudesse acompanhar o que estava acontecendo. Eu me joguei sobre ele, envolvendo meus braços ao redor dele por trás, usando toda a força que vinha de ser uma loba para mantê-lo pressionado contra mim.
— Não! — gritei.