




Capítulo 4: Sede de sangue
A cena diante de mim se transforma em um pesadelo surreal. Os elegantes convidados se transformam em uma multidão faminta e predatória, se assemelhando a uma matilha de lobos. Seus olhos brilham com uma fome sinistra que me faz arrepiar. O pânico aperta meu peito, meu coração acelerando.
O que diabos está acontecendo? Por que estão me encarando assim?
Eu luto para compreender enquanto belisco meu nariz sangrando, mas meus esforços se mostram inúteis. O sangue continua a escorrer.
Tatiana avança com uma graça hipnótica. A voz de Aleksandr corta o ar, comandando e baixa, a advertindo para ficar longe. Ela não dá atenção, seu olhar travado em mim. O medo aperta meu peito, e eu me levanto às pressas, cauteloso para não virar as costas. Instintivamente, dou um passo para trás, tropeçando no terreno irregular.
"Afaste-se, Tatiana," a voz de Aleksandr carrega uma borda de ferro, seu tom autoritário. Ainda assim, Tatiana permanece imperturbável, seus movimentos instáveis, seus olhos vazios.
Um sibilo coletivo da multidão sinaliza sua lenta aproximação. Uma estranha e hipnótica loucura os impulsiona em minha direção. O mundo se torna turvo, os convidados avançando com uma determinação inquietante. O pânico ameaça me consumir à medida que seus olhares predatórios se afiam, movimentos precisos, semelhantes a uma matilha de lobos cercando a presa, cautelosos para não assustá-la e fazê-la fugir.
“Todos, controlem-se, pelo amor de Deus!” A voz de Aleksandr exige, seguida por uma série de palavras estrangeiras que não consigo decifrar - provavelmente seu romeno nativo. Suas palavras caem em ouvidos moucos. A multidão se aproxima, seus estranhos e hipnotizados movimentos inabalados.
Entre eles, reconheço rostos perplexos - convidados do lado da minha mãe, como minha tia Janice e meu tio Tim. Eles observam, perplexos, tentando compreender a fixação e o comportamento estranho dos outros.
“Oh, Arianna!” A voz da tia Janice ecoa quando ela finalmente me avista. Preocupação enche seus olhos arregalados. “Seu nariz está sangrando!”
Ela se abre caminho pela multidão, mas eles se fecham, frustrando-a.
“Que diabos?” A voz da tia Janice se eleva, e a frustração colore seu tom. “Por que ninguém está ajudando ela? O que está acontecendo? Deixem-me passar!”
“Europeus, sempre tão encantadores,” murmura sarcasticamente o tio Tim, sua tentativa de abrir caminho encontrando resistência da multidão.
“Sandra?” A tia Janice chama, procurando por minha mãe. Enquanto a multidão se aproxima, sua voz ressoa com inquietação. “Onde ela está, Tim?”
Mãe! Onde ela está?
Eu examino desesperadamente a multidão em busca de minha mãe, junto com Konstantin e Anya, mas eles não estão em lugar algum.
“Este é seu aviso final, fiquem para trás,” Aleksandr rosna para a multidão se aproximando, posicionando-se na minha frente. “Faz séculos desde que cheirei algo tão doce,” Tatiana murmura, alto o suficiente para eu ouvir. “Tão especial. Tão incrivelmente raro. Eu só vou pegar um pouco, eu prometo…”
Ela lambe os lábios novamente, e percebo que seus caninos se tornaram estranhamente afiados, brilhando sob as luzes de fadas.
Um dos outros convidados hipnotizados, um homem alto de pele escura em um terno elegante e gravata preta, se aproxima por trás dela, seus olhos perfurando os meus, febris de sede de sangue.
“Aleksandr, velho amigo, você precisa ser razoável,” ele diz, sua voz grossa de fome. “Não é muito educado servir uma iguaria tão excepcional diante de seus convidados e depois esperar que não participemos. Não vamos drená-la completamente, apenas algumas gotas, é só isso…”
“Sim, algumas gotas, apenas algumas…” Ouço a multidão se aproximando murmurar em concordância.
“Fiquem para trás!” Aleksandr sibila, enquanto Tatiana dá mais um passo na minha direção.
Tudo acontece muito rapidamente depois disso. Os lábios de Tatiana se separam, e num instante, ela se lança em minha direção com uma velocidade sobrenatural, enquanto o resto da multidão avança.
Em meio a esse pesadelo caótico, braços fortes me envolvem, me puxando da horda que se aproxima. O movimento repentino me deixa sem fôlego, meu coração acelerando. A paisagem gira em um borrão vertiginoso. O chão desaparece sob mim, uma corrente de ar roubando minha respiração.
Estrelas giram acima como um redemoinho de luz, o céu noturno vivo com constelações giratórias. Eu seguro os braços fortes que me sustentam, meus dedos agarrando o tecido de um paletó preto que envolve um peito largo e musculoso. O ar noturno passa, bagunçando meu cabelo, ventos gelados acariciando minha pele como se estivéssemos voando.
Arrisco um olhar para baixo, e minha respiração falha.
O mundo abaixo se tornou uma extensão cintilante de luzes douradas. A festa desaparece em um brilho distante, recuando sob nós. Luzes de fadas cintilam como estrelas, diminuindo à medida que ascendemos.
Não… isso não pode estar acontecendo.
Voando.
Não, não, não! Isso é impossível.
Sobrecarregada, meus sentidos se confundem, o ritmo do vento e o cheiro do ar noturno se mesclando em uma canção de ninar hipnótica. A realidade se mistura em cores suaves, sensações se fundindo. A melodia rítmica do vento embala meus pensamentos, as bordas da minha visão se apagando.
Então, a escuridão toma conta, e a consciência escorrega como grãos de areia. Lembro do ar frio, da corrente de vento, da sensação de braços fortes me abraçando.
E então, o mundo fica negro, e a consciência desaparece como se escorresse pelos meus dedos. O ar frio da noite, a corrente de vento e o abraço de braços protetores - essas são as últimas coisas que sinto antes de sucumbir à inconsciência.