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A primeira reunião

O ponto de vista

A porta é aberta, e imediatamente sinto algo muito diferente de todos os outros. É o cheiro de um chão coberto de folhas, folhas molhadas, mas o líquido é sangue. O cheiro é tão intenso que consigo até ver o chão, e tento dar mais um passo para trás, mas eles me seguram pelos ombros e me empurram para dentro do quarto.

Assim que entro, percebo que o cheiro é intenso, mas está mais direcionado para a minha esquerda. O Alfa Julian e dois estranhos e o cheiro vem de um deles.

Se eu fosse uma pessoa religiosa, estaria rezando agora para que tudo isso acabasse, mas não sou, afinal, os Deuses nunca me ouviriam... Quando era criança, tentei, mas não fui ouvida... Então agora apenas tento aceitar meu destino.

"Ahhh! Aí está a coisa." Fala o Alfa Julian.

Ouvi a porta sendo fechada. A Sra. Smith tinha saído.

"O Senhor Hoff sempre teve bons olhos." Ouvi uma voz profunda e estremeci...

Essa voz me lembra a de um grande caçador. Não estou falando de alguém humano, mas de uma besta, um monstro... É como se eu fosse o próximo petisco e fosse o meu sangue derramado sobre aquelas folhas.

Mas há algo mais, algo diferente... Algo que ainda não consigo entender completamente.

"O toque da poção de cura foi sensacional." Alguém mais fala, desta vez a voz não me causa uma impressão tão ruim, mas ainda tem grande poder. "Pelos vídeos que você mostrou... Pensei que ela não reagiria de jeito nenhum."

Não tenho medo dessa voz ou da voz do Alfa Julian... Não, meu medo é da pessoa que sinto o cheiro.

"Desde que minha amiga teve um contratempo, vou assumir temporariamente a custódia dela." A voz da besta se fez presente.

Fechei os olhos com força. Preferiria ser espancada mil vezes por dia ou passar dias sem comer ou beber do que estar perto dessa pessoa. Tenho certeza de que eles podem sentir meu medo.

"Imagina, só de ouvir sua voz ela treme de medo." A segunda voz comentou em um tom sarcástico. "Sinto pena dessa garota."

Ouvi um rosnado... Mas não era um simples rosnado, era algo selvagem, irracional... Meu corpo simplesmente desabou quando senti um líquido quente começar a escorrer pelas minhas pernas e me molhar. Não estou apenas assustada, estou completamente aterrorizada.

Não esperava que tudo ficasse em silêncio, a aura da primeira pessoa é tão pesada e densa que ninguém se atreve a respirar direito.

"SAIAM!" A primeira voz gritou.

Ouvi o Alfa Julian e a segunda voz saírem correndo do quarto, até tentei me mexer, mas meu corpo não me obedecia, porém ouvi a segunda pessoa se levantar e dar dois passos em minha direção, tentei me encolher mais. O som da porta se fechando é alto, e ao mesmo tempo, ele coloca a mão em meu cabelo e puxa minha cabeça para cima.

Soltei um gemido de dor. Algo que pensei que nunca mais aconteceria, mas todo o meu corpo tremia, minha alma estava em pedaços, e eu estava aterrorizada. Quando meus olhos encontram os dele, percebo que seus olhos são de um azul-verde intenso, escuros e é como se mais nada existisse.

O mais marcante é que além do cheiro de carne e carnificina, há também algo mais, um toque levemente mais doce, mais suave que me lembra das nuvens antes de uma grande tempestade. E se as tempestades são uma das coisas que sempre amei, o som do trovão me acalma.

Quantas vezes me disseram para ficar do lado de fora, no meio das gotas implacáveis de água? Muitas, muitas vezes, no início eu tinha medo até perceber que quanto mais forte a tempestade, mais sozinha eu ficava, e então era minha punição favorita. Ficar no meio da floresta, com a chuva caindo em torrentes e o som do trovão para esconder minha voz, porque é a única vez que a uso.

