




A ex-rainha
Visenya pensou que tinha enlouquecido. Como no nome da Deusa Lucian poderia ser seu companheiro? Dragões, Licantropos e Vampiros nunca antes tinham sido acasalados uns com os outros. Eles podiam ter encontros sexuais de vez em quando, mas a procriação entre eles nunca tinha sido possível.
Talvez não fosse Visenya quem tinha enlouquecido. Talvez fosse a Deusa da Lua que tinha enlouquecido completamente. Qual era o motivo de acasalá-la com um dragão? Um dragão arrogante, condescendente e terrivelmente enfurecido. Lucian rosnou e mostrou seus dentes afiados a poucos centímetros do focinho de Visenya. Ela imaginou o quão absurdo poderia parecer para qualquer espectador ver um lobo enfrentando um dragão indestrutível.
Lucian poderia agarrá-la com suas mandíbulas e cuspir seus ossos em questão de segundos se quisesse. Visenya lembrou que se a companheira de um Senhor Dragão perecesse, eles perderiam sua quase imortalidade. Lucian era muito pomposo para desistir de qualquer coisa que o tornasse mais divino. Eles mantiveram seus olhares fixos um no outro por uma eternidade, enquanto Visenya tentava descobrir qual seria o próximo movimento de Lucian.
Finalmente, Lucian soltou um bufar de fumaça pelas narinas e, com um bater rápido de suas enormes asas, ele levantou voo e desapareceu no céu noturno. Visenya ficou aliviada, mas tão completamente confusa com tudo o que acabara de acontecer. Se Lucian tinha sobrevivido ao bombardeio, onde ele esteve nos últimos dez anos?
Nada mais fazia sentido para ela, mas ela precisava tentar acalmar as coisas antes que a raiva de Lucian tomasse conta dele. Quando ela voltou ao castelo, todos estavam em lágrimas ao ver que ela estava bem. Eles relutavam em sair do abrigo, mas ela os assegurou de que estavam seguros.
Na manhã seguinte, Visenya tomou a decisão consciente de tentar fazer as pazes com Lucian. Ela precisava encontrá-lo e explicar que nenhum deles tinha nada a ver com o massacre de seu povo.
"Para onde você está indo?" Caspian perguntou, enquanto Visenya pegava um cavalo nos estábulos.
"Para o Império dos Dragões... ou o que restou dele."
"Você está louca?! Você não acha que o dragão estará lá esperando por você?!"
"É mais ou menos esse o ponto, Cas. Eu preciso encontrá-lo."
"Você sofreu uma lesão na cabeça ontem à noite?! E se ele te matar?!"
"Se ele quisesse me matar, já teria feito."
Visenya montou em seu cavalo e seguiu seu caminho. Caspian insistiu em acompanhá-la, e ela não teve energia para discutir. Eles cavalgaram o dia todo e só chegaram ao império bem depois do pôr do sol.
Visenya não estava lá desde a adolescência. Antes de ontem à noite, essa foi a última vez que ela tinha visto Lucian. Visenya nunca esqueceu que foi a atitude superior de Lucian que acabou levando ao rompimento da aliança entre Licantropos e Dragões.
Ela desmontou do cavalo e caminhou até os destroços de onde Lucian tinha emergido, passando a mão sobre as pedras soltas. "Ele estava enterrado bem aqui."
"Como... como ele sobreviveu a tantos explosivos de zafinita negra? Não há como um dragão se curar de ferimentos tão graves." Caspian disse incrédulo.
"Não, ele não pode... mas e se ele estivesse em um lugar que o mantivesse protegido, para que nunca fosse atingido diretamente pela explosão?"
"E o quê? Ele apenas ficou enterrado sob as rochas, incapaz de se libertar? Isso é absurdo, Vee."
"Cas, pense na toxicidade dos gases liberados pelos explosivos. Misturados com zafinita negra em um espaço confinado deveriam ser suficientes para matá-lo, mas em vez disso..."
"Isso o sedou," Caspian concluiu.
"Exatamente... todo esse tempo ele esteve aqui... dormindo. Deve ter sido o terremoto que o acordou."
"Ainda assim não entendo como algum dragão poderia ter sido poupado de uma explosão tão massiva."
