




11|Papai não é Deus
Nas próximas semanas, Liam se viu em um turbilhão enquanto se ajustava ao seu novo papel. Ele passava constantemente por várias reuniões, participava de inúmeras conferências dentro e fora do país e garantia que seu pai recebesse o melhor tratamento.
Seus dias começavam tão cedo quanto às 4:00 da manhã e algumas noites ele só ia para a cama depois das 2:00 da manhã. Ele estava mal-humorado e de pavio curto, o que não era surpreendente, já que estava funcionando com no máximo duas horas de sono.
Nas primeiras semanas, ele fez muitos inimigos dentro e fora da empresa; como resultado, sua equipe de segurança teve que ser reforçada após ameaças de morte anônimas.
Liam achava o exército interminável de guardas irritante, mas o conselho não queria correr riscos, especialmente quando o preço das ações da Anderson Logistics despencou após a notícia da doença de seu pai. Ele não era a melhor escolha deles, mas por enquanto, era o único Messias que poderia tirá-los com segurança da situação complicada.
Ele fez muitas mudanças internas. Ele dissolveu o comitê executivo e trouxe sangue novo, jovens com visão e coragem para liderar a Anderson Logistics para uma nova era. Os gerentes seniores que mantinham seus cargos por causa de sua relação próxima com seu pai e não com base em habilidade ou talento real não ficaram satisfeitos com sua audácia.
Ele manteve seus primos, Julian e Matthew, por perto, como seus braços direitos. Eles tinham tanto direito à empresa quanto ele. Foi sua primeira decisão polêmica, e isso o colocou contra suas irmãs. Elas achavam que ele estava sendo imprudente e estúpido ao dar tanto controle aos dois irmãos.
Mas Liam estava corrigindo uma injustiça. "É tanto a empresa deles quanto a nossa. Se o pai não tivesse afastado o Tio Sullivan, eles teriam uma parte justa."
Suas irmãs discordaram.
"O Tio Sullivan era fraco; ele não tinha coragem para levar esse negócio adiante!" Willow argumentou.
"O pai fez a empresa ser o que é hoje," disse Holly ingenuamente.
"O pai não é Deus," Liam apontou. "Ele não construiu a empresa sozinho. Outras pessoas deram tudo de si. Julian e Matthew perderam tudo quando o Tio Sully morreu. E todos sabemos que o pai o matou. Ele pode não ter dado a arma que ele usou para dar um tiro na própria cabeça. Mas o levou a isso."
"Parem com isso!" Suas irmãs repreenderam de uma vez, seus olhos escuros de raiva assassina.
"De que lado você está?" Willow exigiu.
"Estou do lado da verdade. Se o pai não tivesse marginalizado o Tio Sully, ele não teria ficado tão deprimido a ponto de achar que sua única saída era tirar a própria vida."
"Devemos falar sobre isso agora?" Holly perguntou. "O que adianta remexer no passado?"
"Você não precisa reconhecer, mas eu preciso," disse Liam. "Não posso liderar esta empresa com a consciência tranquila se não consertar o que o pai fez. Todos sabemos que Julian e Matt fizeram muito mais pela Anderson Logistics do que qualquer um de nós nesta sala, e se vocês dois não conseguem ver isso, há algo moralmente distorcido em vocês!"
A discussão continuou durante o jantar, só parando quando Lois fungou em sua cadeira.
"Chega, os dois," ela disse chorosa. "Liam está certo. Eles são família e nunca deveriam ter sido excluídos."
"Não vou abrir mão das minhas ações!" Holly jogou o garfo em seu prato e cruzou os braços teimosamente.
"Ninguém quer sua maldita três por cento!" Liam explodiu e estabeleceu a lei, apontando um dedo severo para sua irmã mais nova. "E sua vida de gastos excessivos acabou. Você não vai mais fechar lojas para suas compras particulares. Usar o jato da empresa para ir festejar em Ibiza acabou. E aquele maldito apartamento que você nunca mora, é melhor você usar em breve, ou eu te ajudarei a se livrar dele."
"Mãe!" Foi Willow, no entanto, quem gritou para a mãe intervir.
