6 . O segundo andar do clube
Me sento abruptamente no bar, ofegante, jogando os braços sobre o balcão, com uma expressão confusa no rosto.
Noah se aproxima imediatamente de mim, secando um copo com movimentos calmos. Às vezes, fico pensando como ele parece muito mais jovem do que realmente é; embora ele seja apenas dois anos mais novo do que eu, seus traços e a ausência de barba o fazem parecer mais jovem.
Sim, é verdade. Noah é bonito, com seus cabelos castanhos, olhos cor de mel, pele bronzeada e físico discreto, mas não é o meu tipo. Ele é mais o tipo da Kate, que já tentou convencê-lo a brincar, se oferecendo como sub dela - em vão, é claro. Apesar de trabalhar aqui todas as noites, Noah não faz parte deste mundo. Ao contrário de mim, ele sabe como separar os dois mundos em que vive.
Sempre acreditei que estava no controle... que poderia manter esse segredo seguro. Para algumas pessoas, meu compromisso de anos em esconder meu lado kinky é uma bobagem. Já me disseram que eu não deveria ter medo de julgamentos ou me preocupar com as opiniões alheias, mas o mundo real não é tão simples, bonito e florido como as suposições daqueles... eles não sentiram o que eu senti.
Fui julgada por minhas escolhas, por gostar de coisas intensas, por gostar de me submeter, mas nunca encontrei aceitação das pessoas ao meu redor. Na faculdade, as meninas me julgavam e me diziam para ser independente, enquanto os homens reduziam tudo a sexo e ficadas quando o BDSM é sobre compromisso e confiança, não apenas sobre isso.
Por isso, quando o mundo do trabalho adulto se abriu para mim, percebi que não podia cometer os mesmos erros causados pela minha inocência e ignorância, e comecei a me proteger, escondendo meus segredos e esse lado inadequado de mim.
E por muito tempo, achei que fiz isso muito bem.
Mas assim como meus sonhos, o Sr. Pollock também destruiu minha autoconfiança.
"Refrigerante?" Noah pergunta, por fim, olhando para mim com seu rosto inocente habitual.
"Martini", digo sem entusiasmo, inclinando-me sobre o balcão para apoiar minha cabeça em meus braços dobrados.
Honestamente, me sinto péssima. Desde que o Sr. Pollock me pediu para fazer seu café, tenho ficado chateada, pensando em tudo o que poderia ter dito ou feito para evitar tal humilhação. Não basta ele ter roubado minha posição dos sonhos, mas ele me vê como uma assistente, alguém que está à sua disposição para despejar um quarto de leite e perguntar quantos cubos de açúcar ele quer quando ele não gosta de nada doce.
Argh... Eu o odeio, não vou negar.
O martini é colocado no balcão a tempo, e me vejo segurando-o, dando vários goles rápidos do álcool que já não queima minha garganta; agora é como água quando estou morrendo sede no meio do deserto. Então, bato o copo de volta no balcão, pego o palito de azeitona e o levo à minha boca.
"Outro, por favor", peço, puxando a pequena azeitona pelos lábios.
"Não acho que seja uma boa ideia", Noah suspira, acrescentando cautelosamente enquanto olha ao redor. "Madame Shamant quer falar com você."
O que Madame Shamant quer comigo assim, do nada? Realmente me pega de surpresa, já que a dona deste lugar não se envolve diretamente no que acontece aqui. Claro, há algumas exceções... Eu simplesmente não esperava eu ser uma delas.
Venho frequentando o Clube Obelisco há alguns anos, assim como muitos outros Doms e Subs que veem isso como uma segunda casa. Posso dizer com certeza que Madame Shamant é uma pessoa geralmente discreta. Desde que se aposentou da modelagem, ela decidiu viver sua vida secreta com muito glamour e privacidade. Por isso, o fato de ela ser uma ex-modelo de sessenta e cinco anos administrando um clube BDSM não é algo que realmente tenha causado alvoroço na sociedade ou despertado o interesse dos paparazzi. Ninguém sabe disso, exceto os antigos frequentadores.
Até o seu nome no set é um apelido.
Saboreio a azeitona e finalmente pergunto, jogando o palito no copo de martini, "Você tem certeza disso?"
"Claro, ela me disse pessoalmente." Noah pega meu copo, sem mostrar sinais de me servir mais uma dose. "Ela pediu para você subir para o segundo andar, Sala 13."
O segundo andar é onde ficam os quartos privados e extremamente caros, apenas para os membros mais importantes. Essa é certamente uma das características distintas deste clube e a razão pela qual tantas pessoas o frequentam há tanto tempo... Enquanto o primeiro andar parece um clube kinky comum, o segundo está cheio de masmorras temáticas, perfeitas para os cenários mais diferentes, como a Sala 13, famosa entre os subs que gostam de Impact Play.
"Por que lá?" Enrolo uma mecha de cabelo preto no meu dedo, girando-a e esfregando o polegar contra ela. "Você sabe de alguma coisa?"