"Bem, havia um dragão em particular que tinha seu próprio covil subterrâneo... ou, neste caso, um abrigo contra bombas."
Os olhos de Caspian se arregalaram em revelação. Ele só conhecia um dragão que se orgulhava de seu covil subterrâneo. "Não, não tem como... você está realmente sugerindo que aquele idiota é o dragão que aterrorizou nosso reino ontem à noite?!"
"Não estou sugerindo nada, Cas. Estou te dizendo claramente... Lucian está vivo, e ele está furioso."
"Isso não lhe dá o direito de nos atacar assim! Ele quase matou nossos homens! Alguns deles podem nunca se recuperar completamente!"
"Como você se sentiria, Cas?! Acordar depois de dez anos para descobrir que todo o seu clã foi exterminado?! Ele está sofrendo agora!"
"Wow..." Caspian resmungou. "Inacreditável!"
"O quê?!" Visenya retrucou.
"Estou simplesmente surpreso que depois de dez anos você ainda esteja loucamente apaixonada por ele."
"Ah, pelo amor de Deus, Cas!"
"Você sabe que é verdade, Vee! Você sempre foi fraca..."
Visenya e Caspian se viraram defensivamente ao som de passos se aproximando a alguns metros de distância. Eles se aproximaram cautelosamente do intruso que se aproximava, prontos para se transformar em lobos se necessário.
"Eu venho apenas como mensageiro!" O homem gritou enquanto se aproximava em seu cavalo.
"E quem diabos é você?!" Caspian latiu.
"Meu nome é Cylis, e venho trazendo uma mensagem para a antiga rainha."
"Antiga? Você acabou de dizer antiga rainha?!" Caspian não podia acreditar em sua audácia.
"Qual é a mensagem?" Visenya perguntou.
"O Senhor Dragão Lucian exige uma audiência com você. Você tem até o nascer do sol para estar diante dele no antigo reino dos caçadores noturnos."
"Ou o quê?!" Caspian desafiou.
"Eu não arriscaria descobrir," respondeu Cylis.
"Ele sabia que eu viria procurá-lo..." Visenya percebeu. "Eu tenho que falar com ele."
"Eu vou com você," Caspian afirmou.
"Ela tem que ir sozinha!" Cylis transmitiu.
"E quem diabos é você para dar ordens na nossa direção?!" Caspian cuspiu. "Você não acha que sabemos o que vocês são?! Conseguimos sentir o cheiro de vocês, sanguessugas, a quilômetros de distância! Como sabemos que você não está armando alguma armadilha para ela?!"
"Vocês não sabem, mas eu garanto que fui enviado aqui pelo próprio Senhor Dragão, e posso provar."
Cylis desceu do cavalo e arregaçou a manga, mostrando a marca recém-gravada de um serviçal de dragão.
"Então, você é um capacho de dragão? Eu não sairia por aí se gabando disso," zombou Caspian.
"É uma honra servir a tamanha grandeza," Cylis respondeu.
Havia algo perturbador no sorriso que ele compartilhou com Visenya. Um arrepio percorreu sua espinha, e ela se perguntou se ele sabia de algo que ela não sabia. Estaria ela prestes a caminhar para sua própria morte? Certamente, Lucian não a machucaria... certo? Ela se dirigiu ao seu cavalo e estava prestes a montar, quando Caspian segurou seu braço e a virou para encará-lo.
"Se você acha que vou deixar você ir perto daquele bastardo sozinha, está completamente louca!" Ele gritou.
"Não tenho escolha, Cas. Volte para casa, você está no comando até eu voltar."
"Vee..." Caspian disse em um tom claramente carregado de preocupação.
Ela o abraçou. "Tudo vai ficar bem, confie em mim."
Caspian queria ser otimista, mas não conseguia se livrar desse sentimento terrível que tinha, avisando-o de que nem tudo ia ficar bem. Ele relutava em deixá-la ir, mas sabia que realmente não tinha voz ativa no assunto. Ela não era apenas sua Rainha, mas também sua Alfa, e ele sabia que ela tinha que fazer o que era melhor para o povo deles.
Visenya afrouxou seu abraço e se soltou de seus braços. Ela ofereceu a ele um último olhar antes de partir para a noite com Cylis.