




♥ Capítulo 3 ♥
10:50 ''Penitenciária Horizon - Zephyria''
Aurelia Dusk.
Depois de pegarmos nossas bandejas de comida, se é que podemos chamar aquilo de comida, seguimos em direção a uma grande mesa vazia, onde nos sentamos lado a lado.
"Não se preocupe com a comida; pode parecer horrível, mas tem um bom gosto," ela disse, me tranquilizando com um sorriso enquanto se acomodava.
Com uma mistura de suspeita e curiosidade, comecei a comer, observando-a fazer o mesmo. O prato à minha frente parecia uma sopa estranha, mas dei uma chance, enquanto meu estômago roncava de fome. Surpreendentemente, não estava ruim. Talvez até estivesse bom.
Ela me olhou com uma expressão divertida enquanto eu experimentava.
"Pelo olhar em seu rosto, parece que você gostou." Ela riu, e eu não pude deixar de sorrir.
"É até que bom." Respondi, aliviada por não ser intragável.
Continuamos nossa refeição em silêncio, mas logo a cafeteria foi invadida pelos outros prisioneiros, que se aproximavam barulhentos. Ela parecia calma, como se estivesse acostumada com o movimento. Para mim, no entanto, cada olhar era uma ameaça em potencial.
''Já estava na hora de eles chegarem.'' Ela comentou despreocupadamente, enquanto eu tentava controlar meus nervos.
Eu sou a novata aqui, e essa realidade estava começando a pesar sobre mim.
"Bem, vou te dar um conselho: nunca olhe nos olhos dos outros prisioneiros. Eles vão pensar que você quer algo com eles." Ela falou com um tom sério, transmitindo a seriedade da situação.
''Entendi. Obrigada pelo aviso.'' Respondi, tentando soar confiante.
Ela apenas assentiu, como se soubesse que minhas palavras escondiam o medo que eu estava sentindo.
Depois de terminarmos nossa refeição, ela discretamente apontou para um grupo de prisioneiros em uma mesa próxima.
"Você vê aquele grupo ali?" ela perguntou, me fazendo virar a cabeça para olhar.
Eu assenti, curiosa para saber mais.
''Eles são os novos líderes da prisão, temporariamente.'' Ela explicou, enquanto eu absorvia a informação com surpresa.
''O que você quer dizer com temporariamente?'' Perguntei, impressionada com a complexidade da hierarquia da prisão.
Ela deu um gole em seu suco antes de responder, sua expressão revelando o peso das circunstâncias.
''O líder desta prisão é o diabo. Ele está em confinamento solitário por matar um policial.'' Suas palavras ecoaram em minha mente, enviando um arrepio de medo pelo meu corpo. ''Toda vez que ele está em confinamento solitário, os outros prisioneiros lutam entre si para serem o novo líder temporário. Então, tenha muito cuidado para não chamar a atenção deles. Todos gostam de carne nova.''
''Você gosta de me assustar, não é?'' Disse, tentando disfarçar o tremor em minha voz.
''Não, estou apenas te alertando sobre como as coisas funcionam por aqui. A polícia não tem poder neste lugar. O demônio foi para o confinamento solitário porque quis. Acho que ele queria dar um tempo; não sei. A única coisa que sei é que ele não é um homem com quem se deva brincar, então tenha cuidado para não acabar sendo morta por ele. Observe, e talvez você sobreviva.'' Ela respondeu, sua voz firme contrastando com a atmosfera sombria da prisão.
Respirei fundo, tentando controlar as emoções que ameaçavam transbordar.
''Por que você foi presa?'' Ela perguntou de repente, e senti um arrepio percorrer minha espinha ao lembrar por que estava ali.
''Os malditos policiais colocaram um quilo de maconha na minha mochila da faculdade e disseram que era minha.'' Ela riu, mas havia um tom amargo em sua risada.
''Isso sempre acontece; em toda prisão, sempre haverá alguém que foi injustamente preso.'' Ela comentou.
''E você? Pelo que foi presa?" Ela me olhou com seriedade, me fazendo engolir em seco.
''Eu matei meu pai. Ele abusava da minha mãe, então perdi a cabeça e o matei sem piedade. Algo que não me arrependo.'' Sua confissão foi direta, sem rodeios.
''Há quanto tempo você está aqui?'' Perguntei, tentando disfarçar a incredulidade em minha voz.
"Na semana passada, completaram três anos." Ela me olhou, sua expressão uma mistura de resignação e determinação.
''Tanto tempo.'' Murmurei, incapaz de imaginar o que ela havia enfrentado todo esse tempo.
''Minha querida, todos aqui pegam a sentença máxima, até trinta anos de prisão.'' Ela explicou, seu olhar vago revelando a dureza da realidade que estava enfrentando.
A conversa foi abruptamente interrompida por uma voz desconhecida que ecoou atrás de mim.
''Bem, carne nova no pedaço.'' Uma mulher desconhecida se aproximou, sua presença envolta em mistério.
