




Papai não é Deus
Nas semanas seguintes, Liam assumiu o controle da empresa, participando de diversas reuniões. Ele começou a trabalhar às 4 da manhã, dormindo apenas duas horas por dia, enquanto também garantia que seu pai recebesse o melhor tratamento.
Ele fez muitas mudanças internas. Desfez o comitê executivo e trouxe sangue novo—jovens com visão e a coragem para levar a Anderson Logistics a uma nova era. Os gerentes seniores que mantinham suas posições devido à relação próxima com seu pai e não por habilidade ou talento real não ficaram satisfeitos com sua ousadia.
Ele manteve seus primos, Julian e Matthew, perto, como seus segundos no comando. Eles tinham tanto direito à empresa quanto ele. Suas irmãs discordaram.
Mas Liam estava corrigindo um erro. "A empresa é tanto deles quanto nossa. Se papai não tivesse afastado o tio Sullivan, eles teriam uma parte justa."
"O tio Sullivan era fraco; ele não tinha coragem para levar este negócio adiante!" argumentou Willow.
"Papai fez a empresa ser o que é hoje," disse Holly ingenuamente.
"Papai não é Deus," apontou Liam. "Ele não construiu a empresa sozinho. Outras pessoas deram tudo de si. Julian e Matthew perderam tudo quando o tio Sully morreu. E todos sabemos que papai o matou. Ele pode não ter dado a arma que ele usou para estourar os miolos. Mas ele o levou a isso."
"Pare com isso!" Suas irmãs gritaram de uma vez, seus olhos escurecidos de raiva assassina.
"De que lado você está?" Willow exigiu.
"Estou do lado da verdade. Se papai não tivesse deixado o tio Sully de lado, ele não teria ficado tão deprimido; ele achou que a única saída era tirar a própria vida."
"Precisamos falar sobre isso agora?" Holly perguntou. "De que adianta remexer o passado?"
"Você não precisa reconhecer, mas eu preciso," disse Liam. "Não posso liderar esta empresa com a consciência limpa se não corrigir o que papai fez. Todos sabemos que Julian e Matt fizeram muito mais pela Anderson Logistics do que qualquer um de nós nesta sala, e se vocês dois não conseguem ver isso, há algo moralmente distorcido em vocês!"
"Chega, vocês dois," disse Lois, chorando. "Liam está certo. Eles são família e nunca deveriam ter sido excluídos."
"Eu não vou abrir mão das minhas ações!" Holly jogou seu garfo no prato e cruzou os braços teimosamente.
"Ninguém quer os seus malditos três por cento!" Liam gritou e impôs a lei, apontando um dedo severo para sua irmã mais nova. "E sua vida de gastos excessivos acabou. Você não vai mais fechar lojas para suas compras privadas. Usar o jato da empresa para ir a festas em Ibiza acabou. E aquela cobertura que você nunca morou, é melhor você usá-la logo, ou eu vou te ajudar a se livrar dela."
"Mãe!" Foi Willow quem gritou para a mãe intervir.
"Ouça seu irmão."
"Mas ele não pode me fazer viver como uma pessoa pobre!" Holly gritou.
Liam se levantou e foi até a sala pegar seu laptop da bolsa de mensageiro, que estava no sofá. Ele voltou num instante e ligou o laptop. Ele trouxe os demonstrativos financeiros do fundo familiar e empurrou o MacBook para suas irmãs.
"O que estou olhando?" Willow tinha uma expressão confusa no rosto enquanto seus olhos percorriam a tela.
"Sim, o que é isso?" Holly acrescentou.
Sabia que elas não saberiam ler demonstrativos financeiros, muito menos entender. Como poderiam, se nem sabiam o preço do papel higiênico? Admitidamente, até algumas semanas atrás, ele também não sabia. Mas agora que participava das reuniões de orçamento de Julian, ele via quanto custava cada pequena coisa, desde o café e o chá que a equipe tomava como garantido até o papel de impressão que todos pareciam amar tanto, a julgar pelas resmas de relatórios perpetuamente empilhadas em sua mesa.
"O que é isso?" Willow gritou de novo. A filha mais velha, às vezes, se comportava como um bebê.
"Isso é todos nós nadando em um mar de problemas em breve se seus gastos excessivos não pararem!" Liam cerrou os dentes.
"Estamos falidos?" Holly perguntou, com lágrimas enormes se formando nos olhos. "Mãe, vamos ter que nos mudar para um duplex agora?"
Liam riu amargamente. "Ainda não, meninas. Mas eu apostaria uns seis meses ou mais."
A notícia foi tão devastadora para ambas que elas saíram correndo da sala chorando, dizendo que precisavam tirar uma soneca.
Há muitas coisas que ele dava como certas antes de assumir o cargo de CEO—coisas que ele nunca tinha que pensar ou se preocupar, como as milhares de pessoas que trabalhavam nos bastidores para garantir que continuassem a viver sua vida de luxo. Não era justo para todas essas pessoas; a maioria nunca veria um milhão de reais em suas contas bancárias. Mas elas trabalhavam incansavelmente e davam tudo de si para a empresa.
"Você tem que dizer a elas que estamos bem," Lois continuou.
"Não!" Liam disse. "Mãe, eu quis dizer cada palavra—nada de jatos da empresa para negócios privados. Viagens de compras no exterior também têm que parar. Se elas querem todas essas coisas boas, então precisam se juntar ao trabalho."
"Mas elas amam o que fazem. Suas irmãs vão morrer se tiverem que desistir de suas carreiras!"
"E eu?" Liam perguntou. Ele não se arrependia de sua decisão de assumir a responsabilidade. Mas ainda estava de luto pela perda de seus sonhos.
"Eu sei que foi difícil," Lois disse, tocando seu ombro.
Liam não achava que ela entendia. 'Difícil' era reprovar em um exame ou receber uma advertência porque você dormiu demais e chegou atrasado ao trabalho.
O que ele passou quase o matou.
Liam nunca contaria a ninguém como chorou até ficar vazio quando teve que se retirar de sua equipe e encerrar todos os seus relacionamentos com os patrocinadores. A dor que sentiu quando pendurou seu macacão de corrida e guardou seu capacete pela última vez foi tão profunda, tão intensa; era como se alguém tivesse enfiado uma espada em seu coração e o rasgado em pedaços.
"Querido, sinto muito. Eu só quero que todos vocês sejam felizes."
Ele se virou para sua mãe e suspirou. "Tudo o que estou dizendo é que elas precisam começar a ganhar seu sustento. E não vejo razão para elas ainda estarem recebendo uma mesada. Elas são adultas com empregos em tempo integral. Seus salários devem financiar seu estilo de vida luxuoso."
Lois assentiu e deu um tapinha em sua mão. "Vou ao hospital; você vem comigo?"
Liam balançou a cabeça. Ele já tinha visto seu pai antes de se apresentar para o jantar semanal obrigatório. Ele tinha que se encontrar com Julian e Matthew no Crush.