"Escutem seu irmão–"
"Mas ele não pode me fazer viver como uma pessoa pobre!" Holly gritou.
Liam levantou-se e foi até a sala pegar seu laptop da bolsa de mensageiro no sofá.
Ele voltou rapidamente e ligou o laptop. Ele abriu os extratos financeiros do fundo familiar e empurrou o MacBook para suas irmãs.
"O que estou vendo?" Willow tinha uma expressão perplexa enquanto seus olhos percorriam a tela.
"Sim, o que é isso?" Holly se juntou.
Ele sabia que elas não saberiam ler extratos financeiros, muito menos entendê-los. Como poderiam, se nem sabiam o preço do papel higiênico? Admitidamente, até algumas semanas atrás, ele também não sabia. Mas agora que participava das reuniões de orçamento de Julian, ele via o quanto cada pequena coisa custava, desde o café e chá que sua equipe dava por garantido, até o papel de impressão que todos pareciam amar tanto, julgando pelas pilhas de relatórios perpetuamente empilhados em sua mesa.
"O que é isso?" Willow gritou novamente. A filha mais velha agia como uma criança às vezes.
"Isso," Liam cerrou a mandíbula. "É todos nós indo para o brejo em breve se seus gastos excessivos não pararem!"
"Estamos pobres?" Holly perguntou, lágrimas grossas enchendo seus olhos. "Mãe, precisamos nos mudar para um apartamento agora?"
Liam riu amargamente. "Ainda não, queridas. Mas dou uns seis meses ou algo assim."
A notícia foi tão devastadora para ambas que saíram correndo da sala chorando sobre precisar tirar uma soneca.
Lois o encarou quando ficaram sozinhos. "Por que você mentiria para elas assim? Você sabe como elas são."
Estava errado, mas ele queria assustá-las um pouco. Havia muitas coisas que ele dava como certas antes de assumir o cargo de CEO, coisas nas quais nunca precisou pensar ou se preocupar, como as milhares de pessoas que trabalhavam nos bastidores para garantir que continuassem vivendo sua vida de luxo. Não era justo para todas essas pessoas; a maioria nunca veria nem um milhão de reais em suas contas bancárias. Mas trabalhavam incansavelmente e davam tudo de si para a empresa.
"Você tem que dizer a elas que estamos bem," Lois continuou.
"Não!" Liam disse. "Mãe, eu quis dizer cada palavra—nada de jatos da empresa para negócios particulares. As viagens de compras no exterior também têm que parar. Se elas querem todas essas coisas boas, então precisam se juntar ao grupo."
"Mas elas amam o que fazem. Suas irmãs vão morrer se tiverem que desistir de suas carreiras!"
"E eu?" Liam perguntou. Ele não se arrependia de sua decisão de assumir a responsabilidade. Mas ainda estava de luto pela perda de seus sonhos.
"Eu sei que foi difícil," Lois tocou seu ombro.
Liam não achava que ela entendia. 'Difícil' era reprovar em um exame ou receber uma advertência porque você dormiu demais e se atrasou para o trabalho.
O que ele passou quase o matou.
Liam nunca contaria a ninguém como chorou até ficar completamente vazio quando teve que se retirar de sua equipe e terminar todos os relacionamentos com os patrocinadores. A dor que sentiu ao pendurar seu macacão de corrida e guardar seu capacete pela última vez foi tão profunda, tão intensa; era como se alguém tivesse enfiado uma espada em seu coração e o cortado em pedaços.
"Querida, me desculpe. Só quero que todos vocês sejam felizes."
Ele se virou para sua mãe e suspirou. "Tudo o que estou dizendo é que elas precisam começar a ganhar o próprio sustento. E não vejo motivo para elas ainda estarem recebendo mesada. Ambas são adultas com empregos em tempo integral. Seus salários devem financiar seu estilo de vida luxuoso."
Lois assentiu e acariciou sua mão. "Estou indo para o hospital, você vem comigo?"
Liam balançou a cabeça. Ele já tinha visto seu pai antes de se apresentar para o jantar semanal obrigatório. Ele tinha que encontrar Julian e Matthew no Crush.