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Evitando o inevitável

—Dez Anos Antes—

Lucian estava absorto em pensamentos quando seu pai entrou em seu covil. "Pensei que talvez você tivesse algo urgente para resolver da forma como saiu furioso mais cedo," Caden comentou.

"Fiquei entediado," Lucian mentiu.

"É importante para você participar dessas reuniões. Um dia você ocupará meu lugar como Dragão Imperador, e será seu dever manter a paz entre os reinos," Caden enfatizou.

"Por que não deixamos os cães e sanguessugas lutarem até o fim e ver quem sobrevive no final?"

"Eles estão em guerra há séculos, muito antes do primeiro dragão sequer existir. Nossos ancestrais nos incumbiram de manter a paz neste mundo," Caden explicou.

"Bem, ainda faltam centenas de anos para eu governar," lembrou Lucian. "Talvez, até lá, eles nos façam um favor e se matem. Eles são inferiores a nós de qualquer forma; não merecem nossa intervenção."

"Lucian, tudo e todos no mundo têm seu propósito, não importa o quão grande ou pequeno você os perceba. Até a menor mosca, por mais irritante que seja, tem seu papel a desempenhar. Só porque somos criaturas superiores não significa que não podemos coexistir com outras formas de vida e respeitar a ordem natural das coisas."

"É isso que você fez com sua complementar? Coexistiu?" Lucian retrucou.

O Imperador Caden fechou os olhos e soltou um longo suspiro. "Você está bravo com sua mãe."

Lucian resmungou. "Não me importo... ela era apenas uma escrava, certo?"

O Imperador encarou o vazio por um momento. Se Lucian não soubesse melhor, poderia jurar que viu um brilho de tristeza nos olhos de seu pai. Isso o fez questionar se ele realmente sentia falta da mulher que lhe foi presenteada.

Seu pai não fez nada para mostrar que se importava com ela, nem aceitou-a e realizou o ritual de unificação. Talvez se tivesse feito, então sua mãe ainda estaria viva. Lucian nunca pensou muito sobre isso. Era comum os Dragões não aceitarem suas complementares humanas. Sua mãe não era diferente de qualquer outra escrava humana aos seus olhos.

"Os Licantropos estarão conosco para o jantar esta noite. Você pode participar ou não. A escolha é sua." O Imperador saiu sem dizer mais uma palavra.

Lucian ficou entregue a seus pensamentos já confusos. Ele não sabia o que deveria fazer em relação a Visenya. Perguntava-se o que Cheyenne diria sobre ele estar destinado a uma loba. O que todos diriam? Seria alvo de chacota completa? Ele se perguntava se poderia de alguma forma manter Visenya em segredo. Talvez pudesse trancá-la em uma torre no topo da montanha mais alta, onde ninguém jamais a encontraria.

Ou talvez não fizesse nada. Os Licantropos viviam mais tempo que os humanos devido às suas habilidades de cura, o que resultava em um envelhecimento mais lento. Mas quando ela morresse, ele estaria livre para se deitar com qualquer mulher ou dragão que desejasse e gerar herdeiros com eles. Foi o que decidiu finalmente. Era a melhor opção, já que não queria enfrentar a humilhação.

Que tipo de criaturas seriam os descendentes dele e de Visenya afinal? O pensamento o perturbava. Ele decidiu tomar um banho e se vestir para o jantar, optando por evitar Visenya a todo custo. A partir daquele momento e até que ela dê seu último suspiro, simplesmente não existirá para ele.

Lucian entrou na sala de jantar e se aproximou de onde Cheyenne estava sentada ao lado de sua mãe e seu irmãozinho, Mason. Ele se repreendeu por procurar Visenya imediatamente, mas não pôde evitar. Ela usava um belo vestido azul e prateado que parecia tentador contra sua pele quente beijada pelo sol. Seu cabelo estava meio preso, enquanto o restante de seus lindos cachos macios descia até a altura de suas costas.

Ela tinha um sorriso fascinante no rosto até fazer contato visual com Lucian. Então, seu sorriso desapareceu, e ela desviou o olhar dele tão rapidamente quanto o havia notado. Era óbvio que ele estava de mau humor antes, e ela não queria fazer nada para irritá-lo ainda mais. Então, decidiu evitá-lo completamente até partir de volta para casa.

Ela não tinha ideia de que, ao fazer isso, irritava ainda mais Lucian. Ele sabia que não deveria se importar, mas o incomodava que ela nem sequer o reconhecesse. Ela estava ocupada conversando com Caspian, a quem Lucian nunca gostou. Ele sempre estava seguindo Visenya como um cachorrinho perdido.

Ele observou enquanto ela ria de todas as piadas dele e se perguntava o quão engraçado ele poderia ser. Quando Caspian pegou uma flor do pequeno vaso no centro da mesa e a colocou atrás da orelha de Visenya, Lucian sentiu uma intensa irritação que nunca havia sentido antes.

Ele notou como Caspian continuava a encarar Visenya, e isso o enfureceu além das palavras. Lucian olhou para o porco assado no espeto e imaginou Caspian girando em seu lugar.

"Uhm... alô? Terra chamando Lucian. Você está me ouvindo?" Cheyenne acenou a mão na frente do rosto de Lucian.

"Hmm?" Ele respondeu, claramente distraído.

"O que há com você? Você está encarando aqueles vira-latas há dez minutos," Cheyenne comentou, com um tom tingido de confusão.

Visenya ainda mantinha toda a atenção de Lucian. Seus olhos a seguiam como um falcão enquanto ela se levantava da cadeira e caminhava até a outra ponta da mesa para sussurrar algo no ouvido de seu pai. Ele a dispensou com um gesto de mão, e ela se virou, dando um aceno para Caspian.

Caspian se levantou de sua cadeira, e os dois saíram juntos da sala de jantar. Lucian não gostou da ideia de Visenya sair sozinha com Caspian, então ele se levantou da cadeira e decidiu segui-los.

Visenya e Caspian saíram tão rapidamente que Lucian quase os perdeu de vista. Quando finalmente os encontrou, estavam do lado de fora, escondidos atrás de algumas moitas altas, com Caspian no meio de se despir.

"O que diabos você pensa que está fazendo?!" Lucian rugiu.

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