




2
Nos primeiros segundos após acordar, Jenna não tinha memória dos eventos recentes. Sua mente estava gloriosamente vazia e livre de preocupações.
Então, a dura realidade voltou com um baque e um estrondo. Foi quase fisicamente doloroso — a percepção de que toda a sua vida havia desmoronado. A traição de sua melhor amiga e de seu ex. Ter que se mudar e o principal problema atual... Kai, o meio-irmão malvado.
Depois de tomar banho e se vestir, ela se juntou a Harry e Kai na mesa do café da manhã. Harry foi gentil o suficiente para preparar um café da manhã para ela, ela notou e sorriu fracamente enquanto beliscava a torrada queimada e os ovos borrachudos.
Kai lançou-lhe um olhar de soslaio. Ele largou o garfo no prato vazio com um barulho alto e balançou a cabeça em desgosto.
"Com certeza você não vai usar isso?" ele perguntou, levantando uma sobrancelha em desgosto.
Jenna olhou para seu jeans skinny e seu suéter folgado. Não... não era exatamente o que você veria na passarela da semana de moda, mas o jeans mostrava suas pernas esbeltas, e o suéter rosa bebê parecia fofo... ou pelo menos ela achava. O que exatamente ele achava que estava errado com suas roupas?
"Erm... sim. Por quê?" Ela franziu a testa. "Essas roupas são bem normais."
"Você não pode andar comigo se vestir assim," ele disse. "De jeito nenhum, você pode andar atrás de mim e fingir que não somos parentes de mentira."
"Kai, por favor, pelo amor de Deus, você poderia tentar ser um pouco mais gentil?" Harry repreendeu seu filho. Seu rosto ficou vermelho como se estivesse envergonhado pelo comportamento de seu filho. Como se ele estivesse chegando ao limite com o comportamento do filho. As pequenas veias estavam saltando dos lados de seu pescoço grosso.
Toda a situação fez Jenna se sentir com uns dez centímetros de altura. Sim, foi gentil da parte de Harry defendê-la, mas ele poderia ter sido mais sutil sobre isso.
"Não se preocupe com isso, Harry, eu posso andar sozinha," ela murmurou, tentando dar de ombros.
"Não," Harry insistiu. "Kai, você vai garantir que Jenna chegue lá inteira e vai ser gentil com ela a partir de agora. Entendeu?"
"Por que ela não pode se vestir como uma pessoa normal?" Kai perguntou, ainda torcendo seu rosto, que de outra forma seria atraente. "Eu não quero ser visto com isso."
Ele torceu ainda mais o rosto, aprofundando sua carranca permanente enquanto a olhava de cima a baixo. Seus olhos a faziam se sentir suja. Feia. Como um pedaço de lixo.
O pior de tudo era que Kai não estava usando nada especialmente deslumbrante. Ele parecia como qualquer outro adolescente de calças de moletom cinza e tênis. Eles nem estavam limpos, então por que ele tinha o direito de comentar sobre sua aparência?
"Eu posso trocar," ela cedeu, prestes a se levantar da cadeira. Não valia a pena discutir. Ela não podia ganhar. Não com Kai.
"Não." Harry levantou a mão para impedi-la. Ele largou os talheres, fechou o punho e se levantou, pairando sobre seu filho com o rosto agora completamente vermelho. "Não há nada de errado com a sua aparência. Meu filho está sendo propositalmente cruel, e isso vai parar agora. Não é mesmo, filho?"
Kai herdou sua altura e porte atlético do pai, que Jenna agora percebia que podia ser bastante intimidador se quisesse.
Relutante em brigar mais com seu pai, Kai bufou, suspirou e finalmente cedeu.
"Tanto faz," ele disse, arrastando as pernas da cadeira pelo chão de linóleo enquanto se levantava e largava os talheres no prato com um barulho alto. "Vamos logo, princesinha. Você não quer se atrasar no seu primeiro dia."
Ela saiu da cadeira e o seguiu, sentindo-se como uma espécie de leprosa enquanto pegava sua mochila de couro de grife. Tentar acompanhá-lo na caminhada pela rua significava quase correr, como se ele estivesse tentando se livrar dela. O que provavelmente estava.
