




Capítulo VIII: Duque
À medida que os dias se transformavam em semanas, Isabella gradualmente se adaptava aos ritmos da vida dentro do Harém. A presença do Rei tornou-se esporádica, suas atenções aparentemente consumidas por questões de estado no rescaldo da guerra. No entanto, quando ele fazia uma aparição, era com um extravagante display de indulgência e excesso.
Isabella observava com uma mistura de fascinação e repulsa enquanto o Rei chegava, acompanhado por um séquito de concubinas ansiosas para agradá-lo. Elas dançavam para ele, seus movimentos graciosos, mas tingidos de desespero enquanto competiam por seu favor. Na casa de banho, Isabella testemunhava o espetáculo do Rei sendo atendido por várias mulheres nuas ao mesmo tempo, sua servidão um lembrete vívido de seu status submisso.
Entre as concubinas, Lady Dara se destacava como a companheira favorita do Rei, sua presença em seus aposentos uma ocorrência frequente que provocava suspiros de inveja e especulação entre as outras. No entanto, Isabella permanecia determinada a seguir o conselho de Alicent, mantendo-se discreta e evitando as atenções do Rei da melhor forma possível.
Apesar da rotina rígida imposta a ela pela vida no Harém, Isabella encontrava consolo nos momentos de descanso que conseguia reservar para si mesma. Entre as aulas de línguas, arte, música e história que preenchiam seus dias, ela valorizava os raros momentos de paz passados na companhia de Alicent e a preciosa solidão que encontrava junto a um riacho escondido no jardim, onde podia estar completamente sozinha, geralmente durante as primeiras horas da manhã, quando todos estavam dormindo. Longe dos murmúrios caóticos do Harém, dos olhares curiosos de Lady Theda e das tarefas degradantes que ela designava, Isabella permitia-se respirar, o suave murmúrio do riacho sendo um bálsamo reconfortante para sua alma cansada.
Embora tentasse evitar sua atenção, Isabella não conseguia deixar de notar a intensidade do olhar do Rei sempre que seus caminhos se cruzavam. E nas raras ocasiões em que ousava encontrar seu olhar, ela se via cativada pela beleza de seus olhos, tão belos que pareciam esconder a escuridão que se escondia em sua alma. Mesmo em seus momentos privados de tranquilidade, Isabella sentia como se o espectro do olhar do Rei pairasse, seus olhos azuis penetrantes seguindo cada movimento dela.
"Senhoras, vossa atenção, por favor!" A voz de Lady Theda ecoou, cortando através do tumulto de atividade no salão principal do Harém. "O Rei deseja que vossa beleza graciosamente adorne a sala do trono para a visita do Duque de Erkmen esta noite. Lembrem-se, devem permanecer em silêncio e graciosas o tempo todo!"
A diretiva causou um murmúrio e sussurros entre as concubinas, suas vozes uma mistura de excitação e apreensão. O coração de Isabella afundou ao ouvir trechos de suas conversas, os tons zombeteiros enviando um arrepio por sua espinha.
"Talvez o Rei escolha uma de nós para compartilhar com o Duque," uma garota riu, suas palavras gotejando sarcasmo. "Aposto que será a Bella! O rei deveria compartilhá-la com o Duque e todo seu séquito... Incluindo os cavalos!"
Isabella cerrou os punhos, a mandíbula firme em determinação enquanto lutava para ignorar as provocações. "Elas estão apenas tentando te perturbar," Alicent sussurrou, sua voz um murmúrio reconfortante. "Não deixe que te afetem."
Mas apesar das palavras de encorajamento de Alicent, Isabella não conseguia afastar a sensação de desconforto que a corroía por dentro. O pensamento de ser exibida diante do Duque, ou pior, ser escolhida para entretê-lo e seu séquito, a enchia de um sentimento doentio de terror - ela, mais do que qualquer um, sabia exatamente quão doente e cruel o Rei Dragão poderia ser.
O Rei Dragão estava sentado em seu imponente trono de ébano, irradiando uma aura de autoridade que parecia preencher toda a câmara. À sua direita e à sua esquerda estavam suas quatorze concubinas, dispostas em uma exibição cuidadosamente orquestrada de beleza e submissão.