“Nada além de que ela me pediu para te dizer,” Noah confessa com um suspiro, e finalmente começa a servir um novo martini. Estou realmente grata e abro os lábios para expressar isso, mas ele rapidamente acrescenta, “E não sei exatamente qual, mas ouvi dizer que um dos quartos VIP foi alugado para a noite.”
Um arrepio percorre minha espinha, me fazendo franzir o cenho.
Ele cutuca as azeitonas no palito e as joga no copo; esse movimento muito simples e regular atrai meus olhos, deixando minha boca seca.
“São apenas rumores, no entanto.” Ele desliza o copo pelo balcão, parando-o na minha frente. “Este último será o nosso segredo, ok?”
Eu sorrio e pego as azeitonas, salvando-as do iminente afogamento na bebida. Mordo uma gentilmente e puxo o palito, fazendo-as deslizarem para dentro da minha boca, mastigando com um sorriso nos lábios.
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[...] Subo a escada redonda para o segundo andar, lançando um olhar para as portas pretas com os números entalhados em ouro. Meus passos são lentos enquanto passo por uma a uma, procurando meu destino.
Está mais escuro aqui em cima, já que a única luz vem de baixo, um neon vermelho que domina o ambiente. Daqui, consigo ver o resto do clube através da parede de vidro que circunda o corredor.
Me pego olhando as pessoas lá embaixo, rostos tão desconhecidos, quando finalmente paro em frente à Sala 13. Um leve arrepio percorre minha espinha, levando meus olhos para a porta que está esperando para ser aberta. Não demoro a bater, ansiosa para saber o que Madame Shamant quer comigo — e neste quarto, de todos os lugares.
Se alguém me permitiu entrar, não ouvi, já que os quartos são à prova de som... e mesmo que não fossem, duvido que ouviria algo sobre a música que, mesmo abafada aqui, ainda é alta. Espero alguns momentos, e assim que estou prestes a bater novamente, minha mão fica no ar porque a porta está se abrindo.
Madame Shamant me cumprimenta com um sorriso discreto no rosto. Apesar de sua idade, a mulher realmente tem uma pele impecável. Seus cabelos grisalhos estão presos, e ela está vestindo um luxuoso roupão vermelho escuro, uma cor que chama minha atenção. Ela ainda é muito bonita; não é de se admirar que tenha sido uma modelo muito famosa em seus dias de ouro.
“Entre, querida...” Ela diz, deixando a porta aberta e voltando para dentro do quarto. “Desculpe por te chamar tão de repente.”
"Sem problemas, Madame..." Entro no quarto, vislumbrada pelas luzes vermelhas, um neon confortável em meio às sombras discretas do ambiente. Os móveis de estilo vitoriano também têm detalhes em diferentes tons de vermelho, como o lençol de cetim e as fronhas carmesim, paredes bordô e cortinas cereja. Consigo identificá-los todos porque também é a minha cor favorita.
E realmente, este quarto está à altura de sua reputação. Com uma rápida inspeção, percebo o banco de spanking em um canto, com um sofá igualmente vermelho e aparentemente confortável, uma Cruz de Santo André, e um grande balcão com vários tipos de brinquedos de Impacto, como chicotes, espalhadores, grampos, chibatas e outros que logo chamar minha atenção...
“Vicky, te chamei aqui porque alguém quer brincar com você.” Madame Shamant diz de repente, atraindo meus olhos para seu rosto suave, para seu sorriso discreto. “Ele reservou este quarto especialmente para você.”
Especialmente para mim? A confusão provavelmente está estampada no meu rosto porque ela acrescenta, “Desde a apresentação pública, muitos Doms têm se interessado por você.”
“Eu? Uma brat?” Digo sem muita emoção ou interesse. “Todo mundo sabe que não sou uma boa menina e que não gosto de obedecer... Ainda estão tentando me fazer ajoelhar?”
Ando pelo quarto, observando todos os detalhes, os brinquedos que certamente proporcionarão uma ótima experiência para aqueles que gostam desse tipo de brincadeira.
“Alguns homens veem a diversão em realmente dominar em vez de serem facilmente ouvidos.” Ela diz com certo mistério, me fazendo prender a respiração. Olho por cima do ombro para vê-la se aproximando lentamente, um passo tão elegante que me cativa.
Madame Shamant para ao meu lado e puxa meu cabelo para trás dos ombros, acariciando-o como se eu fosse sua filha.
“Alguém que não gosta de obedecer, mas gosta da sensação de ser forçada a fazê-lo...”
Franzo os lábios, a apreensão tomando conta de mim, enquanto Madame Shamant retira a mão de mim e pega algo no balcão — uma venda de couro.
“Isso não se vê com muita frequência, Victoria... Você é um verdadeiro desafio.”
Ela me estende a venda, e seu sorriso sereno começa a me perturbar.
“E às vezes, o desafio pode ser realmente excitante...” Novamente, um arrepio percorre minha pele. “Para ambos.”