Na esquina da rua, um grupo de adolescentes esperava. Três rapazes e uma garota. Todos olharam para cima e cumprimentaram Kai quando ele chegou, antes de se voltarem para Jenna.
"É ela?" um dos rapazes perguntou. Ele tinha uma aparência desleixada e era muito menor que Kai, com cachos loiros saindo debaixo do boné e um sorriso bobo.
Um dos outros rapazes era estupidamente alto e tinha cabelo cobrindo a maior parte do rosto, dando uma vibe de 'Lurch da Família Addams', e o outro estava bem vestido e era incrivelmente bonito.
Claro, a garota loira bonita que estava com eles estava grudada no Sr. Bonitão. Ela não parecia impressionada ao ver Jenna, estreitando os olhos fortemente delineados e fazendo um biquinho. Jenna tentou ao máximo não encarar o namorado da garota assustadora, mas achou difícil. Ele tinha o rosto mais lindo que ela já tinha visto. Como um astro de cinema ou um modelo ou algo assim.
"Isso vai ser um saco," ela pensou, tentando não deixar transparecer no rosto. Não era preciso ser um gênio para perceber que esses eram os idiotas da escola. Os malvados. Os valentões.
"Não, Kenny, essa é só uma garota aleatória que encontrei na esquina da rua." Kai resmungou. "Jenna. Esta é Charlene, Julian, Ray e esse idiota é o Kenny."
Kenny sorriu e a pegou pelo braço. "Não se preocupe com o Sr. Mal-Humorado. Eu vou cuidar de você."
Por um momento, Jenna ficou preocupada que Kai fosse bater nesse garoto por chamá-lo de Sr. Mal-Humorado, mas ele realmente sorriu. Foi a primeira vez que ela o viu sorrir, e isso mudou todo o seu rosto. Ele parecia... quase atraente.
"Espera... o quê?! Ele? Atraente... o que estou pensando?" Jenna pensou.
"Pare com isso," a parte sensata de sua mente sussurrou. "Você não pode se sentir atraída por esse monstro."
Desde que Danny a deixou, até caras como Kai estavam começando a parecer bons. Era como se seu cérebro não conseguisse lidar com a solteirice e estivesse desesperado para forçá-la de volta aos braços de alguém novo.
"Mas esse cara definitivamente NÃO é uma opção adequada... além disso, ele meio que te despreza."
O grupo acendeu cigarros enquanto se dirigiam para a escola. Kenny ofereceu o maço a ela e ficou confuso quando ela balançou a cabeça.
"Ela não fuma," Kai explicou, balançando a cabeça em desgosto. "Eu avisei que ela é uma completa perdedora, lembra?"
Charlene sorriu um sorriso malicioso, mas Kenny lhe deu um sorriso simpático.
"Ele é mau com praticamente todo mundo," Kenny sussurrou, "então não se preocupe com isso."
Jenna sorriu para ele, tentando esconder sua dor. Ela não gostava da maneira como esse cara a olhava — quase como uma criança feliz por receber um brinquedo novo e brilhante. Mas pelo menos ele estava tentando ser gentil... ao contrário de seu novo meio-irmão.
Suas suspeitas foram confirmadas quando o grupo passou pelo portão principal. Um grupo de crianças estava parcialmente bloqueando o caminho e Kai empurrou uma delas com tanta força que ela caiu de cara em uma poça.
Tanto Julian quanto Charlene riram cruelmente enquanto passavam por cima da criança caída, de braços dados.
"Então você é bonito só por fora, né?" ela pensou. Não era exatamente uma surpresa. Os caras que pareciam com Julian eram babacas nove em cada dez vezes. Quase como se achassem que poderiam viver só de aparência para sempre e cultivar uma personalidade fosse um esforço desnecessário.
A vontade de parar e ajudar o pobre garoto foi rapidamente esmagada pela necessidade de manter-se do lado bom de Kai. Já era difícil o suficiente viver com ele.
Se ele decidisse realmente fazer dela uma inimiga, ela estaria ferrada.