




3 O presente e o fardo
As luzes fluorescentes do banheiro do restaurante piscam acima de mim enquanto eu escoro contra a parede de metal fria da cabine, o teste de gravidez de plástico apertado em minha mão trêmula. Duas linhas cor-de-rosa me encaram, ousadas e inconfundíveis.
Grávida.
....
Estou grávida.
As palavras ecoam em minha cabeça, uma verdade surreal e impossível.
Como..?
Depois de anos de testes negativos, de desapontar Donovan mês após mês, quão cruel é que um encontro imprudente com um estranho possa ter sucesso onde meu casamento falhou? Um riso sufocado escapa dos meus lábios, beirando a histeria.
Pressiono uma mão trêmula na boca, lutando contra a onda repentina de náusea que sobe até minha garganta—ou talvez seja a enjoação matinal.
O pensamento envia uma nova onda de pânico através de mim. Isso é real. Há uma vida crescendo dentro de mim, um pequeno pedaço daquela noite no beco que em breve se tornará uma pessoa viva e respirante.
Sem ser convidada, minha mente volta para Malachi, para o calor do seu corpo pressionado contra o meu, o êxtase que momentaneamente apagou minha dor. Nunca planejei vê-lo novamente, nunca imaginei que nosso encontro teria uma consequência tão impactante na minha vida.
Será que ele tem ideia do presente e do fardo que me deixou..?
Balanço a cabeça bruscamente, afastando o pensamento. Não importa. Ele foi um meio para um fim, uma fuga temporária. Este bebê é meu, minha responsabilidade e minha alegria de carregar sozinha. Assim como tudo mais na minha vida.
Devagar, me levanto, minhas pernas instáveis sob mim. Preciso voltar ao trabalho antes que Darnell comece a se perguntar onde estou. Mas, ao me aproximar da pia para jogar água fria no rosto, meu reflexo no espelho manchado me faz parar.
Olhos largos e assombrados me encaram de um rosto pálido demais, cabelos castanhos pendurados sem vida sobre meus ombros. Eu pareço exatamente o que sou—uma mulher de 21 anos aterrorizada, cujo mundo acabou de implodir pela segunda vez em poucos meses.
Mas há algo mais ali também, uma pequena faísca se acendendo na profundidade do meu olhar.
Maravilha. Awe.
Os primeiros fios frágeis de um amor tão vasto, que rouba meu fôlego. Este bebê, meu bebê, é o presente mais precioso que eu nunca ousei esperar. Um pedaço do meu coração, meu sangue e osso, que será meu para amar e proteger para sempre.
Naquele momento, encarando meu reflexo enquanto minha mão se move inconscientemente para minha barriga ainda plana, faço uma promessa silenciosa.
Eu te darei tudo, cada grama de força e devoção que possuo.
Construirei uma vida para nós, estável e segura, e não manchada pelos fracassos do meu passado.
Não importa a luta, não importa o custo.
A determinação se instala sobre mim, endireitando minha coluna e firmando meu queixo. Agora tenho um propósito, uma razão para lutar com unhas e dentes. Por este bebê, por nosso futuro, não há nada que eu não faça.
Guardo o teste no bolso e ajeito os ombros, me preparando para voltar ao mundo que nunca mais será o mesmo. Tudo mudou, de forma irrevogável e maravilhosa.
| Dois Meses Depois |
"Pen? Tudo bem?"
A voz de Darnell corta minha reverie e eu pestanejo, percebendo que estive encarando em branco o extrato do cartão de crédito em minha mão por sei lá quanto tempo. Estamos no escritório dos fundos do restaurante, revisando as contas antes do horário de almoço. Com cinco meses de gravidez, estou grata por ele me permitir assumir mais trabalho administrativo, mesmo que signifique confrontar as realidades financeiras da maternidade solteira.
"Eu... Eu não sei," respondo sinceramente. Empurro o extrato na direção dele, o dedo batendo na lista incompreensível de cobranças. "Olha isso. Lojas de luxo, restaurantes cinco estrelas, um cruzeiro maldito? Nada disso sou eu."
Darnell assobia baixinho enquanto examina o papel. "Você tem certeza de que não fez uma farra de gastos secreta?" Ele tenta ser leve, mas seu rosto o entrega, as sobrancelhas franzidas em preocupação.
Balanço a cabeça, o medo angustiante se enroscando em mim. "Eu nunca poderia pagar por nada disso. E as datas..." Uma horrível suspeita se instala enquanto folheio os extratos anteriores. "Elas remontam ao tempo em que estava com Donovan. Quando ele estava..."
Você. Está. Mentindo.
A realização doentia me atinge como um soco no estômago e eu me levanto abruptamente, fazendo minha cadeira deslizar para trás. "Esse idiota!" Assobio, lágrimas quentes de raiva picando meus olhos. "Ele estava comprando presentes para a amante com meu cartão de crédito. Todas aquelas bolsas de grife e diamantes com que ele a estava cobrindo... Eu estava pagando por tudo isso o tempo todo!"
Raiva e amarga traição se misturam dentro de mim e por um segundo não consigo respirar diante da intensidade disso. Já era ruim o suficiente ele ter quebrado nossos votos, dilacerado meu coração. Mas isso? O engano calculado, literalmente me roubando para financiar seu caso?
Não posso acreditar que isso está acontecendo comigo...
Darnell parece chocado, seu rosto normalmente amigável marcado pela raiva em meu nome. "Caramba, Pen, sinto muito. Que canalha."
Limpo as lágrimas bruscamente dos meus olhos, uma fúria fria se instalando em meu estômago. "Ele não vai sair impune disso," prometo, minha voz mortalmente calma. "Quero cada centavo de volta e quero que ele pague pelo que fez."
Estou pegando meu telefone e discando o número para o departamento de fraudes do cartão de crédito antes que Darnell possa responder, a adrenalina pulsando em minhas veias. O atendente é paciente enquanto exponho a situação, me assegurando que iniciarão uma investigação imediatamente.
Mas não é o bastante.
Preciso de mais do que apenas o dinheiro de volta. Preciso confrontá-lo. Preciso olhar nos olhos de Donovan enquanto digo que estou registrando um boletim de ocorrência e vê-lo me implorar para não fazer isso. E não apenas ele. Quero confrontar a vadia que ajudou a destruir meu casamento com alegria.
Uma ideia começa a se formar, escura e tentadora. Eu sei onde ela trabalha. Já vi seu rosto presunçoso e retocado sorrindo nos anúncios imobiliários. Seria tão fácil para mim marchar até lá, fazê-la encarar a vergonha do que ajudou a causar.
Tudo por um vagabundo como Donovan...
"Pen?" A voz preocupada de Darnell interrompe meus pensamentos. "O que você vai fazer?"
Encontro seu olhar, o meu endurecendo com determinação. "Vou obter algumas respostas."
Quando parece que ele quer argumentar, no momento seguinte, ele pensa melhor. Ele sabe o quanto eu preciso disso, para ter um pouco de encerramento, de justiça. "Apenas tenha cuidado, ok?" ele diz finalmente. "Não faça nada que possa se voltar contra você ou o bebê."
Minha mão vai para minha barriga inchada, um sentimento feroz de proteção crescendo dentro de mim. Ele está certo. Não posso deixar minha raiva colocar meu filho em risco. Mas também não posso deixar isso passar. Preciso encarar a amante do meu marido—ou ex-marido—nos olhos.
Não vou deixá-los sair impunes disso.