"Minha." A voz que disse isso não era das pessoas, era mais gutural, mais selvagem, mais bestial...

Meu corpo tremia, mas desta vez não de medo, mas de alívio e relaxei, pude sentir um nó se formando em minha garganta à medida que a felicidade se espalhava. Algo que nunca senti antes, não tão claramente, tão naturalmente.

"Sua." Minha voz saiu baixa, mas era impossível não notar o quanto me deixava feliz.

Ele soltou meu cabelo, e seus dedos tocaram gentilmente meu rosto. Pude sentir pequenos choques percorrerem meu corpo e soltei um gemido de prazer. Fechei os olhos e me inclinei suavemente para o toque dele.

"Sua pele é tão macia." Ouço sua voz e aquele medo irracional de antes se foi, mas ainda consigo sentir o poder que ele tem. Abro os olhos, sorrindo.

"Seus olhos me fascinam. São como duas pedras preciosas." Ele alcança sob minhas pálpebras.

Levanto minha mão esquerda e toco a dele, que é muito maior que a minha. Esse homem parado sobre mim é muito maior do que qualquer pessoa que já conheci, a sombra de seu corpo quase me cobre completamente.

"Tão pequena..." Ele desliza a mão pelo meu pescoço, fazendo meu corpo inteiro tremer. "Tão delicada..." Ele alcança meu pescoço e aperta brevemente, mas não recuo, mesmo sabendo que com um pouco mais de força ele poderia facilmente quebrar meu pescoço.

Então ele se endireita, respira fundo, e com uma expressão pensativa, eu me levanto, percebendo que estou suja e meu rosto imediatamente fica vermelho. Seus olhos parecem brilhar por um instante e um rosnado baixo ecoa pela sala e consigo sentir meu corpo se aquecendo. São reações que nunca tive antes.

"Siga-me." Ele ordena, virando as costas para mim e caminhando em direção à porta de saída.

Do lado de fora há algumas pessoas, consigo senti-las através de suas auras, e abaixo minha cabeça o suficiente para fazer contato com as pernas do homem que me faz sentir estranha.

O silêncio é quase ensurdecedor, consigo ver que à medida que esse homem caminha as pessoas vão ficando mais quietas, ninguém ousa cruzar seu caminho. Tenho a impressão de que ele está andando mais devagar por minha causa, caso contrário, certamente teria chegado onde queria.

Ele parou em frente a uma porta de madeira sólida e a abriu, deu um passo para dentro e suspirou, mordendo meu lábio inferior, aguardando a próxima ordem.

"Tire seus sapatos e meias."

Segui a ordem imediatamente. Provavelmente ele não queria que eu entrasse com meus sapatos sujos. Embora não fosse um cheiro muito forte, afinal, estou acostumada a piores. Certamente não era aceitável para alguém como ele.

"Deixe no canto. Alguém vai pegar." Ele disse e então me abaixei para deixar um pouco mais longe da porta, apenas senti um vento e assim que me levantei senti uma toalha sendo jogada em mim. "Limpe-se o melhor que puder."

Peguei a toalha e comecei a limpar minhas pernas e pés, mas sabia que o cheiro só sairia depois que eu tomasse banho. Quando terminei, ele pegou a toalha da minha mão e me deu espaço para entrar.

Consigo sentir vários olhares em mim, observando o que vou fazer e o que está acontecendo. Entro na sala, ainda mantendo a cabeça baixa.

"Limpe-se, não quero sentir nenhum cheiro quando sair." Ouvi sua voz e então a porta se fechou. "O banheiro é logo ao lado. Tire esse vestido e tome um longo banho! Fique limpa!"

Olhei na direção que ele havia apontado e me vi em um quarto gigantesco, um lugar que nunca tinha visto antes. Há uma cama enorme ao longe, uma janela com algumas cortinas pesadas em cinza escuro, no teto há um lustre com cristais muito brilhantes, há três tapetes espalhados, dois bege e um cinza escuro.

