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Capítulo V: Jardim

Ao pôr do sol, com longas sombras se estendendo pelo jardim, Isabella sentiu a fome roer seu estômago, lembrando-a de que não havia comido o dia todo - ela tinha dificuldade em perceber quando estava com fome por causa dos dois meses sobrevivendo com as parcas rações de pão velho que teve durante seu tempo na cela da prisão. Alicent caminhava ao seu lado e disse que o jantar provavelmente já estava sendo servido. Aquela adorável mulher era uma presença reconfortante em meio ao tumulto de seus pensamentos.

Enquanto caminhavam juntas, seus olhos foram atraídos por uma mesa repleta de um banquete digno de um rei, disposta no centro de um gazebo de mármore no final do jardim. A visão de pão quente, frutas maduras e cálices brilhantes de vinho fez sua boca salivar de antecipação.

Mas antes que pudesse dar um passo em direção à mesa, foi abordada pelas risadas zombeteiras das outras concubinas. Cerca de doze mulheres, com os rostos iluminados pelo suave brilho da lua, estavam ao redor da mesa, se deliciando com o suntuoso banquete diante delas. Alicent apertou a mão de Isabella de forma reconfortante, oferecendo silenciosamente seu apoio.

Uma das mulheres, com um brilho cruel nos olhos, notou a chegada de Isabella e começou a zombar dela impiedosamente, suas palavras pingando de malícia. "Bem, vejam quem finalmente decidiu se juntar a nós," ela zombou, lançando um olhar de desdém na direção de Isabella. "Olhem para ela, faminta como um rato de rua. Não sabia? Apenas aqueles dignos do favor do Rei podem se banquetear como realeza."

“Oh, Dara, não seja má! Você não vê que ela é apenas uma criança pequena e faminta? Duvido que ela seja até mesmo velha o suficiente para se juntar ao rei em sua cama,” disse outra garota, rindo. “Oh, é verdade... Ele a partiria ao meio, aposto que ela estaria morta após uma noite na cama do rei!” comentou uma terceira garota. “Ah, por favor! Como se o rei sequer quisesse aquela criança desnutrida em sua cama!” disse a garota chamada Dara. As outras se juntaram, suas risadas ecoando nos ouvidos de Isabella como uma cruel sinfonia. Mas Alicent deu um passo à frente, um brilho firme em seus olhos ao se dirigir à líder da zombaria. "Chega, Dara," ela disse firmemente, sua voz cortando o barulho. "O rei não vai desejar você mais por estar maltratando uma garota inocente. Isso vale para todas vocês, aliás."

Por um momento, houve silêncio enquanto Lady Dara recuava, surpresa pela inesperada desafio de Alicent. Isabella sentiu uma onda de gratidão em relação à sua companheira, grata por seu apoio inabalável diante da adversidade.

Com um último olhar de desdém para Lady Dara e suas comparsas, Alicent conduziu Isabella para longe da cena, levando-a de volta para as sombras do Harém. Em seguida, ordenou aos servos que servissem o jantar em seus aposentos. Embora a dor de suas palavras persistisse, Isabella encontrou consolo na certeza de que não estava sozinha - que em meio à escuridão de sua captividade, ainda havia lampejos de bondade e coragem a serem encontrados.

Ao se acomodar em sua cama na sala principal do Harém, o contraste entre sua situação atual e seu tempo na cela da prisão não poderia ser mais evidente. Foram embora as paredes frias de pedra e a escuridão opressiva; em vez disso, ela se viu cercada pelo suave brilho da luz das velas e o suave farfalhar dos lençóis de seda, tão macios que lembravam sua própria cama no palácio de Allendor - exceto que agora estava rodeada por um grupo de outras meninas que eventualmente lhe lançariam olhares estranhos.

Apesar do relativo conforto de seu novo ambiente, Isabella não conseguia se livrar da sensação de deslocamento. Ao contrário de Alicent, Dara e algumas das outras concubinas favorecidas que tinham seus próprios aposentos privados, ela estava destinada a dormir no meio da sala lotada, um lembrete de seu status inferior dentro do Harém.

Enquanto o cansaço pesava sobre ela, a mente de Isabella voltava às palavras arrepiantes do Rei Dragão, ainda ecoando em seus ouvidos como um refrão sinistro. A lembrança de seu decreto - que ela serviria como sua concubina, gerando um filho antes de encontrar seu fim - a assombrava até mesmo em sonhos, lançando uma sombra sobre seus sonhos conturbados.

Nas profundezas da noite, Isabella se viu enredada em um turbilhão tumultuado de imagens - a paisagem dilacerada pela guerra de Allendor, o choque de aço, os gritos angustiados de seu povo. E em meio ao caos, a voz do Rei Dragão ressoava como um trovão, suas palavras um sombrio lembrete do destino que a aguardava.

Ao despertar, com o coração acelerado por um sentimento de inquietação, Isabella se viu sozinha no quarto principal do Harém. Os sons habituais de conversas e movimento estavam conspicuamente ausentes, substituídos por um silêncio sinistro que lhe arrepiava a espinha.

Com passos cautelosos, Isabella se aventurou pela câmara deserta, seus sentidos em alerta máximo. O ar estava carregado de antecipação enquanto ela caminhava, seus passos ecoando na quietude como um batuque.

Ao se aproximar da porta, uma centelha de esperança se acendeu dentro dela - um desejo desesperado de escapar. Mas ao girar a maçaneta e espiar do lado de fora, suas esperanças foram frustradas pela visão dos guardas silenciosos posicionados logo além do limiar, seus olhares impassíveis fixos nela como sentinelas da noite.

Derrotada, Isabella recuou da porta, seu coração pesado de resignação. Sem ter para onde ir, viu-se atraída para a casa de banho, esperando encontrar alguém que talvez lhe trouxesse o café da manhã e algumas roupas, já que vestia apenas uma fina camisola de seda.

Mas ao entrar na câmara repleta de vapor, prendendo a respiração, deparou-se com uma visão que lhe causou um arrepio de medo. Ali, em meio às névoas rodopiantes, estava o próprio Rei Dragão, sua imponente figura envolta no abraço vaporoso da banheira principal.

Isabella sabia que precisava sair dali, seu instinto a instigando a escapar da presença do tirano que detinha seu destino em suas mãos. Mas antes que pudesse agir, a voz do Rei cortou o silêncio como uma lâmina, detendo-a em seu caminho.

"Princesa Isabella," ele chamou, seu tom uma mistura de comando e diversão. "Venha aqui."

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