Olhei para minha companheira de cela em busca de orientação, mas tudo que encontrei foi um olhar divertido e um sorriso irônico em seus lábios.
''Ah, Nebula, esta é Aurelia; ela chegou aqui na prisão ontem.'' Trix me apresentou, apontando na minha direção.
''Hum.'' Nebula me analisou de cima a baixo; seus olhos azuis claros pareciam penetrar em minha alma. ''Tenha cuidado, bonita; você pode acabar sendo devorada por alguém.''
Senti medo diante dessas palavras sombrias.
''Bem, estou indo. Tchau.'' Ela se despediu, nos deixando sozinhas novamente.
Olhei assustada para minha companheira de cela, que não conseguiu conter o riso diante da minha expressão aterrorizada.
''Ela está com ciúmes de você,'' ela disse, divertida.
''O quê? Por quê?'' Perguntei, ainda perplexa com meu encontro com Nebula.
Engoli em seco, sentindo um nó se formar em minha garganta, enquanto Trix me lançava um olhar divertido.
''Querida, você é muito ingênua.'' Ela se inclinou sobre a mesa, sorrindo maliciosamente. ''Você é linda demais; você até ofuscou o brilho da Nebula, e ela não gostou nem um pouco disso.''
Senti uma onda de frustração e desespero me invadir.
''O- O que você quer dizer com linda?'' Ela revirou os olhos.
''Querida, sua pele é escura, seu cabelo longo é escuro e brilhante, você tem um corpo bonito que faria qualquer mulher chorar de inveja, e, o melhor de tudo, você tem belos olhos castanhos claros. Você é muito bonita.''
''Agora é isso; não apenas fui injustamente presa, mas agora há uma jovem me odiando por ser bonita. E estou em risco de ser estuprada. Que vida maravilhosa!'' Cobri o rosto com as mãos, sentindo as lágrimas querendo cair.
A vontade de chorar era avassaladora.
''Oh, querida, não fique assim. Eu vou te ajudar; você pode confiar em mim.'' Ela colocou a mão em meu ombro, transmitindo um conforto inesperado.
''Como você vai me ajudar? Se alguém tentar me atacar, o que faremos?'' Minha voz saiu trêmula, e meus olhos estavam marejados.
''Vou fazer o meu melhor para te proteger, Aurelia. Eu gosto de você; você me lembra de como eu era quando cheguei aqui pela primeira vez. A Nebula me ajudou naquela época, e agora é minha vez de fazer o mesmo por você.''
Soltei um suspiro de alívio.
''Obrigada.'' Um sorriso frágil se abriu em meus lábios. ''Você pode me dizer seu nome?
Ela riu suavemente.
''Abandonei meu nome há muito tempo; apenas me chame de Trix.'' Sorri um pouco fracamente.
''Certo, Trix.''
''Vamos pegar nossas bandejas; vou te explicar as coisas que precisamos fazer.''
''Tudo bem.''
Levantamos, carregando nossas bandejas, e a segui. Ao passar pela cafeteria, senti olhares pesados sobre mim, especialmente daquele homem negro que disse que eu seria dele. Ele estava sorrindo de forma perturbadora.
''Por que aquele cara não para de me encarar?'' Perguntei nervosamente a Trix.
''Ele é conhecido como o executor por aqui. Sempre de olho nas novas garotas. Ele transa com todas as novas garotas, e se ele gostar, você será dele, exclusivamente.''
Meu corpo inteiro se enrijeceu de medo.
''Como você sabe disso?'' Minha voz saiu num sussurro trêmulo.
''Já estive no lugar de muitas garotas aqui. E sou grata por não ter sido dele.'' Ela riu sombriamente. ''Eu não quero ser de ninguém, mas às vezes não temos escolha.''
''Por que não?'' Perguntei, confusa.
''Porque eu quero viver.'' Sua expressão era séria. ''Aurelia, você percebeu que não há muitas jovens aqui, certo?
''Sim.'' Assenti, compreendendo.
''Todas foram mortas por desobedecer aos outros prisioneiros. Meus amigos e eu estamos vivos porque obedecemos. Você precisa deixar o orgulho de lado; ninguém tem opções aqui.'' Seus olhos transmitiram um aviso sério. ''Estou te dizendo isso pelo seu próprio bem.''
Assenti, incapaz de articular mais palavras. Entregamos nossas bandejas e ela me puxou para fora da cafeteria.
''Todos trabalham aqui, exceto o demônio e a Nebula,'' ela explicou. ''Tem de tudo, desde a cozinha até a lavanderia.''
''E você?'' Perguntei.
''Prefiro lavar roupas. No banheiro, você corre o risco de ser atacada. Já aconteceu comigo.'' Seu tom era calmo, mas a história era assustadora.
''Você está bem?'' Perguntei, preocupada.
''Sim, apenas algumas dores.'' Ela deu de ombros. ''Temos uma enfermaria, mas é precária.
Como alguém poderia estar tão calma? Você deve ter passado por tanto aqui que se acostumou a esse tratamento desumano.
Que Deus me ajude neste lugar.