"Vá!" Ouvi ele gritar e sacudi a cabeça, saindo do transe.

Corri na direção que ele havia indicado, o banheiro também é muito grande, feito de mármore cinza escuro e bege, rapidamente tirei meu vestido, sem me preocupar muito se ele rasgaria ou não, eu sabia que ele o mandaria jogar fora.

O banheiro tem uma banheira e um box de chuveiro. Entrei no box, liguei o chuveiro e a água saiu quente, fazendo-me soltar um gemido baixo de prazer. Se eu achava que já tinha tomado um bom banho antes, este é mil vezes melhor. A pressão da água é simplesmente perfeita.

Olhei para os produtos de higiene e a primeira coisa que fiz foi lavar meu cabelo, tendo o cuidado de não embaraçá-lo, pois é grande e um pouco ondulado. Fiz o mesmo processo de antes, mas desta vez fiz com prazer, sabendo que agradaria a esse homem.

Quando terminei, saí do chuveiro e vi que havia duas coisas separadas, um secador de cabelo e uma camiseta branca. Sequei meu cabelo e vesti a camiseta, que parecia um vestido, chegando logo acima do meu joelho. Olhei para a porta de saída do banheiro, meu coração batendo mais rápido.

Virei o rosto e me olhei no espelho, meu cabelo preto caindo em pequenas ondas até a cintura, meus olhos mais brilhantes e minha pele mais clara, além de ter essa expressão radiante, um breve sorriso nos lábios.

Tomo coragem e saio do banheiro e imediatamente aquele cheiro de folhas molhadas de sangue me invade, foco meu olhar na direção do cheiro e encontro aqueles olhos que me fazem tremer, sinto minhas pernas enfraquecerem e minha respiração se alterar, meu coração batendo tão alto que consigo ouvi-lo nos ouvidos.

"Sim, é isso." Sua voz está mais leve, mostrando sua satisfação com minha postura e roupas.

Mais uma vez sinto meu rosto ficar mais quente, algo tão estranho, mas desde que o conheci tudo é diferente.

Aquele homem se aproxima e sua aura é tão intensa e abro os lábios para o ar, sentindo sua presença diante de mim, seu toque em meu rosto e aquelas breves faíscas que me aquecem ainda mais.

Eu tinha ouvido falar sobre como é encontrar sua alma gêmea destinada, mas nunca pensei que aconteceria comigo, tudo parecia um sonho... Ainda mais alguém que me aceita, que não me rejeitou à primeira vista.

"Você sabe quem eu sou?" Ele me pergunta, e faço um esforço gigantesco para responder.

"Companheiro." Minha voz soa estranha, faz tanto tempo desde que a ouvi assim, consigo sentir minha garganta ficando mais seca.

O sorriso do homem se alarga, e fico feliz por estar agradando a ele. Nunca quis agradar a ninguém, mas quero agradá-lo... Sempre quero vê-lo feliz e sorrindo.

"Sim..." Ele sussurra.

Então seus dedos deslizam pelo meu pescoço, fazendo minha pele se arrepiar e eu tremo, sentindo uma onda de calor se espalhar pelo meu corpo e uma boa parte dela se aloja em meu baixo ventre. Vejo suas narinas se abrirem um pouco mais e seus olhos escurecerem.

"Você cheira maravilhosamente e fica ainda melhor conforme você se molha." Ele diz.

São palavras que nunca ouvi antes, e não entendo realmente o que significam, mas uma parte de mim instintivamente me faz ficar ainda mais vermelha e soltar um gemido, mas não é de dor, é de algo que não consigo identificar, mas é bom.

Passo a ponta da língua ao redor dos meus lábios enquanto sinto que eles ficam mais secos e no momento seguinte sinto seus lábios nos meus, meus olhos se abrem por um segundo antes de simplesmente desmoronar.

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