




Capítulo 2 A deusa esteja com ela
-BEA-
Não foi muito tempo depois que Bea perdeu seus pais, há mais de uma década, que ela foi apelidada de Bestial e entregue a Rebecca, uma concubina do Alfa. Ela tinha apenas nove anos.
Quando Bea tinha vinte anos, cerca de um ano e meio atrás, ela se feriu em um incêndio. A concubina viu seu rosto desfigurado e, por razões que Bea nunca entenderá, entregou-a a esta família. Marcando sua feiura publicamente, para todos verem e ouvirem. Desde então, eles sempre acreditaram que ela era uma espiã enviada pela concubina.
“Eu SEMPRE SOUBE que você não era nada mais do que uma inútil, desprezível espiã!”
Jules puxou Bea para ficar de pé e arrancou seu braço, puxando Bea atrás dela enquanto saía furiosa da biblioteca e descia o corredor. Sua pegada no braço de Bea era feroz. Ela sabia que teria hematomas por dias, mas preferia os hematomas ao que quer que fosse que estavam indo agora.
“Eu prometo.” Bea tentou dizer. Jules continuou puxando-a com força, arrastando-a para frente a cada passo. “Eu não sou uma espiã! Eu estava...” Ela se chocou contra as costas de seu Mestre quando ele parou abruptamente diante de uma porta. Isso fez com que Jules caísse contra a porta. Virando-se para Bea, Jules deu um tapa na garota com toda a força.
“Cale. A. Boca.” Ela se virou novamente, abriu a porta e puxou Bea para dentro do quarto com ela. O som da porta batendo reverberou pelo ambiente.
Olhando ao redor, Bea não conseguia se lembrar de já ter entrado neste quarto antes. Era um quarto “Proibido” e Bea não conseguiu evitar começar a hiperventilar. Ela não tinha permissão para estar no “Proibido”. Ela não podia estar aqui. Se o Mestre Visca a visse aqui, ela estaria morta.
“O que você está fazendo, Jules? Estou com pouca paciência esta manhã.”
O sangue de Bea gelou. Ela nem conseguia levantar a cabeça para ver se seus ouvidos estavam mentindo. Era a voz do Mestre Visca. Ela a trouxe para o escritório dele.
“Esta feia Bestial estava escondida na biblioteca quando estávamos falando com Savonnuh.”
Um suspiro profundo escapou de Visca. Bea ergueu os olhos o suficiente para ver que o Lobo dele estava agitado, antes de rapidamente baixar a cabeça e cair no chão. Seu braço foi puxado para cima, ainda na firme pegada de Jules, mas ela não se importava. Ela precisava mostrar ao Lobo dele que era submissa e, com sorte, implorar a ele. O Lobo dele era a única coisa que poderia salvá-la. Sempre foi gentil com ela, saindo e protegendo-a de Visca.
Encontrando a pouca coragem que tinha, ela começou a implorar enquanto Visca caminhava até ela. “E-eu prometo. Mestre. Eu prometo. Eu estava t-t-trocando as rosas mortas. E-e-elas caíram. Eu me espetei em uma. Veja...” Sua coragem estava crescendo, mas ela não conseguiu conter suas lágrimas que começaram a cair. Ela levantou a mão e mostrou-lhe o sangue seco que havia escorrido pelo dedo. “Eu estava limpando.” Sua voz quebrou, mas ela continuou. “Eu prometo, Mestre. Eu estava apenas limpando. Quando você entrou, eu fiquei com medo.” Ela pausou então, o medo tomando conta.
Ela podia sentir o suor escorrendo pelas costas e debaixo dos braços. Isso a fazia tremer enquanto deslizava pela pele, causando arrepios.
"Você temia? O que você temia, Fera?" O Lobo de Visca estava muito próximo da superfície. Seu cheiro almiscarado envolvia-a enquanto ele se ajoelhava ao lado dela.
"Que você pensasse que eu estava espionando." Sua voz era fraca enquanto as palavras saíam de seus lábios. Seu corpo começou a tremer e vibrar como se ela tivesse passado a noite no frio. Ela não sentia seu corpo traí-la assim desde dois invernos atrás, quando o bebedouro foi derrubado e a palha de sua cama ficou encharcada, com ela dentro.
Visca pegou sua mão e inspecionou o sangue, e então trouxe a outra mão até seu rosto inchado, ficando a um sopro de distância de tocá-la.
"Obviamente, ela está mentindo." A voz áspera de Jules interrompeu a interação deles, e os olhos de Visca se tornaram um azul escuro enquanto ele afastava a mão e voltava para a janela na parede dos fundos.
"Jules, ainda não te contei o resto da conversa que tive com nosso Alfa." Ele fez uma pausa e olhou pela janela para a floresta que cercava a casa deles.
Jules bufou, mas colocou a mão no quadril e esperou Visca terminar.
"Como você sabe, foi ideia da nossa Luna que Dax e Savonnuh se casassem originalmente. Que a Deusa esteja com ela."
"Que a Deusa esteja com ela." Jules e Bea repetiram. Ambas respeitavam e amavam a falecida Luna. Sua morte foi um destino cruel para este mundo.
"Quando Dax foi ferido no ano passado, foi ideia da Concubina Rebecca que a filha do Traidor ainda se casasse com o príncipe traidor. Ela está pressionando por um casamento antecipado." Ele ficou em silêncio por tanto tempo que Jules começou a se mexer impaciente.
"O que isso tem a ver com essa espiã miserável?" A voz estridente de Jules rompeu o silêncio.
O ex-Beta apenas suspirou e se virou. Ele não estava olhando para Jules, mas sim para Bea. "Significa que a Concubina pretende controlar a casa do Príncipe e, portanto, a nossa. Eu não permitirei isso. Eu a subverterei e a derrotarei nesse jogo." Ele voltou até Bea e olhou para ela. "Você foi um presente da Concubina. Um lembrete do que eu perdi. Agora, você será um presente para Savonnuh e Dax pelo casamento. Não há mal em enviá-la com Savonnuh. Na verdade, isso nos ajudará. Você será nossa espiã."
Calafrios se espalharam por seus membros, e o tremor se intensificou até seus dentes baterem uns nos outros. Espiã? A palavra repetia-se em sua mente, várias e várias vezes. Ela não sabia como ser uma espiã ou algo do tipo. Sua vida era de obediência aos seus Mestres. Isso era o que ela sabia e pelo que se esforçava.
"Agora essa é uma ideia, Visca!" Finalmente soltando o braço de Bea, Jules ficou um momento pensativa e então bateu palmas animadamente. "Matando dois coelhos com uma pedra só. Nos livramos de uma Fera suja e ganhamos uma protetora para nossa Savonnuh."
Bea olhou para cima e viu ódio e vileza nos olhos de seus Mestres.