Isabella ocupou seu lugar no lado esquerdo do trono, posicionada no degrau mais baixo da escadaria que levava ao assento do Rei. Lady Dara, a companheira favorita do Rei, ocupava uma posição proeminente bem ao lado do trono, sua cabeça repousando suavemente no joelho do Rei enquanto ele segurava sua mão em um gesto terno.
A visão da proximidade íntima de Lady Dara com o Rei despertou uma pontada de curiosidade dentro de Isabella - será que o Rei realmente amava Dara? E, se sim, por que ele simplesmente não se casava com ela? Por que manter um Harém se ele tinha uma favorita? Seria apenas um símbolo de poder e riqueza, ou haveria algo mais em jogo? “Você me dará um filho, então poderá morrer” Isabella pensou em suas palavras, naquela mesma sala, meses atrás. Sempre que se lembrava disso, ela rezava silenciosamente para que ele esquecesse completamente. Talvez o que Alicent disse fosse verdade, ele estava apenas tentando assustá-la.
Quando o Duque de Erkmen entrou na sala do trono, sua presença comandava atenção. Com cabelos grisalhos emoldurando um rosto marcado por várias cicatrizes, ele exalava uma aura de autoridade experiente. Sua postura era rígida e seu olhar penetrante, dando-lhe um ar formidável que não deixava dúvidas quanto ao seu status.
À medida que o séquito do Duque o seguia, a atmosfera na sala do trono mudou, uma tensão palpável enchendo o ar. O coração de Isabella acelerou enquanto observava a figura imponente se aproximar, um sentimento de apreensão se insinuando sobre ela.
Ao chegar ao trono, o Duque parou, seu olhar firme encontrando o do Rei Dragão. "Vossa Majestade," cumprimentou, sua voz baixa e comandante.
O Rei inclinou a cabeça em reconhecimento, um leve sorriso brincando nos cantos de seus lábios. "Senhor Erkmen, bem-vindo," respondeu, seu tom medido. "Espero que tenha feito uma boa viagem."
O olhar do Duque varreu a assembleia de concubinas. "Uma bela coleção que tens aqui," observou, sua voz tingida de desprezo. "Vejo que não perdeste teu gosto pelo excesso, primo."
O sorriso do Rei vacilou ligeiramente diante do comentário do Duque, mas logo recuperou a compostura. "Meus despojos de guerra," respondeu suavemente. "Suas cabeças são bonitas demais para ficarem penduradas em estacas do lado de fora. E seus corpos... Bem, como podem ver, que desperdício seria jogá-los em uma vala."
Isabella não pôde deixar de tremer diante da imponência do Duque, as palavras do Rei enviando um arrepio por sua espinha.
À medida que o banquete para receber o Duque começava, a atmosfera na sala do trono mudava de solenidade para festividade. As longas mesas estavam repletas de pratos suntuosos, e o ar estava cheio de risos e conversas animadas. Isabella observava à distância, seu coração pesado de apreensão.
A maioria das concubinas, exceto Dara, Alicent e outras duas garotas, Amarna e Linze, não puderam comparecer ao banquete. Lady Theda levou as garotas restantes, incluindo Isabella, de volta ao harém, onde as alinhou em uma fileira com um olhar firme.
Enquanto as garotas aguardavam nervosamente, Lady Theda começou a selecioná-las, escolhendo quatro para avançar. A confusão de Isabella aumentou quando percebeu que era a quinta a ser escolhida, seu estômago se revirando com uma mistura de medo e terror.
"O que isso significa?" perguntou Isabella, sua voz tremendo ligeiramente.
Os lábios de Lady Theda se curvaram em um sorriso cruel enquanto proferia seu decreto sombrio. "Significa," respondeu, seu tom gotejando malícia, "que as cinco de vocês irão entreter o Duque em seus aposentos privados após o jantar. E então ele escolherá uma de vocês para satisfazê-lo em sua cama."
Uma onda de horror inundou Isabella à medida que a realidade da situação se estabelecia. Ela olhou para as outras garotas ao seu lado, seus rostos refletindo a mesma mistura de medo e resignação. Não havia nada a ser feito, exceto rezar para que não fosse a escolhida.